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3 ESTADO DO CONHECIMENTO E LEGISLAÇÃO: TRABALHO,

3.2 PREVIDÊNCIA SOCIAL E APOSENTADORIA DE DOCENTES DA EDUCAÇÃO

3.2.1 A previdência social no Brasil: origem e regimes previdenciários

Carvalho Filho (2016, p. 370), em seu “Manual do Direito Administrativo”, destaca que a ideia central de previdência pressupõe “precaução”, “previsão”, “conhecimento do futuro” indicando a “necessidade de serem tomadas cautelas presentes para enfrentar, no futuro, problemas e adversidades encontradas” pelos trabalhadores.

Quase um século se passou do ano da aprovação da primeira lei federal que continha os rudimentos da nossa política de previdência pública. De autoria de Eloy Chaves, aprovada na Câmara Federal e convertida em Decreto Legislativo 4.682, em 24 de janeiro de 1923 (BRASIL, 1923), com a sanção do então presidente Artur Bernardes, a lei “Cria, em cada uma das empresas de estrada de ferro existentes no país, uma caixa de aposentadoria e pensões para os respectivos empregados.” (VIEIRA, 1978, p. 264). Para este autor, a proposição visava os ferroviários, mas tinha o escopo de alcançar, gradativamente, as demais classes trabalhadoras, em todo o território nacional. Em uma época que ainda guardava ressonância do regime escravagista, o trabalho livre e a remuneração (ainda que impontual) eram as maiores conquistas, o termo “férias” nem era conhecido por aqui. (VIEIRA, 1978, p. 226). Em síntese, direitos previdenciários eram pouco discutidos na política de então.

Para Granemann (2019), a ideia de previdência pública e por repartição ganhou força a partir da Comuna de Paris (1871)34, quando os revolucionários parisienses criaram um sistema previdenciário baseado na solidariedade de classe, por meio de um sistema no qual todos cuidavam daqueles que nada tinham. Para a autora, ainda que a Comuna tenha durado pouco, muitas de suas bandeiras se espalharam pelo mundo e a previdência pública, por meio da luta dos movimentos de trabalhadores, passou a ser adotada em vários países.

Na compreensão de Vieira (1978, p. 274), a Lei Eloy Chaves tinha um caráter de defesa nacional “[...] porque decisiva em sua influência pacificadora dos meios trabalhistas e mesmo na contenção das greves, que em sua progressão vinham cada vez mais prejudicando o ritmo de produção do país”. A expectativa otimista e a euforia de outras categorias levaram à

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criação de caixas de aposentadorias e pensão em vários estados brasileiros, cujo êxito levou o Presidente Washington Luís a sancionar o Decreto 5.109, de 20 de novembro de 1926. (BRASIL, 1926), estendendo o regime a outras empresas. Após a criação de 183 dessas entidades, para disciplinar a política previdenciária, o governo iniciou sucessivas absorções dessas entidades por setores e, dada sua complexidade, em 1953, no segundo governo Vargas, dar-se-ia a fusão de todas as caixas de aposentadoria e pensão. (VIEIRA, 1978, p. 304, 306 e 307). O Decreto no 35.448, de 1o de maio de 1954, expediu o Regulamento Geral dos Institutos de Aposentadoria e Pensões. (BRASIL, 2019a).

Da regulamentação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, em 1954, ao reconhecimento como um direito social com a chamada “Constituição Cidadã” de 1988, a previdência social passou por várias mudanças conceituais e estruturais, envolvendo o grau de cobertura, benefícios e a forma de financiamento, com muitas conquistas em relação aos direitos dos trabalhadores. Dentre as conquistas, vale citar: “salário mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades normais do trabalhador e de sua família; “salário-família aos dependentes do trabalhador”; “proibição de diferença de salários e de critérios de admissões por motivo de sexo, cor e estado civil” (direitos assegurados no Art. 158 da CF-67); criação do seguro-desemprego (Decreto-Lei no 2.283, de 27 de fevereiro de 1986 e Decreto-Lei no 2.284, de 10 de março de 1986).

No Brasil, a previdência social é um direito social, previsto no Artigo 6o da Constituição Federal (CF) de 1988, dentre os Direitos e Garantias Fundamentais, que garante renda não inferior ao salário mínimo ao trabalhador e a sua família nas seguintes situações, previstas no artigo no 201 da Carta Magna (BRASIL, 2017, p. 156), e atenderá:

I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;

III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de

baixa renda;

V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes.

Juntamente com os direitos à saúde e à assistência social, a previdência social compreende a seguridade social, um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, como prevê o artigo no 194 da CF de 1988. (BRASIL, 2017, p. 151). A previdência social é um segmento da seguridade que ampara estritamente o trabalhador e

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seus dependentes financeiros, sendo organizada, atualmente, em três regimes distintos35: um Regime Geral; um Regime Próprio de Servidores Públicos; e um Regime Complementar. Vale destacar as características de cada um desses regimes, conforme o site da Previdência Social (BRASIL, 2015a).

