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Em nossa vivência diária, é notória a presença da argumentação nos mais variados contextos. A todo o momento, estamos diante de situações em que sentimos a necessidade de nos posicionarmos e de fazermos serem aceitas nossas colocações, com base, inclusive, nos valores sociais nos quais estamos imersos. No que se refere à linguagem em sua modalidade escrita, mais precisamente no espaço escolar, é importante termos o conhecimento das estratégias mais adequadas para o êxito em busca da adesão do outro,

para que este compartilhe determinados pontos de vista, uma vez que a argumentação tem como finalidade conseguir com que o auditório – termo empregado por Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996) para designar aquele a quem o falante procura influenciar por meio de seu discurso – concorde com nosso posicionamento frente aos temas polêmicos da sociedade, conforme asseguram os PCN:

Os aspectos polêmicos inerentes aos temas sociais, por exemplo, abrem possibilidades para o trabalho com a argumentação - capacidade relevante para o exercício da cidadania -, por meio da análise das formas de convencimento empregadas nos textos, da percepção da orientação argumentativa que sugerem, da identificação dos preconceitos que possam veicular no tratamento de questões sociais etc. (BRASIL, p. 42).

De acordo com os autores acima citados, podemos depreender acerca da ausência de neutralidade nos discursos, uma vez que ao argumentar, o interlocutor faz uso de uma ideologia para reforçar sua intenção em agir sobre o outro. Nesse sentido, a argumentação, além de fazer uso de uma série de recursos discursivos, recorre também aos valores e às experiências culturais do falante na busca pela adesão. Para Perelman e Olbrechts-Tyteca:

O objetivo de toda argumentação, como dissemos, é provocar a adesão dos espíritos às teses que se apresentam a seu assentimento: uma argumentação eficaz é a que consegue aumentar essa intensidade de adesão, de forma que se desencadeie nos ouvintes a ação pretendida (ação positiva ou abstenção) ou, pelo menos crie neles uma disposição para a ação, que se manifestará no momento oportuno (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 1996, p. 50)

Em nossa pesquisa, também recorremos à Linguística Textual com base nos estudos de Adam (2008) para tratarmos das particularidades da sequência argumentativa, eixo no qual se organiza o gênero artigo de opinião. Mas antes, acreditamos ser apropriado fazermos um breve histórico acerca dos estudos que perscrutam a argumentação nas perspectivas teóricas da Retórica e da Nova Retórica.

Muitas vezes, a palavra Retórica é associada à habilidade de se expressar. Quando tratamos da Retórica Clássica, a partir de Sócrates, é necessário ressaltarmos que esta era voltada para a linguagem falada e não escrita, empregada pelos políticos e juristas, por exemplo, diante das decisões

para o povo. A partir dos escritos de Sócrates e Platão, podemos perceber o tratamento dado à linguagem falada, mas é em Aristóteles, em sua Arte Retórica, que passa a ser visível o caráter mais persuasivo das colocações.

Com o Positivismo, em meados do século XIX, a Retórica, antes ocupando lugar de prestígio, passa a ser relegada, uma vez que a racionalidade ia de encontro à necessidade urgente de se argumentar. Autores como Perelman e Olbrechts-Tyteca muito contribuíram com o conceito de “Nova Retórica”, a partir do século XX e, embora haja uma retomada da Retórica antiga, podemos reconhecer uma importante distinção entre elas: para os antigos, a retórica era voltada para o ato de falar em público, com o intuito de persuadir um público determinado, enquanto a Nova Retórica vai além da exposição oral, ocupando-se da estrutura da argumentação, sobretudo de suas técnicas discursivas em busca de adesão.

Para o presente trabalho, abordamos a sequência argumentativa, uma vez que analisamos a ocorrência de interferências linguísticas na produção do gênero artigo de opinião pelos alunos, gênero este pertencente à ordem do argumentar, segundo o agrupamento proposto por Dolz e Schneuwly (2004), conforme dito anterriomente.

Adam (2008) define sequência como uma unidade estrutural relativamente autônoma, dotada de uma organização interna que lhe é própria, composta de um número limitado de conjuntos de proposições-enunciados: as macroposições que, por sua vez, combinam diversas proposições. A organização linear do texto a ser atingida é o produto da combinação e da articulação de diferentes tipos de sequências. Dessa forma, “a sequência é uma estrutura” (ADAM, 2008, p. 204). Para o autor, deve-se considerar a complexidade crescente entre um período e uma sequência dentro de um continuum. No que se refere à sequência argumentativa, por exemplo, trata-se de uma questão de grau o que diferencia um simples período argumentativo de uma sequência argumentativa, por exemplo.

