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3. A IM PLEM ENTAÇÃO DO CURRÍCULO EM GEOGRAFIA NA REALIDADE DOS

3.1. A proposta metodológica: espaços de diálogo com o professor

A pesquisa est á em const ant e mudança, assim, a met odologia se f az durant e a pesquisa. A necessidade de t ransf ormar o t rabalho conf orme o caminhar da realidade é int rigant e, vist o que, abrem-se as port as para o desconhecido e a descobert a. A met odologia, por mais que seja ut ilizada e revist a na ciência, apresent a limit es.

Toda met odologia é uma escolha do pesquisador, seguindo uma vert ent e específ ica, não abarcando uma t ot alidade. Part e-se do problema da pesquisa, em busca da met odologia mais adequada. Toda escolha é baseada em pré-requisit os que envolvem a int encionalidade do sujeit o-pesquisador, baseado em seus pressupost os cient íf icos e t ambém ideológicos, é uma visão de mundo a ser f undament ada.

A pesquisa é recort e, apresent a seus limit es. A escolha em t rabalhar co m grupo f ocal pode incorrer em equívocos, a part ir dos relat os dos sujeit os pesquisados. O t rabalho com est e t ipo de met odologia requer a at enção do pesquisador quant o à seleção das inf ormações. O f oco da propost a met odológica f icará na compreensão dos sujeit os envolvidos, vist o que, será nossa f ont e de produção da inf ormação. Não há como separar/ dist anciar o pesquisador do pesquisado, exist em as relações humanas no processo, numa reciprocidade, a que chamamos de empat ia. Aliadas ao caminhar cient íf ico da pesquisa, essas relações precisam ser pensadas e para t al, t raçarmos t ambém est rat égias.

Os docent es são o pont o essencial do t rabalho, pois é a part ir de suas vivências que esses sujeit os sint et izam f alas, discursos, cont eúdos em mat eriais of iciais, ordens das equipes gest oras e f azem acont ecer (ou não) o currículo em sala de aula, at ravés de sua prát ica. Os sujeit os, aqui, são ent endidos como seres sociais, inseridos numa lógica de poder, mas que carregam suas ident idades, subjet ividades.

O currículo é um campo social em lut a (CORAZZA, 201, p. 104), levada pelos sujeit os no quest ionament o das polít icas neoliberais (numa t endência mundial), que acabam por mercant ilizar a educação.

Em t odo andament o de pesquisa, met odologia e mét odo devem apresent ar coerência, amarrados a t odas as out ras nuances que def inem um t rabalho cient íf ico. A met odologia é o f azer, é a inst rument ação necessária para def inição de parâmet ros f undament ais, t omando-se o cuidado para que est e saber- f azer não se t orne um f im em si mesmo. M et odologia t ambém é ref lexão, é ponderar a f orma como o caminho (mét odo) será percorrido. É um f azer muit o além das t écnicas (OLIVEIRA, 1998, p. 21).

O mét odo vem carregado de uma est rut uração muit o mais acurada nas ciências humanas, sobret udo, na ciência geográf ica, que é o nosso f oco. As possibilidades de discussão e produção cient íf ica nesse viés vêm ganhando corpo cont emporaneament e, inclusive, nas revisões e propost as de conceit uações de espaço, numa perspect iva do avanço da ciência geográf ica, além das revisit ações na epist emologia da Geograf ia. As met odologias de pesquisa vêm se desenvolvendo nas ciências humanas, a Geograf ia precisa t ambém avançar nesse debat e.

A met odologia se f az durant e a pesquisa, não que essa máxima impeça que o pesquisador t enha que planejar sua ação, seus caminhos. Em nossa perspect iva de pesquisa qualit at iva, o f oco é a relação ent re o sujeit o e o objet o do est udo, ou seja, qual (is) a(s) problemát ica(s) que envolve o f enômeno a ser compreendido.

