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2. Enquadramento demográfico e processos de urbanização

2.3. Equilíbrio entre sexos

2.3.1. Quando se analisa a evolução da sociedade portuguesa no seu conjunto, na perspectiva do equilíbrio entre sexos, nada de muito específico há a assinalar.

De facto, como é comum a muitos outros países, tem-se verificado persistentemente entre nós sobremasculinidade nos nascimentos (que se repercute em índices de masculinidade superiores a 100 nos grupos etários jovens) e sobremortalidade masculina (que, por seu turno, se traduz numa redução da relação de masculinidade à medida que se sobe na hierarquia dos escalões etários – sobreenvelhecimento feminino).

Refira-se, entretanto, que a segunda metade do século XX assistiu a um ligeiro reforço do equilíbrio entre sexos em todas as unidades territoriais analisadas, fenómeno certamente não alheio, entre outros factores, à diminuição da mortalidade masculina (com o correspondente aumento da esperança média de vida dos homens) e às transformações do fenómeno emigratório (tradicionalmente protagonizado maioritariamente pelos adultos e adultos jovens do sexo masculino).

Quadro 2.19 Equilíbrio entre sexos, por grupos etários, em Portugal e no Continente (1950-2001)

Equilíbrio entre Sexos nos Jovens (0-19 anos)

Equilíbrio entre Sexos nos Adultos (20-64 anos)

Equilíbrio entre Sexos nos Idosos (65 e + anos)

1950 1960 1970 1981 1991 2001 1950 1960 1970 1981 1991 2001 1950 1960 1970 1981 1991 2001

Portugal 102,7 101,9 101,2 103,5 104,0 104,6 90,1 89,6 88,3 92,6 93,8 95,9 64,8 65,5 66,5 68,3 71,0 71,9

Continente 102,7 102,0 101,3 103,7 104,1 104,6 90,1 89,9 88,5 92,9 94,0 96,0 64,7 65,4 66,3 68,3 71,1 72,2

Fonte: INE – Portugal, IX, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1950-2001; cálculos próprios.

Nota: Os valores de população por grupo etário relativos a 1950 dizem respeito à população presente e não à população residente. Os valores concelhios de população residente relativos a 1970 referem-se apenas à “população residente nas famílias” (excluem, por isso, a “população residente nas convivências”).

Índice de Masculinidade = [(Pop. Residente do Sexo Masculino/Pop. Residente do Sexo Feminino)*100].

2.3.2. Algumas particularidades devem ser assinaladas, ao passarmos para a escala regional e concelhia.

Assim, há que registar o facto de, nos anos 50, 60 e 70, a sobremasculinidade nos escalões jovens (0-19 anos) ser sempre significativamente mais elevada em Penafiel do que no Continente e no Distrito do Porto.

No estudo sobre Fonte Arcada realizado em finais da década de 70, avançou-se, a este respeito, uma interpretação segundo a qual seriam as saídas de jovens do sexo feminino para trabalhar no espaço urbano do Porto como empregadas domésticas (as “criadas”) que contribuiriam para o empolamento dos índices de masculinidade nestes níveis etários. A ser correcta tal interpretação, a aproximação, em anos posteriores, aos valores médios do Distrito e do Continente significará, então, além do mais, que o movimento deixou de ter incidência significativa no concelho.

Já no grupo etário dos adultos (20-64 anos), verifica-se, em Penafiel, que, a um défice masculino extremamente acentuado, em 1950, sucedem, nas décadas seguintes, défices cada vez mais reduzidos, até se chegar, em 1970, a uma situação em que o índice de masculinidade é já superior aos do Distrito e do Continente.

Não parecendo, na altura, plausível que tal inflexão se tivesse ficado a dever a um decréscimo do fluxo de migrações definitivas de adultos do sexo masculino, avançou-se a interpretação de que seria a participação crescente das mulheres nesses mesmos fluxos o factor explicativo a ter em conta. A verdade é que, desde então, o défice masculino no concelho tem sido sistematicamente menos acentuado do que o verificado às escalas distrital e do Continente, o que, prolongando a interpretação anterior, significaria ter-se entrado num ciclo prolongado de migrações definitivas em que as mulheres passam a estar bastante presentes. Mas outras interpretações são legítimas: é possível, por exemplo – como no estudo anterior já se admitia –, que a evolução dos contornos das áreas de endogamia na região explique, pelo menos parcialmente, tal fenómeno.

