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A produção da narrativa no jornalismo on-line

2 O USO DOS ESTUDOS CULTURAIS NA ANÁLISE DAS NARRATIVAS

3.3 A produção da narrativa no jornalismo on-line

A humanidade nunca assistiu a uma avalanche informativa como a produzida a partir dos anos 1970 pela combinação da digitalização com a internet. Esse fenômeno, não só está alterando os processos informativos da sociedade, como está gerando uma cultura digital que incorpora novas rotinas, crenças e valores (CASTILHO; FIALHO, 2009. p. 121).

Ao discutir sobre narrativas on-line, Castilho e Fialho (2009) destacam que esta é a segunda vez que a humanidade enfrenta um surto de produção maciça de conteúdos informativos. A primeira foi por volta de 1439, quando o alemão Johannes Gutenberg criou os tipos móveis para impressão de papel. Agora, cinco séculos depois, essa nova avalanche informativa resulta da combinação da computação eletrônica, digitalização de conteúdos, formação de uma rede mundial de computadores e da criação da interface gráfica, “elementos que transformaram a rede em um canal de produção, gestão e disseminação de informações” (CASTILHO; FIALHO, 2009, p. 121).

No jornalismo on-line, pano de fundo desta pesquisa, o conceito de narrativa permanece como na mídia tradicional, mas é preciso discutir alguns pontos importantes sobre a questão da produção e apresentação da notícia na plataforma digital. Ladeira Mota (2012) destaca que “neste percurso teórico, que situa a notícia enquanto prática discursiva com efeitos na vida social e cultural, é preciso verificar em que condições sociais e históricas a prática do jornalismo é feita hoje” (LADEIRA MOTA, 2012, p. 205).

Neste caminho, não podemos negar que, com a globalização e o crescimento tecnológico, o trabalho jornalístico passa por algumas mudanças. Se antes a produção era voltada para o público local, no on-line, a audiência passa a ser global. Isto causa impacto em questões importantes, como o alcance da comunicação ao maior número de pessoas possíveis e alterações na produção da notícia.

Jorge (2012), uma das precursoras em estudo de jornalismo digital na Universidade de Brasília, explica que ao estudar o tema é preciso considerar alguns elementos do discurso digital, como (1) hipertexto; (2) o abuso do uso do lead, onde a característica não linear do texto na internet e a constatação de que o leitor não fica navegando por muito tempo na mesma página, faz com que todas as informações importantes sejam colocadas no primeiro parágrafo; (3) interações da narrativa com outros formatos de comunicação, como vídeo, som e imagem; (4) a mudança no valor-notícia, já que no jornalismo on-line, fatores como velocidade e a atualidade dos fatos são fundamentais para definir a publicação de um acontecimento; (5) e a interação com outros meios de comunicação servindo de fonte. Nesta

categoria, é preciso levar em conta que, com a internet, cada vez mais os jornalistas usam redes sociais e sites, como fontes de informação.

Nos veículos on-line, praticam-se novas modalidades de jornalismo, com a utilização de sinergia com outros meios (rádio, jornal, impresso, TV e as próprias agências) para captação das hard news, cujo conteúdo é editado na redação, mas de maneira nenhuma, é exclusivo ou próprio. Acelera-se a produção, com apelo e a praticidade da pirâmide, links são anexados às matérias, inclusive com a participação de leitores, incentivados hoje a enviar suas contribuições por e-mail e celular. Usuários de sites enviam relatos e fotos, editados e publicados pelos jornalistas. Ainda se continua a iludir o leitor: ele deve acreditar que tudo o que parece na tela seja produção do portal, quando a maior parte do material vem de fontes externas (JORGE, 2012, p. 139-140).

A questão da produção colaborativa de notícias também é destaque nos estudos de Castilho e Fialho (2009). De acordo com os autores, embora essa cooperação exista desde a descoberta da imprensa, há mais de 500 anos, hoje ela é vista mais que como uma grande ferramenta. “A colaboração de notícias serve tanto para administrar a avalanche informativa, como para lograr uma contextualização mínima de notícias, fatos e dados, em um ambiente em que percepções equivocadas podem ter consequências imprevisíveis” (CASTILHO; FIALHO, 2009, p. 119). Para os autores, essa troca de informações em um ambiente comunitário permite não só captar conhecimento tácito, aquele que as pessoas adquirem por experiência, como também conhecimento explícito, publicado em forma escrita, oral ou por imagens.

