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acompanhamento dos projetos financeiros que dão sustentação ao MST Esse setor é notadamente aquele que fica mais exposto à opinião pública, visto que alguns setores sociais,

1.4 A reforma agrária possível na versão do MST

“Agora nós vamos pra luta/ A terra que é nossa ocupar/ A terra é pra quem nela trabalha A história não falha nós vamos ganhar. Já chega de tanto sofrer,

Já chega de tanto esperar A luta vai ser tão difícil/

Na lei ou na marra nós vamos ganhar”.

Hino da Reforma Agrária

Se o processo de colonização inicial não se deu de forma tranqüila, uma vez que os

brasileiro.

colonizadores tiveram que exterminar os povos que habitavam esta terra, a posse da mesma nos últimos tempos também tem se tornado traumática para a maioria da população brasileira, exigindo grande luta do povo por sua permanência na terra ou para seu retorno a ela.

A defesa da terra se dá, portanto, num processo de lutas, que ganha nova conotação com o advento da migração interna ocorrida a partir da segunda metade deste século (mais acentuadamente após 1964), pois havia nesse período um consenso entre a burguesia nacional e os militares no poder de que era necessário abrir novas fronteiras agrícolas como forma de manutenção da atual estrutura agrária.

No período da ditadura militar, (1964-1985), o País sofreu com problemas decorrentes das pequenas safras agrícolas, que contrastavam com a existência de grandes áreas desabitadas no interior do país, convivendo ainda, com o agravamento da crise em torno da pequena propriedade na região sul do Brasil, o que impossibilitava a redistribuição das terras para os filhos dos colonos que constituíam novas famílias.

Os militares viam no norte do país importante área de desbravamento, sobretudo com a abertura das grandes rodovias como a Transamazônica e a Belém/Brasília e, nisto, a possibilidade de desenvolvimento da região, de abrandamento dos conflitos e de deslocamento das lutas pela posse da terra.

Sob o lema “INTEGRAR PARA NÃO ENTREGAR”, os governos militares impulsionaram nova distribuição de terras na região Amazônica, vendo nisso a oportunidade de destinar “homens sem terra para uma terra sem homens” (Fernandes 1996:34), sobretudo na forma de latifúndios entregues a grandes grupos nacionais e estrangeiros (principalmente madeireiras e mineradoras), que se encarregaram de expulsar da região os posseiros e, com a exploração intensiva de madeiras e minérios, de destruir as florestas da região, agravando ainda mais a situação de conflitos pela posse da terra.

Esses conflitos ampliaram-se no final dos anos 70 e início dos anos 80, transformando a região amazônica em local de permanente conflito que, segundo Gorender, ocorrem por conta do “avassalamento das novas áreas de fronteira agrícola pelo grande capital nacional e

interesse numa reforma agrária feita para transformar a atual estrutura fundiária” (Gorender,

1994:41).

Essa situação de conflitos, gerada pelo aparecimento do “novo capital”, tornou a situação insustentável para os posseiros daquela região, até que algumas entidades, sobretudo a Igreja católica, começaram a se mobilizar em defesa dos povos da floresta.

É nesse processo de conflitos e lutas pela posse da terra, que se tornou importante a atuação de movimentos organizados, primeiro em defesa dos povos indígenas e dos povos da floresta e, posteriormente, na defesa da ocupação da terra como forma de reivindicar a redistribuição da propriedade, possibilitando a democratização do acesso à terra entre aqueles que dela foram de alguma forma alijados.

A partir desse momento de lutas concretas do homem do campo em defesa da floresta, como possibilidade de vida e da terra como espaço para a reprodução dos seus meios de subsistência, é que nasceu o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra naquela região. Esse Movimento surgiu no seio de uma linha pastoral da igreja, a CPT (Comissão Pastoral da Terra), que era um dos poucos espaços de discussão dos trabalhadores rurais naquele período.

A partir da década de 70, houve grande modernização do campo brasileiro, no que diz respeito à sua industrialização e expansão de fronteiras agrícolas. Entretanto, apesar desses “avanços”, há ainda problemas não resolvidos para a agricultura no sistema capitalista.

Dentre todos os problemas da agricultura capitalista, além daqueles decorrentes da lei geral de acumulação, os principais resultam das peculiaridades da produção extrativista e agrícola que são impossíveis de se eliminar, visto que a terra constitui-se num recurso limitado e insubstituível, principalmente no que diz respeito à extensividade e renovabilidade do uso do solo.

Mesmo contando com a possibilidade de expansão das áreas agricultáveis e com recursos que muitas vezes estão indisponíveis para os pequenos agricultores, os conflitos só tendem a aumentar, principalmente enquanto um grupo de fazendeiros parasitários, assim considerados por utilizarem a terra com objetivo de especulação, continuarem como proprietários da maior parte do território nacional.

para os princípios de uma nova relação homem/natureza, de forma a preservar o sistema ecológico e, ao mesmo tempo, fazer da terra um bem maior, em busca da garantia dos meios de alimentação e da sobrevivência do homem.

Desse modo, o MST entende ser necessário rever o processo de distribuição de terras que gerou esse sistema que perdura até nossos dias, sem que jamais tenha ocorrido uma Reforma Agrária.

O MST tem desenvolvido algumas formas de cooperação agrícola que entende ser de cunho socialista, pois acredita que este é o caminho para o desenvolvimento de uma sociedade democrática e igualitária. O problema é que os assentamentos promovidos pelos governos estaduais e federal tem se dado, com raras exceções, como propriedade individual, o que de certa forma contribui para reforçar ainda mais o sistema capitalista. É esse sentido que explicita o pensamento de Gorender, segundo o qual

“... a gênese do capitalismo no campo reside fundamentalmente na