A opção met odológica por grupos f ocais f oi escolhida por at ender às condições de realização da pesquisa at ravés de um curso de ext ensão com os prof essores, acima cit ado. Logo, a logística da sit uação permit iu o ajunt ament o dos sujeit os para a discussão dos t emas propost os, que se relacionavam aos t emas desenvolvidos no curso.

Os grupos f ocais, como principal aspect o, t rabalham com a ref lexão at ravés da “ f ala” dos part icipant es, est es apresent am seus conceit os, suas impressões. Assim, as inf ormações produzidas são de cunho qualit at ivo. (CRUZ NETO; M OREIRA; SUCENA, 2002, p.5). Para os aut ores, grupo f ocal é:

[ ...] uma t écnica de pesquisa na qual o pesquisador reúne, num mesmo local e durant e um cert o período, uma det erminad a quant idade de pessoas que f azem part e do público-alvo de suas invest igações, t endo como objet ivo colet ar, a part ir do diálogo e do debat e com e ent re eles, inf ormações acerca de um t em a específ ico.

Foram essas exat ament e as condições reunidas para desenvolviment o do levant ament o de dados para a pesquisa.

Gondim (2013, p. 151) a part ir de M organ (1997) apresent a t rês perspect ivas de grupos f ocais:

a)[ ...] grupos aut o-ref erent es, são usados como principal f ont e de dados; b) grupos f ocais como t écnica complement ar, em que o grupo serve de est udo preliminar na avaliação de programas de int ervenção e const rução de quest ionários e escalas; c) grupo f ocai como uma propost a mult i-mét odos qualit at ivos, que int egra seus result ados com os da observação part icipant e e da ent revist a em prof undidade.

Nest e t rabalho, opt amos por grupos aut o-ref erent es na ut ilização de f ont e principal de dados. Esses grupos são caract erizados por servirem a uma variedade de propósit os, dest aca-se a respost a a indagações de pesquisa e na avaliação de opiniões, at it udes, experiências ant eriores (GONDIM , 2013, p. 152).

Como primeira premissa, f oi pensada a melhor maneira de organizar o mo ment o de discussão com os prof essores. A part ir daí, como já ut ilizada a est rut ura do prédio do Inst it ut o Federal de São Paulo – Câmpus Birigui, o local escolhido f oi o Audit ório do Câmpus, onde há mesas que comport am cerca de 15 pessoas de maneira conf ort ável (GATTI, 2005, p.24). Como o sábado de manhã (horário do curso) é pouco ut ilizado no câmpus, garant iu-se um ambient e silencioso, sem int erf erências.

A equipe de pesquisa f oi int egrada pela pesquisadora e dois alunos- bolsist as part icipant es do Projet o de Ext ensão em que f oi desenvolvido o cit ado curso,

garant indo-se os seguint es papeis: M ediador/relat or (pesquisadora); observador (Aluno 1), operador de gravação (Aluno 2). (GATTI, 2005, p. 44)

Foi mant ido um número de part icipant es que at endesse à bibliograf ia de ref erência, podendo variar de 4 a 12 pessoas (GONDIM , 2003, p. 154) (GATTI, 2005, p.22). Os grupos f ocais acont eceram em dois moment os. No primeiro, as discussões giraram em t orno das polít icas públicas curriculares e num segundo moment o, o ensino da Geograf ia Ambient al, t endo a duração aproximada de 1h30 minut os cada encont ro. (GATTI, 2005, p. 28).

