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3 REFLEXÕES TEÓRICAS: A ANÁLISE DO DISCURSO E A CONSTRUÇÃO DO

3.2 Construção do conceito de massificação a partir dos estudos basilares que norteiam

3.2.4 A massificação

Neste tópico, reunimos a composição das reflexões teóricas até aqui expostas para que pudéssemos chegar ao conceito de massificação que representa os efeitos de sentido resultantes das escolhas recorrentes dos candidatos.

Podemos depreender, da reflexão de Adorno e Horkheimer (1985) em “A dialética do esclarecimento”, o fenômeno tratado como “Indústria Cultural”, que é o que nos liga à criação de um conceito específico para explicitar a massificação sugerida. A Indústria Cultural retrata uma cultura de massa que surge a partir de uma enganosa sensação de consumo. Esse consumo é satisfatório para interesses bem maiores que os particulares. Inicialmente, elencamos que “a cultura contemporânea confere a tudo um ar de semelhança. O cinema, o rádio e as revistas constituem um sistema. Cada setor é coerente a si mesmo e todos são em conjunto (ADORNO, HORKHEIMER, 1985, p.113).

Essa semelhança sugere uma padronização entre os próprios elementos desses setores, assim como a interligação deles. Essa padronização é resultado das necessidades que os consumidores vêm, ao longo do tempo, solicitando. Surgem, portanto, como uma espécie de resposta ao que vem sendo necessidade de consumo e é exatamente por causa desses fatores que essa padronização é aceita em larga escala e, principalmente, reverberada e bem avaliada pelos consumidores. Esse ciclo de solicitação e de respostas cada vez mais vai se tornando coeso no meio social.

Dessa forma, a Indústria Cultural, a partir do que chamamos de ciclo, estabelece uma espécie de manipulação do indivíduo consumidor. Uma vez que esse indivíduo está inserido num ambiente de consumo, passa a consumir e, posteriormente, a necessitar que o ciclo se repita; mas, quanto mais o ciclo se repete, menos opções e menos controle sobre isso ele terá, sendo fadado ao confinamento dos padrões estabelecidos e sem resistência sobre eles.

Para Adorno e Horkheimer (1985, p. 143),

A cultura sempre contribuiu para domar os instintos revolucionários, não apenas os bárbaros. A cultura industrializada faz algo mais. Ela exercita o indivíduo no preenchimento da condição a qual ele está

autorizado a levar essa vida inexorável. O indivíduo deve aproveitar o fastio universal como uma força instintiva para se abandonar ao poder coletivo de que está enfastiado.

O resultado desse jogo de manipulação resulta nessa dominação que a indústria exerce sobre o indivíduo consumidor que, sem que perceba, é levado ao lugar de dominado, deixando seu individual de lado para acatar as demandas do coletivo, que significa a dominação da indústria. Se considerarmos que esse coletivo não representa, em nenhum grau, a individualidade, mas que, pelo contrário, abandona o individual e determina o coletivo, entendemos que ninguém é totalmente contemplado, mas sim “domado”.

Quando trataram da individualidade, os autores afirmaram que “na Indústria, o indivíduo é ilusório não apenas por causa da padronização do modo de produção. Ele só é tolerado na medida em que sua identidade incondicional com o universal está fora de questão. [...] o que domina é a pseudo-individualidade” (ADORNO E HORKHEIMER, 1985, p. 144). Em resumo, não se trata de uma escolha racional ou pacífica, mas de uma dominação excludente: o indivíduo é tolerado mediante sua dominação, o que acarreta a domação de sua identidade incondicional com o universal. O que entendemos, a partir disso, é que o indivíduo passa a ser uma peça na construção do coletivo como base, sustentação, e não como beneficiário desse meio.

Bosi (1992) , ao refletir sobre o tema, traz algumas premissas que dizem respeito ao que é culturalmente massificado nos dias atuais, como o que se conhece por culturas de massa ou culturas para a massa. Nos mais basilares exemplos de consumo, como jornais de notícias em massa, propagandas que são diariamente consumidas e afins. Ainda sobre esse processo, Bosi (1992, p. 321) diz que

Em termos diacrônicos, não parece que esse tipo de consumo de bens simbólicos tenha mudado muito da década de 60 para a de 70. A censura e a massificação persistem; persistem as receitas de sucesso junto ao grande público; continua a publicidade intensa e insidiosa lançando mão de todos os recursos para motivar e estimular a venda de seus produtos.

