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Política sobre as matérias-primas importantes ou críticas

4. As formas de expressão política da União Europeia e Portugal

4.1. União Europeia

4.1.6. Política sobre as matérias-primas importantes ou críticas

Neste subcapítulo, considerando que a soberania nacional sobre recursos vivos é partilhada com a UE e considerando que existe estabilidade na produção e consumo dos recursos energéticos não renováveis, nomeadamente petróleo e gás, a nossa observação e análise será focada nas políticas da UE sobre recursos não energéticos importantes ou críticos para a sua economia, como no caso dos minerais, atento ao facto destes serem essenciais para o fabrico de tecnologia de ponta e o seu fornecimento se encontrar dependente do principal produtor mundial – a China.

Para fundamentar a nossa análise começamos por identificar e adotar os principais conceitos sobre a disponibilidade, exploração e extração de minerais, designadamente: matéria-prima importante ou crítica; depósito mineral; reserva mineral; recurso mineral; e mineração em águas profundas.

A matéria-prima importante ou crítica é aquela em que o risco de escassez de fornecimento e o impacto na economia é superior em comparação com a maioria de outras matérias-primas. Podendo os riscos ser de dois tipos, a saber: o “risco de fornecimento” que tem em consideração a estabilidade político-económica dos países produtores, o nível de concentração da produção, o potencial de substituição e a taxa de reciclagem; e o “risco ambiental do país” avaliando-se os riscos das medidas de proteção ambiental tomadas por países produtores e que coloquem em perigo o fornecimento de matérias-primas à UE. (CE, 2010, p. 5)

O depósito mineral é qualquer acumulação de um mineral ou um grupo de minerais economicamente valioso. O valor de um depósito depende da quantidade de

mineral disponível, do custo da mineração e processamento, do preço de mercado atual e futuro, e da estrutura política e social para aceder a tais depósitos. (CE, 2010, p. 14)

A reserva mineral é a parte do recurso totalmente avaliada geologicamente que é comerciável e legalmente explorável. As reservas podem ser consideradas como "inventários de trabalho" que são continuamente revisitados à luz de vários "fatores modificadores" relacionados com a mineração, metalurgia, economia, marketing, direito, meio ambiente, comunidades, governo, etc. (CE, 2010, p. 14)

O recurso mineral é uma concentração natural de minerais ou um corpo de rocha com potencial ou interesse económico comprovado. Um recurso que possui propriedades físicas e/ou químicas que o tornam adequado para usos específicos e que está presente em quantidade suficiente para ter interesse económico. (CE, 2010, p. 15)

A extração consiste no processo de obtenção (extração) de matéria-prima do meio ambiente e também é referido como mineração ou colheita. Este processo envolve atividades de prospeção e investigação para localização dessas matérias-primas (conhecimento geológico) e de desenvolvimento tecnológico e procedimentos para extração desses locais, por exemplo a mineração (CE, 2017b).

A mineração em águas profundas consiste no alargamento das atividades mineiras terrestres ao oceano profundo, isto é, a extração de minerais em profundidades superiores a 200 metros. Todavia, esta demanda requer novas tecnologias e novos conhecimentos científicos, muitos dos quais ainda não adquiridos ou desenvolvidos (Deepsea, 2018).

O Cruzeiro de Investigação Científica são atividades de investigação científica realizadas no mar, por serviços públicos ou privados (empresas ou companhias), com vista a desenvolver conhecimento hidrográfico, oceanográfico, geológico, biológico e meteorológico.

Definidos os conceitos essenciais para a nossa análise, devemos agora caracterizar os motivos ou circunstâncias, que impulsionaram o interesse mundial e particularmente da UE em explorar e extrair minerais do fundo dos oceanos em águas profundas.

Os minerais são essenciais para a economia global e o desenvolvimento futuro depende da continuidade do seu fornecimento. À semelhança dos combustíveis fósseis os minerais também não são renováveis e, em muitos casos, a escassez de depósitos minerais em países industrializados tornou o fornecimento dependente de produtores externos. Concomitantemente, a demanda provocada pelo crescente consumo de tecnologias de ponta, a baixa substituibilidade e taxa de reciclagem próxima do zero, tornaram as economias vulneráveis a possíveis interrupções no fornecimento de minerais.

Neste contexto, a Comissão das Comunidades Europeias (CCE) lançou em 2008 a Raw Materials Iniciative, com a finalidade de garantir o acesso a matérias-primas assegurando as condições do mercado mundial, promover o fornecimento sustentável de matérias-primas aos países europeus e reduzir o consumo de matérias-primas primárias na UE (Europa, 2008).

