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4. Actividades económicas e formação de classes

5.5. População activa agrícola e população agrícola familiar

5.5.1. A dimensão de análise que, porventura, melhor ilustra as transformações verificadas na agricultura portuguesa ao longo do último meio século é a que diz respeito à evolução da população activa agrícola. Em 1950, o sector primário da economia ocupava quase 1 milhão e 600 mil portugueses, metade do total de activos empregados e quase um quinto da população residente. Meio século volvido, a população activa empregada no sector primário ascende a pouco mais de 230 mil indivíduos, valor correspondente a 5% dos activos empregados e 2,2% dos residentes no país.

O ritmo extremamente acelerado de decréscimo do número de activos empregados no sector primário de actividade económica diz bem do declínio da importância, absoluta e relativa, da agricultura no conjunto da economia portuguesa, constituindo, simultaneamente, um indicador eloquente das transformações sociais e classistas a que o nosso país assistiu ao longo das últimas décadas.

Fenómeno anterior a 1950, é a partir dessa data que o declínio do peso da agricultura na estrutura socioprofissional do país adquire maior visibilidade, acompanhando o aumento da intensidade dos fluxos emigratórios e do êxodo rural. Entre 1950 e 1960, a taxa de variação da população activa empregada no sector primário atinge, em termos nacionais, valores negativos próximos dos 8%. Não obstante, a matriz predominantemente agrícola das áreas menos urbanizadas do Noroeste mantém-se: no Tâmega, e se exceptuarmos alguns concelhos do Vale do Sousa, a diminuição dos activos agrícolas decorre a um ritmo inferior ao registado no território continental (-5,8%), mantendo-se a importância do emprego no sector primário de actividade económica em patamares superiores a 50% do emprego total. A situação destas áreas contrasta visivelmente com a das áreas mais urbanizadas, onde a actividade agrícola vê bastante circunscrita a sua já pouco significativa importância empregadora (entre 1950 e 1960, a população activa empregada no sector primário decresce, no Grande Porto, 23,4%, passando a corresponder a menos de 10% do total de activos empregados).

A extraordinária intensificação, nos anos 60, do êxodo rural e, mais ainda, dos movimentos emigratórios, aliada ao crescimento da importância dos sectores secundário e terciário, contribuirá para acentuar consideravelmente o esvaziamento dos campos e o correspondente declínio da importância da agricultura na estrutura socioprofissional do país. Entre 1960 e 1970, o número de activos agrícolas diminui mais de 30%: no final da década, o

sector primário passa a ocupar pouco mais de um milhão de portugueses e os indicadores parecem apontar para um inelutável declínio da actividade agrícola.

A década de 70 confirmará esta previsão. Apesar de ligeiramente mais brando do que aquilo que a evolução registada nos anos 60 faria prever, o decréscimo da população activa agrícola verificado entre 1970 e 1981 (taxas de variação rondando -26% no conjunto do país e -12% no Distrito do Porto e no Vale do Sousa) ocorrerá num contexto caracterizado por um extraordinário aumento dos níveis de actividade da população portuguesa, em resultado das transformações então operadas na economia nacional e da singular alteração das tendências de crescimento demográfico do país, esta última decorrente da inversão, depois de 1974, do padrão de migrações tradicionalmente deficitário do território continental (com o regresso de emigrantes e o retorno de um vasto contingente de indivíduos oriundos das ex-colónias).

Assim, enquanto o conjunto dos activos empregados aumentava – e muito, já que a população activa com profissão cresceu 22% entre 1970 e 1981 –, a evolução da população activa agrícola seguia em contraciclo, levando à diminuição da sua importância absoluta e, mais ainda, da sua importância relativa na estrutura de emprego nacional (os activos agrícolas passaram a corresponder, em 1981, a 19,2% do total de activos empregados, menos 12,5% do que em 1970). A agricultura não só perdia trabalhadores, como se mostrava incapaz de configurar uma alternativa minimamente atractiva para aqueles que, a bom ritmo, iam engrossando as fileiras da população activa empregada (ver Quadros 5.12 e 5.13 e rever o capítulo 4 deste Relatório, onde a evolução das taxas de actividade e emprego é analisada com maior profundidade).