Trazendo isso para as questões desta pesquisa, podemos compreender que essa indústria cultural, em paralelo ao objeto aqui provocado, constata o quanto a sensação que sugere a mobilização da massa predomina em detrimento, nesse caso, das próprias experiências e repertório estrutural e conteudístico dos candidatos. Em outras palavras, o repertório de conteúdos e o repertório estrutural, no que tange à produção de um texto argumentativo, são deturpados pela forma cristalizada ao longo dos anos, contribuindo para a manutenção do mesmo processo do consumo massificado.

Adiante,

A apreciação negativa da cultura para massas, formalizada pelos estudiosos da Escola de Frankfurt, como Horkheimer, Adorno e, em outro registro, Herbert Marcuse, foi chamada de apocalíptica, por Umberto Eco, numa divisão de intelectuais em apocalípticos e integrados. Para compensar as críticas mais radicais, há os que lembram o caráter socializador dos meios de massa, que dariam a todas as classes o mesmo nível de informação e, vez por outra, ministrariam elementos para que o espectador forme um juízo desalienado a respeito do sistema em que vive. Igualmente, os defensores insistem no caráter pedagógico que alguns programas assumem, quando elaborados por pessoas de cultura artística ou científica mais complexa. (BOSI, 1992, p. 321-322). Dentre as críticas às críticas, há quem defenda um caráter socializador dos meios de massa. Relacionando isso com o contexto aqui relatado, seguir as redações modelos e contribuir com a cristalização das “formas” é positivo uma vez que permanecer nesse ciclo geram bons resultados e esses resultados são, de certa forma, socializadores. Por outro lado, os bons resultados no processo seletivo abrem possibilidades maiores para o candidato, logo, é interessante seguir por esse caminho, ao mesmo tempo em que a formatação dessas redações, que é dada previamente, também podem refletir e moldar aspectos do ensino.

Entretanto, é interessante pensarmos que

Historicamente, na verdade, fica em aberto o julgamento de um processo de comunicação que ainda está bem longe de ter esgotado todos os seus frutos. No caso brasileiro contemporâneo, a censura política e a massificação estética e ideológica, peculiar aos programas de grande audiência, ainda não autorizam o espectador mais alerta e exigente a nutrir maiores esperanças. (BOSI, 1992, p. 322).

Em outras palavras, o referido autor ainda trata com desesperança uma mudança de comportamento no que concerne ao cenário descrito até aqui. Isso recai sobre algumas premissas que nos sugerem que os bons resultados, os resultados que inflam esse consumo da massa são, ainda, quem ditam as regras e, no que tange ao processo de resposta social, continuarão, por um bom tempo, ditando.

Quando, gradativamente, observamos a crescente teoria que sugere algumas necessidades do texto, como uma organização, a presença de um sujeito e estratégias argumentativas, sabemos que, nesse processo, vários mecanismos de escolhas serão postos. Mas, acreditamos que todos esses aspectos, aliados à complexidade que geram as motivações dessas escolhas, abrem um vasto leque de possibilidades. No caso desta pesquisa, o que nos chama atenção, tendo como ponto de partida essa reflexão da indústria cultural, é exatamente o quanto os textos são massificados, em vários aspectos, mesmo com as possibilidades que os precedem.

Essa discussão ancora os mecanismos linguísticos que descrevemos e refletimos até aqui uma vez que todos esses aspectos só podem ser linguisticamente explorados a partir deles. Logo, a massificação ocorre, nos dados desta pesquisa, refletida na recorrência de escolhas linguísticas semelhantes, em um processo seletivo que abarca milhares de candidatos, assim como na escolha de vários outros aspectos que tratamos neste estudo, como, por exemplo, questões de paragrafação, de estratégias argumentativas, organização estrutural, etc.

4 CAMINHOS METODOLÓGICOS

Nesta seção, descrevemos os caminhos metodológicos que foram aplicados no andamento e na consolidação da pesquisa. Num primeiro momento, discorremos sobre os aspectos metodológicos, posteriormente, sobre os caminhos percorridos, descrevendo todos os procedimentos de escolhas e de análises.