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CONTEXTO E PERCEPÇÃO PARENTAL: USO SEGURO DA INTERNET

Desde a sua primeira edição, em 2012, a TIC Kids Online Brasil tem entrevistado pais ou responsáveis nos domicílios selecionados para a realização de entrevistas6. Tendo em vista a relevância que a mediação parental assume no debate acerca do uso da rede por crianças e adolescentes, a pesquisa se propõe a compreender os desafios e motivações para o exercício de tal prática.

Em 2016, a TIC Kids Online Brasil estima que 68% das crianças e adolescentes usuárias da rede possuíam pais ou responsáveis conectados, resultado estável em relação a 2015. Em linha com a população em geral (CGI.br, 2016b), a pesquisa revelou importantes disparidades no uso da rede quanto à situação do domicílio: enquanto 74% dos jovens residentes em áreas urbanas possuíam pais ou responsáveis conectados, essa proporção foi de apenas 36% entre os moradores de áreas rurais. Para além da situação do domicílio, os dados apontam para diferenças expressivas quanto à classe social desses pais ou responsáveis: 90% dos jovens usuários pertencentes às classes AB possuíam pais conectados, proporção que diminui para 75% entre aqueles da classe C e 41% nos de classes DE.

A pesquisa aponta também que, em 2016, cerca de sete em cada dez (69%) pais e responsáveis afirmaram que seus filhos ou tutelados utilizaram a rede com segurança – percepção estável ao longo dos últimos anos, se consideradas as margens de erro amostral (Gráfico 16). A percepção sobre segurança on-line se mostrou maior entre pais ou responsáveis de escolaridade alta (75%

com Ensino Médio ou mais) e das classes AB (79%).

6 Optou-se por entrevistar prioritariamente o responsável que melhor pudesse descrever a relação do filho ou tutelado com a Internet. Nesse sentido, os pais ou responsáveis são considerados uma unidade respondente, mas não são representativos da população de pais e responsáveis residentes em domicílios particulares permanentes no Brasil, dada a forma como foram selecionados para responder à pesquisa. Mais informações disponíveis no Relatório Metodológico.

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GRÁFICO 16

CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE UTILIZAM A INTERNET COM SEGURANÇA, SEGUNDO DECLARAÇÃO DOS SEUS PAIS OU RESPONSÁVEIS (2016)

Total de usuários de Internet de 9 a 17 anos (%) 100

Feminino De 15 a 17 anosMédio ou mais

CLASSE SOCIAL responsáveis, 11% das crianças e adolescentes usuários passaram por experiências desse tipo nos 12 meses anteriores à pesquisa – resultado estável em relação às edições anteriores da pesquisa, e sem diferenças expressivas, se consideradas as diferentes variáveis sociodemográficas. Para além desse aspecto, a TIC Kids Online Brasil também revela que, segundo a declaração dos pais ou responsáveis, a maioria dos usuários de Internet com 9 a 17 anos não tinha nenhuma chance (39%) ou tinha pouca chance (37%) de passar por algum incômodo ou constrangimento on-line nos 12 meses seguintes ao levantamento.

Nesse contexto, é interessante ressaltar que as mídias tradicionais, como televisão, rádio, jornais ou revistas se destacam como fontes mencionadas pelos pais ou responsáveis para buscar informações sobre o uso seguro da Internet (54%), seguidas por familiares e amigos (52%) e por meio da própria criança ou adolescente (51%). Também foram citados como fonte de informação sobre o uso seguro da rede os sites com informações sobre segurança na Internet (36%), as escolas (35%) e os provedores de serviços de Internet (34%). Já as menções ao governo e às autoridades locais (26%), aos fabricantes e varejistas (21%) e às organizações não governamentais ou institutos em prol das crianças e adolescentes (19%) ficaram em patamares inferiores.

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ESTRATÉGIAS EMPREGADAS

Ao longo dos últimos anos, a literatura tem identificado um paralelo interessante entre diferentes estratégias de mediação do uso da rede e a exposição de crianças e adolescentes a oportunidades e riscos on-line: enquanto estratégias de mediação ativas do uso da rede têm sido associadas a mais oportunidades, habilidades digitais e – ao mesmo tempo – a menores danos, estratégias de mediação restritivas têm sido relacionadas a exposição a um conjunto menor de riscos, mas também a menos oportunidades – com implicações para o desenvolvimento de habilidades digitais (Livingstone, Mascheroni, & Staksrud, 2015; Livingstone et al, 2017).

