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A redefinição da relação entre a agricultura, a indústria e os serviços

4. Actividades económicas e formação de classes

4.5. A redefinição da relação entre a agricultura, a indústria e os serviços

4.5.1. A análise da população activa de acordo com a sua divisão em sectores de actividade (primário, secundário e terciário) revela uma mudança de fundo na estrutura produtiva do país no período em análise. À escala nacional, há um declínio profundo da actividade económica na agricultura. Este declínio foi, contudo, compensado pelo crescimento do sector dos serviços, que duplica os valores dos seus activos e o seu significado no período considerado, e, num grau menor, pela criação de postos de trabalho na indústria.

A dramática redução da população activa na agricultura, que, em 2001, representava apenas 4,76% dos activos residentes em Portugal, é também visível na região do Vale do Sousa44. Se tivermos em conta que a agricultura detinha um papel central na actividade económica desenvolvida na região nos anos 1950, podemos clarificar o impacto da referida transformação: em 2001, a referida percentagem chega mesmo a ser menor do que a do país (2,45%). Um processo em tudo semelhante, e possivelmente ainda mais marcante nas suas implicações, devido ao facto de estarmos perante um concelho que, há cinquenta anos atrás,

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É conveniente ter em conta, todavia, que a classificação dos activos por sector de actividade apenas reflecte a actividade desempenhada a título principal. Sendo assim, eventuais situações de prática agrícola a tempo parcial, indutoras de maiores percentagens de emprego efectivamente afecto à agricultura não são tidas em consideração.

tinha mais de metade dos seus activos com ocupação agrícola, podemos também documentar em Penafiel (3,51%).

No que diz respeito ao sector secundário, o contraste entre o território nacional e a região do Vale do Sousa é muito marcante. O crescimento, à escala nacional, das profissões exercidas na indústria teve o seu período mais relevante entre 1950 e 1981 (atingindo, neste ano, quase 40% dos activos, a sua marca mais elevada de sempre). Na região do Vale do Sousa, o respectivo crescimento continuou até ao início dos anos 1990 e, mesmo no último Censo, a diferença entre a região e a taxa relativa ao território nacional era de quase 30 pontos percentuais. Se, em alguns dos concelhos da região, podemos identificar efectivos de activos na indústria superiores a dois terços da população activa, em alguns concelhos, como o de Penafiel, tais efectivos são menos expressivos, ainda que elevados (57%). É precisamente em Penafiel (e, bem assim, em Castelo de Paiva) que podemos identificar igualmente um padrão claro de especialização em ramos industriais como a construção (ou, até recentemente, a exploração mineira), em claro contraste com outros concelhos, que apresentam grande especialização nas indústrias do mobiliário (Paredes e Paços de Ferreira), do vestuário (Lousada) e do calçado (Felgueiras). Em qualquer dos casos, contudo, há sempre uma evidente especialização em actividades altamente dependentes de mão-de-obra pouco qualificada e de baixo custo, assim produzindo na região níveis muito elevados de vulnerabilidade, sobretudo em conjunturas de maior crise económica45.

As diferenças que podemos identificar no sector secundário podem também ser lidas a propósito do sector dos serviços. Entre 1950 e 2001, o exercício da actividade económica nos serviços duplicou o seu significado no país. O seu crescimento foi particularmente relevante durante os anos 1970. Na região em análise, este movimento não tem a mesma força. Penafiel também apresenta diferenças semelhantes neste processo, uma vez que é aqui que podemos identificar a taxa mais relevante de trabalho nos serviços, ainda que com uma diferença de 20 pontos percentuais relativamente ao valor médio nacional.

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Cf. Daniel Bessa (coord.), Programa de Recuperação de Áreas e Sectores Deprimidos – Relatório Final, Lisboa, Ministério da Economia/PRIME/FEDER, 2004, pp. 31-34 e 82-84.