As taxas de variação da população activa empregada no sector primário de actividade económica atingirão valores negativos ainda mais acentuados nos últimos vinte anos do século XX. Entre 1981 e 1991, o número de activos agrícolas diminui cerca de 40%. O declínio do emprego no sector primário é particularmente brusco no Tâmega (-47%), facto que denuncia o crescimento, na região, da importância empregadora dos sectores da indústria, construção e serviços e a progressiva convergência, no tocante ao peso da agricultura na emprego local, entre as áreas menos urbanizadas e as áreas mais urbanizadas do Noroeste Português. No Vale do Sousa, onde, na década de 1970, a população activa agrícola diminuíra a um ritmo mais moderado do que o registado no conjunto do país, o decréscimo do número de activos agrícolas rondará, nos anos 80, os 50%.

A última década do século XX prossegue, aprofundando-a, a tendência acima enunciada. No espaço de dez anos, a população activa agrícola portuguesa vê os seus efectivos reduzidos

a cerca de metade (de 445 mil indivíduos em 1991 para pouco mais de 230 mil indivíduos em 2001). A acelerada terciarização da economia nacional e a perda de rentabilidade da actividade agrícola, muito associada aos efeitos da integração europeia e da abertura dos mercados agrícolas, bem como da aplicação no nosso país da Política Agrícola Comum (que, entre outras medidas, limitou, através da imposição de quotas, diversas produções e apostou na distribuição de um conjunto significativo de incentivos à retirada de terras), explicam a diminuição generalizada do peso dos activos agrícolas no conjunto dos activos empregados, em 2001 situado já abaixo dos 5% em todas as unidades territoriais consideradas (Quadro 5.14).

Quadro 5.12 Evolução da população activa com profissão (1950-2001)

População Activa com Profissão (N.º) Variação da População Activa com

Profissão (%) 1950 1960 1970 1981 1991 2001 1950-1960 1960-1970 1970-1981 1981-1991 1991-2001 Portugal 3.196.482 3.315.639 3.163.855 3.848.727 4.115.900 4.646.955 3,7 -4,6 21,6 6,9 12,9 Continente 3.005.110 3.126.245 2.988.170 3.679.467 3.934.801 4.446.961 4,0 -4,4 23,1 6,9 13,0 Distrito do Porto 410.846 447.873 482.880 635.187 745.853 836.550 9,0 7,8 31,5 17,4 12,2 Grande Porto 298.489 327.277 Nd 469.410 536.010 595.261 9,6 Nd Nd 14,2 11,1 Tâmega 139.262 144.007 Nd 176.107 210.404 240.080 3,4 Nd Nd 19,5 14,1 Vale do Sousa 55.927 61.047 63.510 93.594 126.817 148.731 9,2 4,0 47,4 35,5 17,3

Com. Urb. Vale do Sousa 61.308 66.312 Nd 98.951 132.611 155.900 8,2 Nd Nd 34,0 17,6

Castelo de Paiva 5.381 5.265 Nd 5.357 5.794 7.169 -2,2 Nd Nd 8,2 23,7 Felgueiras 12.589 13.768 15.000 19.889 24.470 27.770 9,4 8,9 32,6 23,0 13,5 Lousada 8.458 9.216 9.155 13.719 20.261 21.752 9,0 -0,7 49,9 47,7 7,4 Paços de Ferreira 7.571 9.114 9.755 15.252 21.741 26.638 20,4 7,0 56,4 42,5 22,5 Paredes 11.953 13.426 15.035 23.012 31.810 40.400 12,3 12,0 53,1 38,2 27,0 Penafiel 15.356 15.523 14.565 21.722 28.535 32.171 1,1 -6,2 49,1 31,4 12,7

Fontes: INE – Portugal, IX, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1950-2001. Direcção Geral de Planeamento Urbanístico – Serviços Regionais do Norte, Plano de Ordenamento da Bacia do Vale do Sousa. Análise Demográfica (dados concelhios de 1970).

