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5. ANÁLISE DOS DADOS

5.2. Acesso à soluções

5.2.1. Capacitações para precificação

Ao analisar as capacitações conjuntas recebidas pelos artesãos ao participarem da Rede Asta, chegou-se à categoria analítica de capacitações para precificação.

Em 2013 um estudo foi feito com os grupos produtivos e nele foi possível identificar a concordância ou não dos artesãos a determinadas afirmativas. Em uma das questões, 64% dos respondentes disseram concordar que a Rede Asta oferece aos grupos um canal de suporte técnico e administrativo, enquanto 36% se mantiveram neutros a essa afirmativa. Nenhum respondente discordou desse suporte proporcionado pela Rede Asta. A Figura 14 apresenta essa informação a seguir [REDE ASTA, 2014?].

Figura 14. Concordância com afirmativa de que a Rede Asta oferece suporte técnico e administrativo

Fonte: Rede Asta [2014?]

O que foi possível identificar com a coleta e análise dos dados primários é que a principal capacitação que a Rede Asta realiza atualmente com os grupos de artesãos é relativa à precificação. É importante destacar que a organização menciona que seu grande foco no desenvolvimento dos grupos é para o desenvolvimento de produtos, o que será abordado neste trabalho em outra categoria analítica.

A capacitação para precificação é realizada pela Rede Asta para garantir que os produtos dos artesãos tenham um preço adequado ao que o consumidor espera pagar, bem como ao que o grupo produtivo espera receber. Com sua experiência e contato com os consumidores finais, a Rede Asta contribui para que os artesãos não sejam submetidos a condições comerciais desfavoráveis e tampouco para que não sejam estipulados preços altos que impeçam o produto de ser vendido. É importante mencionar que o preço não é imposto pela Rede Asta, mas sim definido em comum acordo com os grupos de artesãos a partir da visão de mercado que a Rede Asta possui. Isso faz com que a capacitação para precificação seja importante até mesmo para uma mudança de mentalidade dos grupos produtivos sobre como se posicionar frente aos clientes, não se

64% 36%

0%

restringindo apenas ao preço em si, mas envolvendo aspectos de negociação. Abaixo, as falas de Alice, G1E1 e C1 sintetizam a importância da capacitação de precificação que a Rede Asta oferece:

E a gente fala para ele “negocia, não abaixa a cabeça, você tem o poder do seu negócio, você sabe o seu preço. Então, mesmo sendo a Rede Asta, não deixa a nossa equipe te dizer o que falar que vai pagar, se você não pode alcançar esse valor, negocia com eles, até chegar no seu valor que você consegue pagar” (ALICE, [informação oral]).

Mas quando eu sinto a necessidade de “olha, eu não estou sabendo fazer esse preço por causa disso” automaticamente, muitas vezes, eles encaminham alguém para gente aqui ou a gente vai lá. Nem sempre eu tenho condições de levar o grupo inteiro. Mas eu também tenho mulheres que também não se interessam sobre o preço, mas eu tenho outras que sim, que para elas é interessante ter isso. Então, ou a gente vai na Rede Asta, ou a Rede Asta vem até a gente (G1E1, [informação oral]).

“Tudo bem, você fez um produto maravilhoso, mas com esse valor, não vai rolar”. Então eu acho que isso tem. Isso tem até uma troca... porque essa era uma preocupação muito grande minha assim. Quanto... quem que determina o preço que vai para o folheto? A Asta ou é o artesão? E o que eu ouvi é que é um acordo. Eles chegam num acordo comum (C1, [informação oral]).

Por fim, essa capacitação para a definição do preço se relaciona com a causa suportada pela Rede Asta, já que a organização defende no tripé econômico da sustentabilidade a presença de canais de venda com preços e margens justas, nos quais todos os participantes podem ganhar (REDE ASTA, 2012).

A síntese da análise da capacitação para precificação é: a) a maior parte dos grupos produtivos concorda que a Rede Asta oferece suporte técnico e administrativo; b) a principal capacitação oferecida pela Rede Asta é para a precificação dos produtos; c) os preços não são impostos pela Rede Asta, mas são determinados por um acordo e os grupos produtivos são estimulados a negociar, desenvolvendo capacidades dos artesãos; d) a capacitação para a definição do preço contribui para que todos os atores da cadeia possuam margens justas, ao passo em que o preço final ainda seja atrativo para o consumidor.

O fato da capacitação ser específica para a precificação dos produtos faz com que ela se relacione com um tema central do comércio justo, que é a definição do preço justo para todas as partes envolvidas.

O preço justo é comumente a primeira associação realizada ao conceito do comércio justo (LOW e DAVENPORT, 2005b). Sua importância diz respeito à maneira com a qual o produtor pode cobrir não somente os custos de produção como também seus custos de vida (WILLS, 2006),

e isso faz com que o pagamento do preço justo seja apontado como uma das atitudes esperadas dos compradores no princípio de ter o comércio justo como um contrato social (WFTO e FLO INTERNATIONAL, 2009). De maneira similar, no Brasil o pagamento de preço justo também é apresentado como uma das características do comércio justo e solidário pela SCJS (BRASIL, 2014).

Portanto, a capacitação da Rede Asta e o fato da organização não impor um preço aos artesãos, atende aos princípios e características do comércio justo ao passo em que integra o ganho competitivo de acesso à soluções.

Além disso, a capacitação está relacionada ao desenvolvimento dos grupos de artesãos, uma preocupação evidenciada pela Rede Asta. Esse desenvolvimento de capacidades e empoderamento dos produtores é um dos princípios do comércio justo apresentado pela WFTO e a FLO International (2009), segundo o qual as organizações devem contribuir para que os produtores tenham maior conhecimento do mercado e desenvolvam suas capacidades. O desenvolvimento das capacidades dos produtores também é mencionado pela WFTO e a FLO International (2009) no princípio de ter o comércio justo como um contrato social, bem como é citado por Wills (2006) como uma das características do comércio justo.

De forma a concluir esta análise, foi possível perceber que a Rede Asta se preocupa com o desenvolvimento de seus grupos produtivos e lhes capacita, neste caso especificamente para precificação dos produtos. Essa capacitação se relaciona diretamente com os princípios do comércio justo de desenvolvimento de capacidades e empoderamento, e de ter o comércio justo como contrato social. Além disso, o fato da capacitação ser especificamente para a precificação faz com que ela também seja relacionada a uma questão central do comércio justo, que é a definição de um preço justo e que garanta margens justas para todos os envolvidos na cadeia do

fair trade.

A partir das evidências, portanto, foi possível confirmar a relação teórica que foi estabelecida entre o ganho competitivo de acesso a soluções, caracterizado pelas capacitações, e o comércio justo. Pode-se acrescentar que, no caso estudado, ainda há a particularidade de relação com o pagamento de um preço justo pelos produtos.

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