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Os cidadãos que transitam sem pressa pelas principais regiões da cidade de Pelotas na atualidade podem perceber facilmente a propagação de práticas artísti - cas nos espaços públicos, principalmente as consideradas como sendo de arte urbana, autorizada ou não autorizada. A arte pública, do monumento público tradicional, por ser permanente e ter as suas obras instaladas há várias décadas, cristalizou-se na paisagem urbana de tal forma que pode nem chamar mais a aten- ção da população. Na arte urbana, que surge em vários locais, nota-se mais o sub- gênero do graffiti, por não ser efêmero como a intervenção artística e, principalmen- te, pelo uso dos grafiteiros de cores diversificadas que contrastam com uma paleta de cores restrita e mais sóbria aplicada nos edifícios residenciais e comerciais. De uma maneira geral, com relação à arte pública, a arte urbana tende a ser autofinan- ciada, sendo mais livre nos temas criados e tendo uma circulação maior pela cidade, não ficando restrita apenas à área central e mais privilegiada de recursos, podendo aparecer também nas áreas mais periféricas.

Na região do Centro consegue-se observar, além dos monumentos públicos tradicionais presentes nas principais praças, a presença frequente da arte urbana, principalmente os subgêneros do graffiti e da street art, que é composta pelos pôste- res artísticos ou lambe-lambes, estênceis e adesivos. Pode-se ver uma diversidade de estilos de graffiti em paredes e muros de residências particulares, edifícios comerciais, edifícios abandonados, caixas telefônicas metálicas, cabines de telefo- nes públicos, tapumes de construção etc. Alguns trabalhos remetem ao recurso arquitetônico da supergráfica (Fig. 13) por causa das linhas, formas e cores da pintura que passam sobre partes do volume inteiro de uma parede, mudando assim o ambiente e criando uma história (ADAMS, 2018; NAOUMOVA, 2018). Também pode-se constatar adesivos colados no verso de placas de sinalização e em outros mobiliários urbanos, pôsteres artísticos de dimensões variadas afixados em postes de iluminação pública, tapumes ou paredes de edifícios e estênceis aplicados em locais inusitados. Além disso, a região do Centro tem uma área de convergência da arte urbana na cidade que é a zona portuária, com quarteirões e edifícios desativa-

dos que propiciam a realização de projetos e de festivais de graffiti e do desenvolvi- mento da técnica pelos praticantes.

Figura 13 – Felipe Silva (Povo!) e Guilherme Nunes da Rosa (GuiNR), graffiti em parede de sobrado na região do Centro. Pelotas, 2017.

Fonte: O autor, 2017.

Percorrendo outras regiões da cidade é possível verificar uma incidência de arte pública e de arte urbana menor em relação ao Centro. Na avenida principal da região do Fragata, especificamente na Praça 20 de Setembro, encontra-se um monumento público tradicional. Ainda na mesma avenida, pode-se descobrir tam- bém a arte urbana, com graffiti no estilo bomb8 em edificações abandonadas e adesivos no verso de placas de sinalização viária. Em quadras próximas da avenida principal, o graffiti também é visto em muros e se depara com o estilo caligráfico em paredes de edifícios deteriorados (Fig. 14). Indo em direção a Cohab Guabiroba percebe-se uma fachada de bar grafitada e, dentro do próprio conjunto habitacional, o graffiti está presente em edifícios comerciais e no muro de uma escola estadual.

8 Neste estilo de graffiti são desenhadas, de modo rápido, letras arredondadas com contorno e preenchimento para simular volume (LASSALA, 2010).

Figura 14 – Junior (Asnoum), graffiti caligráfico em edifício na região do Fragata. Pelotas, 2018. Fonte: O autor, 2018.

Observam-se desde a avenida principal que corta a região das Três Vendas, algumas manifestações de arte no espaço público, em sua maioria de arte urbana. O

graffiti aparece em caixas telefônicas metálicas, muros de terrenos não construídos,

fachadas de edifícios comerciais, em edifícios abandonados e degradados e em muros de edifícios residenciais. Notam-se também pequenos adesivos no verso de placas de sinalização viária e pintura mural na parte externa de muro de colégio.

Deslocando-se pela região do Areal, na avenida principal da área, pode-se perceber a arte urbana do graffiti em edifícios abandonados. Em ruas próximas ao Museu da Baronesa, o graffiti é visto em muros de residências e até em caixas telefônicas metálicas. Edifícios que estão desativados e lacrados com tijolos nas suas portas e janelas são atingidos pelo graffiti, assim como um muro de quadra de esportes grafitado com bombs. Em muro de edifício residencial acha-se um painel de graffiti coletivo contendo vários estilos (Fig. 15). Outras formas de práticas artísticas além da arte urbana do graffiti não foram observadas.

Figura 15 – Simples, Jumpe e Agabe, painel de graffiti em muro na região do Areal. Pelotas, 2017. Fonte: O autor, 2018.

Mesmo em regiões mais distantes da região central, como o Laranjal, a arte pública e a arte urbana estão presentes. Antes de chegar ao Laranjal, cruza-se a região do São Gonçalo e, apesar desta área da cidade ter aparentemente pouca área construída, percebe-se também o graffiti em caixas telefônicas metálicas, fachadas de residências e em pontos comerciais. Em uma parede de um estaciona- mento existe um painel de graffiti desbotado realizado por vários artistas. Transitan- do pelos balneários do Laranjal, nota-se bombs de graffiti em portões de alumínio, em muros de residências e alguns tímidos adesivos no verso de placas de sinaliza- ção viária. Na entrada do Balneário Santo Antônio chama a atenção um painel de

graffiti em muro do edifício de um reservatório de água do Serviço Autônomo de

Saneamento de Pelotas (Sanep), a arte no estilo hall-of-fame9 foi feita por dois grafi- teiros para homenagear a cultura do hip-hop (Fig. 16). E como já foi citada, em uma praça do Balneário Valverde, pode-se deparar com uma obra de arte pública, a es-

9 É o graffiti realizado na maior parte dos casos com autorização, é de grande dimensão e de maior complexidade pictórica (CAMPOS, 2010).

cultura de metal Velas ao Vento que está inserida dentro de um chafariz que está agora desativado.

Figura 16 – Gabriel Moraes (Veiz) e Guilherme (Ges), muro do Sanep na região do Laranjal grafitado no estilo hall-of-fame. Pelotas, 2016.

Fonte: O autor, 2018.