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Os riscos associados ao uso da rede por crianças e adolescentes têm sido classificados na literatura de modo a contemplar suas diferentes formas, a saber: a) risco de conteúdo, que considera crianças e adolescentes enquanto receptores de conteúdos de mídia; b) risco de contato, que considera crianças ou adolescentes enquanto participantes de uma situação de interação; e c) risco de conduta, que considera crianças e adolescentes enquanto agentes em um processo de interação que pode ser iniciado por eles mesmos (Livingstone, Kirwall, Ponte,

& Staksrud, 2014; Livingstone & Haddon, 2009).

Nesse contexto, conforme o referencial teórico adotado pela TIC Kids Online Brasil (Livingstone, Mascheroni, & Staksrud, 2015), a análise dos indicadores de riscos deve considerar o potencial prejuízo para o desenvolvimento desse público, já que nem toda exposição a riscos na Internet provoca, necessariamente, danos a crianças e adolescentes.

PORTUGUÊS

RISCOS DE CONTEÚDO: EXPOSIÇÃO A CONTEÚDOS MERCADOLÓGICOS E OUTROS CONTEÚDOS SENSÍVEIS

Entre os diferentes tipos de riscos de conteúdo on-line, a TIC Kids Online Brasil investiga, desde 2013, a exposição de crianças e adolescentes a conteúdos de natureza mercadológica na rede. Tal temática tem sido objeto de crescente debate na esfera pública à medida que emergem formas cada vez mais sofisticadas de comunicação mercadológica dirigida ao público infantil (Correa, 2016; Sampaio & Cavalcante, 2016), como é o caso de vídeos e jogos on-line associados – de maneira implícita ou explícita – a marcas ou produtos.

Em 2016, a pesquisa revela que a exposição dos usuários de Internet de 11 a 17 anos à publicidade cresceu substancialmente em sites de vídeos (Gráfico 12): 69% dos usuários da rede na faixa etária relataram terem tido contato com propaganda ou publicidade nessas plataformas nos 12 meses anteriores à pesquisa (percentual que alcançava 48% em 2013). O meio é superado apenas pela televisão, que segue sendo a mídia mais mencionada quando se trata de conteúdos mercadológicos (80%). Além dos sites de vídeos, outros tipos de publicidade ou propaganda frequentemente reportados pelos usuários de Internet foram as propagandas nas redes sociais (62%) e em sites de jogos (40%), estáveis em relação a 2015, e por mensagens instantâneas, cuja proporção aumentou de 22%, em 2013, para 35%, em 2016.

No que concerne ao contato com publicidade em redes sociais, pouco mais da metade dos usuários de Internet com 11 a 17 anos que possuíam perfil nessas plataformas (57%) declarou que seguiu ou curtiu alguma marca ou produto em redes sociais, enquanto 24% também declararam ter compartilhado publicações de marcas ou produtos – percentuais estáveis em relação a 2015. A pesquisa indica, ainda, que 16% dos usuários da rede de 11 a 17 anos de idade com perfil em redes sociais deixaram de seguir ou bloquearam marcas ou produtos em redes sociais nos 12 meses anteriores à realização do estudo.

Em 2016, o crescimento na busca de informações sobre marcas ou produtos na rede foi destaque da pesquisa TIC Kids Online Brasil. Enquanto, em 2013, 29% dos usuários com idades entre 11 e 17 anos afirmaram ter procurado informações sobre alguma marca ou produto na Internet, em 2016 essa proporção foi de 48% (Gráfico 13). De maneira similar, o percentual de crianças e adolescentes usuários de Internet que declararam ter pedido algum produto para os pais ou responsáveis após o contato com publicidade na Internet passou de 30%, em 2014, para 43%, em 2016. Tais práticas, no entanto, não se dão de maneira uniforme em todos os perfis investigados. Enquanto sete em cada dez usuários de Internet com idades entre 11 e 17 anos das classes AB (69%) procuraram informações sobre marcas ou produtos na rede, isso ocorreu com apenas um terço dos usuários das classes DE (33%). A busca por informações do tipo também se mostrou mais prevalente entre os usuários da rede mais velhos: 55% entre aqueles com idades entre 15 e 17 anos e 33% entre os de 11 a 12 anos.