Citando os estudos de Ergon Werlich (1975), Adam atesta que a teoria das sequências surge como reação à demasiada generalidade das tipologias textuais. É tanto que a grande maioria dos trabalhos acerca de sequência textual recorre às contribuições de Adam. Entretanto, a título de informação, é comum encontrarmos algumas divergências quanto à designação de quais

seriam as sequências. Para Adam (2008), as sequências textuais são a narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa e dialogal. Para Koch e Fávero (1987), há o acréscimo da injuntiva e a explicativa sendo nomeada também como expositiva. Marcuschi (2003) considera os tipos narrativo, argumentativo, expositivo, descritivo e injuntivo. Por fim, conforme já mencionado, Dolz e Schneuwly (2004) referem-se aos agrupamentos, os quais são caracterizados pelo narrar, relatar, argumentar, expor e descrever ações.

Para nossa pesquisa, enfocamos a sequência argumentativa, segundo Adam (2008) a qual é caracterizada pela realização de operações cognitivas de raciocínio lógico. O referido autor declara que a sequência argumentativa concretiza-se por meio de dois movimentos: a demonstração e/ou justificativa de uma tese e a refutação de outras teses ou argumentos; e, a partir de premissas estabelecidas, chega-se a uma conclusão ou afirmação. Em outras palavras, nessa sequência apresentamos uma posição favorável ou desfavorável com relação a uma tese inicial e sustentamos nossa posição com base em argumentos ou provas. A representação a seguir ilustra um esquema simplificado da estrutura do texto argumentativo:

Dados Asserção (Premissas) Conclusiva Fato (s) (C)

Apoio

Esquema 07: Estrutura simplificada do texto argumentativo Fonte: Adam (2008, p. 232)

O esquema da argumentação, segundo Adam (2008), é a relação entre tese e argumentos. Os enunciados exercem essas funções nessa relação, uma vez que, isolada, nenhuma proposição pode ser considerada como tese ou argumento. Existe uma dependência entre as duas instâncias do ponto de vista estrutural: as proposições só podem ser consideradas argumentos em função da tese a que conduzem, e essa tese, por sua vez, é orientada pelas proposições que constituem os argumentos.

Dessa forma, para Adam (2008), a sequência argumentativa apresenta um modelo de composição descrito por Ducrot (1980; 1973, apud ADAM, 2008, p. 232) como sendo:

- a fase de premissas/dados em que se propõe uma situação de partida (nem sempre explícitas);

- a fase de apresentação de argumentos que orientam para uma conclusão provável, podendo estes serem apoiados por dados, exemplos, etc..

- a fase de apresentação de contra-argumentos que operam uma restrição à orientação argumentativa, e por fim,

- a fase de conclusão, que integra os efeitos dos argumentos e contra- argumentos.

A seguir, Adam (2008) propõe um esquema de uma sequência argumentativa prototípica completa, com lugar para a contra-argumentação, esquema este que pode ou não seguir uma ordem linear. De acordo com o autor, “a (nova) tese (P. arg. 3) pode ser formulada de início e retomada, ou não, por uma conclusão que a duplica no final da sequência, sendo que a tese anterior (P. arg.0) e os apoios podem estar subentendidos”. (ADAM, 2008, p. 233):

Tese Dados ___________ Por isso, provavelmente Conclusão (C) Anterior + Fatos (F) (nova) tese

P. arg. 0 P. arg. 1 P. arg. 3

Apoio A menos que P. arg. 2 Restrição (R) (Príncipios P. arg. 4 Base)

Esquema 08: sequência argumentativa prototípica completa Fonte: Adam (2008, p. 233)

Podemos perceber que, de modo geral, o ato de argumentar consiste na oposição de enunciados e, em termos pragmáticos, podemos entender, segundo Adam, que todo texto possui uma orientação argumentativa. Para Koch (1984):

A interação social por intermédio da língua caracteriza-se, fundamentalmente, pela argumentatividade. Como ser dotado de razão e vontade, o homem, constantemente, avalia, julga, critica, isto é, forma juízos de valor. Por outro lado, por meio do discurso – a ação verbal dotada de intencionalidade – tenta influir sobre o comportamento do outro ou fazer com que compartilhe determinadas de suas opiniões. É por esta razão que se pode afirmar que o ato de argumentar, isto é, de orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato linguístico fundamental, pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do termo (KOCH, 1984, p. 19, grifo da autora).

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

O presente capítulo tem como objetivo explanar acerca dos procedimentos metodológicos aplicados em nossa intervenção pedagógica, a qual contou com a participação ativa dos alunos na elaboração do corpus analisado. Apresentamos, primeiramente, em que consiste a opção pelo conceito de pesquisa de intervenção, além da descrição do ambiente e dos participantes da pesquisa. Mais adiante, abordamos o conceito de sequência didática, a partir de Dolz e Schneuwly (2004), e por fim, os módulos de leitura, de escrita e de divulgação aplicados.