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3. Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência – PROERD

3.1 O PROERD em sua dimensão histórica no tempo e no espaço

3.1.1 D.A.R.E (Drug Abuse Resistance and Education)

Em seu nascedouro, trata-se o PROERD de um programa antidrogas que nasceu nos Estados Unidos da América nos anos 80, mais precisamente em 1983, na Califórnia, chegando ao Brasil na década de 90 pelo estado do Rio de Janeiro, em 1992, e no Ceará, por sua vez, em 2001. Destaque-se o site do PROERD da Polícia Militar do Rio de Janeiro10, que traz o seguinte:

O Programa Educacional de Resistência às Drogas é uma iniciativa da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e foi implantado em 1992, inspirado no Projeto D.A.R.E. (Drug Abuse Resistance Education), desenvolvido por policiais americanos. No Brasil, o Programa foi implantado em 1992, pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, e atualmente é adotado em todo Brasil. Consiste em um plano de estudos, organizado em atividades educacionais para prevenir o abuso de drogas e a prática de atos de violência entre estudantes do Ensino Fundamental do Estado do Rio de Janeiro. A adaptação do material didático, o processo de tradução, assim como o acompanhamento do treinamento realizado, foi feito em parceria com a Secretaria Estadual de Educação.

Deste modo, pode ser dito que muito do que se tem em território nacional é fruto de um esforço preliminar de educadores e policiais norte-americanos, uma vez que já trabalhavam e pesquisavam as drogas nos anos que antecediam o nascimento do D.A.R.E., ou o Drug Abuse

Resistance Education, nomeadamente o precursor do PROERD no Brasil. Nesta linha,

52 atentando para a Monitoring The Future National Survey Results on Drug Use, 1975-2006 (JOHNSTON et al., 2007), temos:

Analisando-se os dados da década de 1970 e início dos anos 80 pode-se perceber que o número de jovens que se graduaram neste período (idades entre 17 e 18 anos) que consumiram qualquer tipo de droga ilícita em uma ou mais ocasiões alguma vez cresceu, aumentando de 55.2% em 1975 para 65.6% em 1981. No caso de cigarros, esse número variou entre 70 e 75.7% no mesmo período, e em relação ao álcool entre 90.4 e 93.2%.

Em relação à maconha, o final da década de 1960 e o início da década de 1970 foram marcados pelo aumento rápido de seu uso. Os anos de 1978 e 1979 foram o pico do uso de maconha por estudantes entre 17 e 18 anos e por jovens em geral. Houve um aumento de 9% no uso de maconha pelos estudantes dessa idade entre os anos de 1975 e 1979 (de 45% para 54%).

Entre os anos de 1979 e 1981 também houve um aumento do número de estudantes de 17 e 18 anos que utilizavam algum tipo de droga ilícita que não a maconha (de 25% para 34%). Este aumento provavelmente foi resultado do aumento do uso da cocaína entre os anos de 1976 e 1979 e do uso de anfetaminas entre 1979 e 1981. A incidência do uso de cocaína por estudantes de 17 e 18 anos dobrou em apenas três anos (de 6% em 1976 para 12% em 1979).

Como não poderia ser diferente, no cruzamento dos delitos praticados no estado da Califórnia e à presença de narcóticos nestes crimes, as autoridades concluíram que o trabalho puramente de enfrentamento ou policial reativo não estava produzindo os resultados esperados e em escala crescente de criminalidade. Assim, no ano de 1983, a professora doutora Ruth Rich, especializada em instrução de saúde do Distrito Escolar Unificado de Los Angeles, em conjunto com o Chefe de Polícia da cidade de Los Angeles, Daryl Gates, criaram o D.A.R.E.. O que foi levado em consideração, sobretudo, residiu na conclusão de que aquela geração já estava entregue às drogas e que somente a transmissão da informação antidrogas de forma adequada levada às crianças, na linguagem própria destas, a partir de um policial fardado, poderia proporcionar uma segurança eficaz àqueles que ainda não tivessem ingressado no submundo das drogas (HARMON, 1993).

Do ponto de vista prático, o D.A.R.E. foi desenvolvido com foco na prevenção do uso de drogas dentre elas o álcool, o cigarro e demais drogas ilícitas, bem como o propósito de desenvolver técnicas que pudessem interceptar o acesso de crianças, futuros jovens, a composição de gangues e atos de violência. Quanto à idade de dez a doze anos, era compreendido que nesta faixa etária persiste uma capacidade maior de receber informações antidrogas, porquanto entendia-se que em não se havendo experimentado o narcótico se tornaria

53 mais fácil rejeitá-lo diante da oferta. No tocante ao policial fardado, buscava-se o emblema da farda como o aspecto simbólico na figura do herói a ser lembrado no momento de maior dificuldade.

Simultaneamente, buscou o D.A.R.E., sobretudo com encenações e diálogos em grupos, trabalhar temáticas voltadas para capacidade de se comunicar dos alunos, riscos e consequências, decisões e análise de alternativas positivas acerca das drogas, tudo dentro do contexto de um livro escolar que pudesse ser usado na aprendizagem dos conteúdos pelos alunos.

Com o avanço do D.A.R.E. em solo americano, em 1986 o Congresso aprovou lei que estabelecia investimentos a partir dos estados para fins de apoio à prevenção de drogas, sugerindo que policiais fardados atuassem nestes programas, dispondo-se o D.A.R.E. como principal expoente, alcançando, desta forma, projeção nacional (NOGUEIRA, 2010).

Por fim, a exemplo do PROERD, o D.A.R.E., em relação aos seus desenvolvedores, ou professores, foi algo inusitado também mesmo para a polícia americana: tratava-se de um policial fardado falando para crianças, com essas interagindo, ludicamente, e abrindo inúmeras oportunidade de comunicação entre todos – isto em uma sala de aula padrão. Por extensão, mostrava-se ali uma nova face da atividade policial sem preconceito ou brutalidade, senão uma polícia voltada para crianças com o propósito final de vê-las ausentes das drogas. O modo descontraído dos encontros logo se tornou comum sendo requerido pelas demais escolas de Los Angeles e para todo o país até onde a notícia chegasse (NOGUEIRA, 2010).