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10. Como praticar eficientemente? É necessário concentração da mente, a prática só vem com a vontade de realizar o caminho do autodesenvolvimento O objetivo fundamental da

1.10 Aproximações com o teatro

1.10.2 A pré-expressividade

O nível que se ocupa com o como tornar a energia do ator cenicamente viva, isto é, com o como o ator pode tornar-se uma presença que atrai imediatamente a atenção do espectador, é o nível pré-expressivo e é o campo do estudo da antropologia teatral. O nível pré-expressivo pensado desta maneira é, portanto, um nível operativo: não um nível que pode ser separado da expressão, mas uma categoria pragmática, uma práxis, cujo objetivo, durante o processo, é fortalecer o bios cênico12 do ator. (BARBA,

1995, p. 188)

Para se chegar ao campo da pré-expressividade, o ator, se utilizando de técnica, entendida aqui como formas, maneiras, comportamentos e procedimentos para a atuação, pode se valer, segundo Barba (1995), de uma atitude espontânea, na qual estará presente em seu corpo uma série de comportamentos que chegaram a ele de “maneira natural", em razão do meio cultural e social ao qual ele esteve inserido, ou seja, o comportamento de um indivíduo está condicionado por uma sociedade que determina os padrões de conduta, tornando-os, muitas vezes, aparentemente naturais por já estarem incorporados. Essa série de comportamentos espontâneos foi denominada pelos antropólogos como inculturação, que é o

12 Bios cênico, pré-expressividade é a vida pronta a ser transformada em ações e reações precisas

processo de absorção passiva, sensório- motora, do comportamento cotidiano de uma dada cultura. Quase que de maneira oposta, tem-se a utilização de técnicas corporais específicas que são distintas das utilizadas na vida cotidiana – a aculturação.

A aculturação, no contexto aqui abordado, é então, a transformação de um corpo em atividade cotidiana, natural e usual, em um corpo que recria seus movimentos, distorcendo sua manifestação original.

Como proposta para o treinamento corporal na prática dessa pesquisa, foi utilizado o segundo conceito apresentado, ou seja, o da aculturação também denominado como técnica corporal extracotidiana. Esse processo, que de modo ampliado, se relaciona a apropriação de outras culturas, foi possível no trabalho em questão por intermédio de uma “nova” cultura no que diz respeito às práticas corporais – o treino do kung fu.

O aquecimento proposto ao grupo, antes do início dos ensaios, foi composto por uma sequência de movimentos, os mesmos empregados no aquecimento de uma aula de kung fu que continha exercícios para alongamento e mobilização das articulações e as chamadas posições básicas, a saber, posição do gato, do cavalo e arco e flecha. Esse treinamento será exposto com pormenores adiante.

A realização desses movimentos extracotidianos, que por vezes incomodavam os participantes, justamente pela dificuldade de reconhecê-los em seus corpos, ou mesmo realizá-los, acabava por desconstruir certos automatismos da vida cotidiana, o que estimulava a criação de uma qualidade de movimento e organização da energia diferenciada. Para Barba (1995), as artes marciais são baseadas em técnicas de aculturação e acabaram por inspirar as formas codificadas de teatro.

Elementos dessa codificação de movimento estiveram presentes não só nos aquecimentos, como também em sequências que fizeram parte do espetáculo montado, como: um kati utilizando um bastão; toi shá - luta combinada partindo dos movimentos de outro kati chamado pan pou kiu, realizado em dupla e parte de um woshu, que são as sequências consideradas as mais artísticas do kung fu – essa última realizada por todos os atores. Também fez parte da apresentação a Dança do Leão.

Figura 7 - Kati de bastão. Corpo em movimento extracotidiano – posição do cavalo do kung fu. Fonte: arquivo pessoal – foto de Walter Coelho.

oral na prática dessa pesquisa, foi utilizado o ulturação também denominado como técnica modo ampliado, se relaciona a apropriação de tão por intermédio de uma “nova” cultura no do kung fu.

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Figura 9 - Toi shá13 do kati pan pou kiu. À esquerda posição do cavalo e à direita posição do gato.

Fonte: arquivo pessoal – foto de Walter Coelho.

13 Luta combinada. Nesse caso, os movimentos são os mesmos apresentados no kati pan pou kiu, de

forma a integrar a ação dos dois lutadores que, como em uma coreografia, conhecem tanto o movimento que irão realizar quanto os movimentos do outro.

Figura 8 - Kati de bastão. Corpo em movimento extracotidiano – posição do arco e flecha do kung fu. Fonte: arquivo pessoal – foto de Walter Coelho

A Dança do Leão é uma das manifestações da prática do kung fu. Essa dança só pode ser realizada por praticantes dessa arte marcial. Atuando em duplas, um dos artistas é a cabeça e as patas dianteiras do leão e outro a parte posterior do corpo e as patas traseiras. Apenas suas pernas são reveladas, o restante de seus corpos é coberto por uma fantasia estilizada e colorida dividida em duas partes: cabeça e corpo.

O leão realiza movimentos bastante complexos, nos quais os dois kungfuístas devem estar em perfeita sincronia e harmonia, tais como: saltos, rolamentos e quedas. Ele é guiado pelo som de um tambor, que é tocado ao vivo e interage de maneira intensa com a plateia.

Figura 10 - Cena da peça em que acontece a Dança do Leão. Fonte: arquivo pessoal – foto de Walter Coelho.

Figura 11 - Ensaio da dança do leão na Associação Shao Lin de Kung Fu – unidade de Pinheiros, no dia 18 de outubro de 2008. Fonte: arquivo pessoal – foto de Juliana Rocha.

Estudos têm sido feitos da relação das artes marciais e personalidade e se notou que a aprendizagem da arte marcial por meio da repetição de ações físicas conduz os alunos à outra conscientização de si mesmo e a outro uso de seus corpos. O objetivo das artes marciais é aprender a estar presente no exato momento da ação. Esse tipo de presença é importante para atores que desejam ser capazes de recriar, toda noite, esta qualidade de energia que os torna vivos aos olhos do espectador. É talvez esse o objetivo comum, apesar dos resultados diferentes, que explica a influência que as artes marciais tiveram sobre a maioria das formas teatrais do Oriente. (BARBA, 1995, p. 197)