Sendo assim, a interatividade fomentada pela colaboração de leitores e jornalistas por meio de sites, redes sociais, fóruns, e-mails e etc. é fundamental para o cultivo do jornalismo on-line. Os próprios correspondentes estrangeiros no Brasil, entrevistados para esta pesquisa, afirmaram que fazem uso dessas ferramentas em suas rotinas de trabalho. De acordo com eles, em um país tão grande e diverso como o nosso, ações colaborativas como estas são de suma importância para o “descobrimento” de notícias e desenvolvimento de pautas.

Ainda sobre categorias importantes do jornalismo da web, Aguiar (2009) destaca também a multimidialidade. “É uma característica do webjornalismo que significa a convergência dos formatos dos meios de comunicação tradicionais – jornal, rádio e televisão – para o relato do fator jornalístico” (AGUIAR, 2009, p. 169). Essa nova rotina de trabalho chama atenção ainda para as múltiplas funções exercidas pelos profissionais da área. Segundo Kischinhevsky (2009), o excesso de tarefas do jornalista do campo digital põe em xeque seu papel como mediador, já que normalmente ele é sobrecarregado de tarefas que comprometem a qualidade informativa do noticiário. Alguns autores até consideram esses jornalistas como profissionais multimídias, quando eles são obrigados a realizar ao mesmo tempo várias

funções, como escrever, fotografar e filmar. Tudo em menor tempo possível, já que a agilidade e a instantaneidade também são características importantes do jornalismo on-line e acabam refletindo nos critérios de noticiabilidade.

Embora não exista um modelo fixado com rigidez ou avaliação esquemática sobre noticiabilidade, sabemos que a publicação ou não de um acontecimento depende de uma rede complexa de critérios de seleção, como importância, interesse, notoriedade, proximidade, relevância do assunto, frequência, significatividade, além da relação entre jornalista e público. Entretanto, no campo vasto da web, onde muitos desses critérios se dissipam, como a questão da proximidade, devido ao maior alcance de leitores, a velocidade da informação se destaca como um quesito importante para definir o que será ou não publicado. Enquanto a periodicidade da produção informativa na mídia impressa acontece normalmente em 24 horas, a rápida atualização de uma informação no on-line pode mudar o rumo da história. Uma notícia divulgada um segundo na frente do concorrente pode garantir maior número de acessos, notoriedade e destaque para a empresa jornalística. Sendo assim, de acordo com Jorge, Pereira e Adghirni (2009), a diferença essencial entre jornalistas da mídia tradicional e da mídia digital está no ritmo das rotinas produtivas:

As rotinas produtivas do jornalismo on-line – que também pode tomar nomes de jornalismo digital ou ciberjornalismo – são semelhantes à coleta de informações do jornal impresso. Elas seguem a ordem: pauta, apuração, redação. A diferença é que a pressão do deadline é bem maior. Os jornalistas trabalham conectados, por meio do celular, e se comunicam o tempo todo com as chefias imediatas e as fontes. A comunicação para receber orientação editorial ainda pode ser feita por troca de mensagens. Nesses casos, o repórter que está na rua conversa com os superiores hierárquicos e envia a matéria por e-mail. (...) Os jornalistas trabalham com múltiplos horários de fechamento e a notícia é renovada no mesmo ritmo das agências. A informação cresce, palavra por palavra, linha por linha, na medida em que os acontecimentos se produzem. (JORGE, PEREIRA, ADGHIRNI, 2009, p. 78).

Essas informações sobre a produção do jornalismo on-line são introdutórias e não têm a pretensão de esgotar o tema. No entanto, são importantes para compreensão do nosso caminho de estudo. Entender a maneira como as notícias foram construídas nos sites é fundamental para uma análise mais efetiva dos textos.