No primeiro encont ro, est iveram present es 10 prof essores, ao passo que no segundo encont ro est iveram present e 8 professores (houve a f alt a de 3 prof essores present es na primeira discussão e a presença de um novo professor no 2º encont ro), cont abilizando-se 11 pessoas part icipant es dos moment os de discussão. Assim, houve um grupo de base, necessário para a discussão de t emas dif erenciados. Procurou-se a coerência ent re os part icipant es do curso de ext ensão: t odos professores da rede est adual, mas com det erminadas especif icidades, como ret rat ado sobre os sujeit os da pesquisa. (GATTI, 2005, p.18)

Alguns professores se conheciam, mas como houve uma variabilidade de cidades represent adas, garant iu-se uma neut ralidade de opiniões, o que ocorre quando o grupo não se conhece. (GATTI, 2005, p.19)

O rot eiro para debat e deve ser est rut urado como uma premissa e não co mo um f im em si mesmo. O mediador necessit a t er sensibilidade para at ender os t ópicos sem parecer algo est anque ou direcionado. Gondim (2003, p. 154) coloca:

Um bom rot eiro é aquele que não só permit e um aprof undament o progressivo (t écnica do f unil), mas t ambém a f luidez da discussão sem que o moderador precise int ervir muit as vezes. A explicit ação das regras do grupo f ocal nos moment os iniciais pode ajudar na sua aut onomia para prosseguir conversando. São elas: a) só um a pessoa f ala de cada vez; b) evit am-se discussões paralelas para que t odos part icipem; c) ninguém pode dominar a discussão; d) t odos t êm o direit o de dizer o que pensam.

O rot eiro deve ser um prot ót ipo de ent revist a semi-est rut urada. Dessa f orma, ressalt a a import ância do sujeit o, abrindo a possibilidade a que se posicione de f orma mais abrangent e, sendo uma t ent at iva a abarcar det erminada sit uação problemat izada de f orma mais processual. A fala nos grupos focais deve ser em debat e. Exist em as opiniões diferent es e as especif icidades das experiências de cada sujeit o. No caso, as quest ões deveriam ser respondidas pelo viés das experiências do professor, sem impedir a emissão de opiniões. (GATTI, 2005, p.9).

Seguem abaixo, os rot eiros ut ilizados nos dois encont ros:

1º M omento. As Políticas curriculares do Estado de São Paulo.

1- Exist e a padronização curricular na escola?

2- Como o currículo chega padronizado?

3- Exist e a indicação de quem?

4- Qual perspect iva de currículo é passada?

5- Como lidar com a padronização curricular na realidade da escola?

6- O prof essor é livre f rent e ao currículo?

7- Quais mecanismos a escola ut iliza para garant ir o currículo?

8- Quais as dif iculdades encont radas no ambient e escolar? Ou não há

dif iculdades?

9- Exist em alt ernat ivas diversas ao currículo?

10-As compet ências e habilidades são desenvolvidas?

11- Há como medir o desenvolviment o de compet ências e habilidades na escola?

12- Como os prof essores sent em a polít ica de avaliação ext erna?

13- Os professores sent em-se feridos em sua aut onomia?

2º M omento. O Ensino da Geografia Ambiental.

1- Quais prát icas t êm permeado as ações dos professores de Geograf ia para o

ensino na perspect iva ambient al? Soment e a apost ila é ut ilizada?

2- Quais são as met odologias ut ilizadas para o ensino da Geograf ia Ambient al?

4- Há f ormação suf icient e para o prof essor nessa área?

5- Há privilégio de t emas da Geograf ia Humana no currículo?

6- Quais são as áreas ou conceit os na perspect iva ambient al que encont ram

maiores dif iculdades?

7- Como preencher essa lacuna?

8- A visão de Geograf ia ambient al no currículo prega uma visão int egradora do

espaço?

Tomou-se o cuidado em garant ir a preservação da ident idade dos part icipant es, na preocupação com a dimensão ét ica da pesquisa (GONDIM , 2003, p. 153). Apesar de alunos do curso de ext ensão, não houve a obrigat oriedade de part icipação nos debat es, t odos f oram convidados a part icipar, cient es da ut ilização dos result ados para o desenvolviment o da pesquisa. (GATTI, 2005, p.11). Todos os part icipant es assinaram t ermo de cessão de depoiment o para uso das inf ormações e para a garant ia de não ident if icação dos mesmos.