Quadro 5.13 Evolução da população activa com profissão no sector primário de actividade económica (1950-2001)

População Activa com Profissão no Sector Primário de Actividade (N.º)

Variação da População Activa com Profissão no Sector Primário (%)

1950 1960 1970 1981 1991 2001 1950- 1960 1960- 1970 1970- 1981 1981- 1991 1991- 2001 Portugal 1.569.120 1.445.017 1.002.850 737.875 445.627 231.646 -7,9 -30,6 -26,4 -39,6 -48,0 Continente 1.452.938 1.337.450 927.770 693.423 413.333 211.603 -7,9 -30,6 -25,3 -40,4 -48,8 Distrito do Porto 95.921 81.149 54.455 48.054 28.157 16.807 -15,4 -32,9 -11,8 -41,4 -40,3 Grande Porto 40.888 31.329 Nd 18.150 13.066 9.842 -23,4 Nd Nd -28,0 -24,7 Tâmega 82.982 78.178 Nd 49.942 26.471 12.013 -5,8 Nd Nd -47,0 -54,6 Vale do Sousa 25.593 22.808 15.760 13.912 7.067 3.516 -10,9 -30,9 -11,7 -49,2 -50,2

Com. Urb. V. Sousa 28.362 25.064 Nd 15.472 7.589 3.824 -11,6 Nd Nd -51,0 -49,6

Castelo de Paiva 2.769 2.256 Nd 1.560 522 308 -18,5 Nd Nd -66,5 -41,0 Felgueiras 5.561 5.406 4.472 3.724 1.656 851 -2,8 -17,3 -16,7 -55,5 -48,6 Lousada 4.140 4.041 2.578 2.000 1.160 558 -2,4 -36,2 -22,4 -42,0 -51,9 Paços de Ferreira 2.783 2.032 1.374 1.018 627 319 -27,0 -32,4 -25,9 -38,4 -49,1 Paredes 5.180 4.190 2.777 2.641 1.320 658 -19,1 -33,7 -4,9 -50,0 -50,2 Penafiel 7.929 7.139 4.560 4.529 2.304 1.130 -10,0 -36,1 -0,7 -49,1 -51,0

Fontes: INE – Portugal, IX, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1950-2001. Direcção Geral de Planeamento Urbanístico – Serviços Regionais do Norte, Plano de Ordenamento da Bacia do Vale do Sousa. Análise Demográfica (dados concelhios de 1970).

Nd: Dados não disponíveis.

Quadro 5.14 Peso dos activos agrícolas no conjunto da população residente e no conjunto da população activa com profissão (1950-2001)

Peso da População Activa com Profissão no Sector Primário no Conjunto da População Residente (%)

Peso da População Activa com Profissão no Sector Primário no Conjunto da População Activa com

Profissão (%) 1950 1960 1970 1981 1991 2001 1950 1960 1970 1981 1991 2001 Portugal 18,6 16,3 11,6 7,5 4,5 2,2 49,1 43,6 31,7 19,2 10,8 5,0 Continente 18,5 16,1 11,4 7,4 4,4 2,1 48,3 42,8 31,0 18,8 10,5 4,8 Distrito do Porto 9,1 6,8 4,1 3,1 1,7 0,9 23,3 18,1 11,3 7,6 3,8 2,0 Grande Porto 5,5 3,7 Nd 1,6 1,1 0,8 13,7 9,6 Nd 3,9 2,4 1,7 Tâmega 20,2 17,7 Nd 9,9 5,1 2,2 59,6 54,3 Nd 28,4 12,6 5,0 Vale do Sousa 15,8 12,2 7,4 5,4 2,5 1,1 45,8 37,4 24,8 14,9 5,6 2,4 C.. Urb. V. Sousa 16,0 12,2 Nd 5,6 2,6 1,2 46,3 37,8 Nd 15,6 5,7 2,5 Castelo de Paiva 17,8 12,7 Nd 9,2 3,2 1,8 51,5 42,8 Nd 29,1 9,0 4,3 Felgueiras 16,7 13,9 10,7 7,8 3,2 1,5 44,2 39,3 29,8 18,7 6,8 3,1 Lousada 16,6 14,5 8,1 5,3 2,7 1,2 48,9 43,8 28,2 14,6 5,7 2,6 Paços de Ferreira 12,9 7,4 4,1 2,5 1,4 0,6 36,8 22,3 14,1 6,7 2,9 1,2 Paredes 14,3 9,7 5,2 3,9 1,8 0,8 43,3 31,2 18,5 11,5 4,1 1,6 Penafiel 17,3 14,3 8,5 7,0 3,4 1,6 51,6 46,0 31,3 20,8 8,1 3,5

Fontes: INE – Portugal, IX, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1950-2001. Direcção Geral de Planeamento Urbanístico – Serviços Regionais do Norte, Plano de Ordenamento da Bacia do Vale do Sousa. Análise Demográfica (dados concelhios de 1970).

