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1 INTRODUÇÃO

2.2. A PRODUÇÃO DOS DADOS

2.2.1 Pesquisa Documental: estado do conhecimento e legislações

2.2.1.1 Estado do conhecimento sobre trabalho docente na educação superior e aposentadoria

A fim de me apropriar melhor da temática em estudo, um primeiro estágio da investigação compreendeu uma pesquisa bibliográfica na literatura especializada acerca do objeto e dos conceitos que o tangenciavam. Após a apropriação dos conceitos de trabalho e de aposentadoria, desenvolvidas na introdução desta tese, ambos imprescindíveis ao estudo, fiz levantamento bibliográfico inventariante entre as produções acadêmicas brasileiras e portuguesas, com vistas a situar a presente pesquisa em um campo de estudo cuja tríade “trabalho docente, educação superior e aposentadoria” se encontrava entre as preocupações das produções. Tal procedimento trouxe elementos para a elaboração de um estado do conhecimento e teve como objetivos identificar os focos de interesse e as metodologias utilizadas nessas produções acadêmicas, assim como situar onde essas produções vêm sendo realizadas. Em conformidade com Romanowski e Ens (2006, p.41), estado do conhecimento é um tipo de investigação que tem a “[...] finalidade de diagnosticar temas relevantes, emergentes e recorrentes, indicar os tipos de pesquisa, organizar as informações existentes, bem como localizar as lacunas existentes”.

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Para a presente pesquisa, busquei artigos, dissertações, teses e publicações em eventos, nas seguintes bases de dados: a base do Scielo (Scientific Electronic Library On Line)16, o Banco de Teses da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); o Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP)17 e revistas de Programas de Pós-graduação no Brasil que não estão na base de dados do Scielo e cujo foco da problemática apresentava vinculação ao tema em estudo, como as revistas da área de Psicologia da UFMG, PUC-SP, PUC-MG, PUC-RS e USP. O recorte temporal teve como referência o período compreendido entre 2004 e 2016. O ano de 2004 justifica-se por ter sido o ano subsequente à aprovação, no Brasil, da Emenda Constitucional no 41/03 (EC 41/03), que impôs a todo servidor aposentado a obrigatoriedade da contribuição previdenciária e as perdas de integralidade e paridade dos proventos, a ser melhor explicado na seção 3 desta tese. O ano de 2016 foi o subsequente ao meu ingresso no doutorado. O período estabelecido para esse levantamento para o Brasil foi utilizado, também, como referência para a pesquisa realizada em Portugal.

Os descritores usados para a busca nessas bases de dados foram “aposentadoria”, isoladamente, “professor + aposentadoria” e “docente + aposentadoria”, a depender da base de dados. O descritor “reforma” foi usado em substituição à “aposentadoria”, na base de dados de Portugal. Após uma primeira busca, procedi a leitura dos títulos e resumos – com eventual incursão ao texto completo –, de modo a selecionar apenas as investigações que envolviam os docentes na educação superior. No Banco de teses da Capes, levantei dissertações de mestrado e teses de doutorado, e no RCAAP, além de dissertações e teses, por ter artigos disponíveis, estes foram incluídos na busca. O levantamento incluiu produções acadêmicas de instituições públicas e privadas e de mestrados acadêmicos e profissionais.

Outra base de dados importante em uma pesquisa bibliográfica do tipo “estado do conhecimento” são os anais de eventos acadêmicos, espaços privilegiados de divulgação do conhecimento produzido. Como a presente tese é vinculada a um Programa de Pós-Graduação em Educação, a Reunião da ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) foi eleita como evento acadêmico no levantamento das produções. A ANPED é uma entidade que congrega programas de pós-graduação stricto sensu em educação, docentes vinculados a esses programas e demais pesquisadores da área, portanto é a entidade mais

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Biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros.

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RCAAP é uma base de dados de Portugal que reúne a "recolha, agregação e indexação dos conteúdos científicos em acesso aberto (ou acesso livre), existentes nos repositórios institucionais das entidades nacionais de ensino superior, e outras organizações de I & D", dentre elas as do Brasil.

expressiva e reconhecida na área. Considerando, ainda, que a presente pesquisa se detém a investigar o trabalho docente na educação superior, essa busca se deu, especificamente, no Grupo “Trabalho e Educação” (GT 09), que se caracteriza como um fórum de discussão sobre as relações entre o mundo do trabalho e a educação, enfocando temáticas como o trabalho docente, o trabalho na sua dimensão ontológica e nas suas formas históricas de trabalho, dentre outras. Nos Anais eletrônicos da ANPED, no recorte temporal já referido e no período da produção de dados desta pesquisa, já adianto que não foi encontrado nenhuma publicação cuja temática se aproximasse dos propósitos do presente estudo.

O estado do conhecimento das produções bibliográficas sobre “trabalho docente na educação superior e aposentadoria” se encontram na seção 3 do presente estudo.

