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Prática pedagógica desenvolvida nas aulas de História

No documento Dissertação de Mestrado FUNCHAL -2016 (páginas 101-104)

CAPÍTULO 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.2 Interpretação dos dados e análise do discurso

4.2.5 Prática pedagógica desenvolvida nas aulas de História

O momento de estudo foi sobre a Identidade de cada um, sua história a partir da árvore genealógica, a professora levantava questões para que os alunos refletissem sobre sua identidade e da sua família. Enfatizou a importância em conhecer a história de seu nome e o significado, refletir sobre a história de seus colegas a partir da sua, conhecer e respeitar os diferentes costumes das famílias, povos e grupos, buscando identificar fontes históricas sobre sua vida. “A ele, professor, caberá fazer da escola um espaço de pluralismo cultural, de expressão e afirmação prática de referências e identidades, como ponto de partida e núcleo estruturador dos percursos e processos de aprendizagem dos alunos” (SOUSA, 2004, p. 143).

A professora procurou ampliar gradativamente as possibilidades de comunicação e expressão dos alunos, explorando a produção da arte através do desenho, música e brincadeiras, com as quais estavam em contato, ampliando seu conhecimento de mundo e da cultura. A docente sempre buscava desenvolver a autoestima e o autoconceito positivo através da afetividade. O estudo foi finalizado com a construção da árvore genealógica pelos alunos com o auxílio da professora e das informações trazidas de casa oferecidas pelos pais.

Durante as observações de campo, percebi que a professora não executava de forma isolada os trabalhos, os sujeitos tinham participação ativa, questionavam, interferiam na busca da solução das dificuldades, demonstrando interesse pelas atividades de sala de aula e pela construção da sua própria aprendizagem. A intenção da docente era alcançar os objetivos traçados no planejamento. O plano de aula era aberto e flexível, sempre quando necessário adaptado de acordo com os avanços dos alunos e as necessidades surgidas no decorrer do dia a dia de aula.

Noutro contexto de aula a professora trabalhou como o tema “A abolição da escravatura”. Tema este presente no projeto político-pedagógico da escola para trabalhar com a história afrodescendente. A docente iniciou, perguntando os alunos se já tinham ouvido falar sobre a escravidão, e o que significava para eles o termo “escravidão”. Depois, das inferências dos alunos a professora falou um pouco sobre o assunto ressaltando que a escravidão pode ser concebida como uma forma de trabalho no qual o indivíduo (o escravo) é propriedade de outra pessoa. Explicou que no Brasil, o regime de escravidão vigorou no início da colonização, logo depois que o Brasil foi descoberto até o dia 13 de maio de 1888, quando a princesa Isabel, ainda regente assinou a Lei 3.353, mais conhecida como Lei Áurea e libertou os escravos no Brasil. Embora a escravidão tenha sido abolida há 128 anos, não pode ser apagada. Os alunos prestavam muita atenção na professora e nos objetos concretos que ela havia nas mãos para melhor explicar o assunto, os olhos brilhavam e a mesma continuava a aula e enfatizava a importância do estudo da nossa História, pois nos permite conhecer o passado, compreender o presente e pode nos ajudar a planejar o futuro.

Naquela época, dizia a professora: “o escravo era visto na sociedade colonial também como símbolo do poder e do prestígio dos senhores (...). Na nossa comunidade não foi diferente. Por isso, que temos muitos negros aqui, pois somos descendentes de escravos, nossa origem é de quilombo” (Diário de campo. Observações no dia 11 de maio de 2016).

O que percebi durante as observações em campo é que o tema sobre raça, identidade quilombola e sobre história afrodescendente, ainda encontra-se a passos lentos dentro do

contexto escolar, podendo ser confirmado em uma conversa informal com a professora regente da turma observada:

Despertar nos alunos mais conhecimento sobre o negro, o respeito e que eles possam perder e descrer que o negro não é só sofrimento, que o negro seja valorizado, a identidade e a escola. Antes, bem no início, eles recebiam como uma coisa ruim não aceitavam, não queriam ser negro e, hoje eles tem orgulho em dizer: -Eu sou negro quando perguntam algo relacionado a raça, a cor qualquer outra coisa, eles falam logo: -Eu sou negro e não usam mais apelidos como sou cor de canela eles falam: sou negro (PROFESSORA RESPONSÁVEL PELA TURMA DO 3º ANO B, TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO EM 30 DE MAIO 2016).

As aulas, as histórias e atividades desenvolvidas em torno do tema ofereciam aos aprendizes oportunidades e possibilidades de conhecerem sobre sua história e raízes. As inferências feitas pela professora interagindo com o conhecimento que eles possuíam da sua vivência em família, comunidade e ambiente escolar se transformava numa aprendizagem efetiva. “Inovar é isso mesmo. Não se trata de procurar soluções paliativas para uma instituição à beira do declínio. Trata-se de olhar para além dela, imaginando outra deixando de se ter os pés tolhidos pelas forças que conduzem inexoravelmente em direcção do passado” (FINO, 2009, p. 14).

Sob este olhar, torna-se necessário criar um cenário novo no ambiente escolar para atender aos anseios do homem contemporâneo, que vive numa sociedade que exige cada vez mais dos indivíduos a capacidade de tomada de decisões para resolver problemas que emergem do dia a dia no desenvolvimento do conhecimento, que se libertem de atividades e produções padronizadas de comportamentos uniformizados seguindo um currículo fechado e único.

O que pretendemos acentuar é o papel especial que o professor detém para a leitura e captação do mosaico cultural que se reflecte na escola. Ao núcleo duro que constitui o currículo formal e oficial, terá ele de acrescentar um novo espaço de desenvolvimento curricular onde se propicie o diálogo entre as diversas culturas aí presentes. Essa aproximação com os diversos territórios de pertença e referência socio-cultural dos alunos constituirá, em nossa opinião, o patamar a partir do qual poderá haver uma maior garantia de apropriação de saberes, atitudes e competências que a escola deseja proporcionar (SOUSA, 2004, p. 141).

O projeto de leitura desenvolvido pela professora Júlia nas aulas de Língua Portuguesa, influenciava nas diversas áreas do conhecimento, pois o objetivo primordial era incentivar os

sujeitos aprendizes das séries iniciais do Ensino Fundamental I, a desenvolverem uma competência crítica de leitura, escrita e produção nas diversas disciplinas. Para tanto, era desenvolvido uma infinidade de atividades lúdicas, interessantes e incentivadoras, que tinham o objetivo de desenvolver a autonomia, a criticidade, a criatividade, sem processos repetitivos e mecanizados usadas por práticas pedagógicas tradicionais, e sim um trabalho cooperativo, colaborativo ora individual, ora coletivo.

4.2.6 A efetivação da Educação Escolar Quilombola na Escola Rural Quilombola de Lage

No documento Dissertação de Mestrado FUNCHAL -2016 (páginas 101-104)