5.5.2. O caso do Vale do Sousa é paradigmático dos efeitos do duplo fenómeno de crescimento geral do emprego e decréscimo do emprego agrícola na reformulação da estrutura socioprofissional. Combinando quase sempre fortes aumentos do número de activos empregados e ainda mais intensas diminuições do número de activos agrícolas, o Vale do Sousa constitui um exemplo acabado do notável processo de convergência entre regiões a que o território nacional tem vindo a assistir ao longo das últimas décadas, isto no que respeita à importância empregadora da agricultura.

Se, por exemplo, quisermos comparar a evolução registada no Vale do Sousa com a evolução registada no Grande Porto, veremos que o número de activos agrícolas residentes naquela sub-região do Tâmega correspondia, em 1950, a cerca de 46% do total de activos empregados, valor que, no Grande Porto, se quedava já abaixo dos 14%. Cinco décadas volvidas, a situação deste indicador não difere muito nos dois territórios: 2,4% no Vale do Sousa, 1,7% no Grande Porto (Quadro 5.14).

Entre os múltiplos factores na base desta tão rápida transformação da estrutura de emprego do Vale do Sousa encontraremos seguramente o desenvolvimento da indústria e do sector da construção e obras públicas, o declínio da atractividade da actividade agrícola (sobretudo enquanto actividade principal, mas também enquanto actividade complementar da profissão principal, como veremos mais à frente) e a entrada em força das mulheres no mercado de trabalho (fenómeno que, entre outras consequências, terá encontrado tradução na quebra acentuada da mão-de-obra agrícola familiar não remunerada).

Longe de configurar uma situação divergente da situação detectada na região envolvente e no conjunto do país, o caso de Penafiel segue aproximadamente as tendências gerais enunciadas nos parágrafos anteriores.

Tendo partido de patamares idênticos aos observados no território continental, o concelho assistirá, ao longo da segunda metade do século XX, a uma quebra da importância dos activos agrícolas em tudo semelhante à registada no país. Em bom rigor, o decréscimo do número de activos agrícolas residentes em Penafiel foi até ligeiramente mais intenso do que o decréscimo verificado no plano nacional, isto se pensarmos que, no concelho, o peso dos activos empregados no sector primário de actividade económica correspondia, em 2001, a apenas 3,5% do total de activos empregados, valor que ascendia a 5% no conjunto do país (em 1950, a mesma proporção superava em 2,5 pontos percentuais a cifra nacional).

Um aspecto da evolução da população activa agrícola no concelho de Penafiel merece, entretanto, atenção mais detalhada.

Referimo-nos à importância histórica da agricultura na estrutura socioprofissional penafidelense, atestada aqui pelo peso que a actividade agrícola assumia no emprego concelhio em meados do século passado e pela “resistência”, superior à observada nos concelhos vizinhos do Vale do Sousa (excluindo Castelo de Paiva), oferecida pela agricultura local ao fenómeno de quebra da relevância da respectiva importância empregadora.

Na década de 1970, lembre-se, Penafiel consegue mesmo “segurar” quase toda a sua população activa agrícola, cujo peso na estrutura de emprego concelhia decai exclusivamente por força do extraordinário aumento do número total de activos empregados então registado (decorrente do intenso crescimento natural e do inédito sentido positivo do saldo migratório concelhio).

À época dos primeiros trabalhos sobre Fonte Arcada, a população activa agrícola penafidelense correspondia ainda a um quinto do total de activos empregados, ao passo que em Paredes ou Paços de Ferreira esse valor não ultrapassava 11,5% e 6,7%, respectivamente, reflectindo a preponderância, nestes concelhos, do emprego no sector industrial, bastante menos desenvolvido em Penafiel.

