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“Queremos educar para a cooperação Para o MST, a cooperação tem sido considerada um dos importantes instrumentos para se chegar a um

3.5 Metodologia: uma concepção eclética de ensino

“A criança que recebe, no seio da família, uma educação correta, voltada para o trabalho, empreenderá logo, com maiores perspectivas de êxito, sua preparação especializada.”

Makarenko

Para alcançarmos o desenvolvimento de qualquer trabalho com o êxito esperado, especialmente quando se trata da questão educacional, é fundamental que se conceba um determinado caminho a seguir, optando-se assim por uma metodologia clara, que nos possibilite alcançar os objetivos traçados no início de nossos trabalhos.

Entretanto, dada a própria natureza multifacetária do fenômeno educativo, existem diversas formas de se concebê-lo, visto que a educação se desenvolve como processo e não como uma realidade elaborada, pronta e acabada. Por isso, o fenômeno educativo deve ser visto como algo histórico, humano, cultural e multidimensional. “Nele estão presentes tanto a dimensão humana quanto a técnica,

a cognitiva, a emocional, a sócio-política e cultural” (Mizukami 1986:1), possibilitando diferentes

interpretações das diversas dimensões e abordagens desse processo.

A abordagem metodológica adotada em qualquer trabalho educativo, torna-se, fundamental para que o educador possa juntamente com os alunos alcançar os objetivos traçados pelo grupo de estudo. Por isso mesmo, qualquer enfoque metodológico deve ser claramente delimitado pelo grupo em questão. Para o desenvolvimento de seu trabalho, entretanto, o MST entende que não deve adotar uma única metodologia, pois vê nisso uma forma de limitação ou restrição para o seu trabalho educacional.

utilizadas pelos professores das escolas públicas ou privadas que atuam no mercado da educação, o MST opta por aproveitar tudo o que acredita existir de melhor no trabalho dos educadores que sua direção considera capazes de servir de inspiração para o seu trabalho.

Mesmo não definindo uma metodologia a ser seguida, o MST inicialmente opta por abominar tudo que possa ter saído da chamada abordagem tradicional, entendendo que esse modelo de escola não se aplica no seu trabalho por não considerar a escola como parte da própria vida do educando, mas, pelo contrário, por entender que o aluno é que se constitui numa parte da escola, cabendo ao professor exercer o papel de mediador entre o aluno e os modelos existentes no mundo.

O MST opta, portanto, por forjar uma nova maneira de ensinar a partir da contribuição dos pedagogos que, no passado ou no presente, estiveram engajados, ou pelo menos posicionados politicamente nos partidos de esquerda. Buscando aproveitar tudo aquilo que entende como positivo em uma variada gama de educadores, de diferentes correntes pedagógicas, do existencialismo cristão de Paulo Freire, até o construtivismo de Piaget ou o marxismo de Makarenko, se constrói um ecletismo metodológico, através do qual as crianças dos acampamentos e assentamentos devem construir seus saberes.

No segundo número da revista SEM TERRA, o MST trata da questão educacional, afirmando desenvolver seu paradigma metodológico

“De acordo com os ideais socialistas e coletivos, calcados no princípio da

solidariedade, [por isso], o projeto educacional do MST tem como base

teórica Paulo Freire, Florestan Fernandes, Che Guevara, o cubano José

Martí, o russo A Makarenko e os clássicos como Marx, Engels, Mao Tse-

Tung e Gramsci” (Revista SEM TERRA nº 2 out/dez 97:27)

Para o MST, a metodologia adequada para ser usada no processo de ensino/aprendizagem é aquela que parte da prática da criança numa relação prática-teoria-prática. Defende ainda que não adianta o professor ficar repassando conteúdo para o caderno da criança, se ela não souber para que serve. Apenas gasta-se caderno, até porque o MST não faz parte do conteúdo da escola tradicional (Caderno de Formação 18:17), que trabalha com metodologia e conteúdos ditados pela classe

dominante.

Por assim considerar, o MST defende que nos assentamentos o processo educacional se inicie a partir da experiência vivida pelas crianças, levando-se em conta sua experiência de trabalho, de organização e de relacionamento com os outros (Caderno Formação, 18:17). Isso, possibilitaria uma escola diferente, voltada para a prática do Movimento.

Nessa concepção, identificada pelos próprios dirigentes do MST como sendo humanista, o professor em si, não tem o papel de transmitir conteúdos, mas apenas de criar condições que facilitem a aprendizagem dos alunos através do conteúdo que lhe chega às mãos, vindo das próprias experiências vividas pelos alunos na sua comunidade. Sendo assim, o processo educacional deve se dar através da interação do aluno com o meio e com a comunidade em que reside e com um professor que mediatiza a relação aluno/comunidade/escola.

Nessa postura humanista, o homem é compreendido como um ser historicamente situado no tempo e no espaço, sendo, portanto, um ser único, tanto em sua vida interior, como nas percepções que tem do mundo (Mizukami, 1986:38). A escola deve ser a possibilitadora da descoberta pelo aluno dessa condição de ser único, embora um ser com os outros.

Além dessa concepção pragmática de ensino, que perpassa a proposta do MST, há também uma proposta maniqueísta que entende que somente aquilo que ocorre no interior dos acampamentos ou assentamentos pode ser útil para suas crianças.

Tomando como ponto de partida a metodologia de Paulo Freire, construída a partir da derivação da abordagem sócio-cultural, o MST passa a centrar no homem o peso do caráter educacional. Tendo o homem como sujeito central do processo de ensino aprendizagem, passa-se a buscar na vida concreta desses homens, através da inserção na comunidade onde vivem, os objetos necessários a sua educação.

Nesta concepção, o homem chega a ser sujeito a partir do momento em que ele começa a refletir sobre o seu quotidiano, sendo o trabalho educativo o responsável por essa reflexão. O MST entende que as pessoas aprenderão a partir de temas geradores que devem surgir da realidade vivida pela criança, adolescente, ou adulto, objetivando um processo de interação entre as disciplinas e entre as séries

a serem estudadas.

Esses temas geradores adquirem então, na concepção de Paulo Freire, a capacidade de elevar o educando a tomar uma postura crítica diante do real, dado que segundo a teoria freiriana, o opressor mitifica a realidade fazendo com que o oprimido capte essa realidade de maneira mítica e não crítica. Portanto, as palavras geradoras devem partir do assentamento (realidade local) para, através dele, o educando entender o que acontece com o mundo (Caderno Formação 18:18), visando transformar em realidade o desafio de:

“seguir nesta luta permanente até que o sonho vire realidade: até que a