Nesse contexto, para a compreensão das diferentes estratégias empregadas na mediação do uso da rede por crianças e adolescentes, a pesquisa adota como referencial a classificação das estratégias de mediação desenvolvida pela rede EU Kids Online, conforme apresentado no Quadro 1.

QUADRO 1

ESTRATÉGIAS DE MEDIAÇÃO DO USO DA INTERNET, POR TIPO DE MEDIAÇÃO

MEDIAÇÃO ATIVA DO USO DA INTERNET Estratégia em que pais ou responsáveis conversam com seus filhos ou tutelados sobre conteúdos presentes na rede e realizam atividades em conjunto on-line

MEDIAÇÃO DO USO SEGURO DA INTERNET Estratégia em que pais ou responsáveis promovem ou incentivam o uso seguro e responsável da Internet por seus filhos ou tutelados

MEDIAÇÃO RESTRITIVA Estratégia em que pais ou responsáveis determinam regras que limitam ou regulam o tempo e local de uso da Internet, bem como a realização de atividades on-line

RESTRIÇÕES TÉCNICAS

Estratégia em que pais e responsáveis utilizam software ou ferramentas técnicas para filtrar e restringir atividades on-line de seus filhos ou tutelados

MONITORAMENTO DE ATIVIDADES Estratégia em que pais e responsáveis monitoram ou checam o registro de atividades on-line de seus filhos Adaptado de Helsper, Kalmus, Hasebrink, Sagvari e De Haan (2013).

No Brasil, entre as estratégias de mediação parental reportadas por crianças e adolescentes usuárias de Internet (Tabela 4), destacam-se as do tipo ativa ou aquelas relativas ao uso seguro da rede, como explicar que alguns sites são bons e outros são ruins (81%), ensinar como se comportar na Internet (81%) e ensinar jeitos de usar a Internet com segurança (76%). Também foram citadas outras estratégias, como explicar o que fazer se alguma coisa na Internet incomodar ou chatear (72%) e conversar sobre o que fazem na Internet (71%). Em um patamar inferior, foram mencionados o incentivo a aprender sozinhos na Internet e a participação no que estão fazendo on-line – ambos citados por pouco mais da metade dos usuários de Internet de 9 a 17 anos de idade (51%).

Já o monitoramento de atividades, bem como as estratégias de mediação restritiva foram menos citadas: 57% das crianças e adolescentes usuárias de Internet relataram que seus pais ou responsáveis colocam regras para o uso do telefone celular, enquanto outras 55% afirmaram que seus pais olham o seu telefone celular para ver o que estão fazendo ou com quem estão falando. Por fim, 52% disseram que seus pais ou responsáveis os deixam sem usar o telefone celular por algum tempo.

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Os dados revelam, ainda, que o papel dos pais ou responsáveis enquanto mediadores do uso da rede diminui conforme a idade das crianças e adolescentes avança: crianças mais novas tendem a receber mais frequentemente a tutela de seus pais ou responsáveis para o uso da rede. Dentre as orientações mais citadas por crianças mais novas, com idades entre 9 e 10 anos, estão atividades como deixá-los sem usar o telefone celular por algum tempo, colocar regras para o uso do dispositivo, ajudar a fazer alguma coisa na Internet que não entendem e ensinar jeitos de usar a Internet com segurança.

TABELA 4

CRIANÇAS E ADOLESCENTES, POR TIPO DE ORIENTAÇÃO RECEBIDA DOS SEUS PAIS OU RESPONSÁVEIS PARA O USO DA INTERNET (2016)

Total de usuários de Internet de 9 a 17 anos (%)

TOTAL

MEDIAÇÃO ATIVA DO USO (SEGURO) DA REDE

Explicam que alguns sites são bons e outros são ruins 81

Ensinam como se comportar na Internet com outras pessoas 81

Ensinam jeitos de usar a Internet com segurança 76

Explicam o que fazer se alguma coisa na Internet o(a) incomodar ou chatear 72

Conversam sobre o que faz na Internet 71

Ajudam quando alguma coisa na Internet o(a) incomodou ou chateou 66 Ajudam a fazer alguma coisa na Internet que não entende 59

Incentivam a aprender coisas na Internet sozinho(a) 51

Sentam junto enquanto usa a Internet, falando ou participando do que está fazendo 51

