• Nenhum resultado encontrado

1. A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

1.4 A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL:

A aliança com os setores orgânicos do capital e a consequente inserção do Brasil no mercado mundial e no mundo empresarial já se faziam sentir desde o primeiro mandato do Governo Lula, na Carta ao Povo Brasileiro, em junho de 2002. De acordo com Rocha (2009), o Plano Diretor da Reforma do aparelho do Estado (1995) defendido pelo economista Bresser Pereira, por via das suas várias publicações sobre a educação superior, enaltece a autonomia financeira e a completa flexibilidade administrativa das universidades, cujo controle acadêmico deve ser realizado mediante avaliação de resultados. Assim, o Projeto de Lei nº 7200/06, encaminhando à Presidência da República em 10 de abril de 2006, constitui o marco legal contra a reforma da educação superior brasileira. Nessa época, a educação, apresentada como direito social básico universal, já propunha ampliar as vagas do ensino superior mediante programas de apoio aos estudantes, criação do Programa Nacional de Bolsas Universitárias (PROUNI), em que se situava entre as medidas legais mais relevantes na Lei 11.096/04, direcionado para todas as instituições de ensino superior de natureza privada, viabilizando, assim, a primeira experiência pública não estatal (ROCHA, 2009).

Como é possível verificar, a ampla discussão sobre um projeto de ampliação da educação superior assumida pelo Ministério da Educação (MEC), ao promover mudanças capazes de afirmar a continuidade de políticas de financiamento perante as políticas globais, aponta ainda para atitudes de participação da sociedade democrática no debate. Na análise desse processo2, novos debates acontecem a respeito de recuos e conquistas da última década, para a redefinição de metas para o próximo decênio.

2 Lei No. 10. 172, de nove de janeiro de 2001.

Somam-se às questões aqui expressas o fato de que existem desafios que sintetizam este Projeto de Governo na expansão do ensino superior e, consequentemente, na adequação para o seu enfrentamento. Para tanto, três procedimentos podem resumir as ações pretendidas: a modernização do sistema; a melhoria da qualidade da educação brasileira e a democratização do ensino - visando à inclusão social.

Passaremos a destacar alguns dos principais mecanismos de implantação, implementação e adequação das reformas, anteriormente citadas, que influenciam diretamente na vida e na formação dos estudantes brasileiros: REUNI, PROUNI, ENEM e FIES.

1.4.1 REUNI

A expansão da educação superior conta com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), que tem como principal objetivo ampliar o acesso e a permanência na educação superior. Com o REUNI, o Governo Federal adotou uma série de medidas para retomar o crescimento do ensino superior público, criando condições para que as universidades federais promovessem a expansão física, acadêmica e pedagógica da rede federal de educação superior. Os efeitos da iniciativa podem ser percebidos pelos expressivos números da expansão, iniciada em 2003 e com previsão de conclusão até 2012.

As ações do programa privilegiam o aumento de vagas nos cursos de graduação, a ampliação da oferta de cursos noturnos, a promoção de inovações pedagógicas e o combate à evasão, entre outras metas que têm o propósito de reduzir as desigualdades sociais no País.

O REUNI foi instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007 e é uma das ações que integram o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). O referido Decreto instituiu o REUNI, definindo no seu artigo 1°:

[...] o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI, com o objetivo de criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais.

Regido pelos princípios da participação voluntária, não mostra um modelo único de organização acadêmica, curricular ou pedagógica para suas propostas, tendo como metas globais a elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento e elevação gradual da relação de alunos de graduação em cursos

presenciais por professor para 18 e o prazo de cinco anos para cumprimento das metas. Para tanto, o REUNI indicou como diretrizes:

a) Ampliação da Oferta de Educação Superior Pública

- Aumento de vagas de ingresso, especialmente no período noturno. - Redução das taxas de evasão.

- Ocupação de vagas ociosas.

b) Reestruturação Acadêmico-Curricular

- Revisão da estrutura acadêmica, buscando a constante elevação da qualidade. - Reorganização dos cursos de graduação.

- Diversificação das modalidades de graduação, preferencialmente com superação da profissionalização precoce e especializada.

- Implantação de regimes curriculares e sistemas de títulos que possibilitem a construção de itinerários formativos.

- Previsão de modelos de transição, quando for o caso. c) Renovação Pedagógica da Educação Superior

- Articulação da educação superior com a educação básica, profissional e tecnológica. - Atualização de metodologias (e tecnologias) de ensino-aprendizagem.

