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A Rede Asta como rede de cooperação e seus atores

4. APRESENTAÇÃO DO CASO

4.3. A Rede Asta como rede de cooperação e seus atores

A terceira categoria analítica da apresentação do caso é a da Rede Asta como rede de cooperação e seus atores. Nessa categoria foram mapeados o processo de relacionamento da Rede Asta com os artesãos, quais são os canais de venda da Rede Asta e quais são os principais atores que se relacionam com a Rede Asta e com os grupos produtivos. Ainda, os principais atores foram comparados com os principais atores do comércio justo, a cadeia da Rede Asta foi caracterizada

como uma rede de cooperação e, posteriormente, foi realizada uma análise a partir da classificação tipológica de redes apresentada por Hoffmann, Molina-Morales e Martínes-Fernández (2007).

É válido destacar que esse mapeamento dos principais atores foi feito exclusivamente via dados secundários e entrevistas realizadas, não tendo sido exaustivo a ponto de entrevistar todos os membros da cadeia citados por estes respondentes da pesquisa. A seguir, serão apresentados os principais atores mapeados a partir de Rede Asta (2012; 2015a; 2015b) e de todas as entrevistas realizadas:

a) Fornecedores: importantes para que os grupos produtivos tenham insumos para o desenvolvimento dos produtos. Os fornecedores podem vender ou doar as matérias- primas para os artesãos, e os principais fornecedores são: o que realiza a doação de retalhos, o de etiquetas, a gráfica e o de embalagem. Foi possível notar que alguns destes fornecedores têm contato direto com a Rede Asta e possuem uma identificação com a causa da organização, enquanto outros têm contato diretamente com os grupos.

b) Grupos produtivos: como a Rede Asta não trabalha com artesãos individualmente, estes devem integrar grupos produtivos de diversas regiões do Brasil. Para integrarem a cadeia, os grupos precisam ser selecionados de acordo com critérios como possuir no mínimo 3 integrantes, ter ao menos 60% de mulheres entre seus integrantes, ter capacidade produtiva de pelo menos 200 peças por mês, não prejudicar o ambiente com seu processo produtivo, entre outros. Também é válido destacar que a maior parte dos grupos produtivos são do Rio de Janeiro.

c) Rede Asta: é a organização que congrega as demais em torno de sua causa, atuando como ponto de contato dos artesãos tanto para a compra dos produtos quanto para a distribuição de insumos. A Rede Asta ainda tem contato com os fornecedores, conselheiras, consumidores finais, clientes empresariais e organizações parceiras. d) Conselheiras: um dos canais de venda da Rede Asta é a venda direta, e as conselheiras

são as responsáveis por realizar esse contato com os consumidores finais. As conselheiras não se relacionam com os artesãos diretamente e são responsáveis especificamente pela ponte entre Rede Asta e consumidores finais.

e) Consumidores finais: a Rede Asta se relaciona diretamente com os consumidores finais por meio de dois canais de venda, que são o e-commerce e as lojas próprias, sendo duas delas localizadas no Rio de Janeiro e um showroom em São Paulo.

f) Clientes empresariais: um outro canal de venda da Rede Asta é o de venda para empresas. Nesses casos, a Rede Asta pode implementar três tipos de projetos. O primeiro é o projeto ciclo, no qual as empresas podem mobilizar negócios locais em seus entornos que são identificados e treinados pela Rede Asta para o reaproveitamento de resíduos dessas empresas. Já o projeto upcycling, é aquele em que os grupos de artesãos produzem brindes corporativos utilizando os resíduos das empresas. Por fim, a venda de produtos sustentáveis, é aquela na qual os produtos desenvolvidos pela Rede Asta são vendidos para as empresas. Como os clientes empresariais podem utilizar seus resíduos na fabricação dos produtos, pode-se dizer que eles também podem ter um papel de fornecedores dos grupos produtivos.

g) Organizações parceiras: são aquelas que aquelas que prestam algum tipo de assistência para a Rede Asta e para os demais membros da cadeia, como, por exemplo, a Ashoka e a Fundação Avina.

A Figura 8 tem como objetivo apresentar de forma simplista e bastante sintética a relação entre os diversos atores mencionados.

Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

GRUPOS

PRODUTIVOS REDE ASTA

CONSELHEIRAS CONSUMIDORES FINAIS CLIENTES EMPRESARIAIS ORGANIZAÇÕES PARCEIRAS FORNECEDORES

Ao se comparar essa cadeia de suprimento com os principais atores do comércio justo apresentados por Moore (2004) e Schneider (2012a) e consolidados pelo autor na Figura 5, foi possível perceber que no caso estudado há a presença de fornecedores que garantem insumos aos grupos produtivos, o que não foi mencionado na teoria. Por outro lado, Moore (2004) e Schneider (2012a) mencionam a presença de exportadores e importadores como principais atores do comércio justo, o que não se verificou no caso da Rede Asta já que a organização ainda só atua no mercado nacional. Ainda, foi possível notar que a Rede Asta tem uma atuação similar à de uma

World Shop, não há a participação do varejo tradicional e licenciados no caso estudado e há a

presença de um intermediário entre a Rede Asta e o consumidor, que é o papel desempenhado pelas conselheiras. Por fim, além do consumidor final foi identificado que as empresas também são clientes da organização do caso estudado, e as organizações parceiras da Rede Asta não trabalham especificamente com o comércio justo e tampouco com a certificação, conforme apontado pela teoria.