Para garantir o acesso a matérias-primas e, consequentemente, assegurar as condições do mercado mundial, foram estabelecidas as seguintes linhas de ação:

 Através da diplomacia, cooperar com países ricos em recursos, como a China e países dependentes de recursos, como os EUA e o Japão;

 Através da cooperação internacional, via fóruns como o G8, OCDE, etc., aumentar a consciencialização sobre as estas questões e criar diálogo;

 Tornar o acesso às matérias-primas primárias e secundárias uma prioridade da política comercial e regulamentar da UE, por forma a assegurar que as medidas que distorcem o comércio de mercado aberto, tais como restrições de exportações e dualidade de preços sejam eliminados.

Para promover o fornecimento sustentável de matérias-primas aos países europeus, foram estabelecidas as seguintes linhas de ação:

 Garantir as condições estruturais para evitar atrasos no licenciamento que possam impedir novos projetos;

 Melhorar a base de conhecimento europeu sobre os depósitos de minerais. O acesso de longo prazo a esses depósitos deve ser considerado durante planeamento de utilização dos solos;

 Melhorar o intercâmbio de informações entre países através de redes entre os levantamentos geológicos nacionais;

 Promoção de projetos de investigação centrados na extração e transformação (7.º Programa-Quadro e continuação no Horizonte 2020) e disponibilizar financiamento para projetos;

 Aumentar a quantidade de pessoal qualificado, cooperando com as universidades e aumentando a consciência pública sobre a importância dos materiais domésticos.

Para reduzir o consumo de matérias-primas primárias na UE foram estabelecidas como linhas de ação:

 Melhorar a eficiência dos recursos, bem como melhorar a conceção dos produtos, por exemplo através da Eco-Design Directive;

 Diminuir a quantidade de materiais perdidos através da exportação ilegal para garantir as matérias-primas secundárias. Isto também exigirá boas relações com

países terceiros para assegurar a aplicação dos regulamentos relativos à transferência de resíduos;

 Aumentar a reutilização e reciclagem através de legislação, normas e rotulagem, financiamento, partilha de conhecimento, etc.

Com base nesta iniciativa, a CE criou um grupo de trabalho constituído por diversos especialistas, apoiado tecnicamente por consultores da Fraunhofer ISI128

(Institute for Systems and Inovation), para estudar por país produtor a importância

económica, o risco de fornecimento e os riscos ambientais de 41 matérias-primas minerais e metais potencialmente críticas para a UE. Em 2010, este grupo de trabalho apresentou o seu primeiro relatório, identificando 14 matérias-primas críticas para a economia da União (CE, 2010). Na Figura 4, em função da importância económica e do risco de fornecimento estão representadas as 41 matérias-primas minerais críticas subdivididas em três grupos. Encontrando-se no quadrante superior direito o subgrupo das 14 consideradas mais críticas, designadamente: antimónio, berílio, cobalto, espatoflúor, gálio, germânio, grafite, índio, magnésio, nióbio, metais do grupo platina (do inglês: Platinum Group

Metals – PGM), terras raras, tântalo e tungsténio.

Fonte: (CE, 2010, p. 33)

128 O instituto alemão Fraunhofer ISI, desde a sua criação em 1972, tem sido um influente ator na formação

do panorama da inovação alemã e internacional. Atualmente, emprega cerca de 220 funcionários, entre eles, cientistas das áreas das ciências naturais, sociais, engenharia e economia, que, a cada ano, trabalham em cerca de 420 projetos de investigação (Fraunhofer ISI, 2018).

Relativamente à sua origem de produção, o antimónio, espatoflúor, gálio, germânio, grafite, índio, magnésio, terras-raras e tungstênio são produzidos principalmente na República Popular da China, os PGM são importados da Federação Russa, o cobalto e tântalo da República Democrática do Congo e o nióbio e tântalo do Brasil (CE, 2010). No gráfico destaca-se ainda o elevado risco associado ao fornecimento de terras raras129. O elevado risco, associado às terras raras, resulta do facto de existir um produtor principal a nível global, da demanda crescente por tecnologias de ponta, da baixa substituibilidade e taxa de reciclagem nula destas matérias-primas. As terras raras são empregues em artigos muito procurados na atualidade, daí a demanda crescente, como por exemplos, servem para fabricar baterias recarregáveis, turbinas eólicas, componentes aeroespaciais, viaturas elétricas, filtros, combustíveis, lâmpadas de baixo consumo, equipamentos informáticos (tabletes, smartphones, televisões de ecrã plano, etc.), bem como em artigos de cerâmica para melhorar as propriedades térmicas.

