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1 INTRODUÇÃO

2.2. A PRODUÇÃO DOS DADOS

2.2.2 Pesquisa de Campo entre dois continentes

2.2.2.4 Perfil dos participantes da Universidade de Lisboa

Antes de apresentar o perfil dos participantes, avaliei como pertinente trazer algumas informações sobre a estrutura do ensino superior em Portugal, não apenas para situar a ULisboa – instituição a que estão vinculadas as participantes da pesquisa –, mas esclarecer possíveis falsos cognatos em relação à nossa língua, de modo a facilitar, em particular, a compreensão de alguns trechos relacionados ao estudo em Portugal, em especial na seção 5, onde apresentei o resultado da pesquisa de campo.

Regulado pela Lei de Bases do Sistema Educativo, o sistema educativo português é atualmente desenvolvido em três níveis: ensino básico, secundário e superior. Em 2005, iniciou-se um processo de reforma da Lei de Bases do Sistema Educativo de modo a implementar em Portugal o Processo de Bolonha: o ensino superior passou a ter uma estrutura de três ciclos de estudos, apropriados aos graus académicos de licenciado (1o Ciclo), mestre (2o Ciclo) e doutor (3o Ciclo). Introduzida em 2006, essa proposta só foi totalmente implantada em Portugal a partir do ano letivo de 2009/2010. (DGES, s.d.).

O ensino superior – de acordo com a Lei no 62/2007, de 10 de setembro, que estabelece o regime jurídico das instituições de ensino superior – compreende o setor público de ensino superior (instituições pertencentes ao Estado e as fundações por ele instituídas) e o setor privado de ensino superior (instituições pertencentes a entidades particulares e cooperativas). Organizado em um sistema binário que integra o ensino superior politécnico e

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o ensino superior universitário, as instituições de ensino superior, conforme estabelece o Artigo 5o da Lei no 62/2007, integram, como mostra o Quadro 6: a) instituições de ensino universitário, que compreendem as universidades, os institutos universitários e outras instituições de ensino universitário; b) instituições de ensino politécnico, que compreendem os institutos politécnicos e outras instituições de ensino politécnico. (PORTUGAL, 2007b).

Quadro 6 - Organização do ensino superior em Portugal, Lei no 62/2007.

Sistema binário Das instituições Dos graus e diplomas

1.Ensino Superior Universitário

Universidades Licenciado, mestre e doutor

Institutos universitários Licenciado, mestre e doutor Outras instituições universitárias Licenciado e mestre

2.Ensino Superior Politécnico

Institutos politécnicos Licenciado e mestre Outras instituições de ensino politécnico Licenciado e mestre Fonte: Lei No 62/2007, de 10 de setembro.

Elaboração da autora

Faz-se importante ressalvar que o termo “licenciado”, em Portugal, refere-se ao grau acadêmico obtido com a licenciatura, 1o ciclo do ensino superior, que equivale à graduação no Brasil. A designação licenciatura é usado no sentido lato de “licenciar alguém a algo”, por isso usada para todos que concluem esse 1º ciclo do ensino superior, indistintamente.

Nessa estrutura do ensino superior universitário, situo a ULisboa e o IEUL como uma de suas unidades orgânicas.

A Universidade de Lisboa, também conhecida como ULisboa, desde 2013 é resultante da fusão da Universidade de Lisboa com a Universidade Técnica de Lisboa. É, atualmente, a maior universidade de Portugal e uma das maiores da Europa. Uma das dimensões da ULisboa pode ser demonstrada por meio da quantidade de alunos matriculados, de diversas partes do mundo. O total geral é de 49.769 estudantes, distribuídos da seguinte forma: 20.960 inscritos na licenciatura de primeiro ciclo; 14.301 inscritos em mestrados integrados (primeiro e segundo ciclos); 10.261 inscritos em mestrados de segundo ciclo e 4.247 são de alunos inscritos em doutoramento de terceiro ciclo. Nesse universo, registra-se 7.007 estudantes de 106 nacionalidades, sendo 4.823 regulares. Como se pode observar, esses números expressam o gigantismo em que se tornou a ULisboa, cada vez mais crescendo em qualidade de licenciatura, de investigação e de tecnologia, como atestam os rankings internacionais. (ULISBOA, s.d)

As universidades públicas em Portugal, assim como os institutos politécnicos são constituídos por unidades orgânicas, estrutura prevista no Artigo 13o da Lei no 62/2007:

Unidades orgânicas

1 - As universidades e institutos politécnicos podem compreender unidades orgânicas autónomas, com órgãos e pessoal próprios, designadamente: a) Unidades de ensino ou de ensino e investigação, adiante designadas escolas;

b) Unidades de investigação; c) Bibliotecas, museus e outras. [....]

