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A proposta de intervenção e a recorrência de uma estratégia argumentativa

3 REFLEXÕES TEÓRICAS: A ANÁLISE DO DISCURSO E A CONSTRUÇÃO DO

5.2 Estratégias argumentativas: análise de conteúdo e seus desdobramentos

5.2.2 A proposta de intervenção e a recorrência de uma estratégia argumentativa

diz respeito às propostas de intervenção, aspecto que é solicitado no que concerne a produção das redações. Nesses trechos que, geralmente, ocupam o último parágrafo das redações, é necessário que o candidato pense numa solução para o problema em que compete a proposta de redação.

O que se pode observar ao longo da análise de todos os textos é que há uma prevalência de atribuição de responsabilidade aos governantes em todos os contextos-problemas em que são postos nas propostas. Quando o texto apresenta mais de um responsável por gerar as soluções, a maior dívida continua sendo atribuída ao Estado. Essa estratégia, quase sempre atrelada à utilização de modalizadores, nos chamou atenção por sua recorrência. Vamos observar como isso se dá a partir de trechos das propostas de intervenção das redações analisadas.

Organizamos a apresentação dos trechos por anos de análise; dessa forma, os próximos quatro quadros apresentam trechos pertencentes às redações, respectivamente, de 2014, 2015, 2016 e 2017. Em negrito, estão as marcas linguísticas que atestam a estratégia utilizada.

Quadro 13 – Trechos das propostas de intervenção das redações de 2014

Redação Fragmento da proposta de intervenção

R1-2014 Por fim, o Estado deve regular os conteúdos veiculados nas campanhas publicitárias, para que essas não tentem convencer pessoas que ainda não têm o senso crítico desenvolvido. R2-2014 É preciso que o governo atue iminentemente nesse problema através da aplicação de

multas nas empresas de publicidade que ultrapassarem os limites das faixas etárias estabelecidos anteriormente pelo Ministério da Infância e da Juventude.

R3-2014 Como forma de solucionar esse conflito, o governo federal pode criar leis rígidas que restrinjam a publicidade de bens não duráveis para crianças.

R4-2014 Logo, o Estado deve estabelecer um limite para os comerciais voltados ao público infantil por meio da proibição parcial, que estabelece horários de transmissão e faixas etárias. R5-2014 O governo deve investir em políticas públicas que atuem como construtoras de uma

“consciência mirim”, através de meios didáticos a fomentar a imaginação da criança, orientando-a na recepção de informações que a cercam.

R6-2014 Cabe aos pais, cobrarem ações do governo – criação de leis mais rigorosas – além de agirem diretamente na formação e educação de consumo dos filhos: impondo limites e dando noções financeiras ainda enquanto jovens

R7-2014 Deve partir do Governo uma adequação ao projeto pedagógico brasileiro: aulas de filosofia e sociologia, colocadas na base da escola, ensinariam aos jovens como a mídia de comporta. R8-2014 A proteção das crianças brasileiras quanto às investidas do mercado deve, portanto, ser

promovida não apenas pelo Estado, mas também por aqueles que são responsáveis por sua formação. Ao primeiro cabe apresentar projetos de lei que limitem o teor persuasivo das propagandas. Sua aprovação contaria com a aprovação da população.

Fonte: Autoria própria.

Quadro 14 – Trechos das propostas de intervenção das redações de 2015

Redação Fragmento da proposta de intervenção

R1-2015 Ademais, é preciso que o Poder Legislativo crie um projeto de lei para aumentar a punição de agressores, para que seja possível diminuir a reincidência

R2-2015 cabe ao Governo fazer parceria com as ONGs, em que elas possam encaminhar, mais rapidamente, os casos de agressões às Delegacias da Mulher e o Estado fiscalizar severamente o andamento dos processos.