Quadro 4.6 Evolução da população activa com profissão, segundo o sector de actividade e o sexo, no Continente, Vale do Sousa e Penafiel (1950-2001)

População Activa com Profissão (%)

1950 1960 1970 1981 1991 2001 H M T H M T H M T H M T H M T H M T Sector Prim. Continente 40,6 7,9 48,4 39,7 3,4 43,0 26,1 6,0 32,1 11,9 6,9 18,9 6,7 3,8 10,5 3,2 1,6 4,8 C. U. V. Sousa 39,7 6,7 46,3 34,5 3,4 37,9 Nd Nd Nd 8,6 7,0 15,6 4,8 2,5 7,3 1,4 1,0 2,5 Penafiel 45,4 6,3 51,7 43,0 3,1 46,2 Nd Nd 31,3 11,4 9,5 20,9 8,5 3,9 12,3 1,8 1,7 3,5 Sector Secund. Continente 19,5 5,5 25,0 24,2 5,5 29,7 25,34 8,4 33,8 29,6 9,7 39,4 26,4 12,2 38,6 24,6 11,0 35,6 C. U. V. Sousa 30,2 5,4 35,5 40,5 4,0 44,6 Nd Nd Nd 48,4 12,2 60,5 40,1 24,5 64,6 39,8 23,6 63,4 Penafiel 23,0 4,5 27,5 30,3 2,9 33,3 Nd Nd 43,0 41,4 5,8 47,2 35,2 18,7 53,9 38,5 18,1 56,6 Sector Terc. Continente 16,6 10,0 26,6 17,3 9,9 27,3 22,27 11,8 34,0 24,3 17,5 41,8 26,5 24,4 50,9 27,9 31,8 59,7 C. U. V. Sousa 10,3 7,9 18,1 10,2 7,3 17,5 Nd Nd Nd 14,8 9,0 23,8 17,6 10,5 28,1 17,6 16,6 34,26 Penafiel 12,2 8,6 20,8 12,9 7,7 20,6 Nd Nd 25,6 21,2 10,7 31,9 21,3 12,9 33,8 21,0 18,9 39,9

Fonte: INE – Portugal, IX, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1950-2001; cálculos próprios. Nd: Dados não disponíveis.

Quadro 4.7 Evolução da população activa com profissão, segundo o sub-sector da indústria transformadora, nos concelhos da Comunidade Urbana do Vale do Sousa (1981-2001)

População Activa com Profissão, segundo o Sub-Sector da Indústria Transformadora, por Concelho do Vale do Sousa (%)

1981 1991 2001 CP F L PF PRD PNF CP F L PF PRD PNF CP F L PF PRD PNF Alimentação 7 2 5 2 2 10 3 1 2 1 2 5 3 1 3 1 2 4 Têxtil 11 22 27 16 6 19 7 12 31 25 10 18 4 5 8 8 3 9 Vestuário 6 9 21 10 3 22 10 7 30 23 19 46 10 6 45 29 19 52 Calçado 1 49 6 0 0 1 32 70 15 1 1 1 42 76 15 1 1 1 Madeiras 43 4 5 3 6 8 24 2 2 2 4 4 10 2 3 3 5 5 Mobiliário 4 1 18 60 73 6 5 1 12 42 55 3 9 2 14 49 55 3 Metalurgia 10 8 10 5 3 9 9 4 4 4 3 4 7 3 5 4 4 4 Outros 18 6 8 4 7 25 10 3 4 3 5 19 14 5 7 5 11 22

Fonte: INE – Portugal, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1981-2001; cálculos próprios. Nota: CP: Castelo de Paiva; F: Felgueiras; L: Lousada; PF: Paços de Ferreira; PRD: Paredes; PNF: Penafiel. Nd: Dados não disponíveis.

Quadro 4.8 Evolução do peso das mulheres activas com profissão, segundo o sector de actividade, no Continente, Vale do Sousa e Penafiel (1981-2001)

Proporção de Mulheres Activas, segundo o Sector de Actividade (%)

Sector Primário Sector Secundário Sector Terciário

1950 1960 1970 1981 1991 2001 1950 1960 1970 1981 1991 2001 1950 1960 1970 1981 1991 2001

Continente 16,3 7,9 18,7 36,8 36,3 33,7 22,0 18,4 25,0 24,7 31,7 30,8 37,4 36,4 34,7 42,0 47,9 53,3

C. U. V. Sousa 14,4 9,0 Nd 44,8 34,1 42,3 15,1 9,1 Nd 20,1 38,0 37,3 43,3 41,7 Nd 37,7 37,3 48,6

Penafiel 12,2 6,8 Nd 45,3 31,3 48,0 16,2 8,8 Nd 12,3 34,7 32,0 41,4 37,5 Nd 33,6 38,3 47,3

Fonte: INE – Portugal, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1981-2001; cálculos próprios. Nd: Dados não disponíveis.

