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4. As formas de expressão política da União Europeia e Portugal

4.2. Portugal

4.2.1. A Estratégia Nacional para o Mar

A Estratégia Nacional para o Mar (ENM), para o período 2013 a 2020, baseia-se no modelo de desenvolvimento da UE para o setor marítimo, designado por “Crescimento Azul200”. A ENM 2013 é o instrumento político que promove e coloca em prática um

plano de ação que, no longo prazo, visa materializar os objetivos da economia do mar201,

199 No entanto, o primeiro navio desta classe de navios que deveria estar ao serviço da Marinha da

Alemanha, desde novembro de 2016, foi devolvida ao construtor. A agência de aquisição de material de Defesa da República Federal da Alemanha (do Alemão: Bundesamt für Ausrüstung, Informationstechnik

und Nutzung der Bundeswehr - BAAINBw), pela primeira vez na história da Marinha Alemã, recusou

comissionar a primeira unidade a F222 Baden-Württemberg, alegando diversos problemas, como adornamento persistente a estibordo, peso significativamente acima do previsto, limitando o desempenho e aumentando os custos de operação e, acima de tudo, a impossibilidade da Marinha da Alemanha efetuar futuras atualizações em unidades navais escassamente equipadas.

200 O “Crescimento Azul” é a visão da UE para o setor marítimo, procura identificar e dar resposta aos

desafios económicos, ambientais e sociais, através do desenvolvimento de sinergias entre as diferentes políticas setoriais, sendo os domínios estratégicos de atuação: a energia azul; a aquicultura; o turismo marítimo costeiro e de cruzeiros; os recursos minerais marinhos; e a biotecnologia azul. Para o efeito, procura identificar e dar apoio a atividades com elevado potencial de crescimento, eliminar obstáculos administrativos que dificultem o crescimento e promover o investimento na investigação, bem como no desenvolvimento de competências através da educação e formação profissional (Comissão Europeia, 2014).

201 Os domínios de intervenção da economia do mar, extraídos da ENM 2013, são os seguintes: os recursos

vivos; os recursos não vivos; Portos, transportes e logística; recreio, desporto e turismo, construção, manutenção e reparação naval; e obras marítimas.

permitindo, à Administração Central, Regional e Local criar e manter um ambiente favorável de investimento público e privado para o desenvolvimento sustentável das atividades ligadas ao mar. Para o efeito, a ENM estabelece os seguintes objetivos principais (ENM-OP):

 Recuperar a identidade marítima nacional num quadro moderno, pró-ativo e empreendedor (ENM-OP1);

 Concretizar o potencial económico, geoestratégico e geopolítico mediante a criação de condições para atrair investimento, nacional e internacional, e a promoção do crescimento, do emprego, da coesão social e da integridade territorial (ENM-OP2);  Aumentar, até 2020, a contribuição direta do setor mar para o Produto Interno Bruto

nacional em 50% (ENM-OP3);

 Reforçar a capacidade científica e tecnológica nacional, estimulando o desenvolvimento de novas áreas de ação (ENM-OP4);

 Consagrar Portugal, a nível global, como nação marítima e parte incontornável da Politica Marítima Integrada e da Estratégia Marítima da União Europeia para a Área do Atlântico (ENM-OP5).

Observando os OE da presente investigação e correlacionando-os com os ENM- OP de 2013, verificamos que o OE4 contribui para o ENM-OP4, validando a relevância do conhecimento científico do leito e subsolo da PC nacional, visto que a sua materialização depende da capacidade científica e tecnológica do Estado. Quanto à segurança marítima nacional, não obstante ser considerada essencial para o regular desenvolvimento das atividades económicas ligadas ao mar, não encontrámos ligação direta com os ENM-OP. Todavia, no modelo de desenvolvimento, capítulo III, da ENM (RCM, 2014, p. 1319), são identificados desafios em diversos domínios (administração; cultura e comunicação; educação, ciência e tecnologia; afirmação e cooperação internacional) que têm correspondência com os OE2, OE3 e OE4 da presente investigação.