R3-2015 Entretanto, é necessário que o Governo reforce o atendimento às vítimas, criando mais delegacias especializadas, em turnos de 24 horas, para o registro de queixas

R4-2015 Para esse fim, é necessário que o Estado aplique corretamente a lei, acolhendo e atendendo a vítima e punindo o violentador, além de promover a conscientização nas escolas sobre a igualdade de gênero e sobre a violência contra a mulher

R5-2015 Portanto, para reduzir drasticamente a violência contra a mulher, deve ocorrer uma intensificação na fiscalização, através das Leis que protegem as vítimas femininas

R6-2015 Desse modo, o Estado deve, mediante a ampliação da atuação dos órgãos competentes, assegurar o atendimento adequado às vítimas e a punição correta aos agressores.

R7-2015 Tendo em vista as causas dos altos índices de violência contra a mulher no Brasil, é necessário que haja intervenção governamental para aprimorar os órgãos de defesa contra tais crimes, de modo a tornar o atendimento mais rápido e atencioso

R8-2015 O Estado pode contribuir nessa conquista ao investir em ONGs voltadas à defesa dos direitos femininos e ao mobilizar campanhas e palestras públicas em escolas, comunidades e na mídia, objetivando a exposição da problemática e o debate acerca do respeito aos direitos femininos

Fonte: Autoria própria.

Quadro 15 – Trechos das propostas de intervenção das redações de 2016

Redação Fragmento da proposta de intervenção

R1-2016 Sendo assim, cabe ao Governo Federal construir delegacias especializadas em crimes de ódio contra religião, a fim de atenuar a prática do preconceito na sociedade, além de aumentar a pena para quem o praticar

R2-2016 Torna-se imperativo que o Estado, na figura do Poder Legislativo, desenvolva leis de tipificação como crime hediondo aos atos violentos e atentados ao culto religioso

R3-2016 Sendo assim, é indispensável a adoção de medidas capazes de assegurar o respeito religioso e o exercício de denúncia. Posto isso, cabe ao Ministério da Educação, em parceria com o Ministério da Justiça, implementar aos livros didáticos de História um plano de aula que relacione a aculturação dos índios com a intolerância religiosa contemporânea, com o fito de despertar o senso crítico nos alunos; e além disso, promover palestras ministradas por defensores públicos acerca da liberdade de expressão garantida pela lei para que o respeito às diferentes posições seja conquistado

R4-2016 Convém, portanto, que, primordialmente, a sociedade civil organizada exija do Estado, por meio de protestos, a observância da questão religiosa no país. Desse modo, cabe ao Ministério da Educação a criação de um programa escolar nacional que vise a contemplar as diferenças religiosas e o respeito a elas, o que deve ocorrer mediante o fornecimento de palestras e peças teatrais que abordem essa temática

R5-2016 Ao Ministério Público, por sua vez, compete promover ações judiciais pertinentes contra atitudes individualistas ofensivas à diversidade de crença. Assim, observada a ação conjunta entre população e poder público, alçará o país a verdadeira posição de Estado Democrático de Direito.

R6-2016 Além disso, é preciso que o poder público busque ser o mais imparcial (religiosamente) possível, a partir de acordos pré-definidos sobre o que deve, ou não, ser debatido na esfera política e disseminado para a população

R7-2016 O Estado, nesse contexto, carece de fomentar práticas públicas, tal como a inserção na grade curricular do conteúdo "Moral e Ética", por meio do engajamento pedagógico às disciplinas de Filosofia e Sociologia, a fim de que seja debatido a temática do respeito às manifestações religiosas e que seja ressignificado a mentalidade arcaica no que tange à tolerância às religiões

R8-2016 Então, o governo federal deve deixar obrigatória para todos os colégios (públicos e privados) a disciplina Ensino Religioso durante o Ensino Fundamental

Fonte: Autoria própria

Quadro 16 – Trechos das propostas de intervenção das redações de 2017

Redação Fragmento da proposta de intervenção

R1-2017 Cabe ao Ministério da Educação criar um projeto para ser desenvolvido nas escolas o qual promova palestras, apresentações artísticas e atividades lúdicas a respeito do cotidiano e dos direitos dos surdos. - uma vez que ações culturais coletivas têm imenso poder transformador - a fim de que a comunidade escolar e a sociedade no geral - por conseguinte - conscientizem-se.

R2-2017 Além disso, é imprescindível que o Poder Público destine maiores investimentos à capacitação de profissionais da educação especializados no ensino inclusivo e às melhorias estruturais nas escolas, com o objetivo de oferecer aos surdos uma formação mais eficaz.

