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As práticas artísticas que se multiplicam no espaço público da cidade de Pelotas na atualidade também estimularam produções acadêmicas, seja por parte de artistas que documentam e analisam as suas próprias produções efetuadas nas ruas ou por parte de pesquisadores que observam a arte urbana com ponderação. Desse modo, pode-se citar autores que já realizaram investigações que de alguma forma se vinculam com esse trabalho, como: Hypolito (2015) e Pons (2017) na área da Arquitetura e Urbanismo; e Tavares (2015) e Marques (2016), na área das Artes Visuais.

Abordando a arte urbana do graffiti, da street art, e também a pixação10 na cidade de Pelotas, Hypolito (2015) investiga como a prática das escritas urbanas pode interferir na relação que se estabelece entre o corpo e a cidade no espaço público. A autora, a partir do método cartográfico, analisa o que ela denomina de “experimentações” em três estudos de caso. O primeiro experimento trata do graffiti em uma fachada de uma residência na região do Areal. O segundo e o terceiro experimentos ocorrem dentro de um perímetro gerado pelo deslocamento do corpo da autora no Bairro Porto da região do Centro. Tratam-se de experimentos de um escritor que se vale do espaço público para fixar frases poéticas ou políticas e o de pixações que profanam espaços abandonados e marcam o território. Hypolito (2015) constata que a arte e as escritas urbanas, baseadas no graffiti e nas pixações, podem criar territórios no espaço público, com o intuito de que o corpo contemporâ- neo, através dos seus sentidos, possa experimentá-los. Dessa forma, o espaço público é reativado através da arte e do uso da cidade pelas pessoas, emergindo uma urbanidade. A cidade se torna mais amigável, com uma paisagem urbana menos cinza e dura, e mais colorida, sensível e corporificada (HYPOLITO, 2015).

Em pesquisa de Tavares (2015) o autor analisa as suas próprias produções artísticas que foram resultado de uma exploração do espaço público da cidade de Pelotas a partir do ato de caminhar como prática estética. Tavares (2015) produziu um trabalho que vai desde o registro fotográfico da ação da natureza no ambiente construído até a realização de intervenções artísticas urbanas que, por exemplo, transformavam balizas de sinalização urbana em relógios solares com o recurso da técnica do estêncil. O autor comprova, desse modo, a hipótese que práticas artísti- cas, como uma tática divergente, podem contribuir na reapropriação do espaço pú- blico, resgatando uma sensibilidade estética e construindo situações que mostram que outros usos são possíveis (TAVARES, 2015).

Discutindo as relações entre arte, design e arquitetura, Marques (2016) reali - zou uma pesquisa para encontrar soluções que possam reverter mecanismos de controle exercidos no espaço público e fomentados por processos de renovações espaciais econômicas na cidade de Pelotas. O autor, para isso, utilizou as chamadas

10 A autora optou pela pichação que se escreve com “x” e que se refere ao estilo de ação transgres - sora criada por grupos da cidade de São Paulo, que em lugares de difícil acesso e grande visibili- dade, utilizam ferramentas como a lata de spray e rolos de espuma para desenharem letras incompreensíveis pelo público que desconhece o seu significado (LASSALA, 2010).

táticas de desobediência urbana e as ocupações anarco libertárias, que são ações que usam de forma subversiva os espaços do cotidiano. Em atividade coletiva da pesquisa chamada de Laboratório de Desobediência Urbana, foram desenvolvidos dispositivos de maneira simplificada que criaram pequenas ações de resistência pela cidade, tornando visíveis lugares que hostilizam as pessoas e que não são percebi- dos por quem não tem necessidade de habitá-los. E devido a uma possibilidade de reformulação e extinção da Praça Palestina, que fica localizada na região do Centro de Pelotas, para construção na área de um novo prédio para a Câmara de Vereado- res, o pesquisador, junto com parceiros, ocupou um espaço na própria praça por sete dias com um conjunto de arquiteturas portáteis ou dispositivos do projeto Maloca.Lab – Laboratório de Práticas Experimentais UrbaNômades e outras Malo- queiragens. Esse ato artístico crítico de desobediência urbana, realizado de forma pacífica e sem autorização da prefeitura, visava ocupar coletivamente um espaço público e ativá-lo, criando uma desordem no seu uso normatizado e ampliando as possibilidades da arte como ato de resistência política na cidade de Pelotas (MARQUES, 2016).

Pons (2017) realizou um estudo exploratório a partir de uma metodologia cartográfica que propõe o encontro entre corpo e cidade e que foi adaptada para estabelecer conexões entre arte, urbanismo e som. Assim, a pesquisadora aborda formas de romper com o paradigma da visão no campo da arquitetura e urbanismo, entendendo que o som pode criar rupturas em sistemas hegemônicos existentes. A autora produziu experimentos ou intervenções artísticas urbanas nas cidades de Pelotas e João Pessoa na Paraíba e se aproximou de três artistas pelotenses envolvidos respectivamente com produção musical urbana, com a experiência cor- poral na cidade, e com a produção de territórios sonoros micropolíticos. Com a pesquisa obtendo uma cartografia sensível da paisagem sonora urbana, foi possível expor a influência do desenho urbano nas produções da paisagem sonora e, por conta disso, explorar novas táticas de apropriação do espaço urbano como uma alternativa aos sistemas sociais dominantes (PONS, 2017).