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Quadro 4 Iniciativas da Agenda Social e os ODM correspondentes

D- Equidade social e

2.5 A questão da qualidade da educação profissional

A qualidade é um dos elementos fundamentais da nova institucionalidade da Educação Profissional. Como referência para essa reflexão recorremos ao Centro Australiano de Pesquisa para a Educação Profissional, NCVER (sigla em inglês), que por meio do Programa de Pesquisa em Consórcio19, Mitchell (et al. 2006), nos trazem alguns aspectos sobre a qualidade da educação

18 ―A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas

dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa‖. UNESCO. Educação e Transdisciplinaridade. Carta de Transdisciplinaridade. http://unesdoc.unesco.org/IMAGES/0012/001275/127511POR.PDF

19 John Mitchell & Associates, University of Techonology Sydney, Bateman & Giles Pty Ltd, NSW Department of

profissional interessantes para nossa reflexão, apesar de corresponder a realidades de países da Europa e Austrália.

A questão da qualidade para alguns stakeholders teria como foco a gestão dos sistemas e nos indicadores de qualidade do ensino, aprendizagem e avaliação, para outros o foco estaria na criação de culturas para estimular a melhoria da educação profissional permanentemente. Entretanto, o relatório de pesquisa aponta que ambas as perspectivas são necessárias.

A pesquisa envolve diversos aspectos, dentre eles inclui-se o que os alunos esperam da educação profissional; a perspectiva dos empresários; quais as competências e recursos necessários aos profissionais da educação profissional; como estes poderiam ser apoiados no desenvolvimento de novas funções e competências; e a questão crucial da qualidade da educação profissional do ponto de vista do governo.

Com relação ao que os alunos e os empresários esperam da educação profissional: conforme pesquisa, os alunos querem serviços mais adequados às suas necessidades, customizados. Mas esse é justamente um ponto crítico, um serviço de formação personalizado demandaria vários desafios: para o professor, que deverá ter um profundo conhecimento em diversos estilos de aprendizagem; desafio para a instituição de formação que terá de dar suportes a diferentes grupos de alunos, inclusive em ambiente online; para as diversas formas de aprendizagens, inclusive treinamentos informais; e a criação de parcerias entre formadores e empresários para atender às necessidades de empregadores e empregados.

Desse modo, as respostas podem ser tão variadas quanto o número de alunos e empregadores envolvidos, no entanto, a pesquisa evidencia que os professores, digamos, mais progressistas, buscam informar aos trabalhadores e aos empregadores acerca dos serviços de formação disponíveis, formam parcerias com empresas, ouvem as preferências individuais dos alunos e, na medida do possível, adequam suas abordagens de ensino a cada situação.

Alguns empresários formam parcerias com as instituições de ensino na qual analisam as necessidades de formação e participam em construção colaborativa. Outros, no entanto, querem a formação personalizada e específica para a sua empresa, de forma que a aprendizagem adquirida acaba por não ser facilmente transferida para outros locais de trabalho. Ou seja, é a visão da educação profissional restrita para o emprego, o que converge com os resultados apontados por Carvalho (2003) em pesquisa realizada no Brasil.

Com relação à avaliação da educação profissional, os profissionais da educação profissional teriam que determinar qual seria o foco da avaliação de resultados e processo; e qual seria a melhor forma de reconhecimento de aprendizagens prévias. Além disso, um caminho a ser considerado, conforme pesquisa do NCVER, seria desenvolver um forte senso de identidade profissional e prover melhor orientação profissional e pedagógica aos professores e assessores, bem como encorajar o diálogo nacional em torno de pedagogias alternativas e práticas de avaliação. Essa questão tem a ver com o momento em que estamos vivendo no Brasil com relação à nova institucionalidade da educação profissional em âmbito federal.

Um acordo firmado entre os governos da Austrália, Escócia e Inglaterra demonstra que há um reconhecimento crescente por parte desses governos de que a melhoria da qualidade das práticas de ensino, aprendizagem e avaliação é fundamental para que o setor responda aos novos desafios que se apresentam, conforme Mitchell (et al. 2006). Curiosamente, o documento identifica orientações políticas similares adotadas pelos três governos para estimular práticas de alta qualidade, cujo foco estaria na melhoria da qualidade da oferta e nos resultados da educação profissional.

Os resultados da pesquisa mostraram que os profissionais australianos da educação profissional também estão focados na qualidade. A pesquisa identificou redes de educação profissional e como elas contribuem para a construção e promoção das boas práticas no ensino, aprendizagem e avaliação. As ‗redes‘ mostraram que os profissionais estavam comprometidos com a melhoria da qualidade de estratégias de oferta, avaliação de processos e nos resultados de aprendizagens.

Essa pesquisa destacou, em última análise, uma preocupação comum aos políticos e profissionais, a alta qualidade no ensino e formação profissional. Compreensivelmente, os dois grupos têm diferentes definições de qualidade e pontos de vista distintos sobre onde o esforço é necessário para atingir a qualidade. Entretanto, as partes interessadas geralmente aceitam que, para alcançar resultados de alta qualidade são necessários insumos adequados e múltiplas estratégias: não existe uma solução única e não há nenhuma solução rápida.

Podemos concluir que para se falar em qualidade na educação profissional deve-se considerar que a qualidade surge a partir de diálogos entre os diversos atores interessados e envolvidos na educação profissional, conforme Bondioli (2004). Portanto, deverá haver articulação entre as políticas públicas, conhecimento das necessidades e expectativas dos

stakeholders, aproximação da instituição de ensino com a realidade local e a correta informações prestada aos interessados. São questões a serem pensadas como possibilidade de atender às necessidades dos alunos, dos profissionais e do país no sentido do desenvolvimento social e econômico.