• Nenhum resultado encontrado

A produção de conhecimento acerca da utilização das TIC por crianças e adolescentes oferece, como se viu, uma série de insumos para a elaboração de políticas públicas que promovam o desenvolvimento saudável desses indivíduos. A reprodução de vulnerabilidades sociais e de padrões socioculturais em interações virtuais é uma ferramenta potente para que gestores reflitam sobre os direitos da infância nos dias atuais, mas também sobre outros temas emergentes, como o diálogo intergeracional, a autonomia e a participação de crianças e adolescentes em seus contextos sociais, culturais, políticos e econômicos.

Pesquisas no campo da neurociência demonstram que, sobretudo nos primeiros anos de vida, as transformações cerebrais são intensas e velozes, e a quantidade, a qualidade e a diversidade dos estímulos oferecidos contribuem para moldar a “arquitetura do cérebro” (National Scientific Council on the Developing Child, 2007). As relações no mundo off-line, seja entre pares ou intergeracionais, as brincadeiras, a leitura e o tempo ocioso são elementos relevantes nesse desenvolvimento, assim como o contato com a natureza e o uso do corpo para correr, pular e gastar energia são fatores imprescindíveis para o crescimento saudável de crianças e adolescentes.

A criança ao nascer dispõe de um cérebro preparado para receber estímulos, logo, aprender; e assim, fazer aquisições que serão importantes para que seja bem sucedida nas etapas seguintes do seu desenvolvimento. Isso só será possível se compreendermos esse desenvolvimento como algo dinâmico, que depende das interações que a criança estabelece com o meio físico (objetos, brinquedos, diferentes espaços e ambientes) e com o meio social (diferentes grupos de adultos e crianças). (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar [IPA Brasil], 2013, p. 8)

Em 2015, a pesquisa TIC Domicílios apontou para um aumento na presença da Internet em domicílios brasileiros, com a marca de 51% dos domicílios dotados de acesso à rede (CGI.br, 2016b). Além disso, o estudo indicou que mais da metade da população era usuária de Internet (58%). Por sua vez, a pesquisa TIC Kids Online Brasil apontou que, em 2015, a proporção de usuários de Internet alcançou a marca de 79% entre os indivíduos de 9 a 17 anos (CGI.br, 2016a). Trata-se de uma ferramenta potente de interação social, comunicação, expressão e de acesso ao conhecimento, mas que demanda um olhar que vá além dos limites da utilização das TIC, levando em consideração que o desenvolvimento saudável desses indivíduos requer o acesso a atividades diversificadas. Nesse tocante, fazem-se necessárias investigações que relacionem o equilíbrio do tempo de utilização das TIC com outras atividades no cotidiano de crianças e adolescentes, expandindo a discussão da mediação parental e o diálogo intergeracional, à luz do que já se tratou acima.

Também é necessário aprofundar o entendimento sobre o histórico de navegação que essa população deixa registrado na rede, pautada mais pela construção das interações sociais num duplo campo, on-line e off-line, e que, por sua vez, também vai construindo e conformando sua identidade em ambos os espaços. Essa reflexão deve levar, de algum modo, ao estabelecimento de parâmetros de governança da Internet que deem visibilidade aos usuários de Internet dessa faixa etária e às suas necessidades específicas enquanto pessoas em desenvolvimento, permitindo-lhes – e também aos seus responsáveis – escolhas informadas sobre o grau desejado de exposição pessoal na rede.

PORTUGUÊS

Por fim, a análise sobre os riscos e as oportunidades decorrentes do uso das TIC deve levar em consideração essa própria utilização em relação às demais atividades que contribuem para o seu desenvolvimento e conformam sua presença também no mundo das relações off-line.

Se a discussão acerca das habilidades digitais de adultos e da capacidade de crianças de se preservar de situações potencialmente danosas enquanto navegam na Internet é urgente, também o é a reflexão acerca da substituição da tecnologia nos diversos campos da interação social, e da sua suposta irreversibilidade. O respeito à autonomia e ao estágio de desenvolvimento desses indivíduos pressupõe que sejam ofertados diversos meios para a construção da sua identidade, padrões de comportamento e sociabilidade, e não apenas aqueles mediados pela tecnologia.

REFERÊNCIAS

Associação Americana de Pediatria - AAP. Council on Communications and Media. (2016). Media and Young Minds. Pediatrics, 138 (5).

Associação Brasileira pelo Direito de Brincar - IPA Brasil. (2013). Artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança: O desenvolvimento infantil e o direito de brincar. São Paulo: IPA Brasil.

Barbosa, A., O’Neill, B., Ponte, C., Simões, J. A., & Jereissati, T. (2013). Risks and safety on the internet:

Comparing Brazilian and European children. Londres: EU Kids Online.

Cabello, P., Claro, M., & Cabello-Hutt, T. (2016). Mediação parental no uso de TIC segundo a percepção de crianças e adolescentes brasileiros: Reflexões com base na pesquisa TIC Kids Online Brasil 2014.

In CGI.br, Pesquisa sobre o uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil: TIC Kids Online Brasil 2015. São Paulo: CGI.br.

Comitê da Organização das Nações Unidas para os Direitos da Infância – CRC. (2013). General comment 17 on the right of the child to rest, leisure, play, recreational activities, cultural life and the arts (art. 31).

Genebra: ONU.

Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br. (2016a). Pesquisa sobre o uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil: TIC Kids Online Brasil 2015. São Paulo: CGI.br.

Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br. (2016b). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2015. São Paulo: CGI.br.

Eisenstein, E., & Silva, E. J. (2016). Crianças, adolescentes e o uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação: Desafios para a saúde. In CGI.br, Pesquisa sobre o uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil: TIC Kids Online Brasil 2015. São Paulo: CGI.br.

Helsper, E. J. (2016). Desigualdades no letramento digital: Definições, indicadores, explicações e implicações para políticas públicas. In CGI.br, Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2015. São Paulo: CGI.br.

Livingstone, S., & Haddon, L. (2009). EU Kids Online: Final report. Recuperado em 10 julho, 2017, de http://eprints.lse.ac.uk/24372/

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. (2012). Estudo técnico 09/2012: Análise da pesquisa sobre os conhecimentos, atitudes e práticas financeiras de famílias inscritas no CadÚnico.

Recuperado em 10 julho, 2017, de http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/simulacao/estudos_tecnicos/

pdf/ETEC%2009-2012%20Análise%20da%20Pesquisa%20sobre%20Práticas%20financeiras%20de%20 Fam%C3%ADlias%20inscritas%20no%20CadÚnico

PORTUGUÊS

National Scientific Council on the Developing Child. (2007). O período e a qualidade das experiências da primeira infância se combinam para moldar a arquitetura do cérebro: Documento de trabalho nº 5.

Recuperado em 10 julho, 2017, de http://www.developingchild.net

Nejm, R. (2016). Minha privacidade, nossas regras: Estratégias sociais de manejo da privacidade entre adolescentes. In CGI.br, Pesquisa sobre o uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil: TIC Kids Online Brasil 2015. São Paulo: CGI.br.

Ponte, C. (2012). Kids Online na Europa e no Brasil. Desafios para a pesquisa comparada sobre as práticas de crianças e adolescentes na Internet. Comunicação, Mídia e Consumo, 9 (25), 13-42.

Vaz, J. C. (2016). O acesso à tecnologia como objeto de política pública: direitos, democracia, desenvolvimento e soberania nacional. In CGI.br, Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2015. São Paulo: CGI.br.

PORTUGUÊS

PUBLICIDADE DIRIGIDA À CRIANÇA