Na administração destaca-se a necessidade de eliminar sobreposições de competências e reduzir a burocracia e de promover sistemas que garantam a vigilância, monitorização e controlo que compreendam todo o espaço marítimo nacional – correspondência com o OE2 e OE3. Na cultura e comunicação destaca-se a necessidade de sensibilizar a sociedade sobre a importância do crescimento azul e renovar a identidade marítima. Na educação, ciência e tecnologia é reconhecida a necessidade de assegurar condições para a educação e treino que permita a qualificação de um número crescente

de técnicos nas disciplinas ligadas ao mar – correspondência com o OE4. Na afirmação e cooperação internacional destaca-se a necessidade de manter uma participação ativa nos fóruns internacionais para permiti um papel de maior relevo no quadro da governação dos mares e oceanos. No quadro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) destaca-se a necessidade de cooperar com os países da CPLP nas áreas da segurança da navegação, a partilha de informação (para avaliação de ameaças), a segurança interna e a segurança e assistência nas praias. Na proteção do ambiente marinho destaca-se exploração económica sustentável e a preservação ambiental e a necessária articulação e cooperação internacional. Na proteção e salvaguarda é reconhecido que a “imensidão do espaço marítimo e a ausência de fronteiras físicas tornam a prevenção e o controlo da prática de atos ou atividades ilícitas no mar e a bordo de embarcações particularmente difíceis” e que os Estados “devem colaborar na segurança (safety e security) do exercício da liberdade de navegação, designadamente através da adoção de medidas que protejam e previnam a prática de atos ilícitos contra e a bordo de navios e da execução de medidas que garantam a preservação e proteção do meio ambiente marinho no exercício dessa liberdade”. Para o efeito, particulariza que Portugal “deverá promover o uso dos meios disponíveis, segundo as lógicas da eficiência e da subsidiariedade, desenvolvendo um esforço de cooperação civil-militar que contribua para assegurar uma resposta eficaz”, apontando como “primeiramente necessário, promover a partilha de informação entre os sistemas de vigilância, de monitorização e de controlo” – correspondência com o OE3.

Constatamos desta forma que a ENM 2013 é focada na economia do mar e no crescimento sustentável das atividades humanas conexas e reconhece os principais desafios para o seu desenvolvimento. No âmbito destes desafios sobressai a necessidade de Portugal ter massa crítica altamente qualificada nas áreas científicas e tecnológicas ligadas ao mar, considerada fundamental para o conhecimento do leito e subsolo da PC, e a importância de proteger e salvaguardar os espaços e os recursos marítimos, estabelecendo, neste âmbito, como prioridade, a partilha de informação entre os sistemas de vigilância, de monitorização e de controlo das atividades no mar que, conforme anteriormente observado, encontram-se dispersos por mais de 400 autoridades da UE, com responsabilidades de vigilância marítima. Constatamos ainda que, na proteção e salvaguarda, promove ainda o uso dos meios civil-militar disponíveis segundo as lógicas da eficiência e da subsidiariedade. (RCM, 2014, p. 1317 a 1321)

Recorrendo ao plano de ação que se encontra integrado na ENM 2013-2020 e que se designa por Plano-Mar-Portugal (PMP), constamos a existência de gráficos de

complexa interpretação que, no final, resumem-se a uma simples e incompleta Matriz de Ação onde constam os objetivos dos Programas de Ação e efeitos esperados (RCM, 2014, p. 1322 a 1336). Incompleta, porque, atento à necessidade de monitorização e avaliação da execução da estratégia, não encontrámos definidas as entidades que, aos respetivos níveis de execução, devem produzir os efeitos com ações, também não encontramos os respetivos prazos de execução e conclusão, nem as respetivas medidas de eficiência e/ou indicadores que consideramos essenciais para a avaliação dos efeitos produzidos. Nestas circunstâncias, consideramos ser uma estratégia de muito difícil execução, atento a falta de elementos que permitam a sua real monitorização e avaliação.

Consideramos que o plano de ação deveria ser constituído basicamente por linhas de ação estratégica (LAE) organizadas por objetivos estratégicos e cada LAE deverá identificar a entidade governamental responsável (diga-se ministério), as medidas de eficiência, os indicadores e os prazos de execução. Consequentemente, cada ministério, através dos seus órgãos operacionais e táticos, procede à dedução dos respetivos objetivos e efeitos (com base nos objetivos e efeitos estratégicos) e executam as respetivas ações, produzindo os efeitos desejados (com reflexo nos vários níveis de execução), permitindo, consequentemente, alcançar os objetivos estratégicos.