Só depois dessa data retomará Penafiel o processo – bastante mitigado nos anos 70 – de convergência relativamente aos valores regionais, fenómeno que acompanhará a progressiva alteração da estrutura de emprego concelhia, na qual passam a assumir protagonismo incontestado as actividades do sector secundário (sobretudo as actividades relacionadas com a construção e obras públicas) e do sector terciário (que, em 2001, ocupava já 40% da população activa empregada residente em Penafiel). A convergência com o padrão de ocupações característico do Vale do Sousa não impediu, todavia, que a importância relativa da agricultura permanecesse, em Penafiel, ligeiramente superior à observada nos concelhos vizinhos, como comprovam os dados relativos a 2001 (Quadro 5.14 e Figura 5.5).

Figura 5.5 Evolução do peso dos activos agrícolas na população activa com profissão (1950-2001) 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 1950 1960 1970 1981 1991 2001 Portugal Distrito do Porto Grande Porto T âmega Vale do Sousa Penafiel

Fonte: INE – Portugal, IX, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1950-2001.

5.5.3. Uma caracterização mais fina da evolução da população activa com profissão no sector primário de actividade, tendo por referência o período posterior à realização dos trabalhos originais sobre Fonte Arcada, revela-nos, para além do intenso declínio do peso absoluto e relativo dos activos agrícolas, sobre o qual reflectimos nos pontos anteriores, uma importante e relativamente acelerada transformação da composição interna deste segmento da população activa em todas as unidades territoriais consideradas para análise.

Quadro 5.15 População activa agrícola, segundo a situação na profissão (1981-2001)

Activos com Profissão no Sector Primário de Actividade Económica (%)

1981 1991 2001 Patrões Isolados Conta de Outrem Fam. Não Remun.

Outras Patrões Isolados

Conta de Outrem Fam. Não Remun.

Outras Patrões Isolados

Conta de Outrem Fam. Não Remun. Outras Portugal 1,3 48,3 38,0 11,1 1,2 6,1 48,1 35,5 9,6 0,7 23,3 24,3 44,9 6,7 0,8 Continente 1,3 48,3 37,9 11,2 1,3 6,2 47,8 35,4 9,8 0,8 23,6 23,3 45,7 6,7 0,8 Distrito do Porto 1,8 45,6 33,7 18,5 0,5 9,2 41,6 37,7 10,9 0,6 26,4 17,5 49,2 6,0 0,9 Grande Porto 3,6 41,1 44,1 10,5 0,7 11,2 32,6 47,0 8,5 0,7 28,6 10,7 53,8 6,4 0,6 Tâmega 0,5 46,7 29,3 23,2 0,2 7,3 46,5 31,4 14,2 0,7 23,4 26,7 39,0 9,8 1,0 Vale do Sousa 0,8 45,8 28,4 24,6 0,4 7,7 50,9 28,6 12,3 0,5 22,2 29,6 41,2 5,4 1,7 Com. Urb. Vale do Sousa 0,7 45,9 28,2 24,8 0,4 7,6 50,0 28,9 13,0 0,5 21,9 29,0 41,6 5,9 1,7 Castelo de Paiva 0,5 46,4 25,6 27,2 0,3 6,1 37,9 33,0 22,4 0,6 19,2 22,7 45,8 11,4 1,0 Felgueiras 0,3 48,0 24,2 27,0 0,5 7,5 51,3 33,6 7,1 0,5 30,2 31,7 32,0 2,9 3,2 Lousada 1,0 45,1 32,3 21,4 0,3 8,4 55,6 27,7 8,0 0,3 25,4 28,9 37,6 7,2 0,9 Paços de Ferreira 1,4 52,2 32,2 13,4 0,9 4,8 52,8 28,5 13,1 0,8 18,2 33,9 44,2 3,4 0,3 Paredes 0,9 51,2 24,1 23,3 0,4 8,0 50,2 25,5 15,3 1,0 20,2 34,7 38,8 4,3 2,2 Penafiel 0,8 39,8 31,9 27,2 0,4 8,1 48,1 27,3 16,2 0,3 16,8 24,2 50,4 7,6 1,0

Fonte: INE – Portugal, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1981-2001.

