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% do PIB Suiça 4,

OCUPAÇÃO POPULAÇÃO

5.2 A realidade educacional do Estado do Piauí

As políticas nacionais para ampliação do atendimento educacional no Brasil implicaram em diversas estratégias que envolvem programas, projetos e políticas para ampliação do acesso ao direito à educação básica, sobretudo, as que decorrem da Emenda Constitucional n. 59/2009, a qual torna obrigatória e gratuita a oferta da educação básica a crianças e jovens de quatro a dezessete anos de idade (BRASIL, 2009). Esse marco legislativo é um avanço importante, principalmente se considerarmos que a educação infantil e o ensino médio não eram consideradas etapas de ensino obrigatórias. Além disso, Pinto e Alves (2011, p. 618) argumentam que a obrigatoriedade é fundamental, pois, “[...] enquanto estamos apenas no campo do direito à educação, esse direito acaba negado aos mais pobres”.

O Estado do Piauí sempre teve um atendimento educacional baixo considerando a demanda por educação da população em idade escolar. Dentre as variáveis subjacentes à violação desse direito, apresenta-se a realidade do Estado com pouca capacidade de prover esse atendimento educacional, conforme a Tabela 10 a seguir:

Tabela 10: Taxa de Escolarização Bruta e Líquida da população piauiense de 15 a 17 anos

ANO

TAXAS DE ESCOLARIZAÇÃO – POPULAÇÃO DE 15 a 17 ANOS Taxa de Escolarização Bruta Taxa de Escolarização Líquida

2007 81,2 29,8 2008 93,6 36,0 2009 81,6 34,4 2011 83,8 37,9 2012 82,5 42,4 2013 78,3 42,8 2014 80,5 46,2 2015 87,0 50,1 2016 88,7 59,1 2017 93,5 61,7

Fonte: IBGE - Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

Em relação às taxas de atendimento do ensino médio, foram verificadas mudanças significativas no Estado do Piauí, especialmente em relação à taxa líquida. Enquanto a taxa bruta saiu de 81,2 para 93,5%, de 2007 para 2017, a taxa líquida, no mesmo período, saiu de 29,8 e alcançou 61,7. O aumento foi expressivo e demonstra avanços na garantia do direito à educação da população de 15 a 17 anos, embora esteja longe da meta do Plano Nacional de Educação que estabelece 85% até o final do decênio.

A concretização da ampliação do direito ao acesso e oferta da educação à população de 15 a 17 anos permanece como um grande desafio. Sobretudo, as limitações relacionadas

às condições e qualidade da oferta. Pinto e Alves (2011) alertam para a necessidade de que as redes públicas de educação empreendam esforços maiores de expansão. É importante também registrar que nesse período houve um aumento dos recursos destinados à educação básica por meio da política de Fundos. Pinto (2011) aponta que a despesa do governo federal em educação mediante o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) teve um aumento significativo, passando de 0,02% para 0,20% do PIB (PINTO, 2015).

Para Pinto (2007), algumas limitações no Fundeb precisam ser consideradas, especificamente o não enfrentamento do problema de um valor mínimo por aluno que assegure um ensino de qualidade e menos desigual na oferta, assim como o caráter da transitoriedade presente no FUNDEB, como era no Fundef. A não determinação torna-se preocupante, pois, a depender da correlação de forças instituídas no governo, pode ter sérios prejuízos na instituição do novo FUNDEB em 2020. Pinto já alertava, em 2007, que, “se nenhuma medida de caráter permanente for tomada neste ínterim, o país viverá naquela data uma grave crise no pacto federativo, pois os municípios ficarão com um número de alunos muito superior à sua capacidade de financiamento” (PINTO, 2007, p.881).

Ao Estado compete formular políticas, implementar programas e viabilizar recursos que garantam à criança, aos jovens e aos adultos o desenvolvimento integral e a vida plena, de forma complementar à ação da família. Analisando a evolução das matrículas na tabela 8 por etapa e modalidades da Educação Básica no Estado nos anos de 2006, 2010, 2014 e 2017, temos a seguinte:

Tabela 11: Matrículas da Educação Básica por Etapa e Modalidades - Piauí

Ano Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio Educação Profissional Educação de Jovens e Adultos (EJA) Educação Especial 2006 132.533 668.217 193.313 4.899 145.985 5.527 2010 129.251 580.275 167.418 28.285 105.136 10.076 2014 137.745 519.655 137.773 43.686 92.160 12.133 2017 140.475 488.300 141.248 60.045 177.231 18.050 Fonte: INEP- Microdados do Censo Escolar - Matrículas da Rede Estadual do Piauí, 2017.