O Regime Geral de Previdência Social (RGPS), estabelecido no artigo 201, CF/88), possui caráter contributivo e de filiação obrigatória, tem como contribuintes os empregadores, empregados assalariados, domésticos, autônomos, contribuintes individuais e trabalhadores rurais. (BRASIL, 2017).

O Regime de Previdência dos Servidores Públicos (RPPS), estabelecido no artigo 40 da CF/88, possui “caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas [...].” (BRASIL, 2017 [on line]). Esse regime engloba todos os ocupantes de cargos efetivos da União, Estados, Distrito Federal e Município, bem como suas autarquias e fundações. Excluem-se deste grupo os empregados das empresas públicas, os agentes políticos, servidores temporários e detentores de cargos de confiança, todos filiados ao Regime Geral.

O Regime de Previdência Complementar (RPC), previsto no artigo 202 da CF/88, é de “caráter complementar e organizado de forma autônoma, em relação ao regime geral de previdência social; será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar.” (BRASIL, 2017). Instituído no governo de Dilma Rousseff, com a promulgação da Lei no 12.618/2012.

Embora a criação do RPC tenha trazido implicações à aposentadoria dos docentes da educação superior, o RPPS é o regime que me interessa neste estudo, pois é o regime da previdência dos docentes de universidades públicas, categoria a que pertence os participantes da pesquisa realizada no Brasil.

Para o Carvalho Filho (2016), a aposentadoria e a pensão se encontram entre os benefícios básicos previdenciários mais relevantes, um direito fundamental de natureza social, que possibilita ao trabalhador, contribuinte ou não, um dado valor remuneratório, assim que lograr direito a tal, uma vez satisfeitas certas condições. No serviço público, “aposentadoria é

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O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é uma organização pública prestadora de serviços

previdenciários para a sociedade brasileira, vinculado atualmente ao Ministério da Economia. Compete ao INSS a operacionalização do reconhecimento dos direitos dos segurados do RGPS, o acompanhamento dos créditos do RGPS e os fluxos de compensação entre o RGPS e o RPPS. Criado em 27 de junho de 1990, por meio do Decreto n° 99.350, por meio da fusão do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS) com o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), como autarquia vinculada ao Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS). Informações disponíveis em: <https://www.inss.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/>.

a forma de vacância do cargo público por meio da qual o servidor passa a usufruir de um benefício previdenciário.” (BRASIL, 2017).

De acordo com o INSS36, o atual sistema previdenciário brasileiro estabelece oito tipos de benefícios para aposentadoria, quais sejam:

a) Aposentadoria por tempo de contribuição: Benefício devido à pessoa que comprovar o tempo total de 35 anos de contribuição, se homem, ou 30 anos, se mulher.

b) Aposentadoria Especial por tempo de contribuição: Benefício para a pessoa que trabalha exposto a agentes nocivos à saúde. É possível aposentar-se após cumprir 25, 20 ou 15 anos de contribuição, conforme o agente nocivo.

c) Aposentadoria por idade urbana: Benefício devido à pessoa que comprovar o mínimo de 180 contribuições (15 anos), além da idade mínima de 65 anos, se homem, ou 60 anos, se mulher.

d) Aposentadoria por idade rural: Benefício devido à pessoa que comprovar o mínimo de 180 meses trabalhados na atividade rural, além da idade mínima de 60 anos, se homem, ou 55 anos, se mulher.

e) Aposentadoria da pessoa com deficiência por idade: Benefício devido à pessoa que comprovar o mínimo de 180 contribuições realizadas exclusivamente na condição de pessoa com deficiência, além da idade de 60 anos, se homem, ou 55 anos, se mulher. f) Aposentadoria da pessoa com deficiência por Tempo de Contribuição: Benefício

devido à pessoa que comprovar o tempo de contribuição necessário, conforme o seu grau de deficiência. Deste período, no mínimo 180 meses devem ter sido trabalhados na condição de pessoa com deficiência.

g) Aposentadoria por tempo de contribuição do professor: Benefício devido à pessoa que comprovar 30 anos de contribuição, se homem, ou 25 anos, se mulher, exercidos em funções de magistério na Educação Básica.

h) Aposentadoria por invalidez: Benefício devido à pessoa incapaz de trabalhar e que não possa ser reabilitado em outra profissão.

Nesta tese, irei me deter somente à aposentadoria por tempo de contribuição, uma vez que os participantes da pesquisa almejam esta condição, o que os permite, ao final da carreira docente, passar à chamada “inatividade”, uma inatividade que tem estado muito ativa e pode ter estreita relação com as reformas da previdência social implantadas nos últimos tempos, como analisarei a seguir.

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Ministério da Economia. Instituto Nacional do Seguro Social. Disponível em: <https://www.inss.gov.br/beneficios/>. Acesso em: 10 jan. 2019.

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