Quadro 5.16 População activa agrícola, segundo o grupo socioeconómico (1981-2001)

Activos com Profissão no Sector Primário de Actividade Económica (%)

1991 2001 Empres. Agrícolas Pequenos Patrões Agrícolas Agricult. Independ. Assalar. Agrícolas Trab. Agrícolas Não Qual. Empres. Sector Primário Pequenos Patrões Sector Primário Trab. Indep. Sector Primário Assalar. Sector Primário Trab. Não Qual. do Sector Primário Portugal 1,5 5,5 56,2 21,4 15,4 0,8 8,6 50,3 40,1 0,3 Continente 1,5 5,6 56,2 20,5 16,2 0,8 8,6 50,0 40,3 0,3 Distrito do Porto 1,7 8,3 50,4 34,2 5,4 1,3 8,8 39,3 50,4 0,2 Grande Porto 2,4 9,5 39,4 45,1 3,6 1,7 10,9 32,5 54,6 0,3 Tâmega 1,1 7,0 59,1 27,2 5,6 0,4 5,1 53,5 40,9 0,1 Vale do Sousa 1,0 7,4 60,6 24,4 6,7 0,5 4,6 51,1 43,6 0,3 Com. Urb. Vale do Sousa 1,1 7,3 60,4 24,8 6,4 0,5 4,6 50,2 44,5 0,3 Castelo de Paiva 3,6 5,7 58,3 29,9 2,5 0,3 5,0 41,1 52,8 0,8 Felgueiras 0,4 7,3 58,4 28,9 5,0 0,7 6,4 61,2 31,4 0,2 Lousada 1,4 8,1 61,9 23,7 5,0 0,5 5,9 52,2 40,8 0,5 Paços de Ferreira 1,3 4,1 63,2 20,1 11,3 0,0 5,5 44,4 49,6 0,6 Paredes 1,6 7,4 61,6 24,2 5,1 0,0 3,3 50,8 45,6 0,3 Penafiel 0,7 8,0 60,1 22,8 8,4 0,7 2,9 45,0 51,3 0,1

A leitura das alterações ocorridas entre 1981 e 2001 na distribuição dos activos empregados no sector primário de actividade segundo a respectiva situação na profissão (Quadro 5.15) e segundo o grupo socioeconómico (Quadro 5.16) parece possibilitar a enunciação de três grandes tendências de recomposição da organização socioprofissional interna deste grupo.

A primeira, particularmente relevante, diz respeito à intensificação do processo de assalariamento da população activa agrícola portuguesa. De acordo com os dados recolhidos, relativos aos Recenseamentos Gerais da População de 1981, 1991 e 2001, o peso dos trabalhadores por conta de outrem face ao total dos activos empregados no sector primário de actividade económica terá passado, no plano nacional, de 38%, em 1981, para 45%, em 2001. A progressão do processo de assalariamento deste subconjunto da população activa tem sido particularmente intensa no Noroeste do país, já que tanto o Grande Porto como o Tâmega vêem crescer o peso dos assalariados agrícolas a um ritmo superior ao registado no conjunto do território português (de 44,1%, em 1981, para 53,8%, em 2001, e de 29,3, em 1981, para 39,0%, em 2001, respectivamente no Grande Porto e no Tâmega).

No Vale do Sousa, o crescimento da importância relativa dos assalariados agrícolas acompanha aproximadamente a evolução registada na envolvente regional, ainda que com variações significativas de concelho para concelho. No caso de Penafiel, o peso dos trabalhadores por conta de outrem no conjunto dos activos empregados no sector primário aumenta quase 20 pontos percentuais, passando de 31,9%, em 1981, para 50,4%, em 2001. A intensificação do processo de assalariamento dos activos agrícolas residentes em Penafiel é particularmente brusca após 1991, já que, até então, o número de trabalhadores agrícolas por conta de outrem vinha decaindo ligeiramente.

A tendência de crescimento da proporção de assalariados no conjunto dos trabalhadores do sector primário de actividade económica tem sido acompanhada de uma outra tendência igualmente merecedora de destaque, a saber, a da progressiva diminuição da importância dos trabalhadores familiares não remunerados. Trata-se de uma tendência a que, de resto, fizemos já referência neste Relatório, quando nos debruçámos sobre a evolução geral da população activa (rever capítulo 4).