O produtor principal de terras raras é a China, com mais de 90% do volume internacional. Ciente do poder conferido pelos seus recursos, a China, no final da primeira década do século XXI, impôs restrições no acesso aos 17 elementos metálicos, tendo estas restrições motivado uma queixa na Organização Mundial para o Comercio (OMC), por parte dos EUA, UE e Japão. Efetivamente, a quota de exportação encontra-se oficialmente fixada pela OMC, no entanto, a China, motivada por medidas protecionistas do seu Governo130, reduziu a produção, causando o aumento destas matérias-primas e elevando,

consequentemente, o risco de fornecimento (Miles & Hughes, 2014).

Ao investigarmos o argumento de proteção ambiental apresentado pela China, verificámos que as autoridades chinesas descobriram em 2011 que cerca de 33% dos produtos de chá produzidos pela UNILEVER, detentora da marca LIPTON TEA, continham quantidades residuais de produtos químicos tóxicos de terras raras (3,4 mg/kg, em vez de 2,0 mg/kg), cuja acumulação no corpo humano, decorrente da ingestão continuada destes produtos, é nociva para a saúde (Wenting, 2011). A divulgação interna

129 As terras raras englobam um total de 17 elementos metálicos com propriedades químicas e

eletromagnéticas similares e excecionais para o desenvolvimento de tecnologia de ponta. Foi apenas no século XX que todos os elementos foram identificados. A dificuldade em separar todos os elementos levou a que fossem considerados de raros, quando, na verdade, são relativamente abundantes na crosta terrestre (Rudnick & Gao, 2003). As terras raras são tipicamente divididas em dois grupos baseados nos seus pesos atómicos: (1) elementos leves de terras raras; (2) elementos pesados de terras raras. A aplicação destes recursos engloba as novas tecnologias de eletrónica, medicamentos, produtos industriais e em tecnologias inovadoras com reduzido impacto ambiental. Por exemplo, o fabrico de sistemas de energia solar depende do silício ou terras raras.

130 A china reduziu as quotas de produção de terras raras argumentando a proteção ambiental e a

e externa destas consequências ambientais, estimulou as autoridades chinesas a implementar nas empresas produtoras padrões de emissão específicos para reduzir as emissões industriais, desde então, as exportações de “terras-raras” da China decresceu significativamente (Tse, 2011).

Segundo o Laboratório Nacional de Engenharia e Geologia (LNEG), o “termo raras é um equivoco porque a concentração na crosta terrestre é superior à dos metais nobres e elementos do grupo da platina” e o “termo vem da sua difícil extração, por serem tóxicas, poluentes e, em muitos casos, radioativas” (Afonso, 2018). Constatamos assim existirem problemáticas ambientais relacionadas com a mineração de terras raras.

Relativamente aos depósitos de terras raras nos oceanos e impacto da sua mineração em mar profundo, segundo Fernando Barriga, professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, “nos fundos marinhos, incluindo as planícies abissais a 4 ou 5 mil metros de profundidade, existem recursos gigantescos contendo quantidades assinaláveis de terras raras em sedimentos não consolidados” e quem estiver “interessado em explorar comercialmente estas terras raras terá de investir milhares de milhões em tecnologia para raspar, fazer explodir e cortar o leito do mar, rebocando os pedaços valiosos milhares de metros até à superfície e mitigando impactos ambientais, que poderão ser gigantescos” (Barriga, 2018).

Assim, podemos inferir que a mineração de terras raras em mar profundo é possível, mas tem consequências negativas para o ambiente marinho, no entanto, também podemos inferir que a exploração e mineração destes recursos em águas profundas encontra-se dependente da viabilidade económica e da evolução tecnológica131.

Relativamente ao destino da exportação de terras raras da República Popular da China, em 2013, os seus 10 maiores clientes foram os EUA 37%, Japão 35%, Itália 8%, Vietname 6%, Holanda 4%, França 4%, Alemanha 2%, Hong Kong 2%, Reino Unido 1% e Coreia do Sul 1%. Correspondendo a um peso liquido total de 21685,99 toneladas de terras raras (Lima & Filho, 2016, p. 30). Com base nestes dados, constatamos que a UE foi o terceiro maior importador de terras raras da China em 2013.

