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A reconfiguração do livro e as novas possibilidades da leitura hipertextual

No documento Reconfiguracao Tablet (páginas 147-154)

a reconfiguração do livro na cibercultura Filipe ALMEIDA

4 A reconfiguração do livro e as novas possibilidades da leitura hipertextual

A reconfiguração do livro para o formato eletrônico não significa apenas uma nova forma de fazer livro, publicado agora em uma mídia digital, mas também significa que o ato da leitura também sofrerá transformações devido aos recursos e facilidades que o livro digital oferece aos leitores.

As novas possibilidades de leitura são um grande incentivo para a leitura de livros em plataforma digital. Segundo Levy (1996), as novas formas de apresentação do texto só nos interessam porque dão acesso a outras maneiras de ler e de compreender.

O suporte digital apresenta uma diferença considerável em relação aos hipertextos anteriores à informática: a pesquisa nos índices, o uso dos instrumentos de orientação, de passagem de um nó a outro, fazem-se nele com grande rapidez, da ordem de segundos. Por outro lado, a digitalização permite associar na mesma mídia e mixar finalmente os sons, as imagens animadas e os textos. Segundo essa primeira abordagem, o hipertexto digital seria, portanto, definido como uma coleção de informações multimodais disposta em rede para a navegação rápida e ‘intuitiva’. (LEVY, 1996, p.44)

Os recursos que os eBooks oferecem, facilitam a interação com o conteúdo, além de permitir uma grande portabilidade: um único dispositivo pode carregar milhares de títulos, e ter - através de uma conexão com Internet - acesso imediato a outros milhares de títulos disponíveis gratuitamente ou a venda em sites de todo o mundo. “É possível carregar vários títulos (centenas e até milhares) em um único dispositivo de leitura que cada vez mais estão baratos, leves e com melhor autonomia de bateria e capacidade de armazenamento”. (HORIE, 2011, p.16)

oferecem, pesquisas mostraram que os leitores de eBooks são conservadores5: eles preferem que o eBook seja o mais parecido possível

com um livro impresso. Lemos (2011)6 afirma que o sucesso do livro

eletrônico está na materialidade do dispositivo e na emulação do passado. O que estamos vendo é um retorno a experiências anteriores, com o aproveitamento das inovações sociais e tecnológicas do digital, principalmente no que se refere às possibilidades de produção de conteúdo, de compartilhamento de informação e de criação de redes sociais. Os e-readers emulam, com a e-ink7, muito bem o

papel e a tinta. Alguns não tem iluminação interna e tornam-se muito confortáveis para a leitura. O que está em jogo aqui é usar a tecnologia digital e as redes sem fio para proporcionar portabilidade da biblioteca e uma leitura próxima da do livro impresso (sem firulas, links desnecessários, ou interatividade exagerada). O leitor nem sempre quer ser “interator”. Ele quer ler como se lê um livro em papel. A relação material é importante aqui: ler um produto acabado em uma postura corporal similar àquela da leitura dos livros jornais e revistas impressas. (LEMOS, 2011)8

Podemos afirmar então, que o livro vem se reconfigurando sob o apoio dos recursos e facilidades que a tecnologia oferece, entretanto, tentando manter a base já aceita e consagrada dos livros impressos, buscando reproduzir o impresso no digital e agregando novas funcionalidades que gerem uma maior interação leitor-conteúdo.

5 Disponível em: http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=295029

Acesso em: 05/11/2011

6 Disponível em: http://andrelemos.info/2011/10/flica/

Acesso em: 01/11/2011

7 Também conhecido como “papel eletrônico” ou “tinta eletrônica”, é uma

tecnologia que mimetiza o papel impresso em um display.

8Disponível em: http://andrelemos.info/2011/10/flica/

5 Aspectos configuracionais que dificultam a expansão mercadológica dos eBooks

Alguns fatores impedem uma maior aceitação dos eBooks: a grande quantidade de formatos existentes, quase sempre, exclusivos para um único e-Reader e as DRM9 (Digital Rights Management) impostas

pelas editoras e produtoras de livros digitais a fim de combater a pirataria digital.

Essa situação apresenta-se como um verdadeiro paradoxo: as reconfigurações do livro sempre ocorreram visando facilitar o conhecimento do leitor, democratizando cada vez mais a leitura, e hoje, na era da cibercultura, da computação em nuvem (cloud compunting)10

e da Internet em banda larga e móvel, que poderiam funcionar como verdadeiros catalisadores na difusão da leitura digital, nos deparamos com barreiras mercadológicas que freiam essas possibilidades.

Alguns formatos, como o Mobi, da Amazon, rodam apenas em leitores específicos, comprometendo a convergência do conteúdo. De acordo com Procópio (2010), outra estratégia utilizada pela editoras que lançam livros digitais é a aplicação de DRM, que além de atuar como uma senha de segurança, impedindo a cópia ilimitada de um eBook, também faz todo o trabalho de porcentagem para terceiros e quantificação de núme ro de cópias vendidas. Para os formatos Mobi e ePub, já existem sistemas de DRM modernos e relativamente seguros.

9 DRM, ou Digital Rights Management, são tecnologias para controlar a

distribuição e a visualização de conteúdos digitais.