Já para realizar a análise da cadeia de suprimento da Rede Asta com as características de uma rede de cooperação, considerações serão feitas a partir da definição de Verschoore (2006, p.60):

A organização composta por um grupo de empresas com objetivos comuns, formalmente relacionadas, com prazo ilimitado de existência, de escopo múltiplo de atuação, na qual cada membro mantém a sua individualidade legal, participa diretamente das decisões e divide sistematicamente com os demais os benefícios e ganhos alcançados pelos esforços coletivos. Portanto, as redes são compreendidas como um desenho organizacional único, com uma estrutura formal própria, um arcabouço de governança específico, relações de propriedade singulares e práticas de cooperação características.

Primeiramente, foi possível perceber que no caso estudado o compromisso com a sustentabilidade e com a causa do comércio justo defendida pela Rede Asta como ponto em comum entre diversos dos atores, embora alguns fornecedores não fazem se enquadram nessa característica da rede de cooperação.

Adicionalmente, não foi possível identificar qualquer prazo para a existência das relações estabelecidas pela Rede Asta, a não ser em trabalhos realizados para clientes empresariais. Com isso, algumas empresas que não trabalham de forma recorrente com a Rede Asta podem não se enquadrar nessa característica da rede de cooperação.

Já o escopo múltiplo de atuação existe com a presença de fornecedores, empresas, grupos produtivos, organização que dá suporte aos grupos produtivos e realiza a venda dos produtos, revendedoras, consumidores, clientes empresariais e organizações parceiras.

Ainda, a Rede Asta preza pela transparência em toda a cadeia e pelo pagamento de um preço justo aos artesãos, evidenciando em sua comunicação qual é o percentual do valor pago por um produto que é direcionado para os grupos produtivos, para a organização e para as conselheiras.

Já como particularidades do caso, apesar dos produtores não serem autônomos, uma vez que é exigido que o grupo tenha no mínimo 3 integrantes para fazer parte da Rede Asta, outros atores apresentados na cadeia de suprimento da Rede Asta são as conselheiras, os consumidores finais e algumas organizações não governamentais parceiras, que não são formalmente empresas. Também não há a constituição de uma nova organização formal para unir os diversos atores, bem como nem todas as relações são contratuais, de forma a caracterizar a formalidade entre elas. Essas questões são alinhadas às diferenças teóricas entre as redes de cooperação e o comércio justo apontadas no referencial teórico deste trabalho, embora Verschoore (2006) destaque a importância dessas características nas redes de cooperação.

De forma a concluir essa análise, apesar das particularidades encontradas a definição de rede de cooperação se mostrou adequada para caracterizar grande parte da cadeia de suprimento da Rede Asta. Também, dessa forma cumpriu-se com os objetivos específicos deste trabalho de identificar uma iniciativa de comércio justo de artesanato e analisá-la como uma rede de cooperação e de mapear os atores que compõem essa iniciativa de comércio justo. Se convencionará também a partir daqui que neste trabalho a Rede Asta será tratada como rede de cooperação.

Por fim, embora não faça parte dos objetivos desse trabalho, foi possível também analisar a rede de cooperação da Rede Asta a partir da classificação tipológica de redes apresentada por Hoffmann, Molina-Morales e Martínes-Fernández (2007).

Com relação à direcionalidade da rede, acredita-se que ela seja essencialmente vertical, com empresas especializadas em uma etapa do processo produtivo (HOFFMANN, MOLINA- MORALES e MARTÍNES-FERNÁNDEZ, 2007). Essa relação também caracteriza o modelo de

cadeia de suprimentos apresentada por Kwasnicka (2006). Apesar disso, os diversos grupos produtivos podem compor uma rede horizontal, ainda que o relacionamento entre os grupos ainda seja incipiente.

Com relação à localização, a Rede Asta aparentemente se caracteriza como uma rede dispersa, tipicamente vertical e que utiliza um processo logístico para a troca de bens e serviços (HOFFMANN, MOLINA-MORALES e MARTÍNES-FERNÁNDEZ, 2007). É importante destacar que a Rede Asta possui grupos produtivos de diversas partes do Brasil, embora a maior parte esteja concentrada na cidade do Rio de Janeiro.

Já sobre a formalização, supõe-se que na rede existam relações de base contratual formal entre alguns atores e uma base não contratual entre outros (HOFFMANN, MOLINA-MORALES e MARTÍNES-FERNÁNDEZ, 2007). Apesar disso, com os dados coletados para este estudo não foi possível identificar a predominância de um ou outro modelo.

Por fim, com relação ao poder acredita-se que a rede seja orbital (HOFFMANN, MOLINA- MORALES e MARTÍNES-FERNÁNDEZ, 2007) não apenas por uma relação de hierarquia com alguns atores, mas sim por um alinhamento com a causa. A Rede Asta congrega grande parte das demais organizações em torno de sua causa, o que a torna ponto central da rede, embora a rede horizontal formada pelos grupos produtivos pode ser caracterizada como não orbital. É válido destacar que o alinhamento em torno do comércio justo aparentemente reduz a assimetria de relacionamentos apontada por Verschoore (2006).

A seguir serão apresentados os principais resultados da Rede Asta.

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