MEDIAÇÃO RESTRITIVA E MONITORAMENTO DE ATIVIDADES

Ficam por perto enquanto usa a Internet, mas sem participar do que está fazendo 64 Sentam junto enquanto usa a Internet, mas sem participar do que está fazendo 62

Colocam regras para usar o celular 57

Olham o celular para ver o que está fazendo ou com quem está falando 55

Deixam sem usar o celular por algum tempo 52

Contudo, os resultados também mostram que algumas ações são frequentemente citadas por todos os perfis etários de crianças e adolescentes, principalmente aquelas relacionadas ao monitoramento de atividades. São ações, como ficar por perto enquanto usam a Internet, sem olhar o que fazem – citada por 65% das crianças na faixa etária de 9 a 10 anos e por 64% dos adolescentes na faixa de 15 a 17 anos – e sentar junto com a criança ou adolescente enquanto usam a Internet, mas sem participar do que estão fazendo, mencionada por 63% dos usuários de Internet nas faixas etárias de 9 a 10 anos e de 15 a 17 anos.

Também é possível verificar que atividades de mediação ativa do uso da rede, como ajudar a fazer alguma coisa na Internet que não entendem ou o incentivo ao maior uso da rede, são mais frequentes entre os usuários cujos pais ou responsáveis possuem escolaridade mais alta.

As estratégias de mediação restritivas, por sua vez, apresentaram patamares semelhantes para os diferentes graus de escolaridade.

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Em 2016, a TIC Kids Online Brasil também revela diferenças importantes nas estratégias de mediação adotadas por pais ou responsáveis de acordo com o sexo dos seus filhos ou tutelados:

meninas – em comparação a meninos – relataram mais frequentemente que seus pais ou responsáveis as ensinam como se comportar na Internet (85%), explicam para elas o que fazer se alguma coisa as incomodar na Internet (77%) e conversam sobre o que elas fazem na rede (75%). No que concerne a ações de monitoramento, meninas citaram mais frequentemente que os seus pais ou responsáveis sentam junto enquanto usam a Internet, sem participar do que estão fazendo (66%) e olham o seu celular para ver o que estão fazendo (59%). A exceção fica por conta do incentivo a aprender coisas sozinhos na Internet, mencionado por 54% dos meninos e 47% das meninas usuárias da rede. Tais diferenças estão alinhadas aos resultados obtidos em estudos com abordagem quantitativa e qualitativa em países europeus, que encontraram diferenças importantes de gênero nas práticas de mediação parental para o uso da rede (Talves & Kalmus, 2015).

Para além da mediação parental, a pesquisa vem investigando, desde 2012, estratégias do uso da rede adotadas por pares e professores. Em 2016, o estudo aponta que crianças e adolescentes usuários de Internet reportaram que seus pais e responsáveis empregam a maior parte das estratégias de mediação investigadas, quando comparados a pares ou professores (Gráfico 17). Estratégias adotadas por educadores permaneceram em patamares semelhantes ou inferiores em relação aos pares em quase todos os casos – se consideradas as margens de erro amostral, com exceção de estratégias como ensinar a se comportar na Internet com outras pessoas.

GRÁFICO 17

CRIANÇAS E ADOLESCENTES, POR TIPO DE ORIENTAÇÃO RECEBIDA PARA O USO DA INTERNET – PAIS OU RESPONSÁVEIS, PARES E PROFESSORES (2016)

Total de usuários de Internet de 9 a 17 anos (%)

100

ORIENTAÇÃO DOS PAIS ORIENTAÇÃO DOS AMIGOS ORIENTAÇÃO DOS PROFESSORES

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Por fim, os pares foram os atores mais mencionados no que se refere a ajudá-los a fazer algo na Internet que não entendiam. Nesse contexto, os dados da pesquisa mostram que a relevância da mediação dos pares tende a aumentar entre crianças e adolescentes mais velhos. Entre os usuários da rede de 9 a 10 anos, todas as estratégias de mediação investigadas foram empregadas mais frequentemente por pais ou responsáveis, se comparados aos pares.

Em contrapartida, entre usuários de Internet de 15 a 17 anos de idade, a maioria das estratégias apresentou patamares semelhantes na comparação entre pais ou responsáveis e pares.

As únicas exceções foram a ajuda para fazer algo na Internet que não entendem – atividade mais frequentemente relacionada aos pares – e ensinar como se comportar na Internet com outras pessoas – estratégia mais associada aos pais ou responsáveis.