• Nenhum resultado encontrado

Os primeiros goianos que tiveram riquezas e as conservaram, arrumaram meios para proporcionar a boa educação de seus filhos. Aos poucos, a polidez se espalhou entre os homens “menos abastados”, já a pequena parcela dos fazendeiros de posses, não teve nenhum “apuro no trato”. Os colonos goianos conservavam uma “mudez bronca”, com “ar de indolência”, uma forma que os distinguia sem nenhuma dificuldade (SAINT-HILAIRE, 1937).

Em geral, não podemos dizer que a população da província era desprovida de inteligência, pois vários artesãos de extrema habilidade eram encontrados, sem instrução nas escolas de belas artes, eram habilidades naturais deles. Alguns membros da comunidade eram cristãos, já outros, devido à falta de guias espirituais faziam substituir a crença em Deus por superstições, acreditando em feiticeiros, em lobisomens, trazendo preso ao pescoço amuletos, e se doentes recorriam a remédios de simpatia e a palavras mágicas (benzições).

A união dos casais em sua maioria pelo amasiamento, até mesmo pelo valor alto que a igreja cobrava para realizar os casamentos, a população era de pouco recurso. As crianças não eram vistas brincando com as demais, a alegria e inocência lhes faltava, fazendo a juventude ser cada vez mais triste e conhecendo apenas o gozo impuro e quando homens feitos se entregavam ao embrutecimento, ao tédio e ao mundo do alcoolismo.

A população de Goiás, de acordo com a estatística publicada no ano de 1824 pelo antigo governador militar da província o senhor da Cunha Mattos, de acordo com Saint- Hilaire (1937), estabelecia como apresentado no quadro 7.

Quadro 17 – População de Goiás no início do séc. XIX

População Subtotal Total

Indivíduos brancos do sexo masculino, casados 1.745 5.391

Indivíduos brancos do sexo masculino, não casados 3.646

Indivíduos brancos do sexo feminino, casados 1.519 5.144

Indivíduos brancos do sexo feminino, não casados 3.625

Subtotal 10.535

Homens de cor descendentes de libertos, casados 4.242 16.566

Homens de cor descendentes de libertos, não casados 12.324

Mulheres de cor descendentes de libertos, casadas 4.486 18.439

Mulheres de cor descendentes de libertos, não casados 13.953

Subtotal 35.005

Homens de cor libertos, casados 550 1.539

Homens de cor libertos, não casado 989

Mulheres de cor libertas, casadas 544 1.441

Mulheres de cor libertas, não casadas 897

Subtotal 2.980

Índios catequizados 304 623

Índias catequizadas 319

Escravos do sexo masculino 7.329 13.375

Escravos do sexo feminino 6.046

Subtotal 13.998

Total Geral 62.518

Fonte: Adaptado de SAINT-HILAIRE, 1937, p. 296-297.

Outros dados foram observados, mas nada era oficial, nesse acaso estabelecemos esses para compor a nossa pesquisa. Visto que,

O povoamento determinado pela mineração de ouro é o povoamento irregular e instável, sem nenhum planejamento, sem nenhuma ordem. Onde aparece ouro, ali

surge uma povoação; quando o ouro se esgota, os mineiros mudam-se para outro lugar e povoação definha ou desaparece (PALACÍN; MORAES, 2008, p. 23).

Os antigos mineradores eram, em sua maioria, homens sem fortuna, nem sempre recompensados pelos seus esforços, o que fazia com que fossem em busca de lugares que lhes dessem rentabilidade, ficando os empregados escravizados para exercer o trabalho.

Os impostos cobrados à população eram um grande vilão, pois se os pequenos produtores não tivessem como pagar, alguém designado pelo governo iria até a sua propriedade e lhe tiraria o que pudesse, até mesmo a propriedade. Isso fazia com que muitos abandonassem as suas casas e mudassem para outras localidades. De acordo com Saint- Hilaire (1937), os impostos se destacavam entre: i) um direito sobre as mercadorias que entravam na província; ii) o dízimo (10%) dos produtos do solo, um acordo entre o clero e o governo, mas passaria às mãos do último; iii) as passagens dos rios arrendada pela administração; iv) imposto sobre a venda de carnes e imóveis; v) o quinto, a quinta parte descontada sobre o ouro em pó, antes de virar barra; vi) a coleta, imposto destinado ao pagamento dos professores; vii) um direito cobrado às lojas em proveito do banco do Rio de Janeiro.

Nessa situação, de acordo com Casal (1976), apenas os criadores de gado e os senhores de engenho viviam independentes e não experimentaram a fome. Os demais, que não tiveram a sorte de achar e manter riquezas, acabavam sofrendo com as desigualdades e os desmandos dos poderosos da província, ficando a ermo e vivendo de forma até mesmo subumana. Os escravos eram os que mais sofriam, mas não podemos esquecer que devemos “[...] sem dúvida, alguma coisa aos seus escravos, aos quais se misturam tão frequentemente, e que talvez lhes tenham ensinado o sistema de agricultura que adotam e a maneira de extrair o ouro dos córregos. Além do mais, foram os mestres de dança” (SAINT-HILAIRE, 1975, p. 47).

Reescrever a história da província de Goiás por meio da narrativa de viajantes e desbravadores deste território é de fundamental importância para este estudo, pois no capítulo seguinte, na mesma base teórica deste, apresentamos a hidrografia de Goiás, objeto de nossa pesquisa. Assim, consideramos a influência do homem no ambiente em que está inserido.

VI GOYAZ E AS BACIAS HIDROGRÁFICAS

A água em suas potencialidades é de grande relevância e meio de sobrevivência para a vida humana (SILVA, 2017).

O estado de Goiás, região de cerrado, não é sinônimo nem reflexo de escassez de água, pelo contrário, é rico em recursos hídricos, sendo considerado um dos mais peculiares e abundantes do país, conforme assinalado por Gardner (1975, p. 194), em sua passagem por estas terras: “[...] durante todo o tempo desde que deixamos a Província de Goiás nunca sofremos de falta de água, como sofrêramos nas áridas províncias do norte”. Essa abundancia de água, de acordo com o IMB (2018) se deve ao histórico geológico da região, constituído durante milhões de anos, em que foram depositadas várias rochas sedimentares, entre elas o arenito de alta porosidade e alta permeabilidade, que permitiram a formação de grandes cursos d‟água e o depósito de parte de grandes aquíferos. É por isso, que, no estado, há condições para grande produção de energia (hidroelétrica), agropecuária e agronegócios, dando chances para ser um dos grandes exportadores dessas matérias para outros estados e países. Dessa maneira, este capítulo se organiza de forma a apresentar as bacias hidrográficas.