PORTUGUÊS GRÁFICO 12

CRIANÇAS E ADOLESCENTES, POR TIPO DE PROPAGANDA OU PUBLICIDADE COM A QUAL TIVERAM CONTATO NOS ÚLTIMOS 12 MESES

Total de usuários de Internet de 11 a 17 anos (%) 100

PORTUGUÊS

GRÁFICO 13

CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE PROCURARAM INFORMAÇÕES SOBRE ALGUMA MARCA OU PRODUTO NA INTERNET NOS ÚLTIMOS 12 MESES (2013 – 2016)

Total de usuários de Internet de 11 a 17 anos (%) 60

50 40 30 20 10

0 2013 2014 2015 2016

34

42

48

29

De acordo com a declaração dos pais ou responsáveis, um terço das crianças e adolescentes usuários pediram algum produto após contato com publicidade ou propaganda na Internet (33%), indicador que não apresenta diferenças relevantes em relação a 2015 (31%) e 2014 (32%). Já a proporção de jovens usuários, cujos pais ou responsáveis compraram algum produto após contato da criança ou adolescente com propaganda e publicidade foi, em 2016, 17%.

Ainda segundo a declaração dos pais ou responsáveis, 41% das crianças e adolescentes usuários tiveram contato com propaganda ou publicidade inadequada para a idade na Internet, atingindo proporções ainda mais altas entre aqueles cujos pais possuíam Ensino Médio ou mais (51%), renda familiar superior a três salários mínimos (58%) e pertencentes às classes AB (55%).

Também se destaca a proporção de usuários de Internet de 11 a 17 anos que viram na rede assuntos referentes a auto-dano ou outros conteúdos sensíveis. Na análise por tipo de conteúdo, verifica-se que cerca de um a cada cinco adolescentes usuários de Internet tiveram contato com assuntos relacionados a formas de ficar muito magros (20%), formas de machucar a si mesmos (13%), experiências de uso de drogas (10%) e formas de cometer suicídio (10%). Os resultados evidenciam que as meninas estão mais expostas a esse tipo de conteúdo na Internet do que os meninos (Gráfico 14), resultado convergente com evidências da literatura sobre o tema (Livingstone, Kalmus, & Talves, 2014).

Por fim, no que tange ao contato com conteúdos de cunho sexual, a TIC Kids Online Brasil 2016 aponta que se manteve estável a proporção de usuários de Internet com 9 a 17 anos que viram imagens de conteúdo sexual na Internet (18%). Entretanto, o fenômeno não é homogêneo entre as diferentes faixas etárias: enquanto 5% dos usuários com idades entre 9 e 10 anos declararam ter tido contato com esse tipo de imagem, essa proporção chega a 28%

na faixa etária de 15 a 17 anos. É importante ressaltar, no entanto, que uma parcela menor dos usuários de Internet declarou se sentir incomodado após contato com esse tipo de imagem na rede: 8%.

PORTUGUÊS GRÁFICO 14

CRIANÇAS E ADOLESCENTES, POR TIPOS DE CONTEÚDOS SENSÍVEIS E DE AUTO-DANO COM OS QUAIS TIVERAM CONTATO NA INTERNET NOS ÚLTIMOS 12 MESES, POR SEXO (2016)

Total de usuários de Internet de 11 a 17 anos (%)

40

RISCOS DE CONTATO E CONDUTA: CONTATO COM DESCONHECIDOS E DISCURSO DE ÓDIO NA REDE

A TIC Kids Online Brasil tem investigado, ainda, diferentes tipos de riscos de contato e conduta na rede, como tratamentos ofensivos, discurso de ódio, troca de mensagens de cunho sexual e contato com desconhecidos na rede. Em 2016, a pesquisa revela que cerca de um quarto das crianças e adolescentes usuários de Internet (23%) foi tratado de forma ofensiva on-line nos 12 meses anteriores à pesquisa, ou seja, tratado de uma maneira que não gostou, que o ofendeu ou chateou. É importante ressaltar que, na comparação com as edições anteriores do estudo, o indicador apresenta uma tendência de aumento, tendo passado de 15%, em 2014, para 20%, em 2015. O recebimento de tratamentos ofensivos na rede se mostrou mais prevalente entre as crianças mais velhas, atingindo 29% entre os usuários de Internet de 15 a 17 anos e 12% entre aqueles com idades entre 9 e 10 anos. Não foram observadas diferenças importantes para as variáveis sexo e classe social se consideradas as margens de erro amostral. Além disso, cerca de 16% dos usuários de 9 a 17 anos relatam que agiram dessa forma no período de referência.