R3-2017 Por fim, ativistas políticos devem realizar mutirões no Ministério ou na Secretaria de Educação, pressionando os demiurgos indiferentes à problemática abordada, com o fito de incentivá-los a profissionalizarem adequadamente os professores – para que todos saibam, no mínimo, o básico de Libras – e a efetivarem o estudo da Língua Brasileira de Sinais, por meio da disponibilização de verbas e da criação de políticas públicas convenientes, contrariando a teórica inclusão da primeira escola de surdos brasileira.

R4-2017 Nesse sentido, urge que o Estado, por meio de envio de recursos ao Ministério da Educação, promova a construção de escolas especializadas em deficientes auditivos e a capacitação de profissionais para atuarem não apenas nessas escolas, mas em instituições de ensino comuns também, objetivando a ampliação do acesso à educação aos surdos, assegurando a estes, por fim, o acesso a um direito garantido constitucionalmente.

R5-2017 Dessa maneira, é preciso que o Estado brasileiro promova melhorias no sistema público de ensino do país, por meio de sua adaptação às necessidades dos surdos, como oferta do ensino de libras, com profissionais especializados para que esse grupo tenha seus direitos respeitados. R6-2017 Logo, é necessário que o Ministério da Educação, em parceria com instituições de apoio ao

surdo, proporcione a este maiores chances de se inserir no mercado, mediante a implementação do suporte adequado para a formação escolar e acadêmica desse indivíduo – com profissionais especializados em atende-lo -, a fim de gerar maior igualdade na qualificação e na disputa por emprego. É imprescindível, ainda, que as famílias desses deficientes exijam do poder público a concretude dos princípios constitucionais de proteção a esse grupo, por meio do aprofundamento no conhecimento das leis que protegem essa camada, para que, a partir da obtenção do saber, esse empenho seja fortalecido e, assim, essa parcela receba o acompanhamento necessário para atingir a formação educacional e a contribuição à sociedade.

R7-2017 É fundamental, portanto, a criação de oficinas educativas, pelas prefeituras, visando à elucidação das massas sobre a marginalização da educação dos surdos, por meio de palestras de sociólogos que orientem a inserção social e escolar desses sujeitos. Ademais, é vital a capacitação dos professores e dos pedagogos, pelo Ministério da Educação, com o fito de instruir sobre as necessidades de tal grupo, como o ensaio em Libras, utilizando cursos e métodos para acolher esses deficientes e incentivar a sua continuidade nas escolas, a fim de elevar a visualização dos surdos como membros do corpo social

R8-2017 Para que isso ocorra, o Ministério da Educação e Cultura deve realizar a inserção de deficientes auditivos nas escolas, por meio da contratação de intérpretes e disponibilização de vagas em instituições inclusivas, com o objetivo de efetivar a inclusão social dos indivíduos surdos, haja vista que a escola é a máquina socializadora do Estado

Fonte: Autoria própria.

Em todos os exemplos apresentados, os autores das redações foram bem enfáticos ao sugerirem que as “soluções” que apresentavam deveriam partir do Estado ou serem executadas por ele. Nessa atitude linguística, se percebem marcas bem explícitas do mecanismo que refletimos nesse bloco. Essa estratégia argumentativa é, dentro do que pedem as competências, plausível, visto que não fere os direitos humanos. Mas, por outro lado, podemos apontar uma certa generalização dentre todas as menções, fazendo com que todas as propostas se ancorem em uma solução genérica, sem aprofundamentos ou especificidades, independentemente do problema contexto.

Destacamos, consoante ao exposto, que na grande maioria dos casos, a atribuição ocorre de forma direta; entretanto, em algumas ocorrências, a responsabilidade do governo é perpassada por outros dizeres, como em alguns exemplos em que se define que cabe aos pais cobrarem do Estado ou, como em outros casos que se referem ao governo a partir de seus ministérios ou como prefeituras e poderes locais. É importante salientar que, de forma direta (grande maioria dos casos) ou indireta, há a reverberação dessa responsabilidade em todas as redações analisadas.