O Japão para mitigar esta vulnerabilidade tem vindo a realizar diversas atividades de exploração em mar profundo. Segundo um estudo publicado na revista Nature, dia 10 de abril de 2018, uma equipa de cientistas japoneses demonstrou existir uma enorme

131 Evolução tecnológica para exploração de terras raras, e de outros recursos minerais, em águas profundas,

quantidade de metais de terras raras132, incluindo ítrio, ao largo das Ilhas de

Minamitorishima e Ogasawara, na ZEE do Japão, com significativo valor económico que

poderá estimular a futura exploração deste novo recurso mineral do leito do mar (Takaya, et al., 2018).

Regressando ao caso particular da UE, no âmbito das políticas e estratégias para as matérias-primas, destacamos a criação da European Innovation Partnership (EIP) – a principal iniciativa da União para implementação da Raw Materials Initiative de 2008. Esta parceria reúne países, empresas, investigadores e organizações não governamentais da União para promover soluções inovadoras no setor das matérias-primas. Tendo sido aprovado, em setembro de 2013, o plano de implementação estratégico (do inglês:

Strategic Implementation Plan – SIP), constituído por 95 ações, onde se incluem

atividades de investigação e desenvolvimento, enquadramento político, a disseminação das melhores práticas, a construção de conhecimento e a cooperação internacional. (EIP, 2013)

O SIP estabelece oito objetivos que visam reduzir a dependência das importações e promover a produção e as exportações, melhorando as condições de fornecimento da União, diversificando as fontes de matérias-primas e melhorando a eficiência dos recursos (incluindo a reciclagem) e encontrando matérias-primas alternativas, bem como colocar a Europa na vanguarda dos setores das matérias-primas e mitigar os impactos negativos no ambiente, na sociedade e saúde das populações (EIP, 2013). As suas áreas ação/intervenção apontam para a “coordenação da investigação e inovação”; as “tecnologias para produção primária e secundária de matérias-primas”; a “substituição de matérias-primas”; “melhorar o quadro político da UE sobre matérias-primas”; “melhorar as condições e a excelência do quadro de gestão de resíduos da Europa”; “melhorar o conhecimento, habilidades e fluxos de matérias-primas”; e a “cooperação internacional”. (EIP, 2013)

Na área das “tecnologias para produção primária e secundária de matérias- primas”, destacamos a exploração e a inovação na extração de matérias-primas. O objetivo da exploração é desenvolver novos conceitos e tecnologias de exploração com boa relação custo-benefício, fornecendo dados e informações de elevada qualidade,

132 De acordo com os investigadores, 16 mil milhões de toneladas de metais de terras raras encontram-se a

6 mil metros de profundidade, numa faixa de 400 km2, representando quantidades suficientes de ítrio para

780 anos de procura doméstica, 620 anos de európio, 420 anos de térbio e 730 anos de disprósio (Barriga, 2018).

incluindo dados geológicos a três dimensões até 150 a 4000 metros de profundidade, bem como a sua interpretação por meio de modelos geométricos para facilitar a descoberta de novos depósitos de minerais tanto a nível continental como no fundo dos oceanos. O objetivo da inovação na extração de matérias-primas é permitir a extração continental e em águas profundas de minerais de forma socialmente aceitável, ambientalmente responsável e economicamente viável, desenvolvendo novos conceitos e soluções tecnológicas que levem à aceitação social da extração em toda a Europa e em todo o mundo. (EIP, 2013)

Assim, verificamos que o SIP materializa a orientação política da UE para a exploração e extração de matérias-primas minerais em toda a Europa e em todo o mundo, incluindo o fundo dos oceanos. Correlacionando esta orientação política com os estudos realizados, a pedido das instituições supranacionais, sobre as matérias-primas críticas para a economia da UE, estão reunidos elementos que nos permitem confirmar o interesse da União sobre o potencial de recursos do leito e subsolo da PC nacional e, particularmente, da Itália, Holanda, França e Alemanha, destes quatro Estados-Membros, destacamos ainda Alemanha papel ativo, através da instituição Fraunhofer ISI, no grupo de trabalho criado para avaliação e monitorização das matérias-primas críticas para a economia da UE.