2.2.1.2 Legislação sobre aposentadoria de docentes da educação superior no Brasil e em Portugal

Para compreender a permanência do docente universitário no trabalho após obter condições legais para aposentadoria, recorri ao conhecimento da legislação da previdência social do servidor público federal, no Brasil, em especial aos aspectos legais que podem trazer implicações à decisão do docente do magistério superior postergar a aposentadoria. No ensejo, fiz um apanhado da legislação sobre segurança social da função pública, em Portugal.

No Brasil, o levantamento compreendeu, principalmente, a legislação sobre reformas da previdência social aprovadas e regulamentadas a partir da Reforma do Aparelho do Estado do governo Fernando Henrique Cardoso, como indicado no Quadro 1, além de algumas leis a ela subjacentes.

Ressalto que não é meu interesse analisar a PEC 6/19, do Governo Jair Bolsonaro, que modifica o sistema de previdência social, mas não me furtarei em tomá-la para ilustrar ou cotejar alguma análise das narrativas dos participantes, na seção 4 deste estudo.

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Quadro 1 - Legislação sobre previdência social no Brasil - 1998-2019.

Legislação EMENTA

EC No 19/1998, de 4. jun.

Modifica o regime e dispõe sobre princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal e dá outras providências

EC No 20/1998, De 15.dez.

Modifica o Sistema de Previdência social, estabelece normas de transição e dá outras providências.

Lei No 9.876/1999, de 26.nov.

Dispõe sobre a contribuição previdenciária do contribuinte individual, o cálculo do benefício, altera dispositivos das Leis no 8.212 e no 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e dá outras providências.

EC No 41/2003, de 19. dez.

Modifica os arts. 37, 40, 42, 48, 96, 149 e 201 da Constituição Federal, revoga o inciso IX do § 3 do art. 142 da Constituição Federal e dispo- sitivos da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998 Lei No 10.887/2004,

de 18. jun.

Dispõe sobre a aplicação de disposições da Emenda Constitucional no 41, de 19 de dezembro de 2003, altera dispositivos das Leis nos 9.717, de 27 de novembro de 1998, 8.213, de 24 de julho de 1991, 9.532, de 10 de dezembro de 1997

Lei No 12.618/2012, de 30. abr.

Institui o regime de previdência complementar para os servidores públicos federais titulares de cargo efetivo, inclusive os membros dos órgãos que menciona; fixa o limite máximo para a concessão de aposentadorias e pensões pelo regime de previdência de que trata o art. 40 da Constituição Federal ; autoriza a criação de 3 (três) entidades fechadas de previdência complementar, denominadas Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe), Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Legislativo (Funpresp-Leg) e Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Judiciário (Funpresp-Jud); altera dispositivos da Lei no 10.887, de 18 de junho de 2004; e dá outras providências.

Lei No 7.808/2012, de 20. set.

Cria a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo - Funpresp-Exe, dispõe sobre sua vinculação no âmbito do Poder Executivo e dá outras providências Fonte: Elaboração da autora

Em Portugal, a legislação que ampara o direito à segurança social da função pública possui seu marco na Lei no 4 de 2007, de 16 de janeiro, que aprova as bases gerais do sistema de segurança social em vigor. Além dessa, foram analisadas um conjunto de leis, como especificado no Quadro 2.

Quadro 2 - Legislação sobre segurança social em Portugal - 2007-2019. Legislação Ementas

Lei No 4/2007, de 16.jan.

Aprova as bases gerais do sistema de segurança social em vigor Decreto-Lei No

62/2007, de 10.set.

Estabelece o regime jurídico das instituições de ensino superior, regulando designadamente a sua constituição, atribuições e organização, o funcionamento e competência dos seus órgãos e, ainda, a tutela e fiscalização pública do Estado sobre as mesmas, no quadro da sua autonomia. (Decreto-Lei)

Decreto-Lei No 205/2009, de 31.ago.

Procede à alteração do Estatuto da Carreira Docente Universitária, aprovado pelo Decreto-Lei no 448/79, de 13 de novembro. (Decreto-Lei) Lei No 83-A/2013, de

30.dez.

Primeira alteração à Lei no 4/2007, de 16 de janeiro, que aprova as bases gerais do sistema de segurança social.

Lei No 11/2014, de de 6.mar.

Estabelece mecanismos de convergência do regime de proteção social da função pública com o regime geral da segurança social, procedendo à quarta alteração à Lei no 60/2005, de 29 de dezembro, à terceira alteração ao Decreto-Lei no 503/99, de 20 de novembro, e à alteração do Estatuto da Aposentação, aprovado pelo Decreto-Lei no 498/72, de 9 de dezembro, e revogando normas que estabelecem acréscimos de tempo de serviço para efeitos de aposentação no âmbito da Caixa Geral de Aposentações.

Portaria No 150/2017, de 03.mai.

Estabelece os procedimentos da avaliação de situações a submeter ao programa de regularização extraordinária dos vínculos precários na Administração Pública e no setor empresarial do Estado. (Portaria)

Portaria No 25/2018, de 18.jan

Estabelece a idade normal de acesso à pensão de velhice em 2019 (Portaria)

Lei No 6/2019, de 14.jan.

Altera a Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, quanto à caducidade dos processos disciplinares e às condições de exercício de funções públicas por aposentados ou reformados.

Fonte: Elaboração da autora