De acordo com os Recenseamentos da População levados a cabo entre 1981 e 2001, a proporção de trabalhadores familiares não remunerados terá passado, no nosso país, de 11,1% para 6,7% do total de activos empregados no sector primário.

No Noroeste do país – sobretudo nos territórios de matriz rural, mas caracterizados por processos de industrialização e urbanização difusa, como é o caso do Vale do Sousa, onde, durante muito tempo, as lógicas de divisão do trabalho no interior das famílias camponesas, desde lodo, e a pluriactividade, depois, fizeram dos trabalhadores familiares não remunerados uma categoria socioprofissional agrícola particularmente relevante (garante da concretização de muitas das tarefas agrícolas quotidianas e da manutenção de muitas explorações) –, o declínio da importância desta categoria de activos agrícolas é ainda mais acentuado. Em vinte anos, o peso dos trabalhadores familiares não remunerados no conjunto dos cinco concelhos que compõem o território a que tradicionalmente se atribui a designação de Vale do Sousa passou de 24,6% para 5,4% do total de activos empregados na agricultura, o que diz bem da extensão do abandono da actividade agrícola por parte, desde logo, das gerações mais jovens (que “fogem dos campos” ou, neles permanecendo, deixam de fazer da colaboração nos trabalhos agrícolas domésticos a sua profissão, optando pelo emprego nos sectores secundário e terciário, com ou sem manutenção de ligação, a tempo parcial, à agricultura), mas também das mulheres, cuja entrada em força no mercado de trabalho, em especial nas duas últimas décadas, veio certamente contribuir para a redução significativa do contingente de mão-de- obra agrícola familiar não remunerada77.

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De acordo com os resultados do Recenseamento Geral da População de 1960, o número de “domésticas agrícolas” ascenderia, nesse ano, no conjunto do país, a perto de 365 mil. À época, esta categoria correspondia a uma “ocupação” e não a uma “profissão”. O desaparecimento desta categoria de trabalhadores agrícolas ilustra, entretanto, as importantes transformações ocorridas ao nível da participação feminina no mundo do trabalho e as consequências do fenómeno na transformação da composição interna do grupo dos activos empregados no sector agrícola.

Figura 5.6 Evolução do peso dos assalariados e dos trabalhadores familiares não remunerados no conjunto dos activos agrícolas (1981-2001)

Trabalhadores por Conta de Outrem

20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0 55,0 60,0 1981 1991 2001

Portugal Distrito do Porto Grande Porto

Tâmega Vale do Sousa Penafiel

Trabalhadores Familiares Não Remunerados

4,0 8,0 12,0 16,0 20,0 24,0 28,0 1981 1991 2001

Portugal Distrito do Porto Grande Porto Tâmega Vale do Sousa Penafiel

Fonte: INE – Portugal, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1981-2001.

As tendências de intensificação do assalariamento agrícola e de diminuição do peso dos trabalhadores familiares não remunerados no conjunto dos activos empregados no sector primário estão, todavia, longe indiciar o fim do predomínio da mão-de-obra de tipo familiar na agricultura portuguesa. De acordo com o Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas de 2005, recentemente publicado pelo INE, as famílias dos produtores continuam a fornecer cerca de 82% da mão-de-obra agrícola total (89% no Entre Douro e Minho), valor pouco abaixo do registado há uma década atrás (87% no conjunto do país, segundo o Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas de 1995).

Como explicar, então, esta aparente contradição? Até certo ponto, os dados apresentados nos Quadros 5.15 e 5.16 poderiam levar-nos a considerar um cenário em que o movimento de modernização e relativa empresarialização da agricultura portuguesa estaria a conduzir a uma dualização dos processos de estruturação de classe no interior do grupo dos activos com ligação à agricultura, com assalariamento de isolados incapazes de competir no mercado com as unidades mais modernas e de maior dimensão física e económica78 e, por outro lado, com acesso de alguns agricultores independentes com capacidade de investimento e maior adaptabilidade às novas condições de funcionamento do designado “complexo agro-florestal”

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Poderia até ter-se verificado um reforço da formalização das relações laborais no seio das explorações, com a passagem das condições de isolado (no caso dos rendeiros, por exemplo) ou de trabalhador familiar não remunerado à condição de assalariado...

ao estatuto de empresários ou pequenos patrões agrícolas – o que explicaria também a terceira