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históricos Na mística político-social age sempre a utopia, aquela capacidade de projetar, a partir das potencialidades do real, novos

sonhos, modelos alternativos e projetos diferentes de história.

Geralmente são os oprimidos os portadores de novas visões, aqueles que,

embora derrotados, nunca desistem , resistem firmemente e sempre de

novo retomam a luta. O que os move são os sonhos de uma realidade

nova. Por isso desfataliza a história, não reconhecem como ditado da

história a situação injusta imposta e mantida pelas forças opressoras”

(Boff, 1993:7).

A mística é usada também para estimular as pessoas a lutarem por seus ideais e pode ser celebrada das mais variadas formas, desde uma celebração ecumênica até o cantar do hino da internacional socialista com punhos cerrados, como faziam os membros daquele movimento no século passado.

Sendo assim, nos encontros e manifestações onde o MST se faz presente é comum a utilização de suas bandeiras e ferramentas de trabalho, simbolizando a disposição de luta de seus militantes. No início de cada reunião, normalmente, canta-se o hino do Movimento, sempre com o punho esquerdo erguido, simbolizando sua posição de esquerda na sociedade.

O MST apoia-se também na Bíblia como fator de inspiração para a luta, sobretudo nas leituras do Êxodo, onde identificam o Deus que livrou o povo da escravidão do Egito com o Deus que também os conduzirá à terra prometida: A Terra da Reforma Agrária.

Além da bíblia, a leitura de alguns revolucionários como o cubano Jose Marti, ajuda a reflexão em torno dos ideais socialistas do MST. Apoiados em seu componente místico de render homenagens a seus mártires na busca de rejuvenescer as forças para a luta, o Movimento se recorda que:

“Muchas veces, recordar a un caído que es hombre basta para levantarlo.

Se le despiertan fuerzas dormidas: surge a la revelación: se ve en un ser

nuevo, y se rehabilita se ve a sí mismo y quiere ser digno de sí”

17

(Martí,

17

Muitas vezes relembrar a um derrotado que é homem basta para levantá-lo. Se o despertam forças adormecidas: surge a revelação: se vê um ser novo, e se reabilita se vê a si mesmo e quer ser digno de si.

1985:118).

Assim para manter viva a chama da esperança, o MST celebra seus mortos, rendendo homenagens a todos aqueles que ao longo da luta em defesa da sociedade socialista, ou da Reforma Agrária no Brasil, são colocados como modelo a ser seguido, bem como aqueles que na história da humanidade, tombaram em defesa da classe trabalhadora.

Apoiado nesses preceitos, o MST consegue a adesão dos desempregados e desesperados para juntar-se a sua luta e defender seus ideais, alimentando sempre o desejo da construção da utopia socialista, da sociedade onde o reino da liberdade substitua o reino da necessidade e as pessoas possam enfim eliminar o processo de exploração do homem pelo homem.

Nesse sentido, é considerado como formação todo processo que possa levar os trabalhadores rurais sem terra a qualquer tipo de consciência da realidade em que vivem e que os desperte para a luta em defesa de uma sociedade, que segundo o MST deve ser mais justa e fraterna, tendo a mística como um de seus elementos irradiadores.

1.7 O processo de colonização, concentração de terras e exclusão social no Brasil segundo a concepção do MST

“E vamos entrar naquela terra E não vamos sair.

Nosso lema é OCUPAR, RESISTIR E PRODUZIR. Se for dura essa parada,

A gente pega em armas, Não dá pra ser diferente. Pois os homens têm dinheiro, Compram armas nos estrangeiro, Pra poder matar a gente.

Vamos firmes decididos, Não deixar pra outra hora, É a classe organizada

Passo a passo nessa estrada, Construindo a sua HISTÓRIA.”

Zé Pinto, MST/RO Canções da luta, p.27

Para o MST não é possível que se compreenda os conflitos de terra existentes na sociedade brasileira se não se entender que a atual estrutura agrária é decorrente da forma de colonização a que foi submetido o país pelos portugueses. Para Ariovaldo Umbelino de Oliveira (1994:55), a história da organização e desenvolvimento de nossa sociedade é marcada pela má distribuição de terras feitas pelos colonizadores, visto que “Primeiro foram as capitanias hereditárias e seus donatários, depois foram as

sesmarias. As sesmarias estão na origem da grande maioria dos latifúndios do país, fruto da herança colonial”.

O regime de capitanias trouxe muitos inconvenientes para os povos que habitavam o Brasil antes da chegada dos colonizadores portugueses, já que a terra - para os nativos - era seu bem maior, pois era dela que retiravam os meios de subsistência. Por isso a valorização que ela possuía, inclusive como elemento de culto e veneração.

A terra nas comunidades indígenas não era pensada e utilizada como fonte de lucro ou de poder, nem como meio de produção a serviço do capital, mas apenas como meio de subsistência daquelas comunidades. Esse fator tornou aquelas comunidades reféns dos colonizadores, que tinham como base de dominação o poder e a força de um novo sistema, baseado na propriedade privada dos meios de produção e no lucro.

A burguesia nascente tinha como princípio norteador a acumulação de capital, o que fez dessa classe uma consumidora e, ao mesmo tempo, uma destruidora dos recursos da natureza, fonte maior da matéria-prima a ser transformada em bens de consumo. Nos albores do capitalismo a natureza foi colocada a serviço do capital, pois somente assim se desenvolveria o sistema capitalista de produção.

Esse modo de produção nascente é definido por Gorender (1994:16), como sendo o:

“... modo de produção em que operários assalariados, despossuídos de

meios de produção e juridicamente livres, produzem mais-valia; em que a

força de trabalho se converte em mercadoria, cuja oferta e demanda se