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Conforme mencionado, nossa intervenção fez uso do gênero textual artigo de opinião para avaliar o processo de escrita dentro do contínuo de oralidade e de escrituralidade, por entendermos que ao produzir tal gênero, o aluno pode fazer uso de estratégias para defender seu ponto de vista diante de questões de caráter polêmico, por meio de variedades cultas da língua, por isso a importância da abordagem desse gênero em sala de aula. Típico da esfera jornalística, o qual tem circulação em revistas e jornais, tanto em sua versão impressa quanto digital, e como o próprio nome já sugere, o artigo de opinião caracteriza-se por comentar, interpretar e oferecer informações aos leitores, explicitando o posicionamento crítico do autor frente ao tema comentado, o que garante sua consistência. De acordo com Bräkling:

O artigo de opinião é um gênero do discurso em que se busca convencer o outro de uma determinada ideia, influenciá-lo, transformar os seus valores, por meio de um processo de argumentação a favor de uma determinada posição assumida pelo produtor e de refutação de possíveis opiniões divergentes. É um processo que prevê uma operação constante de sustentação das afirmações realizadas, por meio da apresentação de dados consistentes, que possam convencer o interlocutor (BRÄKLING, 2000, p. 226).

Segundo a autora, trata-se de um processo que prevê uma tarefa constante de sustentação das afirmações, realizada por meio da apresentação de informações consistentes. Embora o produtor do artigo se constitua em alguém com autoridade diante do que é dito, muitas vezes este busca outras vozes para a construção de seu ponto de vista, como por exemplo, através do discurso de especialistas que embasem seu posicionamento. Outros recursos são as referências históricas, além de dados estatísticos, os quais se constituem como estratégias argumentativas empregadas no texto.

Recorrendo ao que dizem Koch e Oesterreicher (2007) acerca dos parâmetros comunicativos os quais determinam o espaço ocupado por um texto no contínuo de oralidade e de escrituralidade, é válido salientar que o gênero artigo de opinião reúne particularidades que o direciona para a escrituralidade, como podemos perceber a seguir:

1. Grau de publicidade: de caráter público, o artigo de opinião é voltado para um grande número de interlocutores;

2. Grau de intimidade entre os interlocutores: não há intimidade entre os interlocutores;

3. Grau de emocionalidade: o artigo de opinião não tende à afetividade;

4. Grau de dependência do contexto situacional de comunicação: o gênero em questão apresenta autonomia em relação à situação de comunicação;

5. Ponto de referência da situação de comunicação: os objetos do discurso não condizem com o “eu-aqui-agora” do falante;

6. Proximidade física: o artigo de opinião é caracterizado pela distância espacial e temporal em relação aos interlocutores;

7. Grau de cooperação: ausência da influência direta interlocutores na produção do discurso;

8. Grau de dialogicidade: na produção do artigo de opinião, não há inversão no papel de enunciador;

9. Grau de espontaneidade da comunicação: é perceptível um relevante nível de planejamento na produção;

10. Grau de fixação temática: o artigo de opinião apresenta uma forte fixação temática.

Outro aspecto relevante é que nesse gênero, a tipologia base é a argumentativa, uma vez que o autor elabora uma opinião cujo propósito é o de convencer o interlocutor para que este compartilhe seu posicionamento ou execute determinada ação. Diante disso, recorremos ao que atestam Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996, p. 61) de que “a argumentação é uma ação que tende sempre a modificar um estado de coisas pré-existentes”.

De acordo com a proposta de agrupamento sugerida por Dolz e Schneuwly (2004), o gênero artigo de opinião pertence à ordem do argumentar, por estar voltado ao domínio social da discussão acerca de temas controversos, objetivando um posicionamento frente a eles, exigindo para tal, tomadas de posição. As particularidades do contexto de produção (enunciador, assunto, finalidade comunicativa) determinam a configuração do artigo de opinião. Normalmente, esse gênero situa-se na seção destinada às opiniões, e sua publicação tem certa periodicidade (semanal, mensal, quinzenal).