10 O conceito de computação em nuvem (em inglês, cloud computing) refere-

se à utilização da memória e das capacidades de armazenamento e cálculo de computadores e servidores compartilhados e interligados por meio da Internet, seguindo o princípio da computação em grade. Wikipedia

Podemos dar um exemplo dos problemas que um eBook protegido pode gerar: um eBook em um certo formato, protegido por uma DRM, não pode ser convertido para outro formato. Ou seja, se tivermos um eBook em formato Mobi (formato de eBook para leitura no Kindle), não conseguiremos converte-lo em PDF para podermos ler em qualquer outro dispositivo.

Diante disso, fica claro que as potencialidades de expansão do conhecimento através dos livros digitais estão comprometidas devido aos interesses mercadológicos, que vem limitando o uso e a liberdade do consumidor para utilizar da maneira que achar conveniente o seu produto.

Conclusão

Após séculos de história, o livro, até então existente apenas em meio impresso, hoje aparece reconfigurado, com uma nova possibilidade de publicação: o formato digital. A dinâmica de produção, difusão e leitura agora é outra - os autores podem publicar diretamente e gratuitamente na web ou podem enviar diretamente para a editora; a facilidade de produção é impressionante. Novas ferramentas e funcionalidades estão disponíveis para os leitores, também atraídos pela interatividade e portabilidade que o livro digital oferece.

Entretanto, estas novas possibilidades nem sempre atendem a necessidade dos usuários, acostumados com a liberdade quase sempre presente no ciberespaço. Os entraves mercadológicos e a grande quantidade de formatos existentes impedem uma livre circulação dos livros digitais entre os leitores. É também correto afirmar que mesmo com as restrições tecnológicas e de mercado, sempre há formas de burlar os processos de controle, e as empresas vem trabalhando para

desenvolverem formas ainda mais seguras de proteção.

Diferentemente do que acontece com um livro impresso,em que o leitor tem total liberdade para emprestá-lo a qualquer momento, com o livro digital isso nem sempre pode acontecer, contrariando a história do livro, que sempre se reconfigurou buscando facilitar o conhecimento do usuário.

O livro não foi invenção de Gutenberg, mas ele permitiu a sua reprodutibilidade como suporte e produto vendável em larga escala; agora essa escala de reprodutibilidade ganha uma dimensão inimaginável. Uma coisa é certa: uma vez lançado na rede, o livro ganha vida própria e não pode mais nem sequer ser retirado da internet, pois passa a habitar a “nuvem”.

O cenário atual do mercado editorial digital mostra um amplo domínio da empresa americana Amazon, que produz o Kindle, leitor de livros digitais e disponibiliza para venda uma imensa gama de títulos para serem lidos neste mesmo leitor, através de um formato exclusivo, o Mobi (agora chamado de Kindle Format 8). Existem outras empresas crescendo no mercado, mas quase sempre impondo essas mesmas práticas, dando prosseguimento às barreiras mercadológicas.

Diante dessa situação, os leitores de livros digitais, encontram-se presos aos limites impostos pelo mercado, que contrariam a lógica do livro como um instrumento de difusão do conhecimento e da leitura. Nesse contexto, o usuário, a partir do momento em que é impedido de fazer o que bem entender, deixa de se sentir dono de um livro.

Hoje, faz-se necessário repensar as práticas do mercado editorial digital. Livreiros, agentes literários e editores tradicionais vão ter de se adaptar aos novos tempos, buscando ampliar as possibilidades de compartilhamento, permitindo que o livro, embora produto de mercado

para gerar lucro, continue sendo instrumento de difusão de informação, conhecimento e cultura para todos os povos.

Referências

COSTELLA, Antonio F. Comunicação: do grito ao satélite. 4. ed. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2001.

FEBVRE, Lucien. O aparecimento do livro. São Paulo: Unesp, 1992.

FUGITA, Alexandre. A paranóia do DRM. Disponível em: http://techbits. com.br/2007/a-paranoia-do-drm/ Acesso em: 19/11/2011

HORIE, Ricardo Minoru. Coleção eBooks – Volume 1: Arte-finalização e conversão para livros eletrônicos nos formatos ePub, Mobi e PDF. São Paulo: Bytes & Types, 2011.

IDPF – International Digital Publishing Forum. Disponível em: <http://idpf.

org/>. Acesso em: 26/08/2011.

LEMOS, André. Livro e mídia digital. Disponível em: http://andrelemos. info/2011/10/flica/ Acesso em: 01/11/2011

LÉVY, Pierre. O que é virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996.

MCLUHAN, Marshall. A galáxia de Gutenberg: a formação do homem tipográfico. São Paulo: Editora Nacional, Editora da USP, 1972.

MINDLIN, José. A Evolução do Livro do Século XV ao século XX. In: DOCTORS, M. (Org.); A cultura do papel. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1999.

NICOLAU, Marcos. O ciclo das autonomias: do texto, do suporte e do autor. In: Apropriação midiática e autonomia comunicacional: perspectivas de uma mídia livre. Disponível em: http://www.insite.pro.br/2010/Dezembro/ apropriacao_autonomia_comunicacional.pdf

PINHEIRO, Ana Virginia .Da Sacralidade do Pergaminho à Essência Inteligível do Papel. In:

DOCTORS, Marcio. (Org.); A cultura do papel. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1999.

PROCÓPIO, Ednei. O livro na era digital: o mercado editorial e as mídias digitais. São Paulo: Giz Editorial, 2010.

USHER, Abbott. A History of Mechanical Inventions. New York: McGraw- Hill Book Company, 1929.

Sites – Notícias

http://www.revolucaodigital.net/2011/05/23/amazon-venda-ebooks-livro/ http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=295029

Resenha na web:

No documento Reconfiguracao Tablet (páginas 147-154)