Na R7-2014, por exemplo, a responsabilidade é dividida entre pais e “ações do governo”; o foco não se estabeleceu num “dever” do Estado, mas, principalmente, na iniciativa. O que acontece, de igual modo, na R8-2014, que parte da divisão da responsabilidade do Estado. Nessa, o autor cita os responsáveis pela formação das crianças, além das atribuições do governo.

Esses dados demonstram que, conforme as reflexões de Adorno (1995), os resultados estruturais e conteudísticos que se repetem nas redações acabam por ser reverberados ao provável sucesso do texto. Atribuir a responsabilidade, na grande maioria das vezes de forma modalizada, ao Estado, nas propostas de intervenção, é o produto que vem ganhando êxito nesse “comércio”. Assim, essa estrutura parece se cristalizar, ou seja, ganhar forma e força ao longo dos anos como regra, embora essa atribuição também não seja solicitada nas competências.

Ainda nessa questão, os exemplos que diferem dos demais acabam por nos apontar possibilidades de inserção dos diferentes também nessas redações modelos. Ou seja, cabe algo que saia dos padrões que são benquistos, mas, para isso, a mentalidade do aspecto criativo dentro da escritura das redações precisa ser refletida nos âmbitos preparatórios.

Dentro da questão exposta, que limita uma semelhança unânime nas redações, de atribuírem responsabilidade ao Estado, apontamos a forma como essa estratégia é linguisticamente posta. Na maioria dos textos, essa atribuição é feita de forma modalizada, com uma grande quantidade da utilização, por exemplo, do verbo DEVER. Para entendermos quais relações pudemos fazer a partir disso, entendamos um pouco a respeito dos modalizadores a partir de Neves (2006, p. 244), para quem uma das características dos modalizadores

é expressar alguma intervenção do falante na definição da validade e do valor de seu enunciado: modalizar quanto ao valor de verdade, modalizar quanto ao dever, restringir o domínio, definir a atitude e, até, avaliar a própria formulação linguística.

Isso posto, entendemos o que se considera por uma intervenção do falante na definição da validade/do valor daquilo que é dito por ele. Isso pode definir a expressão discursiva do falante em seu próprio texto, ou seja, sua posição, sua atitude e as formações de sentido que

podem ser retiradas de sua formulação linguística. Por meio de modalizadores, é possível recuperar posições, opiniões e individualidades únicas e precisas nos textos.

Considerando a utilização dos modalizadores numa óptica que expressa as estratégias argumentativas, é possível

Considerar a modalização como fenômeno argumentativo é também reconhecer que a avaliação, ou ponto de vista, expressa pela modalização ocorre sempre em função da interlocução ou do interlocutor. Isso significa que, ao realizar uma avaliação, o locutor o faz em função do outro, deixando pistas do que deseja ou de como quer que seu discurso seja lido (NASCIMENTO, 2010, p. 32).

O interlocutor deixa, com a utilização dos modalizadores, espécies de pistas para que seu locutor possa retirar do enunciado aquilo que ele quis dizer ou, de forma mais clara, aquilo que disse. Essa exposição do ponto de vista, embora pareça em algumas vezes, não tem a intenção de se mascarar, muito pelo contrário, é feita pensando na leitura e interpretação do interlocutor de forma que a posição do enunciador seja marcada e explícita.

Vejamos, como exemplo, o Excerto (26):

(26) Logo, o Estado deve estabelecer um limite para os comerciais voltados ao público infantil por meio da proibição parcial, que estabelece horários de transmissão e faixas etárias.

O exemplo (26) nos mostra claramente que a opção sugere uma ausência de dúvida já que, buscando a etimologia e o sentido que esse enunciado ganha, é compreensível afirmar que “o Estado deve” soa como obrigação a que precisa obedecer, e não uma atitude que deixe espaço para outras opções. Essa questão deixa clara a posição que o enunciador possui diante do enunciado.

Nas redações que analisamos, essa recorrência é muito constante. O fato de explicitamente deixar claro o quanto as soluções que constam nessas propostas estão atreladas ao Estado é replicado anualmente. A solução não abrange grandes discussões e, independentemente da tese defendida, dos argumentos e de todo o contexto, acabam por se encaixar em todos os textos.