Nota: Rede Estadual de Educação do Piauí

Foram analisadas as três etapas - Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio e as três modalidades de oferta – Educação Profissional, Eja e Educação Especial, no que diz respeito à evolução das matrículas ofertadas para essas etapas e modalidades de ensino da educação básica. Analisando a Tabela 11, nota-se que o atendimento à Educação

Infantil se manteve equilibrado variando de 132.533 a 140.755 matrículas de 2006 para 2017, a responsabilidade do poder público municipal.O ensino fundamental, por sua vez, apresenta uma queda nas matrículas, saindo de 668.217 em 2006 para 488.300 em 2017, com queda de 26,92%. Já, no Ensino Médio, as matrículas decresceram 26,93%; diante da proposta de universalização dessa etapa, deveria ter ocorrido um aumento das matrículas. Quanto à Educação profissional oferta da rede Estadual, saiu de 6.899 chegando em 2017 com 60.045, havendo a ampliação do atendimento, impulsionada pelas políticas do governo federal para essa modalidade de educação. Já a educação de jovens e adultos teve uma ampliação das matrículas, dado o processo de busca ativa que ocorreu de 2015 a 2017 com crescimento de 21,40% de 2006 a 2017.

Em decorrência do processo de busca ativa, as matrículas da EJA, sobretudo, concentradas na oferta do ensino médio regular em modelo de supletivo, cresceram, ultrapassando a trava dos 15% estabelecida pelo MEC. De acordo com o Art. 11 da Lei 11.494/2007, “a apropriação dos recursos em função das matrículas na modalidade de educação de jovens e adultos, nos termos da alínea c do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT, observará, em cada Estado e no Distrito Federal, percentual de até 15% (quinze por cento) dos recursos do Fundo respectivo”. Segundo o manual de operacionalização do Fundo de 2008 do FUNDEB, esse dispositivo foi estabelecido para “limitar o comprometimento e a distribuição de recursos do Fundo em cada Estado, ao segmento da educação de jovens e adultos”. No entanto, de acordo com o mesmo manual, “é importante destacar que esse limite é imposto pela legislação apenas para fins de distribuição dos recursos, não cabendo, portanto, sua necessária aplicação para fins de utilização, pelo Estado ou município, dos recursos repassados à conta do Fundo”. Pode-se, portanto, em tese, aplicar todos os recursos do Fundo na Educação de Jovens e Adultos (BRASIL, 2008).

A SEDUC-PI em seu processo de reorganização da oferta educacional, ao longo da série histórica desenvolveu um processo de substituição da oferta do Ensino Médio Regular noturno pela modalidade da EJA (duas séries anuais), ocasionando uma precarização da oferta do ensino médio regular com o aligeiramento da formação de jovens e adultos, que acessavam esta etapa da educação no horário da noite, dado a impossibilidade de cursar no horário diuno.

Quanto a educação especial em todas as etapas teve um crescimento de 226,58%, o que não representa uma política efetiva de atendimento educacional especializado, mas revela a realidade de um atendimento muito baixo, haja vista, em 2010, a matrícula era de

5.527 e chega em 2017 com 18.050, diante da enorme necessidade de atendimento educacional inclusivo, demandado pela população de pessoas com deficiência em todo o Estado do Piauí.

A situação das condições da oferta educacional pode se agravar ainda mais se considerarmos o cenário de oferta desigual da educação nas diferentes regiões do país, pois os limites estruturais são os mais problemáticos, sobretudo, os relativos à infraestrutura, aos insumos necessários para uma educação de qualidade, à formação de professores, destacados anteriormente, que podem levar a desdobramentos diversos no contexto das condições socioeconômicas desiguais de cada região.