- Previsão de programas de capacitação pedagógica, no caso de implementação de um novo modelo.

d) Mobilidade Intra e Inter institucional

- Promoção da ampla da mobilidade estudantil mediante o aproveitamento de créditos e a circulação de estudantes entre cursos e programas, e entre instituições de educação superior.

e) Compromisso Social da Instituição - Políticas de inclusão.

- Programas de assistência estudantil. - Políticas de extensão universitária.

f) Suporte da pós-graduação ao desenvolvimento e aperfeiçoamento qualitativo - Articulação da graduação com a pós-graduação.

- Expansão qualitativa e quantitativa da pós-graduação orientada para a renovação pedagógica da educação superior.

Os dois cursos de Fisioterapia - Universidade de São Paulo/UNIFESP Baixada Santista e Universidade Federal do Ceará/UFC - surgiram da política de expansão da universidade pelo Programa REUNI e ambos adotam as Diretrizes Curriculares.

1.4.2 PROUNI

Implantado com a da Lei n° 11.096, de 13 de janeiro de 2005, o PROUNI se propõe a designar bolsas de estudo parciais e integrais para cursos de graduação e sequenciais em funcionamento nas instituições privadas. O Governo Federal oferece benefícios fiscais às Instituições de Ensino Superior (IES) que aceitem aderir ao programa, em contrapartida às bolsas de estudo.

Para que o aluno tenha o direito de participar do PROUNI, precisa preencher as condições exigidas, entre elas ter renda familiar de no máximo três salários mínimos e haver participado do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), obtendo notas que lhe permitam o ingresso.

1.4.3 ENEM

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é uma prova realizada pelo Ministério da Educação do Brasil. A prova foi criada pela Portaria-MEC nº 438 de 28/05/1998 sendo usada inicialmente para avaliar a qualidade da educação nacional. Teve sua segunda versão iniciada em 2009, com aumento do número de questões e utilização da prova em substituição ao exame.

Hoje, é utilizada para avaliar a qualidade do ensino médio no País e seu resultado serve para o acesso ao ensino superior em universidades públicas brasileiras por meio do SISU (Sistema de Seleção Unificada).

A partir de 2009, o exame também passou a servir como possibilidade de certificação de conclusão do ensino médio em cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O exame é realizado anualmente e tem duração de dois dias, contendo 180 questões objetivas (divididas nas áreas de Ciências da Natureza e suas tecnologias Ciências Humanas e suas tecnologias, Linguagens e Códigos e suas tecnologias e Matemática e suas tecnologias) e uma redação (MEC/INEP, sd).

1.4.4. FIES

O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), criado pela Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em instituições não gratuitas. Podem recorrer ao financiamento, os estudantes matriculados em cursos superiores que tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação. O FIES foi

criado por Medida Provisória, a MP 1.827 de 27/05/99, e regulamentado pelas portarias MEC n. 860, de 27/05/99 e 1.386/99, de 15/09/99 e pela Resolução CMN 2647, de 22/09/99. A referida Medida Provisória foi ainda reeditada três vezes, com os seguintes números: MP 1.865-2, em 29/06/99, MP 1.972-8, em 10/12/99 e MP 2.094-22, em 27/12/2000.

O FIES é um programa federal que busca aumentar o número de vagas disponíveis no ensino superior aos jovens em idade universitária que não tenham acesso a esse nível de ensino. A origem dos recursos destinados ao programa é o orçamento do MEC, verbas das loterias (não utilizados pelo antigo Programa de Crédito Educativo – PCE) e de retornos de financiamentos. Todos os recursos e o passivo são administrados pela Caixa Econômica Federal.

Para receber o benefício, os estudantes candidatos necessitam ser aprovados por uma Comissão Permanente de Seleção, após a devida inscrição, conforme cronograma definido pelo MEC.

Em que pese a publicação de uma série de normas legais que em princípio prestam-se a configurar marcas regulatórias, será necessário o estabelecer mecanismos e estruturas, bem como definir, nas diferentes instâncias de governo, a quem cabe a responsabilidade da regulação para que ela possa ser percebida como processo diferenciado, essencial para a consolidação de uma política educacional. Até a presente data, em termos práticos, as funções e atribuições do SINAES, CONAE, INEP, SESu se confundem no processo de Avaliação/Regulação (MACEDO et al, 2005, p.135).

De acordo as pesquisas dos autores, tais questões e reformas implicam diretamente a vida da comunidade universitária, porque chegam às instituições fortemente acompanhadas de práticas de avaliação e regulação por parte do sistema.

Amplamente estudadas e planejadas em um projeto grandioso no plano internacional para adequação ao projeto de globalização neoliberal, as mudanças no ensino superior se transformaram em políticas de financiamento e privatizações, o que causou grandes impactos na universidade e em todos aqueles que fazem o coletivo do seu campo institucional.