Quadro 2.20 Equilíbrio entre sexos, por grupos etários (1950-2001)

Equilíbrio entre Sexos nos Jovens (0-19 anos)

Equilíbrio entre Sexos nos Adultos (20-64 anos)

Equilíbrio entre Sexos nos Idosos (65 e + anos) 1950 1960 1970 1981 1991 2001 1950 1960 1970 1981 1991 2001 1950 1960 1970 1981 1991 2001 Continente 102,7 102,0 101,3 103,7 104,1 104,6 90,1 89,9 88,5 92,9 94,0 96,0 64,7 65,4 66,3 68,3 71,1 72,2 Dist. Porto 101,2 101,6 101,8 103,8 104,2 104,6 84,4 85,5 86,9 92,1 93,8 95,1 53,0 54,4 58,0 64,5 64,3 67,7 Grande Porto 98,9 99,9 100,7 103,3 104,1 104,9 83,8 83,8 85,4 91,0 92,6 93,9 47,8 50,5 55,4 56,7 61,9 65,7 Tâmega 104,8 104,7 104,3 104,5 104,3 104,4 86,3 88,9 90,0 94,8 97,0 98,4 65,4 65,7 69,1 70,4 73,7 74,9 Vale do Sousa 104,9 105,8 105,1 105,3 104,7 104,7 87,0 91,3 92,7 97,2 97,8 98,8 63,0 64,0 64,9 67,7 71,6 74,9 Com. Urbana Vale do Sousa 105,0 105,8 104,9 105,2 104,6 104,5 87,3 91,5 93,0 97,2 97,9 98,9 62,7 64,0 64,7 68,0 71,6 74,8 Castelo de Paiva 106,1 105,5 101,3 103,6 101,9 101,0 89,9 93,0 97,6 97,3 100,7 100,9 58,9 64,5 62,6 71,7 71,7 73,9 Felgueiras 105,0 103,1 100,0 103,6 103,4 102,9 85,8 89,7 87,9 93,9 94,4 95,2 59,6 63,9 60,1 69,1 72,6 74,9 Lousada 106,5 108,9 102,6 104,7 104,3 104,5 87,4 91,2 93,1 96,7 96,1 97,9 65,0 65,0 64,4 65,7 72,7 75,8 Paços de Ferreira 105,5 107,2 107,2 107,6 107,0 106,9 88,9 98,0 97,1 97,5 98,4 102,7 64,9 64,2 77,0 68,6 69,0 75,5 Paredes 103,2 106,3 108,9 105,6 104,7 104,8 90,3 93,2 95,3 99,7 100,7 98,8 58,0 65,6 57,9 68,6 72,1 75,7 Penafiel 105,0 105,1 105,6 105,2 104,6 104,7 84,4 87,6 90,9 97,4 98,0 99,2 67,1 62,4 68,6 66,5 71,3 73,4

Fonte: INE – Portugal, IX, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População, 1950-2001; cálculos próprios.

Nota: Os valores de população por grupo etário relativos a 1950 dizem respeito à população presente e não à população residente. Os valores concelhios de população residente relativos a 1970 referem-se apenas à “população residente nas famílias” (excluem, por isso, a “população residente nas convivências”). Índice de Masculinidade = [(Pop. Residente do Sexo Masculino/Pop. Residente do Sexo Feminino)*100].

Da análise do comportamento deste fenómeno nas duas últimas décadas, uma das principais conclusões a retirar é a de que, no segmento juvenil (0 a 19 anos, neste caso), o andamento dos índices de masculinidade característico do Vale do Sousa e de Penafiel aproxima-se muito do perfil característico do Continente, retirando fundamento à manutenção da interpretação, que, como vimos, foi utilizada para justificar a sobremasculinidade dos escalões jovens nas décadas de 50, 60 e 70, segundo a qual tal desequilíbrio se deveria a um fluxo de saídas de jovens do sexo feminino para trabalharem como empregadas domésticas no Grande Porto.

Entretanto, não deixa de ser interessante notar que, nas últimas décadas, se tenha assistido à transferência de um diferencial de sinal e proporções idênticas ao que agora mesmo invocámos para o conjunto dos indivíduos com idades compreendidas entre 20 e 64 anos. Tal circunstância fez com que, em Penafiel, se atingisse, em 2001, um índice próximo de 100 – francamente ultrapassado, aliás, no concelho de Paços de Ferreira (102,7).

Nos parágrafos anteriores, apontámos possíveis explicações para a relativa sobremasculinidade no segmento dos adultos do Vale do Sousa que recentemente se vem verificando: consolidação de um ciclo longo de migrações definitivas com participação

significativa de mulheres e saída regular de mulheres em função das lógicas regionais da conjugalidade. Os números relativos a mudanças de residência recentes na região, que analisámos no ponto 2.1.4., ao revelarem, para Penafiel, saídas de mulheres em número superior ao dos homens, permitem não afastar, por ora, esta interpretação.

2.4. O concelho de Penafiel, no contexto dos processos de urbanização do Noroeste