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CAPÍTULO III Abordagem Metodológica

DESENVOLVIMENTO LOCAL

Do tema Desenvolvimento Local, podemos analisar tanto a contribuição da educação profissional para o desenvolvimento, como o desenvolvimento do novo modelo institucional, conforme demonstrado por seus atores, ainda carece de identidade perceptível a eles. Ficou explícita a necessidade de maior discussão acerca dessa nova institucionalidade atribuída aos Institutos. Esse fator implica na necessidade de se estabelecer uma identidade institucional para além do simbólico, ou seja, de se absorver o que são verdadeiramente os Institutos enquanto Rede interligada.

Nas discussões entre os diversos campi, há divergências e essas nem sempre representam uma construção e sim um impasse. Nesse sentido, busca-se saber, por exemplo, se os Institutos estão cumprindo seu papel na promoção da inclusão social. Provavelmente sim, mas há uma dificuldade quando não se computa os dados da extensão, por exemplo. Por outro lado, também há necessidade de se conhecer o grau de interlocução dos IF com entidades representativas locais e quem são elas.

Conforme apontamos anteriormente, os temas se entrelaçam. O Docente II faz um comentário nesse sentido, bastante pertinente. Ele afirma que, em cada lugar onde a Rede está situada ela se constituirá como elemento de articulação de oferta de ensino, de extensão e de pesquisa, assim, ele levanta o seguinte questionamento: em que grau e com quem as instituições estabelecem interlocução?

Na verdade, o citado Docente questiona e responde: ―as instituições estabelecem interlocução com os movimentos sociais, estabelece interlocução com os movimentos de quilombos, estabelece interlocução com artistas, com sindicatos, com a sociedade civil, com o mundo do trabalho?‖ Ou, apenas com organizações da sociedade civil do mundo do capital, sindicato patronal, sistema S, os Arranjos Produtivos Locais do setor do capital? Na opinião dele, a prioridade é para essas últimas.

Sobre a interlocução com os diversos atores locais, provavelmente essa concepção de desenvolvimento estaria relacionada ao desenvolvimento humano, que se constitui em um meio de identidade e resguardo da identidade e do bem-estar da população, conforme Neirotti (2005). No entanto, nada se falou do desenvolvimento do capital social, que se estabelece no espaço local, que é um espaço de interação entre os diversos atores.

E quando se fala em inclusão social, esse termo não é muito claro, seria inclusão no sistema educacional, para ser instruído? Seria ter acesso aos recursos necessários para uma vida digna? Ser capaz de participar da vida da comunidade? Assim como define Amartya Sen (1999) sobre o desenvolvimento humano? Essa inclusão social levaria à liberdade? Levaria a uma vida longa e saudável? Não podemos afirmar nem negar, o termo inclusão social tem de ser definido ou verificado na prática.

O que podemos perceber é que o potencial dos Institutos ainda não está bem explorado, com isso, não ficou claro também sobre o papel da educação profissional em facilitar ao cidadão a compreensão e a visão de que é possível promovermos nossa própria transformação econômica

e social ao disponibilizar instrumentos de intervenção sobre a realidade, ao possibilitar o entendimento sobre quais são os potenciais locais de desenvolvimento e as questões de transparência social, conforme Dowbor (2007).

Com as mudanças que vêm ocorrendo e as mudanças vislumbradas com a criação dos Institutos, deveria ser instituído um fórum interinstitucional como espaço de discussão e reflexão sobre essa nova institucionalidade, como afirma o Docente IV. Esse comentário nos remete a Zamborlini (2007) que, como resultado de investigação realizada em CEFET, sugere um fórum como um espaço institucionalizado para discussão da formação docente. As questões abordadas pelo Docente IV estão expostas na citação a seguir:

essa história dessa explosão de número de cursos e aumento do número de vagas, pra abertura de novos cursos, e atendimento a uma demanda regional, isso é um ponto positivo, mas acho que paralelo a isso, a gente tem uma nova institucionalidade chegando e a gente não sabe ainda como caminhar com ela, seja do ponto de vista administrativo, seja do ponto de vista de organização dos próprios cursos [...] eu vejo nesse momento, a analise que eu faço é um momento assim de ebulição, de crescimento numérico, quantitativo, seja de cursos, de alunos, de demandas, mas também pouca qualidade nessa reflexão sobre o que nós estamos fazendo [...] é realmente pensar como a gente funciona, se organiza, coisa que a gente não consegue pensar no cotidiano [...] a percepção que eu tenho que são muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, e a gente não tem tido tempo de parar, refletir, colocar o pé no chão e pensar como é que a gente vai caminhar e se organizar nesta nova institucionalidade, e pra mim isso demanda. Há necessidade não só da reflexão, da conversa, da formação mesmo, de informação, de buscar, não uma formação individualizada [...] não passa só pela formação de professor, nós temos uma instituição com servidores atuando nos mais diversos setores. São vários processos acontecendo, processos pedagógicos e administrativos, esses processos é que precisam passar por uma revisão, por um amadurecimento, por uma transformação mesmo, um novo olhar, eu acho que o fórum é uma saída, um fórum interinstitucional onde a gente pudesse refletir [...] acho que não dá pra falar em formação se a gente não sabe quem a gente é nem onde quer chegar. (DOCENTE IV)