Através de outros atores, como a Deep Sea Conservation Coalition133 (DSCC),

confirmamos também que o interesse na exploração de metais e minerais no fundo dos oceanos, em águas profundas, é global e resulta da escassez e qualidade decrescente dos minérios derivados de minas terrestres, da dependência externa dos países industrializados e do aumento da demanda global por cobre, cobalto, níquel, lítio e outras terras raras e metais especiais, muito em parte, derivado do crescimento das tecnologias associadas às energias renováveis (Deepsea, 2018). O que permite corroborar o interesse global com a política e estratégia adotada pela UE para garantir a autonomia no fornecimento de matérias-primas consideradas atualmente críticas.

Seguidamente, queremos confirmar se a nível global existem licenciamentos para a exploração de minerais no fundo dos oceanos, caraterizar a evolução das matérias-

133 A DSCC, criada em 2004, é uma coligação que integra mais de 70 organizações não governamentais,

com a finalidade de proteger o fundo mar. No âmbito da mineração em águas profundas dos oceanos, tem assento na mesa negocial da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos para garantir a adoção de medidas que visem proteger o ambiente das profundezas dos oceanos de potenciais devastações causadas pela mineração do leito marinho. Das medidas, incluem-se áreas de não mineração, sistemas alargados de áreas protegidas e a aplicação das melhores praticas científicas, tecnológicas e de gestão.

primas consideradas críticas para a economia da UE, recorrendo aos relatórios de 2013 e 2017 do grupo de trabalho da CE, e, por último, analisar os cruzeiros de investigação estrangeira realizados na ZEE de Portugal.

Atualmente, a nível internacional, as licenças de pesquisa e mineração do leito e subsolo do mar da Área cobrem apenas um milhão de Km2 e dois milhões de Km2 nas ZEE, significa que mais de 360 milhões de Km2 do fundo dos oceanos é terra desconhecida, ou seja, 99% do fundo dos oceanos está inexplorado (Dumke, 2016). Os recursos minerais que se encontram a ser explorados no leito e subsolo dos oceanos são na maioria sulfuretos polimetálicos, nódulos de manganês e crostas de ferro manganês rico em cobalto. Os sulfuretos, também conhecidos como depósitos negros fumegantes, são ocorrências de minerais portadores de metais que se formam no leito e subsolo do mar como consequência da interação da água do mar com uma fonte de calor (magma), portanto, em regiões submarinas onde exista atividade vulcânica (GEOMAR, 2018). Na Figura 5, podemos observar a nível internacional as regiões onde se encontram os campos hidrotermais confirmados.

Fonte: (GEOMAR, 2018)

Em abril de 2018, a Autoridade Internacional para os Fundos do Mar (do inglês,

International Seabed Authority - ISA), responsável por aprovar as atividades na Área

(fora da jurisdição dos Estados costeiros), aprovou sete licenças de exploração/extração de sulfuretos polimetálicos, três no Oceano Atlântico e quatro no Oceano Indico, conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Licenças aprovadas para exploração de sulfuretos polimetálicos

Contratante Início Fim Estado

patrocinador Área Localização

COMRA 2011-11-18 2026-11-17 China 10,000 km2 Southwest

Indian Ridge

GOV. Rússia 2012-10-29 2026-10-28 Federação da

Rússia 10,000 km

2 Mid-Atlantic

Ridge

GOV. Coreia 2014-06-24 2029-06-23 Coreia do Sul 10,000 km2 Central Indian

Ridge

IFREMER 2014-11-18 2029-11-17 França 10,000 km2 Mid-Atlantic

Ridge

BGR 2015-05-06 2030-05-05 Alemanha 10,000 km2 Central Indian

Ocean

GOV. India 2016-09-26 2031-09-25 India 10,000 km2 Central Indian

Ocean

GOV. Polonia 2018-02-12 2033-02-11 Polonia 10,000 km2 Mid-Atlantic

Ridge

Fonte: (GEOMAR, 2018)

Os nódulos de manganês encontram-se nas vastas planícies abissais cobertas de sedimentos em profundidades de cerca de 4000 a 6500 metros. Na Figura 6, podemos observar as zonas globais com potencial da sua existência. As maiores concentrações de nódulos ricos em metais, cerca de 21100 milhões de toneladas, encontram-se no Oceano Pacífico, na zona Clarion-Clipperton, que se estende do Havai para o México. O manganês e o ferro são os principais metais nos nódulos polimetálicos, mas os metais com maior interesse são o níquel, o cobre, e o cobalto, sendo, ainda, possível o enriquecimento de outros metais valiosos, como por exemplos o lítio e elementos das terras-raras, que têm importância industrial para a tecnologia de ponta (GEOMAR, 2018).

Fonte: (GEOMAR, 2018)