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3. Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência – PROERD

3.3. O PROERD e seus policiais professores

A escola possui o papel importante, segundo Durkheim, citado por Navarro (1947), que é o de oferecer a educação moral que regula as relações entre os indivíduos nos seus aspectos mais básicos; outro fator de responsabilidade, deve residir na missão de transmitir conhecimentos com foco na aprendizagem, quando se observa o papel deste professor como mediador na construção deste saber. Ou, indo mais além, de forma incisiva, com Restrepo (1998):

[...] a escola é violenta quando se nega a reconhecer que existem processos de aprendizagem divergentes, que entram em choque com a padronização que se exige dos estudantes. Haverá violência educativa sempre e quando continuarmos perpetuando um sistema de ensino que obriga a homogeneizar os alunos na aula, a negar as singularidades, a tratar os alunos como se todos tivessem as mesmas características e devessem responder às nossas exigências com resultados iguais (RESTREPO, 1998, p. 65).

No que tange ao PROERD propriamente dito, do ponto de vista formal institucional, explorando sobre o que preceitua a Secretaria de Segurança do Estado de Santa Catarina13,

observa-se os objetivos do programa no contexto do ambiente escolar:

Quadro 8: Objetivo do Proerd na Polícia Militar de Santa Catarina14

1. Trabalhar sobre as causas do uso de drogas lícitas e ilícitas estabelecendo sobre os riscos decorrentes da dependência química e orientando as crianças, adolescentes, assim como seus pais ou responsáveis, acerca da busca de soluções e medidas eficazes quanto à resistência às drogas;

2. Fortalecer a autoestima das crianças e adolescentes a valorizarem a vida, mostrando opções saudáveis de comportamento, longe das drogas e da violência;

3. Sensibilizar as crianças e adolescentes para valores morais e éticos, possibilitando a visualização, bem como proporcionar a construção de uma sociedade mais justa, sadia e feliz;

13Disponível em http://www.ssp.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=265&Itemid=172,

Acesso em 23 de junho de 2017.

14Disponível em: http://www.ssp.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=265&Itemid=172.

64 4. Disponibilizar aos pais e/ou responsáveis ferramentas para que, quando questionados sobre os efeitos negativos das drogas, possam atender às expectativas, bem como mostrar a importância do fortalecimento da estrutura familiar;

5. Prevenir a criminalidade relacionada direta ou indiretamente ao uso de drogas;

6. Disponibilizar aos Policiais Militares práticas pedagógicas adequadas para aplicação do programa junto às crianças;

7. Aproximar a Polícia Militar da comunidade escolar, e por consequência da comunidade em geral. Proporcionando um clima de parceria e confiança, gerando informações tornando possível um melhor atendimento aos anseios sociais, bem como mostrar a importância do papel social da corporação.

Fonte: sítio oficial da Polícia Militar de Santa Catarina

Destarte, analisando agora os policiais militares que atuam em sala de aula como professores, tem sido motivo de grande cautela por parte da instituição policial militar a escolha e treinamento destes profissionais. Desnecessário dizer que tais agentes devem ser detentores de características fundamentais para que venham a compor o rol de professores, a serem apresentados nos parágrafos que seguem, à medida que é esperado desses profissionais estimular os alunos para construírem juntos, um novo conhecimento, valorizando e colocando em primeiro plano as discussões dos alunos nas atividades realizadas em equipes (BRASÍLIA, 2005a).

Todavia, prioritariamente no Ceará, aplica-se o PROERD para o 5º ano, ou a idade composta em média entre os dez e doze anos, seguindo-se de uma permanente preocupação com educação notadamente a infantil. Para tanto, devemos ponderar sobre os volumes teóricos propostos por Schön15 (1992), que caracteriza o profissional da educação como um sujeito reflexivo, em Perrenoud (1997) que aponta competências necessárias para a constituição do educador e em Kroath (1989), que considera o indivíduo como sujeito epistemológico, que formula teorias como agregação de aspectos cognitivos, entre os paralelismos e entre teorias científicas e subjetivas, estas últimas representadas e apresentadas de maneira empírica. De tal modo, no Manual do facilitador do PROERD do Distrito Federal, Brasília (2005b), algumas habilidades essenciais desenvolvidas no curso de formação para os professores do programa são trabalhadas, como seguem:

15 SCH

ö

N, D. A, Formar professores como profissionais reflexivos. In NOVOA (org.), Os professores e sua

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Quadro 9: Habilidades essenciais para os policiais-professores previstas no curso de formação do PROERD

Mantêm um clima propício à participação, a escuta, entendimento, aprendizagem e criatividade; Escutam ativamente; ajudam o grupo a estabelecer e cumprir os seus próprios objetivos;

Oferecem estrutura e orientação para aumentar a probabilidade de que os objetivos serão cumpridos; Mantêm o grupo concentrado em seus objetivos; incentivam o diálogo e a interação entre os participantes; Sugerem e direcionam processos que dão autonomia e mobilizam o grupo a realizar o trabalho;

Tiram proveito das diferenças entre os membros do grupo em prol do bem-comum de todo o grupo; Permanecem neutros com relação ao conteúdo e ativos na sugestão e direcionamento do processo; Protegem os membros do grupo e suas ideias para que não sejam atacadas ou ignoradas;

Usam habilidades de facilitação para lançar mão da bagagem de conhecimento, experiência e criatividade do grupo;

Selecionam, organizam e resumem as contribuições do grupo ou fazem com que o grupo o faça;

Ajudam o grupo a chegar a um consenso saudável, a definir e comprometer-se com os próximos passos e a chegarem a uma conclusão em tempo hábil.

