• Nenhum resultado encontrado

capítulo 4 240 Tentáculos visíveis das invisíveis articulações políticas da igreja

1.4 Articulações mestre-pupilo

1.6.1 a política não é inocente

A “ausência temporária” do Mons. Spolverini do cenário político brasileiro foi comunicada, pelo recém-nomeado representante interino da Santa Sé no Brasil, Domingos Gualtieri, em correspondência enviada ao bispo de São Paulo D. Lino Deodato. Após toda discussão em torno dos bens das Ordens Religiosas, antecedido pelo jogo político de nomeações e remanejamento do episcopado, a substituição mais traumática parece ter sido a de D. Lacerda da diocese do Rio de Janeiro, que, a princípio, foi sugerida para ser ocupada pelo colaborador imediato de Mons.

95 Cf. PIVA, Elói Dionísio. Transição Republicana: desafios e chances para a Igreja (II).REB,

Petrópolis, v. 50, n. 198, p. 415-432, [abr./jun.] 1990.

96 Idem, pp. 420-423. 97 Idem, p. 423.

Spolverini no corpo a corpo que se realizou nos bastidores da Assembléia Constituinte, D. José da Silva Barros, bispo de Olinda.

Mons. Spolverini, inicialmente, recebeu apoio do Card. Rampolla, que inclusive, o autorizou falar que a renúncia de D. Lacerda seria uma sugestão do papa Leão XIII. Mas, em meio às tratativas, quando Spolverini começou a ter apoio de seus superiores hierárquicos e sugere a D. Lacerda seu afastamento, este se desvencilhou da proposta, alegando que a renúncia naquele momento não seria de seu agrado.

Em meio a este embate, D. Lacerda dirigiu-se diretamente a Rampolla, que, por sua vez, consultou os superiores das Ordens Religiosas98 no Brasil, pedindo-lhes informações sobre as condições de D. Lacerda, até, mesmo porque, Mons. Spolverini o havia acusado de estar com a saúde mental debilitada.

A princípio, o superior jesuíta, Giuseppe Mantero, pareceu de acordo com a observação de Spolverini, mas recuou e disse que “melhor que Macedo Costa teria D. Lacerda assessorado Mons. Spolverini na tarefa de recomposição do episcopado brasileiro e, por diversas razões, o atual internúncio não se porta à altura de sua missão”99. Padre Sipolis, superior lazarista, preferiu se reportar ao seu superior geral e, como informa Elói Piva, foi uma referência indireta, onde comunicou a discordância de D. Lacerda ao nome de D. José da Silva Barros, proposto para substituí-lo. A atitude também poderia ter relação com a atitude de D. Lacerda, num passado próximo, ao trazer os padres lazaristas para administrar os dois seminários da diocese100.

A situação tornou-se mais confusa quando Mons. Spolverini acusou o superior jesuíta, no Rio de Janeiro, de estar manipulando D. Lacerda e sugeriu a Rampolla que impusesse um bispo auxiliar, não deixando alternativa para a livre decisão do prelado da diocese carioca, e argumentou que o bispo era uma pessoa de trato difícil, o que foi confirmado no comentário de D. Macedo em correspondência a Rampolla: “Numa palavra, um santo, bastante instruído, mas um bispo impossível101.

98 A saber: o jesuítas Guisuppe Mantero, o lazarista Barthélemy Sipolis e o capuchinho Fedele d´Avola.

Cf. PIVA, Elói Dionísio. Transição Republicana: desafios e chances para a Igreja (II). REB, Petrópolis, v. 50, n. 198, p. 415-432, [abr./jun.] 1990.

99 PIVA, Elói Dionísio. Transição Republicana: desafios e chances para a Igreja (II). REB, Petrópolis,

v. 50, n. 198, p. 415-432, [abr./jun.] 1990, p. 425.

100 Superior Geral dos lazaristas: Pe. Fiat. Cf. PIVA, Elói Dionísio. Transição Republicana: desafios e

chances para a Igreja (II). REB, Petrópolis, v. 50, n. 198, p. 415-432, [abr./jun.] 1990.

101 MC. a R., c., 10-05-90: ASV, SpR, bl, Fb, 2ffvr-1ºfv, para a citação. (APUD) PIVA, Elói Dionísio.

Transição Republicana: desafios e chances para a Igreja (II). REB, Petrópolis, v. 50, n. 198, [abr./jun.] 1990, p. 426.

Após vários desencontros de opinião e depois de divulgada a lista das nomeações e transferências do episcopado, próximo a reunião de agosto, em São Paulo, foi enviada uma proposta pelo superior jesuíta do Rio de Janeiro, Giuseppe Mantero, em concordância com D. Lacerda, para que João Esberard fosse alçado a bispo auxiliar naquela diocese. A proposta foi analisada conjuntamente por Esberard, D. Macedo e, Mons. Spolverini, que achou a proposta intrigante, mas não se opôs, a princípio, com a condição de que toda a administração da diocese carioca passasse para o controle de Esberard. No entanto, Mons. Spolverini passou a se opor a esta indicação, de última hora, porque desconfiou de um arranjo entre os lazaristas, D. Lacerda e o próprio Esberard102.

Dois foram os motivos apresentados por Mons. Spolverini para opor-se: primeiro porque, em sendo Esberard um estrangeiro e tendo defendido os bispos na “Questão Religiosa”, o clero local poderia rejeitá-lo; o segundo motivo foi o de seu envolvimento político-partidário ao comprar o jornal “O Brasil” com financiamento dos lazaristas e sob conselhos do jornalista Carlos de Laet, que passou a defender a restauração monárquica, portanto, ideologicamente contrário ao Governo Provisório e, conseqüentemente contrário, também, ao republicanismo103.

Para Mons. Spolverini, a indicação de Esberard para a diocese do Rio de Janeiro seria um retrocesso no processo de aproximação pretendido pela hierarquia católica para conseguir o máximo de garantias possíveis para a continuidade dos projetos de expansão e solidificação do catolicismo no Brasil republicano. Nesse vai e vem de opiniões, Rampolla deduziu que a sucessão no Rio de Janeiro estava sendo uma disputa pessoal entre o internúncio e o bispo da diocese do Rio de Janeiro. Com isso, tomou a decisão de fazer com que Mons. Spolverini se retraísse nas negociações para a renúncia de D. Lacerda, passando o encargo para o superior lazarista Sipolis.

Esse foi o decreto de condenação de Mons. Spolverini, pois, para confirmar suas desconfianças de arranjo feitas entre D. Lacerda, Sipolis e Esberard, o novo mediador da situação, Sipolis, além de reafirmar o nome de Esberard para bispo auxiliar da diocese carioca, propôs o nome de Arcoverde para a diocese do Recife e completou seu trabalho, fazendo o seguinte comentário: “a respeito de Spolverini

102 Cf. PIVA, Elói Dionísio. Transição Republicana: desafios e chances para a Igreja (II). REB,

Petrópolis, v. 50, n. 198, p. 415-432, [abr./jun.] 1990.

afirma: por causa de suas imprudências ele destrói e deixa destruir a Igreja no Brasil”104, a opinião foi partilhada com o superior dos jesuítas Giuseppe Mantero.