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1. A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

1.7 A UNIVERSIDADE: ESTUDOS E PESQUISAS NO CONTEXTO DAS

Falar em universidade e seu contexto nos leva pensar nas exigências fundamentais ao desempenho das atividades ali operacionalizadas e dos sujeitos que nela interagem com suas práticas no coletivo das instituições e no interior dos cursos. Masetto (2004) adverte para a ideia de que, em nosso século, o sistema universitário brasileiro ainda segue padrões de universidades europeias. A sociedade do conhecimento e da tecnologia, porém, cada vez mais exige inovações profissionais, por isso a necessidade de qualificação e aquisição de mais conhecimentos.

A internet e demais aparatos tecnológicos influenciam diretamente na comunicação e na teia de relações sociais, oferecendo novas formas de aprendizagem e de mudanças de valores culturais e de atitudes, tanto na vida dos gestores como dos professores, dos alunos e demais agentes que compõem a comunidade acadêmica. Assim, novas formas de mediação pedagógica estão se estabelecendo, cabendo a todos uma relação contínua de integração educacional para que possam ser desenvolvidos trabalhos e atividades que busquem a elaboração do pensamento criativo.

Sendo o conhecimento a matéria prima de trabalho da escola, em particular da educação superior, é preciso avançar na reflexão sobre as consequências das alterações na sociedade, trazidas pela tecnologia, para o trabalho acadêmico na universidade, a exigir mudanças profundas na cultura organizacional da instituição (IBIDEM, p. 199).

Este avanço na reflexão, expresso na citação, constitui espaço necessário ao desenvolvimento de uma práxis criadora, em que o trabalho pedagógico tem a possibilidade de se efetivar qualitativamente. É preciso atentar para que as informações e conhecimentos - que muitas vezes chegam a nós de forma fragmentada e destituídos de aprendizados significativos, ou até mesmo de forma distorcida - tenham no espaço do ensino superior a possibilidade de passar por uma reflexão crítica em que se institua o diálogo com os fenômenos sociais e o mundo de nossa inserção.

Trabalhar com o conhecimento em nossa sociedade no ensino superior exige outras práticas docentes: pesquisar as novas informações, desenvolver criticidade frente à imensa quantidade de informações, comparar e analisar as informações procurando elaborar seu pensamento próprio, sua colaboração científica, sua posição de intelectual, apresentá-la a seus alunos juntamente com os outros (MASETTO, 2009, p. 06).

O autor lembra, ainda, que o acesso às bibliotecas ficou cada vez mais fácil, acompanhando o desenvolvimento tecnológico e assim propiciando a divulgação de novas informações via internet. O conhecimento hoje exigido não se prende apenas à área específica de formação docente. A sociedade do século XXI exige que saibamos sobre política, economia e uso das tecnologias disponíveis a favor da produtividade e do crescimento profissional. Desde o momento em que surgiram novas tecnologias e o mundo se tornou globalizado, emergiu a necessidade de as instituições de ensino, principalmente a educação superior e seus professores e gestores, efetuarem mudanças nas práticas de ensino e estágios na formação docente.

Ante a complexidade social, a vida acadêmica precisa atentar para as questões interdisciplinares, em que sejam acionados os necessários mecanismos de busca do conhecimento, sem perder de vista os valores éticos e culturais, o autoconhecimento em que o individual, o coletivo e o institucional favoreçam a educação permanente, a formação contínua e o desenvolvimento do trabalho conjunto e de qualidade.

Concordamos com Cunha (2012b, p. 07), quando assinala que

Tomar as inovações como objeto envolve desafios. [...] Ela pressupõe, pois, uma ruptura paradigmática e não apenas a inclusão de novidades, inclusive as tecnológicas. Nesse sentido, envolve uma mudança na forma de entender o conhecimento. Ao tomar a inovação como algo abstrato, perde-se a noção

de que ela se realiza em um contexto histórico e social, porque é um processo humano.

Dessa maneira, o foco da nossa pesquisa, que é compreender os avanços curriculares dos cursos de Fisioterapia da universidade pública, requer uma visão que vai além das determinações das políticas da educação, uma vez que tais avanços são concretizados por pessoas, sujeitos da história, como nos ensina Cunha (2012b, p. 9), ao considerar que ―a inovação existe num lugar, num tempo e em circunstâncias determinadas, como produto de uma ação humana sobre o ambiente ou meio social‖. Assim, as transformações pelas quais passa a universidade afetam não só a aprendizagem dos estudantes, mas também o próprio desempenho docente, que precisa acompanhar essas mudanças, assim como o projeto pedagógico e a estrutura curricular das instituições, onde tais inovações se operam.

