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4. As formas de expressão política da União Europeia e Portugal

4.1. União Europeia

4.1.3. A Política Marítima Integrada

A UE, através da Comissão, reconheceu em 10 de outubro de 2007 que o seu bem- estar e prosperidade dependeria de forma significativa do mar e das áreas costeiras, dada a sua importância como meio de transporte, regulador do clima, fonte de alimento, de energia e de recursos, e de residência e lazer, e ciente da vulnerabilidade crescente das zonas costeiras, devido às alterações climáticas, da deterioração do ambiente marinho, pelo crescente congestionamento de atividades marítimas em águas interiores e costeiras, bem como do complexo processo de tomada de decisão em relação aos assuntos do mar, por estar fragmentado pelos diferentes atores da União, adotou a PMI, assente na ideia de que, através de uma maior colaboração e integração, a União poderá colher mais benefícios dos mares e dos oceanos com um menor impacto ambiental.

A PMI é uma abordagem integrada de todas as políticas relacionadas com o mar, que abrange diversos domínios como as pescas e a aquicultura, os transportes e os portos marítimos, a investigação marinha, o ambiente marinho, as energias offshore (petróleo, gás e as energias renováveis), a construção naval e industrias conexas, a vigilância

marítima, o turismo (costeiro e marítimo), o emprego nos sectores marítimos, o desenvolvimento das regiões costeiras e as relações externas em matéria do mar.

Com esta política os Estados-Membros foram estimulados a definirem políticas marítimas nacionais integradas em cooperação com os interessados e em especial nas regiões costeiras. Para o efeito, foi identificada a necessidade de desenvolver instrumentos de planeamento para apoiarem a elaboração de políticas conjuntas. Os instrumentos identificados foram a vigilância marítima, o ordenamento do espaço marítimo e uma fonte exaustiva e acessível de dados e informação.

A vigilância marítima decorreu da necessidade de melhorar e otimizar as atividades de vigilância marítima, assim como a interoperabilidade ao nível europeu. Atendendo que, na maioria dos Estados-Membros, as atividades de vigilância, à pesca comercial e de recreio, ao ambiente, ao policiamento dos mares, ao narcotráfico e à imigração, são da responsabilidade de diferentes autoridades que atuam independentemente umas das outras. Resultando na duplicação ou subutilização de recursos. Portanto, no âmbito da vigilância marítima, a presente PMI visa promover: o reforço da cooperação entre as guardas costeiras dos Estados-Membros e serviços adequados; e a interoperabilidade do sistema de vigilância, através da congregação dos atuais sistemas de vigilância e localização utilizados para garantir a segurança marítima e a proteção do transporte marítimo, a proteção do ambiente marinho, o controlo das pescas, o controlo das fronteiras externas e outras atividades de fiscalização para cumprimento da legislação (Comissão das Comunidades Europeias, 2007, p. 5 a 6).

O ordenamento do espaço marítimo e gestão integrada das zonas costeiras (GIZC) decorreu da necessidade de se fazer face à crescente utilização do mar e aos problemas resultantes da concorrência, com especial incidência em áreas confinadas e onde os Estados costeiros partilham fronteiras marítimas, como por exemplo no Canal da Mancha e no Mar Báltico, problema que não se coloca a Portugal atento a enormidade dos seus espaços marítimos. As atividades concorrentes passam pelo transporte marítimo, pela produção de energia offshore e outras formas de exploração do leito marinho, como por exemplos a pesca, a aquicultura e atividades de lazer. Portanto, este instrumento foi considerado como fundamental para o desenvolvimento sustentável das zonas marítimas e das regiões costeiras, bem como para o restabelecimento das boas condições ambientais dos mares europeus. Neste sentido, os Estados-Membros começaram a utilizar o GIZC para regulamentar a distribuição espacial das atividades económicas e para criar sistemas de ordenamento espacial para as águas costeiras da Europa. Ao nível europeu foi

identificada a necessidade de definir princípios e orientações comuns, por forma a flexibilizar e assegurar a sustentabilidade dos ecossistemas marinhos regionais. Para o efeito, ficou estabelecido que, em 2008, a Comissão elaboraria um guia para promover um maior ordenamento do espaço marítimo por parte dos Estados-Membros (Comissão das Comunidades Europeias, 2007, p. 6 e 7).