A educação pública ofertada pelas redes de ensino no país apresenta falta de condições estruturais e pedagógicas das mais diversas. As crianças, adolescentes, jovens e adultos brasileiros estão em redes de ensino e escolas marcadas pela extrema diversidade regional que, em geral, não têm assegurado o direito de aprender a todos. As matrículas no Estado do Piauí estão distribuídas em estabelecimentos de ensino, que ora atendem apenas o ensino médio, ora atendem, simultaneamente, o ensino médio, a educação profissional e o ensino fundamental. Conforme quadro apresentamos a realidade nos anos de 2006 a 2017 na tabela 12 e gráfico 10 a seguir:

Tabela 12: Número de Estabelecimentos da Educação Básica Piauí 2006 a 2017 ANOS Federal Estadual Municipal Privada

2006 6 804 6.222 559 2007 5 799 6.120 489 2008 5 821 6.012 470 2009 5 823 5.795 472 2010 5 815 5.500 465 2011 15 802 5294 457 2012 15 765 5.145 442 2013 15 665 4762 443 2014 15 663 4414 444 2015 20 647 4134 434 2016 20 661 3998 455 2017 23 655 3778 429

Fonte: INEP- Microdados do Censo Escolar - Matrículas da Rede Estadual do Piauí, 2017

O quantitativo de estabelecimentos de ensino da rede pública estadual em 2006 era de 804 estabelecimentos de ensino, chegando em 2017 a 665, apresentando o fechamento de 139 das escolas na rede estadual. Nos últimos anos, o país e o Estado do Piauí mostram uma redução nos números absolutos do total de estabelecimentos de ensino para atender as mais diferentes modalidades de ensino. A situação mais grave está localizada na dependência

municipal com o fechamento de 2.444 escolas. Ocorre nas redes estaduais do Brasil um processo de reordenamento das redes de ensino, ocasionando a oferta de educação em salas multisseriadas e nucleação de escolas, tendo em vista a redução dos custos financeiros nas despesas em educação. A política adotada em muitas redes de ensino em todo o país para o fechamento de escolas não é uma realidade nova, mas requer estudos específicos sobre essa temática.

No Estado do Piauí, desencadeou-se, ao longo dos últimos anos, o fechamento das escolas rurais protagonizado, nos municípios e rede estadual de educação, por políticas unilaterais praticadas pelos gestores públicos, resultando no fechamento de escolas do campo, envolvendo milhares de comunidades, sem discussões prévias sobre as vantagens e desvantagens da abertura ou fechamento de escolas no campo, desconsiderando o princípio da participação comunitária nas decisões que abarcam a educação e as políticas públicas para educação, impactando diretamente sobre a vida de milhares de cidadãos, sobretudo crianças, adolescentes e jovens (FERNADES, MOLINA,2012).

Considerando que o atendimento educacional deve ser ofertado em condições adequadas para todos os estudantes da educação básica, as dependências administrativas têm viabilizado seu atendimento nem sempre nas condições almejadas, como será tratado posteriormente. No gráfico 10 a seguir podemos verificar o percentual de participação por dependência administrativa no Estado do Piauí em 2017.

Gráfico 10: Percentual do número de Estabelecimentos da Educação Básica por Dependência Administrativa no Piauí em 2017

Fonte: INEP- Microdados do Censo Escolar - Matrículas da Rede Estadual do Piauí, 2017

O gráfico 3 informa que a maioria das escolas no Estado do Piauí são de responsabilidade do poder público municipal, tendo as escolas municipais respondendo por 77,3% do total dos estabelecimentos, em 2017. Isso se relaciona com a obrigatoriedade constitucional de atuação dos municípios na educação infantil e ensino fundamental (o processo de municipalização foi quase integralizado em 2007). Por isso, a rede estadual tem apenas 13,4% dos estabelecimentos.

Na rede privada, esse percentual é de 21,3% para atender as etapas da educação básica. Embora seja um percentual significativo, não implica dizer que esses estabelecimentos atendem a todas as exigências de funcionamento de uma escola com um padrão mínimo de qualidade, o que deve ser tema de pesquisas na área. A rede federal representa 0,5% com 23 Institutos Federais, que foram construídos ao longo desse período, como parte de uma política nacional de expansão da educação profissional.