4 - As escolas de universidades designam-se faculdades ou institutos superiores, podendo também adoptar outra denominação apropriada, nos termos dos estatutos da respectiva instituição.

5 - As escolas de institutos politécnicos designam-se escolas superiores ou institutos superiores, podendo adoptar outra denominação apropriada, nos termos dos estatutos da respectiva instituição.

Esse artigo 13 do regime jurídico das instituições de ensino superior português traz mais uma expressão pouco usual para nós, brasileiros, pelo menos aos mais jovens: o uso do termo escola para designar espaços orgânicos como faculdades e institutos dentro das universidades. Em Portugal, a designação “escola” é usada na estrutura do ensino superior não estando restrita às unidades de ensino básico e secundário. Ainda que a educação superior brasileira tenha utilizado ou utilize, eventualmente, a denominação “escola” para designar unidades orgânicas dentro das instituições superiores, é apenas uma designação, não consta na estrutura do ensino.

A ULisboa é constituída por escolas, unidades de investigação e outras unidades orgânicas, como o Museu Nacional de História Natural e da Ciência. O Instituto de Educação (IE) é uma escola da ULisboa voltada para a investigação, o ensino e a intervenção no espaço público, no âmbito da educação e da formação, onde trabalham as participantes desta pesquisa, cujo perfil será apresentado.

O perfil sociodemográfico das professoras participantes da ULisboa encontra-se no Quadro 7 e pode ser assim descrito: eram todas do sexo feminino, sendo que cada uma delas possuía uma diferente situação conjugal: divorciada, solteira, casada e viúva. Quanto à idade, agrupei em dois intervalos distintos e afastados: uma delas com idade próxima a 80 anos e as outras 3, com idade próxima e inferior a 70 anos.

Sobre o tempo de trabalho assalariado, as participantes possuíam entre 40 e 45 anos, um tempo bem maior – para todas as professoras – que o tempo de trabalho na educação

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superior, que variou entre 24 a 30 anos, o que demonstra que o ofício no magistério superior decorreu após as primeiras experiências profissionais no mundo do trabalho.

Todas as professoras participantes da pesquisa possuíam, à época da realização da entrevista, o doutoramento e, com referência à carreira docente, integravam as categorias de Professor Auxiliar e Professor Associado28. Ressalve-se que as categorias efetivas da carreira docente universitária em Portugal são Professor Auxiliar, Professor Associado e Professor Catedrático. Chamou-me a atenção o fato de que nenhuma das respectivas professoras, mesmo depois de um longo tempo de trabalho universitário, alcançou o topo da carreira docente, a de Professor Catedrático. Há que se destacar que em Portugal o recrutamento de docentes para a carreira docente universitária pública se dá por concurso documental e aprovação nos exames29, tanto para o ingresso quanto para a mudança de categoria na carreira, ou seja, para que haja mudança de classe na carreira, o docente deve se submeter a novo concurso público.

Quadro 7 -Perfil sociodemográfico das participantes da pesquisa na Universidade de Lisboa – 2017.

Nome sexo Idade Situação Conjugal Tempo de Trabalho Assalariado Tempo de Trabalho no Ens. Superior Classe na Carreira

Lavanda F 67 divorciada 45 24 Associado

Margarida F 68 solteira 40 26 Auxiliar

Hortência F 69 casada 43 30 Auxiliar

Flamboyant F 79 viúva 40 30 Associado

Fonte: Elaboração da autora

Convém destacar que embora não tenham alcançado o topo final da carreira do magistério superior, posso afirmar, mediante a análise dos curriculum vitae das respectivas professoras, capturados no site da Unidade Orgânica a que estão vinculadas, que elas são professoras de farta produção intelectual, com larga experiência acadêmica e científica consistente no cenário nacional e internacional, com destaque nas áreas de especialidade em que atuam, portanto, de reconhecido mérito e prestígio social e profissional na comunidade acadêmica, quiçá social.

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Artigo 2o do Decreto-lei no 448/79, de 13 de novembro, que aprova o Estatuto da Carreira Docente Universitária, alterado pelo Decreto Lei 205/2009, de 31 de agosto.

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