• Nenhum resultado encontrado

2. Polícia comunitária e sociedade: contextos e questões

2.2. Fatores sociocomunitários e educativos da polícia comunitária

2.2.1 Entendendo o processo de desenvolvimento comunitário e o policial educador social

O vocábulo comunidade vem do latim comunio e quer dizer “união com todos”. Desse modo, pode ser dito que todos mantêm relações diretas ou indiretas entre si; assim, as relações sociais organizam-se, sendo esse conjunto que forma a estrutura social quando se faz importante relacionar a educação com o desenvolvimento social local. Para tanto, pode ser anotado ao policial militar comunitário, dentre outras:

Práticas de prevenção e acompanhamento quotidiano de pessoas diminuídas; desenvolvimento socioeducativo das pessoas como sujeitos dos processos de inserção; constituição, desenvolvimento e (…) integração dos indivíduos e grupos na vida da comunidade (…); - ajuda à (re)inserção profissional (…) (CARVALHO E BAPTISTA, 2004, pp. 93-94).

Quanto a isso, saliente-se, ao mesmo tempo, que esta vinculação – a educação e o desenvolvimento social – verificam-se por duas vertentes sob o crivo de Gómez; Freitas e Callejas (2007): primeiro, a educação tida como resultado ou efeito de desenvolvimento – neste caso levando-se em consideração fatores gerados tais como infraestrutura, economia equalizada, dentre outros, naturalmente suscita melhores resultados econômicos. Sequencialmente, a educação como decisiva para o próprio desenvolvimento – aqui, a partir do investimento no capital humano – educativamente – é favorecido o progresso econômico, que, por sua vez, gera bem-estar social e material.

Pressupõem-se, todavia, para a atividades comunitárias coexistentes comportamentos sociais complexos, uma vez que agrega sentimentos e atitudes heterogêneas e, somente graças a um processo de permanente convivência social que, a rigor, nunca termina, se aprende a

43 participar de comunidades solidárias. Aponta-se, também, para a necessidade dos membros do grupo preocuparem-se com aquilo que consideram de interesse comum, como acentua Nisbet (1978):

Ao falar em Comunidade, refiro-me a algo muito mais amplo que a comunidade local. No sentido em que é empregado por muitos pensadores dos séculos XIX e XX, o termo abrange todas as formas de relacionamento caracterizado por um grau elevado de intimidade pessoal, profundeza emocional, engajamento moral, coerção social e continuidade do tempo. A comunidade encontra seu fundamento no homem visto em sua totalidade e não neste ou naquele papel que possa desempenhar na ordem social. (NISBET, 1978, p. 255).

Dentro dessa realidade, percebe-se sempre um interesse renovado nas comunidades como resultado da manifestação das forças sociais na vida dos grupos, tudo isso onde quer que estejam. Independem, dentro desta realidade, os diversos modos de vida e graus de desenvolvimento, sendo a razão pela qual estes sinais sociais se manifestam multiformes. Dentre estes atores na comunidade (escolar) os educadores assumem uma condição impar diante da condição de influência e mesmo refazimento de pensamentos, comportamentos ou tendências:

Os educadores são, (…) promotores privilegiados da condição humana e é nesse sentido, justamente, que são reconhecidos como técnicos da relação, o que torna esse seu carácter técnico irredutível a qualquer lógica instrumental. Enquadrada por uma perspectiva pedagógica, a relação humana surge-nos sempre mais do que uma simples ferramenta (CARVALHO & BAPTISTA, 2004, pp. 95-96).

Quanto ao conceito de polícia comunitária e o vínculo comunitário, a ideia central reside na possibilidade de favorecer um ajuntamento dos profissionais de segurança pública dentro dos grupos sociais onde atuam, seja com o médico, o professor ou o comerciante da esquina, o adolescente e a dona de casa, enfim, dando características prioritariamente humanas ao agente de polícia, e não apenas tê-lo por um número de telefone padrão, ou uma instalação física como referencial. Neste caso, este profissional assume papéis simultâneos devendo ser tomado como agente da lei e educador social num viés eminentemente prático, e, concomitantemente, pragmático para uma militância sócio-comunitária-educativa, devendo guardar par si a certeza que esta relação (policial comunitária) não pode ser conflitual, mas complementar (CARVALHO & BAPTISTA, 2004).