Fonte: (BRASÍLIA, 2005b, p. 8)

Ademais, ponderando em Lorencini (1997, p. 95), “a sala de aula pode ser uma espécie de laboratório de possibilidades de expressão da liberdade, permitindo que os alunos pensem e reflitam sobre si próprios”, o alvo sob inquirição pedagógica é compreender a aprendizagem e seu mediador (estamos falando do policial militar componente do PROERD presente em sala de aula), em sua origem social como profissional de segurança pública e sua chegada em sala de aula para mediar estudantes, meninos e meninas, em tenra idade, rumo ao aprendizado sobre como dizer não às drogas e à violência:

“Nessa perspectiva, ao comportar-se como facilitador em sala de aula, o policial desenvolve um trabalho qualitativo e significativo para a aprendizagem dos estudantes, além de proporcionar-lhes a oportunidade de construir o conhecimento necessário para evitar a procura e resistir às ofertas de drogas” (GUEDES E OLIVEIRA, 2016, p.101)

O detalhe importante no contexto maior é que estes assuntos dizem respeito ao incremento da cidadania também para crianças em seus desenvolvimentos como seres sociais, daí a necessidade de um profissional que possa contribuir a mais com tais discussões no ambiente escolar; para tanto, subsidiariamente, podemos tomar Balestreli (2002, p. 25) que diz: “falar sobre o protagonismo policial no campo dos Direitos Humanos, além de provocar o intelecto como só fazem os mais novos e desafiadores paradigmas, gera uma satisfatória sensação de enorme esperança”.

66 Igualmente, segue-se o perfil do professor PROERD, para melhor compreensão, a partir dos atributos necessários para participação do programa, a ser avaliado por uma comissão nomeada pelo comando da corporação: “a habilitação do policial instrutor é realizada após uma seleção, que leva em conta alguns critérios: ter no mínimo dois anos de serviço em atividade- fim da Corporação; possuir experiência e/ou formação em atividades educacionais, recreativas e/ou comunitárias; ter um bom comportamento; ter facilidade de expressar-se verbalmente; não ser dependente de nenhuma droga (lícita ou ilícita); gostar de crianças” (RATEKE, 2006, p. 42), devendo participar nos centros estaduais de treinamento do programa de um curso de formação com 120 horas/aula (no que pese já tratar-se de um profissional com formação técnica na qualidade de agente público), perante as constituições pedagógicas abaixo admitidas:

Quadro 10: Constituições pedagógicas do PROERD

Informações baseadas em pesquisas: as informações sobre as drogas e a violência devem ser obtidas através dos resultados das mais recentes pesquisas quando os grupos ou classes estiverem resolvendo problemas. Guiado por problemas: O eixo norteador dos conteúdos e das atividades dos alunos baseiam-se em situações- problemas, típicas das pressões de grupos.

Interativo: Os alunos se envolvem ativamente nas situações-problemas através de discussões profundas, do pensamento crítico e da encenação de papéis com outros alunos.

Estrutura em espiral: Os conhecimentos e as habilidades devem ser revisados ao longo das aulas, de modo que as habilidades sejam apresentadas, revistas e praticadas em situações problematizadas cada vez mais complexas.

Aprendizado ativo: As atividades devem refletir o envolvimento constante dos alunos, através de intensas discussões com toda a classe, mediadas pelo instrutor no conjunto das encenações das habilidades e dos conhecimentos aprendidos, e da solução de problemas – ou a tomada de decisão – em pequenos grupos de aprendizado cooperativo.

Fonte: (PERNAMBUCO16, 2017)

Por fim, esta capacitação é conduzida por policiais professores veteranos do programa, componentes de centros de treinamentos institucionais do PROERD, que atuam como departamentos ligados diretamente aos gabinetes dos comandantes gerais de cada estado (no Ceará17 é amparado conforme Decreto Estadual nº 28.232), bem como profissionais convidados das áreas pedagógicas, psicológicas, médicas e jurídicas de instituições conveniadas.

16 Disponível em: http://www.proerd.go.gov.br/post/ver/181476/curriculo-5o.-ano-do-ensino-fundamental.

Acesso em 4 set 2017.

17 Decreto Estadual nº 28.232 de 04 de maio de 2006, publicado no Diário Oficial do Estado do Ceará 08 de maio

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