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5.2 A história da Província de Goyaz a partir da narrativa dos viajantes

5.2.2 O distrito de Goiás

Goiás, distrito maior que o antecedente, está ao sul. A nação Goyá32, que lhe deu o nome, não era a única que o dominava, posto que ao norte vivia o indígena Crixá. As principais povoações eram de Vila Boa, Pilar e Crixá. Destacamos Vila Boa, que a princípio

31 “Como esta divisão, unicamente dirigida a indicar os limites da jurisdição de cada um, não ajuda nem

medianamente a formar ideia do país, sendo extrema a desigualdade, que entre eles se nota, em razão da sua maior ou menor população, pareceu-me acertado seguir a Natureza, que o repartiu em Cantões, ou Distritos, sem maior desigualdade, e separados por limites visíveis” (CASAL, 1976, p. 151).

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Segundo Quintela (2006, apud Siqueira, 2017b, p. 47), “desde a criação da Capitania de Goiás, a nação dos Goyases somente existia como uma vaga lembrança no imaginário coletivo”. Etimologicamente, “goyá” é apresentado como contraparte ao termo “tapuia”, também de origem tupi, este, para se referir a outros povos indígenas de procedência não tupi, ou seja, aqueles que falavam línguas de outros troncos linguísticos, principalmente as línguas do Macro-Jê. Enquanto que o termo “goyá” se referia à gente da mesma etnia tupi, mesma língua.

foi denominada de arraial de Sant‟Ana, elevada no ano de 1739, caracterizando-se por ser: populosa, capital da província e residência do governador e demais autoridades civis, religiosas e do judiciário da época. Encontrava-se, ainda, alguns pequenos arraiais, como: da Anta, dos Anicuns, da Barra, do Ferreiro, da Freguesia do Bom Jesus, dos Gorinos, de Ouro Fino, de Santa Rita.

Vale ressaltar que o Arraial do Ferreiro é a povoação mais antiga da província e o seu nome se deve a profissão de um homem desertado por seus companheiros que foram minerar em outros lugares (CASAL, 1976). Esse lugarejo é famoso na história de Goiás, pois foi nele que os primeiros paulistas, inclusive o Anhanguera, se fixaram antes de procurarem riquezas em outras partes (SAINT-HILAIRE, 1975).

Vila Boa está “[...] localizada a 16º 10‟ de lat. Sul e a 200 léguas do litoral” (SAINT- HILAIRE, 1975, p. 50), teve somente o ouro a favor de sua fundação, pois era uma terra estéril, distante dos rios navegáveis e dificilmente se estabelecia comunicação com as outras partes do império. Em função disso, a única possibilidade era estabelecer nela as residências de todo o corpo administrativo da província, caso contrário, devido a esses aspectos negativos não se tardaria em ocorrer um abandono dos habitantes.

No distrito de Goiás, ao norte, estavam os arraiais de Crixá e de Pilar, que até então não haviam sido visitados, mas apresentava uma população e tinha o ouro, uma de suas principais motivações para elevação. Com sua decadência, a criação de gado passou a ser uma das principais fontes de subsistência. Havia outras pequenas povoações, mas miseras e que se assemelhavam a Ouro Fino, que

[...] fica situado acima do Rio Vermelho, numa elevação, e defronta uns morros baixos que têm a denominação de Morro do Sol e ficam do outro lado do rio. O arraial, que nunca teve importância, deve sua origem ao ouro que era extraído outrora do Rio Vermelho, e o seu nome à boa qualidade desse ouro. Como atualmente só existam minas nos morros vizinhos e, devido à falta de água, sua exploração se torne impraticável. Ouro Fino apresenta agora um aspecto de triste decadência. Todas as casas estão semi-arruinadas, e várias delas se acham desabitadas. (SAINT-HILAIRE, 1975, p. 48).

. Infelizmente, a situação dos pequenos vilarejos não era diferente desta, depois da queda do ouro, todos viviam um aspecto triste/decadente e suas habitações se encontravam em ruínas, porque a maioria dos habitantes partia em busca de outros lugares para morar.

No distrito de Goiás havia dois arraiais que foram elevados para os indígenas viverem: i) fundado em 1774, o arraial e paróquia de São José de Mossâmedes era habitado por indígenas de três nações distintas: Carajás, Javaés e Acroás; ii) a Aldeia Maria, fundada em

1781, para abrigar aproximadamente 300 indígenas caiapós, sendo que no ano seguinte chegaram outros 200. A criação desses arraiais se deu em função da necessidade de existir um lugar para os indígenas viver, os quais foram retirados de suas terras.

Em 1749 fundaram algumas aldeias como as do Douro e da Formiga, perto do arraial das Almas, que no início foram confiadas aos jesuítas. No ano de 1754, instalou-se uma junta militar na aldeia, o que causou grande revolta e batalhas, quando os indígenas em sua maioria foram massacrados. O mesmo ocorreu nos anos de 1773 e 1774, momento em que os chefes foram executados e o restante aprisionado e levado para uma aldeia nas proximidades da capital, a aldeia de São José.

Os Caiapós de S. José aprenderam com os portugueses a construir casas, cultivar a terra, fiar o algodão, etc., mas os que vivem ainda nas matas só sabem fabricar arcos e flechas, e um tipo de cesto a que dão o nome de jacunu cujo uso é conservado na aldeia, como já foi dito (SAINT-HILAIRE, 1975, p. 70).

Após deixar as terras habitadas pelos Caiapós, seguiu-se caminho ao vilarejo Pilões, situado no caminho de Vila Boa a Mato Grosso. Nesse percurso, o cenário do cerrado é descrito em suas peculiaridades como ainda se vê na atualidade, “[...] o caminho que leva até lá atravessa um vasto campo salpicado de árvores enfezadas e emoldurado por duas séries de morros” (SAINT-HILAIRE, 1975, p. 79). As águas sempre são recorrentes no caminho, nesse trajeto o Rio dos Pilões, local onde se tinha o “minhocão” (enguia elétrica) que devorava animais (cavalos, bois e burros) e era sempre temido pelos viajantes e habitantes da região. Esse mesmo rio desagua no Rio Claro, onde se encontravam ouro e diamantes.