44 Sobre isso, ao governo de uma configuração minimalista, conclui-se que as pessoas não conseguem ver muito mais do que um policial fardado, um quartel, uma viatura caracterizada, quando o foco recai sobre aquele que deveria ser um ente interativo, próximo e abrangente até onde sua presença seja requerida. Valendo-se, também, que o policial é egresso da própria comunidade, não cabe, por óbvio, nenhum pressuposto de estigma antissocial perante sua existência dentro desse espírito de cooperação polícia e povo. Pedroso Filho (1995), quanto a isso, dispõe:

O policial compromissado com a comunidade da área vai ter na segurança um papel semelhante ao do pronto socorro no setor da saúde. As pessoas querem ser atendidas, entretanto, poucos são os casos que demandam um encaminhamento ao hospital. No policiamento, a maioria dos casos deve ser resolvido na base, não exigindo encaminhamento aos Distritos Policiais e à Justiça. Muitos casos são resolvidos com simples orientação. Esse contexto faz aumentar a credibilidade na organização, aliviando a sobrecarga de custos desnecessários com os deslocamentos de veículos policiais. O morador tem a certeza de encontrar um policial amigo, conhecido e confiável no posto. O ser humano não confia totalmente em quem não conhece e a quem não é capaz de revelar um segredo familiar e outros problemas. (PEDROSO FILHO, 1995, p 95).

Numa análise maior, à guisa de Heidrich (2009, p. 481), “ao defendermos a ideia de que, qualquer que seja a realidade do sujeito, ele é sempre um ser em construção”, por social, ou sociedade, se entende o conjunto de pessoas que vivem em certa faixa de tempo e espaço, seguindo normas comuns, e que são unidas pelo sentimento de consciência do grupo; daí a capacidade de associar a figura do policial com facilidade a esse contexto e, como orientação, esta premissa funciona com mais clareza principalmente nos aglomerados menores, quando existe uma maior sinergia comunitária.

Cabe, portanto, a este policial (ou educador social aglutinador) trabalhar conjunturalmente a melhor compreensão para a formação e desenvolvimento de capacidades que elevem os comunitários a muito mais participarem dos processos transformativos da sociedade a qual fazem parte (GÓMEZ, FREITAS E CALLEJAS, 2007). Este corpo social, ou a comunidade, é também a base de sustentação de todos, seja no presente ou no futuro incerto, então, se servirá à instituição policial militar como catalisadora de boas obras, a partir de seus componentes, tudo se dá mediante a perspectiva psicossocial de uma polícia presente, evidentemente, espelho da própria comunidade, afinal, mencionando o educador social “o que o distingue de outros profissionais é a formação polivalente que lhe permite apropriar-se de

45 situações de carência, saber intervir educativamente e encaminhar para outros profissionais os casos que necessitam de intervenção especializada” (CARDOSO, 2017, p. 14).

Nesta base epistemológica, o educador social (é o que se espera do policial comunitário) deve admitir para si competências que exerçam inclusão social e promoção do desenvolvimento comum, ou seja, ciente da notitia, ou o conhecimento, o alvo seria mobiliar o quadro sociocultural em busca do assenssus, ou, nomeadamente, o assentimento, de forma a agregar saberes transversais e multidisciplinares gerando a fiducia ou a confiança. Assim, com foco numa dinâmica rede de trabalho social, dentro da previsão legal, encontra-se a corporação policial militar no contexto de sua existência permanente. A própria Constituição da República (BRASIL, 1988), assim a apresenta:

Art. 144. A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

Polícia Federal;

Polícia Rodoviária Federal; Polícia Ferroviária Federal; Polícias Civis;

Polícias Militares; e;

Corpos de Bombeiros Militares (grifo nosso).

Pode-se considerar dentro dessa investigação analítica do fator social comunitário, a partir de uma cultura de mudança social (TORREMORELL, 2008), dois pontos: primeiro, quão importante é o policial educador social na comunidade? (com foco, nomeadamente, na escola) e, na contrapartida, qual o grau de receptividade desta comunidade a este profissional? Afinal, “ainda existe um longo caminho a percorrer no sentido de otimização de propostas conducentes à emancipação do aprendiz numa linha de intervenção congruente com a perspectiva construcionista da aprendizagem e respectiva implicações” (PEREIRA, 2016, p. 64).

46