Os dados e informações decorreu da necessidade de estabelecer uma infraestrutura adequada para recolher os dados e informações sobre o ambiente marinho (fatores naturais e atividade humana), que se encontram armazenados por toda a Europa para fins diversos, por se considerar que a sua compilação num sistema global constitui um instrumento que permite assegurar uma melhor governação, a expansão de serviços com valor acrescentado e um desenvolvimento marítimo sustentável. Para o efeito, ficou estabelecido que, em 2008, a Comissão tomará medidas que visam a criação de uma rede europeia de observação e de dados sobre o meio marinho e promoverá a cobertura cartográfica multidimensional das águas dos Estados-Membros (Comissão das Comunidades Europeias, 2007, p. 7).

O principal objetivo da PMI é criar melhores condições para a utilização sustentável dos oceanos e mares, a fim de permitir o desenvolvimento dos sectores marítimos e das regiões costeiras. Para alcançar tal objetivo foram estabelecidos cinco domínios de ação: a maximização da utilização sustentável dos oceanos e mares; a construção de uma base de conhecimentos e inovação para a política marítima; a maximização da qualidade de vida nas regiões costeiras; a promoção da liderança europeia nos assuntos marítimos internacionais; e promoção da visibilidade da Europa marítima.

A maximização da utilização sustentável dos oceanos e mares decorre da crescente utilização dos oceanos e dos mares, um dos indicadores é o aumento considerável do sector do transporte marítimo a partir de 2000 e a sua previsão de triplicar até 2020. O transporte marítimo é vital para o comércio internacional e interno europeu e continua a ser a espinha dorsal para a economia do mar. No entanto, a prosperidade deste sector depende dos esforços da União em garantir um nível elevado de segurança marítima e proteção do transporte marítimo em termos de proteção das vidas humanas e do ambiente. Para melhorar a eficiência do transporte marítimo na Europa e assegurar a sua competitividade a longo prazo, a Comissão definiu como objetivo garantir um espaço europeu do transporte marítimo sem barreiras e elaborar uma estratégia global para o transporte marítimo a vigorar no período 2008-2018.

Os portos marítimos europeus, elementos essenciais na cadeia logística marítima de que depende a economia europeia (90% do comércio externo e cerca de 40% do comércio interno passam por eles), e a tendência crescente do comércio interno e internacional, enfrentam desafios significativos para desenvolverem a sua capacidade em harmonia com os objetivos ambientais e de competitividade das políticas comunitárias. Para o garantir, a Comissão definiu três linhas de ação: apresentar uma nova política portuária abrangente aos múltiplos papéis dos portos; reduzir os níveis de poluição atmosférica causada pelos navios nos portos, nomeadamente acabando com as questões fiscais associadas ao fornecimento de eletricidade a partir da rede terrestre; e formular orientações para aplicação da legislação ambiental comunitária para desenvolvimento dos portos.

No âmbito da cadeia logística marítima europeia acresce a necessidade existirem estaleiros de construção e reparação naval e de empresas de equipamento marítimo. A investigação e o desenvolvimento de novas tecnologias marinhas são essenciais para a Europa beneficiar de todas as potencialidades que o mar oferece enquanto fonte de recursos naturais, como sejam o petróleo e o gás, e outras novas indústrias, como a biotecnologia azul, as energias renováveis offshore, o equipamento subaquático e a aquicultura marinha. Fundamenais para o crescimento económico no respeito pelo ambiente. Para o efeito a Comissão incentiva a formação clusters multissectoriais e de centros de excelência marítima e promoverá uma rede europeia de clusters marítimos.

No âmbito do ambiente a Comissão releva o papel da comunidade no domínio da segurança marítima e da prevenção da poluição causada pelos navios, e definiu as seguintes ações: reduzir o impacto das alterações climáticas nas zonas costeiras, apoiando ativamente os esforços internacionais para diminuir a poluição atmosférica e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa causadas pelos navios; e apresentar propostas para que o desmantelamento de navios obsoletos seja efetuada de forma eficiente, segura e sustentável em termos de ambiente.

No âmbito das pescas, a Comissão realça a importância do bem-estar das comunidades costeiras, o ambiente marinho e a interação entre a pesca e outras atividades, e define como objetivos prioritários a recuperação das unidades populacionais de peixes, o combate à pesca ilegal, não declarada e não regulamentada nas suas águas e no alto mar, a melhoria da segurança dos pescadores e o desenvolvimento da aquicultura como forma de dar resposta ao aumento da procura, a nível mundial, de produtos de mar. Para o efeito a Comissão definiu as seguintes ações: adotar medidas energéticas para eliminar as

devoluções ao mar e as práticas destrutivas, como o arrasto de fundo no alto mar, e eliminar a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada; e promoverá o desenvolvimento de um sector aquícola que seja inofensivo para o ambiente.