A abordagem teórica e documental expressa no percurso deste capítulo, na sua busca de contextualizar a universidade no panorama da sociedade globalizada, situa nossa pesquisa, com vistas a compreender o fenômeno por ela estudado em seu tempo e no espaço em que está inserida. É preciso considerar a influência das novas configurações no trabalho e das rápidas mudanças trazidas pelas políticas de educação superior, pelas tecnologias avançadas e pelas exigências de qualidade necessárias na sociedade atual. Com tais considerações e reflexões, anunciamos o terceiro capítulo, no qual foi realizada uma abordagem reflexiva e conceitual sobre os avanços e inovações no ensino superior.

2 INOVAÇÕES E AVANÇOS CURRÍCULARES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe. (Jean Piaget).

O capítulo apresenta a busca de um aprofundamento conceitual dos fundamentos que sustentam os estudos sobre currículo e avanços curriculares no contexto das inovações na educação superior. Nossa preocupação parte da necessidade de compreender os principais estudos e pesquisas nessa área de conhecimento.

Consideramos que seja necessário inicialmente pontuar algumas reflexões a respeito de currículo, recorrendo principalmente aos autores: Sacristán (2000), Silva (2009), Moreira (2010), Lopes e Macedo (2011) e Berticelli (1999) para assim compreendermos melhor o lugar dos avanços curriculares no campo das inovações e publicações recentes sobre a inovação no Ensino Superior. A questão que se apresenta é relacionada ao pensamento reflexivo sobre formação profissional na sua totalidade, de forma a contribuir para o debate e para a formação do profissional em Fisioterapia requerido pela sociedade atual. Neste sentido, é preciso compreender que currículo é algo complexo, construído no confronto de identidades e significados. Segundo Silva (2009, p. 27): ―o currículo não pode ser visto simplesmente como um espaço de transmissão de conhecimentos. O currículo está centralmente envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos. O currículo produz, o currículo nos produz‖.

Com o aporte teórico de Masetto (2009, 2012), Hernandez (2000), Cunha (2001), Carbonell (2002), entre outros, esperamos entrar no debate, com objetivo de compreender melhor o sentido e o significado dos processos inovadores ocorridos na universidade.

A discussão sobre a inovação na educação necessita ser realizada a partir do contexto e dos fatores que interferem na construção e compreensão dos mesmos. Sobre esta questão, Hernández et al.(2000) nos lembram de que a inovação não surge aleatoriamente e nem pode ser tratada como um fenômeno pontual, sem levar em conta a realidade em que é produzida e das reflexões construídas a partir de um movimento, concepção de mundo e de sociedade. Nessa mesma direção, Cunha (2001) explica que inovação não é um ente abstrato, pois acontece em determinado tempo e lugar, constituindo-se um produto da ação humana. Sendo

um fenômeno humano, a inovação traz historicamente uma polissemia que precisa ser considerada, de forma que a compreensão acerca da questão não aconteçam de forma equivocada, distante de um contexto e esvaziada de sentido (MASETTO, 2012).

Ao trazemos a discussão para a temática da nossa pesquisa, especialmente para ―os avanços curriculares‖, verificamos que esta se aproxima do conceito de ―inovação‖, uma vez que ambos podem representar uma intencionalidade em resposta a uma necessidade com a participação e o envolvimento dos que fazem o coletivo institucional que mobiliza o desenvolvimento curricular e institucional.

O convívio com a cultura do ―novo‖ e da ―novidade‖ na sociedade atual tem sido explorado nas mais diferentes dimensões. Masetto (2012) tem estudado esta questão atentando para o risco de termos como ―inovação‖ perderem seu sentido, ao invés de receberem uma reflexão maior por parte dos que fazem o campo da educação. O autor observa que no Ensino Superior, muitas vezes, a implementação das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, programas de formação docente e projeto de reformas curriculares são classificados como inovadores, quando na verdade são ações pontuais, distantes do conceito amplo de inovação, que se refere a uma nova proposta educacional e de formação, que interfere na instituição como um todo e não em ações isoladas.

O desenho do capítulo será apresentado na seguinte sequencia: Pontos de reflexão sobre Currículo e conhecimento; Entre a Mudança e a Novidade: Um Percurso de Estudos e Pesquisas sobre Inovação; Debates no campo da Inovação Curricular em três Eventos; Inovações curriculares em Fisioterapia no contexto da na área de saúde: buscas teóricas e práticas.