Tal como tivemos já ocasião de verificar, as transformações ocorridas neste período dizem também respeito ao crescimento da participação dos activos femininos na população activa. O referido crescimento, à escala nacional, começou em primeiro lugar com a participação das mulheres na agricultura, particularmente evidente nos anos 1960 e 1970. Nos anos 1980, este crescimento tocou a indústria, ainda que no quadro de um padrão não totalmente coerente desde então. Por outro lado, com o seu início nos anos 1970, a participação das mulheres nas actividades terciárias tem vindo a crescer continuadamente até ao momento. Na região do Vale do Sousa, há ainda diferenças significativas relativamente aos processos que se verificaram a nível nacional. O ponto mais relevante, sem dúvida, é a “explosão” da participação feminina na actividade económica na indústria nos anos 1980, sendo igualmente digno de nota a menor participação feminina nas actividades terciárias na última década, quando comparada com os valores nacionais para o mesmo indicador.

4.5.2. A substituição dos antigos padrões de especialização agrícola pelas ocupações na indústria foi feita, na região do Vale do Sousa, ao longo das últimas décadas, no quadro de um modelo de emprego pouco qualificado. Este modelo é especialmente evidente sempre que analisamos as qualificações da população activa.

Ainda que num movimento não tão forte quanto seria necessário, o país experimentou, ao longo dos últimos 50 anos, em termos gerais, um movimento de redução contínua dos altos níveis de analfabetismo e iliteracia que o caracterizavam, tendo-se assistido a um ganho correlativo de qualificações escolares de nível secundário e superior. Ainda assim, cerca de metade da população activa não tinha, em 2001, mais de 6 anos de educação formal – um

registo que subia significativamente até aos 72% na região do Vale do Sousa. Uma tal discrepância é uma boa ilustração de um dos mais sérios problemas do contexto regional em análise, visível também quando se verifica que apenas 11% da mesma população detém, pelo menos, um nível de educação secundário (29% à escala nacional) e que apenas 4% dos activos possuem um diploma de ensino superior (com as mulheres a deterem uma performance melhor do que os homens neste domínio específico, ainda que inferior, mais uma vez, à performance nacional média). A situação de Penafiel não diverge substancialmente da verificada no Vale do Sousa.

Quadro 4.9 Evolução da população activa, segundo o nível educativo, no Continente, Vale do Sousa e Penafiel (1950-2001)

População Activa (%)

1981 1991 2001

Continente Vale do

Sousa Penafiel Continente

Vale do

Sousa Penafiel Continente

Vale do

Sousa Penafiel

Não sabe ler nem

escrever 11,1 9,3 10,9 4,0 2,7 2,9 1,8 1,2 1,4 Menos de 4 anos 11,3 14,0 13,8 8,1 10,5 11,1 4,3 5,4 5,7 4 anos 44,2 57,7 56,2 36,8 48,2 44,5 26,1 36,8 34,2 A frequentar 1º CEB 0,1 0,2 0,1 0,2 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 Menos de 6 anos 3,0 2,7 2,3 3,6 3,4 3,4 3,3 3,4 3,6 6 anos 7,3 8,2 6,9 12,7 22,2 22,0 12,8 25,3 24,6 A frequentar 2º CEB 0,2 0,1 0,1 0,3 0,5 0,6 0,1 0,1 0,1 Menos de 12 anos 7,2 2,8 3,4 9,7 4,4 5,1 21,3 15,6 17,2 12 anos 8,0 2,6 3,1 12,5 4,7 5,2 12,0 6,0 6,2 A frequentar Ens. Secundário 1,1 0,4 0,5 2,0 1,0 1,2 1,6 0,8 0,9 Ensino médio/sup. incompleto 0,8 0,2 0,2 1,6 0,2 0,3 1,8 0,5 0,5 Ensino médio/sup. completo 5,3 1,9 2,3 7,6 1,7 3,2 11,8 4,0 4,6 A frequentar o ensino médio/sup. 0,5 0,1 0,1 1,0 0,2 0,3 3,0 0,9 1,0

Fonte: INE – Portugal, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1981-2001; cálculos próprios.