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A efetivação da Educação Escolar Quilombola na Escola Rural Quilombola de Lage dos

No documento Dissertação de Mestrado FUNCHAL -2016 (páginas 104-108)

CAPÍTULO 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.2 Interpretação dos dados e análise do discurso

4.2.6 A efetivação da Educação Escolar Quilombola na Escola Rural Quilombola de Lage dos

A Educação Escolar Quilombola ainda está se efetivando na Escola Rural Quilombola de Lage dos Negros a passos lentos. A referida modalidade, mesmo sendo contemplada nas Diretrizes nacionais, estaduais e municipais com a reformulação do PME do município de Campo Formoso, como foi abordado e discutido na revisão da literatura, não é efetivamente concretizada, a busca pelo fortalecimento da identidade quilombola e rural dentro do contexto escolar é mínimo ainda, sendo uma inquietação da atual gestão escolar, pois durante as observações percebi que era algo ainda distante da realidade do contexto de sala de aula, como se não houvesse um trabalho efetivo articulado tanto da escola, incluindo na sua grade curricular a disciplina História e Cultura Afrodescendente, como da própria Secretaria de Educação do município em concretizar as metas descritas no Plano Municipal de Educação, no interior da escola supracitada, por se tratar da primeira escola quilombola do município e, das demais que se localizam em outras comunidades. Em um bate papo com a professora responsável pela turma do 3ºano do Ensino Fundamental I B, isto ficou bem definido nas suas palavras:

Na escola tem um projeto que trabalha com as datas comemorativas afro- brasileiro e nós trabalhamos o ano inteiro, todas atividades comemorativas relacionadas ao negro são comemoradas, ás vezes com culminância, outras vezes com rodas de conversa, atividades sobre o tema, tentando despertar nos alunos mais conhecimento sobre o negro (PROFESSORA RESPONSÁVEL PELA TURMA DO 3º ANO B, TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO EM 30 DE MAIO 2016).

Percebi claramente o que foi exposto pela professora numa conversa informal com o diretor da escola, quando questionei sobre a efetivação das diretrizes para Educação Escolar Quilombola dentro do contexto da referida escola e quais as dificuldades encontradas para

efetivação do direito de ser quilombola, a questão de reconhecimento da identidade, enquanto comunidade remanescente de quilombo. O mesmo relatou o seguinte:

Colocar a identidade quilombola da escola, que ela tá com, tem o nome Escola Rural Quilombola, mas que desde a sua fundação nunca foi trabalhado assim na sua grade curricular, no seu projeto pedagógico a não tem nada que fosse referente a educação rural e, ao mesmo tempo, quilombola, então enquanto gestor pelo menos até chegar ao final desse ano com essa identidade que tenha uma identidade rural e também que tenha seja sua própria identidade quilombola, tanto isso que alguns projetos que sejam efetivos, e dentro desses projetos um é a horta comunitária escolar, aonde a escola irá ceder o seu espaço, irá ceder o seu terreno e a comunidade irá trabalhar neste terreno. Qual vai ser o diferencial? Qual vai ser a diferença nisso daí? Aonde toda construção dessa horta tenha participação dos professores e alunos aonde está parte no amor a terra já comece desde cedo onde as crianças hoje aqui pensem no futuro simplesmente chegar aqui terminar o ensino médio e tchau mãe, tchau pai eu vou para São Paulo, vou para o Rio de Janeiro ou para qualquer outro canto, que eles continuem e permaneçam dentro da comunidade (DIRETOR DA ESCOLA. TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO. OBSERVAÇÕES DE CAMPO, DIA 25 DE MAIO DE 2016).

Diante do exposto vemos a preocupação do gestor escolar em efetivar a referida modalidade na escola, pois como morador da comunidade acredita que é através da educação que a comunidade irá crescer e reconhecer sua identidade com um trabalho desenvolvido na base que é a Educação Infantil e continuou afirmando:

O outro projeto é da identidade quilombola, aonde esse projeto, um trabalho com a coordenação pedagógica, os professores, e os alunos, a secretaria também, o projeto aonde tenha a valorização do negro, porque o que vemos no ensino regular normal aonde você só vai pensar o negro em algumas datas significativas ou então apenas se resumir a uma cultura a vivência negra é bem mais ampla. Tem um senhor Júlio Cupertino que é daqui da região de Irecê, Seabra por ali esse meio que ele tem uma frase bem interessante: Quilombo é teoria negro é a prática. Então muitas coisas que acontece dentro da área da educação é que o negro você não ver nada referente ao negro dentro dos livros didáticos, só aqueles pequenos textos que aparece de 13 de maio ou do 20 novembro e os demais e o contexto? Será que só são essas duas datas são significativas. Então dentro desse projeto existe um roteiro de várias datas aonde pessoas fizeram algo com uma diferença, para que o movimento negro pudesse estar crescendo, e pudesse ser hoje a grandeza que é, mesmo sendo é chicoteado ainda, mas que aqui dentro da escola, os alunos não se sintam inferiores a nenhum outro que eles se alto valorizem, então tem a ideia desse projeto a estimulação do ser quilombola, do ser negro da identidade (DIRETOR DA ESCOLA. TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO. OBSERVAÇÕES DE CAMPO, DIA 25 DE MAIO DE 2016).

A educação quilombola é entendida como um caminho amplo – que inclui a convivência com família, com os outros, as relações de trabalho, as vivências nas escolas, nos movimentos históricos e sociais e em outras concentrações da comunidade. Assim, percebe-se a educação como um processo que faz parte sociedade em geral e está presente em toda e qualquer época, e a escolarização é um recorte do processo educativo mais amplo. Como diz Silva (2014, p. 25) “as mudanças e transformações globais nas estruturas políticas e econômicas no mundo contemporâneo colocam em relevo as questões de identidade e as lutas pela afirmação e manutenção das identidades nacionais e étnicas”, pois mesmo diante de tanto desenvolvimento e de um clima de mudança vivemos sempre na incerteza das coisas acontecerem.

Portanto, precisamos pensar a escola com uma instituição que pode romper com toda padronização e manutenção de poder, colocando em colapso as velhas incertezas do paradigma fabril, buscando formar novos cidadãos críticos e capazes de articular posicionamento próprios e, isso somente será possível com a inovação pedagógica através de práticas pedagógicas construcionistas.

No documento Dissertação de Mestrado FUNCHAL -2016 (páginas 104-108)