Em sua concepção, o artigo de opinião é um gênero escrito com o objetivo de explanar sobre um assunto e se opinar sobre ele a partir de uma

fundamentação argumentativa que busca defender uma tese apresentando argumentos que a corroboram e refutando aqueles a que a ela se opõem. Ao final, apresentam-se conclusões e posições. É possível perceber que estamos diante de um gênero bastante apropriado quando o objetivo é o desenvolvimento de habilidades de leitura e de escrita de temáticas relevantes na sociedade, que tem na argumentação sua principal aplicação.

No que tocante aos aspectos composicionais do gênero, Bräkling (2000) atesta que o artigo de opinião apresenta tese, argumentos e contra- argumentos, além da conclusão. Tal construção poderia resultar em certa confusão ao fazer referência também a outros gêneros como a redação dissertativa, por exemplo. Quanto aos aspectos linguístico-enunciativos do gênero, a autora enumera, entre eles, a organização do discurso, em grande parte, na terceira pessoa; o predomínio do presente do indicativo e do subjuntivo para a contextualização da temática abordada, e a presença de vozes, tanto em relação ao suporte e aos seus valores ideológicos, como também decorrentes da relação do autor com sua esfera de atuação. Percebemos também a presença de citações, de operadores argumentativos, de verbos ou de grupos proposicionais que introduzem o discurso citado, além da presença de modalizadores que indicam a tendência valorativa do articulista (cf. Bräkling, 2000, p. 4).

Ainda no que se refere às particularidades do artigo de opinião, convém recorrermos a Melo (2003), cujo trabalho é de grande relevância para os estudos da área jornalística. Este destaca que, de acordo com a finalidade, é importante salientar dois aspectos: um de cunho doutrinário, expressão esta, segundo o autor, presente na bibliografia espanhola, e outro, de cunho científico. A primeira refere-se ao fato de que o artigo jornalístico tende a analisar uma questão atual, para que o público possa, de alguma, vê-la ou julgá-la uma vez que o articulista participa da vida em sociedade, e deve demonstrar um compromisso intelectual com o presente. Em relação ao caráter científico, o artigo é destinado a tornar público o avanço da ciência; por isso não é muito comum a veiculação diária desse tipo de artigo em jornais.

De acordo com Vivaldi (apud MELO, 2003, p.122) o artigo de opinião é um gênero “escrito, de conteúdo amplo e variado, de forma diversa, na qual se

interpreta, julga ou explica um fato ou uma ideia atual, de especial transcendência, segundo a conveniência do articulista”.

Considerando o texto como um processo de interlocução entre autor e leitor, faz-se necessária a exposição do contexto de produção para que o aluno tenha o conhecimento do que irá produzir, quem o receberá, além de que esfera de circulação se insere seu texto. A partir de Bakhtin (2011), entendemos que os gêneros possuem um destinatário situado em um contexto sócio-histórico o que faz com que o produtor preveja uma atitude responsiva ativa, ou seja, para Bakhtin, o ouvinte concorda ou discorda do produtor, total ou parcialmente; completa o discurso ou o utiliza. No que se refere à produção do gênero artigo de opinião em sala de aula, é importante que se esclareça a que auditório se dirige o texto escrito, no intuito de que se empreguem os mecanismos apropriados na construção da escrita, uma vez que:

A quem se destina o enunciado, como o falante (ou o que escreve) percebe e representa para si os destinatários, qual é a força e a influência deles no enunciado – disto dependem tanto a composição quanto, particularmente, o estilo do enunciado (BAKHTIN, 2011, p. 301).

Entre as metas para o Ensino Fundamental relacionadas à linguagem, os PCN nos mostra a importância de “[...] posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais [...]” (BRASIL, 1998, p. 7). Dessa forma, o artigo de opinião torna-se um recurso atrativo por permitir que o aluno se expresse em busca da construção de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.