Apenas um egresso se manifestou quanto a esse tema, de forma favorável, ele afirma que é o Instituto que fornece grande parte da mão de obra especializada da região:

por que todo mundo que forma aqui, ou volta para sua cidade na maioria das vezes ou vai trabalhar numa usina de cana, ou numa cooperativa ou prefeituras, outros seguem um curso superior [...] a escola tem uma influencia muito grande, muito grande mesmo, na região, ela tá bem localizada com o papel que ela faz, o local que ela está atende bem a demanda da região. (EGRESSO III)

O Egresso III também aborda o benefício da formação ofertada no IF para agricultores familiares:

tem o conhecimento empírico do curso, então o técnico vem aliar o conhecimento empírico dele, do agricultor com o seu conhecimento técnico... daí que ele teve a oportunidade de aprender aqui. Então é essa junção de conhecimento, e não abandonando o que o agricultor já sabe, mas haver essa conciliação. Eu vejo dessa maneira. (EGRESSO III)

A posição dos reitores tem a ver com os dados da inclusão, ou seja, eles promovem a inclusão social, no entanto, isso não é computado, não aparece em escala. O Reitor I afirma que a questão central seria a efetiva inclusão social que o Instituto promove:

uma das questões centrais e talvez a principal, avaliar os institutos a partir da sua efetiva condição de promover inclusão social [...] Nós precisamos fazer uma comparação entre a realidade social, socioeconômica do país e o potencial dos IF para melhorar, para fazer desenvolver socialmente esse país. [...] para promover a inclusão social nós precisamos permitir a qualquer cidadão que ele saiba fazer alguma coisa, que possa desenvolver algum trabalho, de preferência que ele faça isso com prazer e não só pela necessidade de se manter. (REITOR I)

Para ele, o meio de verificar se os Institutos estão promovendo essa inclusão é contabilizar nas estatísticas a quantidade de oferta de cursos de extensão, que nos Institutos está sendo estabelecida com carga horária mínima de 160 horas e com as certificações de aprendizagens prévias, do programa de certificação profissional do Instituto, que certifica trabalhadores que adquiriram conhecimento profissional por meio da prática, ou da educação informal e que, portanto, esses conhecimentos não foram reconhecidos formalmente.

Com relação a isso o Reitor I acrescenta:

onde estão os indicadores de educação a distância e aonde estão os indicadores das qualificações indiretas? porque se eu formo um técnico, ou um tecnólogo ou um bacharel, esse profissional é um multiplicador. [...] nós temos que criar um banco de dados para que a rede federal ou as instituições certificadoras comecem a dizer aonde aquele profissional adquiriu aquela experiência. (REITOR I)

O Reitor II também apontou a inclusão como um dos temas principais, ele citou alguns exemplos:

nossas escolas são escolas de inclusão [...] As nossas escolas até pouco tempo atrás era um pouco fechada, hoje não, hoje ela está muito aberta à comunidade. Hoje nós temos telecentros, que facilita para a entrada, o acesso à informática. Hoje nós temos cursos de informática, abrimos nossos laboratórios de informática, temos cursos de férias. (REITOR II)

Conforme a legislação da educação profissional e ações implementadas no sentido de que a Rede Federal atue em rede, entendemos que as condições estão sendo criadas para o desenvolvimento da educação profissional, no entanto, essa certeza ainda não chegou aos seus atores. Do tema desenvolvimento extraímos, portanto, as seguintes questões: (1) pela função social, que cumpre aos Institutos, deveriam ser computados os dados da extensão, do ensino a distância e até mesmo do impacto da qualificação no ambiente de trabalho, tendo em vista que aqueles que ampliaram seus conhecimentos tendem a ser multiplicadores; (2) o impacto social e econômico que o Instituto provoca em sua localidade; (3) e a própria identidade institucional, que define os rumos das ações.