No que diz respeito a riscos relacionados ao contato com pessoas desconhecidas na Internet, em 2016, 42% das crianças e adolescentes usuários declararam que tiveram contato com alguém que não conheciam na rede, percentual estável em relação a 2015 (40%), sendo os meios mais utilizados para tanto as redes sociais (29%) e as mensagens instantâneas (20%).

A proporção de jovens usuários de Internet que chegaram a se encontrar pessoalmente com alguém que conheceram na Internet se aproximou de um quarto em 2016 (22%), ao passo que 4% dos usuários declararam que se sentiram incomodados após esse encontro, ou seja, se sentiram constrangidos, com medo ou sentiram que não deveriam ter ido. De acordo com a pesquisa, encontrar pessoalmente alguém que conheceu pela Internet é uma conduta mais prevalente entre usuários de Internet mais velhos: de 13 a 14 anos (27%) e 15 a 17 anos (33%), mas pouco frequente entre crianças de 9 a 10 anos (5%) e de 11 a 12 anos (7%).

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A pesquisa explora, ainda, o recebimento e o envio de mensagens de conteúdo sexual por crianças e adolescentes na rede, tema que surge de forma relevante na agenda pública, especialmente com a difusão de fenômenos como o sexting e a reconfiguração das dinâmicas de privacidade associadas a eles. Os dados revelam que o recebimento de mensagens de teor sexual é mais prevalente entre os usuários da rede mais velhos: 23% entre aqueles de 15 a 17 anos e 5% entre os de 11 a 12 anos de idade. Ao contrário do observado em relação ao contato com imagens de cunho sexual, as mensagens desse tipo indicam maior potencial de incomodar ou chatear os adolescentes. O percentual de usuários de Internet que se sentiram incomodados após contato com mensagens com conteúdo sexual foi de 13%, resultado similar à proporção de usuários que receberam esse tipo de mensagem (17%).

Vale ressaltar que meninas (16%) reportaram mais frequentemente terem se incomodado após contato com mensagens de conteúdo sexual na Internet do que meninos (9%).

Por fim, outro tipo de risco na Internet investigado pela TIC Kids Online Brasil 2016 com crianças e adolescentes foi o contato com conteúdos de natureza intolerante e discurso de ódio na rede. Em 2016, 41% dos usuários com 9 a 17 anos declararam ter presenciado alguém sendo discriminado na rede, percentual estável em relação a 2015 (40%) – o equivalente a dez milhões de crianças e adolescentes no país. O testemunho de situações discriminatórias foi mais frequentemente citado por meninas (45%) do que por meninos (37%) e mais mencionado por adolescentes mais velhos – 15% dos usuários com 9 e 10 anos declararam ter visto conteúdos desse tipo na Internet, enquanto o mesmo ocorreu com mais da metade daqueles com idades de 15 a 17 anos (53%) (Gráfico 15).

GRÁFICO 15

CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE VIRAM ALGUÉM SER DISCRIMINADO NA INTERNET NOS ÚLTIMOS 12 MESES (2016) Total de usuários de Internet de 9 a 17 anos (%)

60

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Entre os diferentes tipos de discriminação testemunhados na Internet, o mais comum foi relacionado a cor ou raça, mencionado por 24% dos usuários de Internet com 9 a 17 anos.

Outros tipos de discriminação foram pela aparência física (16%), por gostar de pessoas do mesmo sexo (13%) e pela religião (10%). Já o percentual de crianças e adolescentes usuários da rede que sofreram diretamente algum tipo de preconceito na Internet foi de 7%

em 2016, resultado que não apresenta diferenças substanciais entre as diferentes variáveis sociodemográficas e que segue no mesmo nível verificado em 2015 (6%).