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A Prática Pedagógica entre os pares nas aulas de Geografia

No documento Dissertação de Mestrado FUNCHAL -2016 (páginas 92-95)

CAPÍTULO 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.2 Interpretação dos dados e análise do discurso

4.2.2 A Prática Pedagógica entre os pares nas aulas de Geografia

A professora explorou uma aula de geografia três palavras REDUZIR, RECICLAR E REUTILIZAR. Ampliou o conhecimento explicando para os alunos que no mundo inteiro, o ser humano produz uma grande quantidade de lixo todos os dias. E que para diminuir essa produção, foi criado a regra dos três erres, os quais foram citados acima. Eles ficavam atentos e surpresos para saberem o que significava realmente estes três erres.

Em seguida, depois de mostrar o que significava cada palavra, partindo sempre do que eles já sabiam a professora perguntava aos mesmos: “vocês já tinham ouvido falar na regra dos três erres? Na sua comunidade, que tipo de material é reaproveitado? Que lixo é mais comum na comunidade? Fezes de animais e restos de vegetais, como cascas e palhas que sobram nas colheitas, podem se transformar em outros produtos? Quais?”. A partir das perguntas surgiram as indagações, as vozes dos sujeitos que refletiram e construíram as suas respostas de acordo com o conhecimento que já tinham devido sua convivência social. A professora os instigavam para que eles soltassem suas ideias, pois acreditava que faz parte do processo de construção da aprendizagem.

A aluna AI falou: “existe muito lixo na comunidade e que o carro do lixo passa pouco e as pessoas estão fazendo uma coisa errada professora, jogando saco no rio” (Registro de Observação. Diário de campo, 31 de maio de 2016).

A professora enfatizava, sobre a necessidade de não deixarmos isso acontecer e passarmos despercebidos, pois vidros, latas e papel, sobras da produção vegetal e animal geram muito lixo. Além das pilhas, baterias, lâmpadas, adubos químicos e agrotóxicos podem causar danos para todos nós. De forma lúdica mostrou uma gravura de um biodigestor e perguntou se os mesmos conheciam: alguns disseram que pareciam cisternas (tanques de capitação de água da chuva), pois eles têm nos quintais das suas casas. A professora ressaltou que: “parecia, mas este era um objeto para transformar dejetos de animais em biocombustível e adubo orgânico, contribui com o saneamento, pois elimina o mau cheiro deixado pelas fezes dos animais, impede a aparecimento de moscas e diminui a poluição dos rios” (Registro de Observação. Diário de campo, 31 de maio de 2016).

No decorrer das aulas perguntou se eles perceberam como ele é importante. A aluna EN respondeu: “é mesmo para evitar também doenças”, a outra aluna GC respondeu: “para não jogar mais lixo no nosso rio (mostrando o cuidado com a comunidade). A aluna AI disse que “os pais usam adubo no curral das vacas e que eles vendem a folha do sisal quando está seca”

(Registro de observação. Diário de campo, 31 de maio de 2016). A professora disse que: “também usa na comunidade a casca do coco e a folha da bananeira para fazer bolsa e outros objetos de artesanato” (Ibidem).

Após todos questionamentos, foi proposto a construção de uma carta para ser entregue ao secretário do Meio Ambiente, foi uma produção coletiva onde cada um deu sua contribuição. Em seguida, a professora explicou como enviaria a carta, a colocou no envelope, mostrando cada parte que a compõe e perguntou se eles sabiam onde era o correio da comunidade para colocar a carta. Foi um momento prazeroso de construção da aprendizagem, a partir de uma prática pedagógica inovadora, efetiva que possibilitou mudanças na forma de pensar e agir dos alunos em relação ao lixo produzido na comunidade, possibilitando a aprendizagem sobre o assunto.

Diante do exposto, pode-se enfatizar que a construção do conhecimento se concretiza pela vontade dos sujeitos aprendentes em praticar algo relevante para o seu aprendizado, de maneira prazerosa. Sendo importante ressaltar que a inovação não está em si nas áreas do conhecimento e nem nas atividades aqui mostradas, mas, no processo em que são construídas e conduzidas entre a colaboração dos pares.

Desse modo, percebo a Inovação Pedagógica acontecer, pois conforme Fino (2001), passa por mudança na atitude do professor, que presta maior atenção nos contextos de aprendizagem para seus alunos [...]. Portanto, desenvolveu a autonomia do aluno, a reflexão, a cooperação com outro e com meio social e cultural que está inserido.