Sobre os modalizadores encontrados e com base em alguns estudos, como o de Nascimento (2005), esses modalizadores são divididos em modalização epistêmica, deôntica e avaliativa. A modalização deôntica é a que vamos nos deter a princípio. Nessa modalização, “seus modalizadores indicam que o falante considera o conteúdo da proposição como algo que deve ou precisa ocorrer obrigatoriamente” (NASCIMENTO, 2010, p. 33), que é, exatamente, o

que podemos subtrair da posição do modalizador DEVER nas propostas de intervenção e que mostramos no excerto da R4-2014.

No caso do modalizador DEVER, que aparece em larga escala nas propostas de intervenção mostradas nos quadros 13, 14, 15 e 16, é passível de interpretação o quão o modo de obrigatoriedade está instaurado nas posições dos enunciadores. O efeito de sentido que é provocado pela recorrência dessa utilização é o de que o Estado é o responsável principal, ou o maior, pelas soluções de todos os problemas que são postos nas propostas de intervenção.

Até em casos em que a obrigatoriedade é dividida ou em que mais sujeitos aparecem como responsáveis por algum contexto da proposta de intervenção, o Estado ganha o maior peso. Vejamos no excerto (27):

(27) Deve partir do Governo uma adequação ao projeto pedagógico brasileiro: aulas de filosofia e sociologia, colocadas na base da escola, ensinariam aos jovens como a mídia de comporta.

Embora nesse exemplo também apareçam os pais ao final, o autor deixa claro que a iniciativa deve partir do Governo, sugerindo que a maior responsabilidade continua sendo a que reverbera nossos resultados. Essa constatação também resulta num modo bastante geral de elaborar a proposta, sem que os candidatos se preocupem em desenvolver as soluções ou explorar as especificidades de cada uma delas.

Ademais, também percebemos, em número menor de ocorrências, a utilização da expressão “é necessário” e a utilização do verbo “caber”. Essas ocorrências também partem dos mesmos pressupostos concluídos com a utilização do verbo “dever”, que ocasionam um efeito de sentido que reflete a ausência de dúvidas ou a certeza do exposto, ou seja, essas utilizações reforçam o posicionamento dos autores para a obrigatoriedade de as soluções estarem destinadas ao Estado.

Vejamos o excerto (28):

(28) Entretanto, é necessário que o Governo reforce o atendimento às vítimas, criando mais delegacias especializadas, em turnos de 24 horas, para o registro de queixas

De forma conclusiva, a expressão é utilizada na tentativa de suprimir todas as dúvidas referentes ao responsável pelas questões que devem ser tomadas: o Governo. Essa estratégia, vista em alguns outros excertos, não difere da anterior, mas abre margem para outra forma de posicionamento, ainda que sinônimos.

Em outro exemplo, observamos a utilização do verbo “caber” como determinante para a expressão do efeito de sentido aqui relatado. Diante das opções (que não são expostas na

redação), cabe ao Governo Federal as medidas responsáveis pela solução do problema discutido, vejamos o excerto (29):

(29) Sendo assim, cabe ao Governo Federal construir delegacias especializadas em crimes de ódio contra religião, a fim de atenuar a prática do preconceito na sociedade, além de aumentar a pena para quem o praticar

A fim de construirmos uma explanação sobre o todo dos enunciados analisados, buscamos em Bonckart (1999) as principais funções da modalização e concluímos que o estudioso aponta, inspirado na teoria dos três mundos herdada de Habernas (1987), as modalizações lógicas, pragmáticas, deônticas e apreciativas. Nesse sentido, enfocamos nossa perspectiva na modalização pragmática visto que são as modalizações que inserem julgamentos sobre as faces da responsabilidade de um personagem que é agente de um processo. Essas modalizações são introduzidas para a atribuição de razões, intenções e, também, da capacidade de ação desses agentes.

Os efeitos de sentido construídos a partir dessa modalização são expressamente percebidos nas ocorrências das propostas de intervenção das redações, o agente que ganha essa capacidade de ação e razões, como foi postulado, seria o Estado.