A construção de uma base de conhecimentos e inovação para a política marítima é considerada crucial para o desenvolvimento sustentável das atividades marítimas, pelo facto de permitir uma compreensão profunda do impacto das atividades humanas nos sistemas marinhos. O reforço da abordagem multidisciplinar da ciência marinha é referido como indispensável para se alcançar a compreensão e o desenvolvimento de uma estratégia que articule o nível político com o nível de investigação por forma a potenciar as sinergias entre os Estados-Membros e suprimir faltas de eficiência, atendendo aos elevados custos da investigação marinha. Para o efeito a Comissão definiu como objetivo prático apresentar em 2008 uma estratégia europeia para a investigação marinha e marítima; promover uma abordagem integrada e melhorar a compreensão dos assuntos marítimos; apoiar a investigação sobre a previsão e a redução do impacto das alterações climáticas nas atividades marítimas, no ambiente marinho, nas zonas costeiras e nas ilhas; apoiar a criação de uma parceria europeia sobre ciência marinha, com vista a estabelecer um diálogo entre a comunidade científica, o sector industrial e os decisores políticos (Comissão das Comunidades Europeias, 2007, p. 12 a 13).

A maximização da qualidade de vida nas regiões costeiras decorre de o crescimento demográfico nas regiões costeiras e insulares ter sido duas vezes superior ao crescimento demográfico médio na UE, entre 1997 e 2007, e a necessidade de harmonizar o desenvolvimento económico, a sustentabilidade do ambiente e a qualidade de vida nessas regiões. Para o efeito a Comissão definiu as seguintes ações: promover o turismo costeiro e marítimo; preparar uma base de dados sobre financiamento comunitário disponível para os projetos marítimos e as regiões costeiras; desenvolver uma estratégia comunitária de prevenção de catástrofes face aos riscos a que estão expostas as regiões costeiras; e desenvolver o potencial marítimo das regiões ultraperiféricas e das ilhas (Comissão das Comunidades Europeias, 2007, p. 14).

A promoção da liderança europeia nos assuntos marítimos internacionais procura assegurar uma governação internacional dos assuntos marítimos mais eficiente, o cumprimento do DIM e promover a coordenação dos interesses europeus nas principais instâncias internacionais. Nomeadamente, garantir o acesso das indústrias e serviços marítimos europeus aos mercados internacionais, a exploração comercial e cientifica sustentável das águas profundas, a proteção da biodiversidade marinha mundial, a

melhoria da segurança marítima e da proteção do transporte marítimo, as condições de trabalho, a redução da poluição causada pelos navios e a luta contra as atividades ilegais nas águas internacionais. Assim como, avaliar as implicações geopolíticas das alterações climáticas ligadas ao oceano Ártico, debater os assuntos marítimos com os parceiros da União, fomentar a responsabilidade partilhada relativamente aos mares partilhados com os seus vizinhos, e propor um acordo, no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, sobre zonas marinhas protegidas no alto mar. Para o efeito a Comissão definiu as seguintes ações: promover a cooperação no quadro de alargamento e da vizinhança e fim de abranger as questões relativas à política marítima e à gestão partilhada dos mares; e a desenvolver uma estratégia para a projeção externa da política marítima da União, através de um diálogo estruturado com os principais parceiros (Comissão das Comunidades Europeias, 2007, p. 14 a 15).

A promoção da visibilidade da Europa marítima tem o propósito de aumentar a visibilidade da Europa marítima, melhorar a imagem das atividades marítimas e das profissões ligadas ao mar, promover uma nova consciência pública sobre a importância da economia e património marítimo europeu que crie um sentimento de partilha de objetivos e de identidade comum. Para o efeito a Comissão definiu as seguintes ações: criar o Atlas europeu dos mares como instrumento pedagógico e como forma de chamar a atenção para o nosso património marítimo comum; e a celebração anual, a partir de 2008, do dia marítimo europeu a fim de aumentar a visibilidade dos assuntos marítimos e promover ligações entre as organizações que se ocupam do património marítimo, os museus e os aquários (Comissão das Comunidades Europeias, 2007, p. 15 a 16).