A professora na sua prática pedagógica sempre estimulava o trabalho em grupo, pois acredita que quando uns interagem com os outros instiga à aprendizagem e superam muitas dificuldades. Num estudo sobre moradias os alunos tiveram participação ativa, questionaram, interferiam, demonstrando interesse pela aprendizagem, captando energia para o trabalho que seria desenvolvido previamente em casa e depois na sala de aula por eles mesmos, ficando a professora com a função de mediar, estimular, guiar o trabalho feito em conjunto com os colegas. A professora formou os grupos e deu a cada um o trabalho de organizarem um seminário de apresentação sobre os tipos de moradia.

As apresentações ocorreram, cada grupo apresentou o cartaz construído pelos membros do grupo em casa. Perguntei onde eles se reuniram para fazerem a pesquisa e a produção do trabalho e disseram que escolheram a casa de um colega. PS disse: - Que foi bom e divertido e apendemos que só. Eles possuem uma desenvoltura para apresentar os trabalhos, apesar de alguns possuírem uma timidez. Depois pediram para eu escolher a melhor apresentação dos seminários, disse que gostei de todas que não podia escolher uma somente e

sim todas foram bem apresentadas. Após realizaram o para casa (atividade extraescolar para ser desenvolvida com o auxílio da família), a professora sempre enfatiza a importância da ajuda dos pais (DIÁRIO DE CAMPO. OBSERVAÇÕES NO DIA 06 DE JUNHO 2016).

Diante do exposto, percebe-se as ações inovadoras na prática pedagógica nas diferentes áreas do conhecimento no seio da Escola Rural Quilombola de Lage dos Negros na sala do 3º ano B, verifiquei que o processo de aprendizagem rompia com a prática pedagógica tradicional, por entender que todos possuíam a capacidade de aprender e se expressar, respeitando o tempo de maturidade cognitiva e social de cada sujeito envolvido no processo. Nas ações capturadas nas fotos abaixo, vemos os alunos mais autônomos, realizando a leitura dos cartazes e dos textos por conta própria, criativos na construção das produções e realizações das atividades e críticos, opinando nos mais variados momentos de desenvolvimento da aula e das apresentações.

Imagem13: Apresentação dos seminários em grupos sobre os tipos de moradias.

Durante as observações foi possível perceber que o aprendizado da leitura e da escrita era a mola propulsora de todo o processo de aprendizagem. Sendo percebido na execução das diversas atividades escritas e orais. Tais fatos são corroborados na medida que os aprendizes se deparam com uma metodologia nova apresentada pela professora. A importância da leitura variava de um para o outro, de acordo com suas perspectivas e necessidades. Na escrita, o processo de escrever e reescrever demonstrava o fortalecimento da descoberta e a construção da aprendizagem a partir do “erro”. Tais práticas pedagógicas com a leitura e a escrita causou nos sujeitos aprendizes uma transformação de seres passivos a sujeitos ativos do seu próprio processo de aprendizagem.

Noutro dia, a professora recolheu os dados de uma pesquisa que eles fizeram com os pais sobre como era a comunidade no passado, a paisagem natural antes da ação do homem. Todos queriam participar, alguns não fizeram a pesquisa afirmando que os pais estavam na colheita,

cortando sisal e chegaram tarde em casa. Outros respondiam satisfeito a pesquisa realizada. O aluno VG respondeu que “Lages foi transformada pelo homem”. A aluna JM relatou o que a mãe disse: “que antes não tinha energia elétrica que era tudo muito difícil e a telha das casas era de palha”. A aluna AF sempre ativa nas aulas e atividades respondeu que: “o rio não era poluído antes e agora os homens começaram a jogar lixo” referindo-se ao rio que corta a comunidade (Registro de observação. Diário de campo no dia 24 de maio de 2016).

No decorrer da aula a professora mostrou imagens sobre a comunidade antes e a comunidade depois da ação do homem, sempre conversando com os alunos e levantando questionamentos sobre paisagem natural e paisagem transformada. A mesma propôs um passeio ao redor da escola e mostrou o que foi transformado pelo homem. Foi uma aula proveitosa que a partir da pesquisa extraclasse feita com os mais experientes da família os levou a construção do conhecimento sobre paisagens naturais e modificadas pelo homem partindo do local em que eles convivem socialmente com a família. Segundo Freire (1985) a construção de uma consciência crítica que permite ao ser humano mudar o meio sociocultural que se faz cada vez mais inadiável. Na medida em que os indivíduos, no interior de uma sociedade, vão dando respostas aos desafios do mundo, vão temporalizando os espaços e vão construindo história pela sua capacidade criadora.

Percebe-se na ação acima descrita que o sujeito aprendiz é o protagonista da ação e que as ações desenvolvidas giravam em torno de mudanças reais com o foco na aprendizagem e na capacidade de transformação da sua realidade.

4.2.3 Prática Pedagógica com projeto literário desenvolvido em sala de aula nas aulas de

No documento Dissertação de Mestrado FUNCHAL -2016 (páginas 92-95)