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1. A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

2.1 PONTOS DE REFLEXÃO SOBRE CURRÍCULO E CONHECIMENTO

2.1.3 Terceiro ponto de reflexão: o currículo como campo de conhecimento

Os diferentes questionamentos em relação ao currículo decorrem da sua sistematização e implementação com que se situam na dinâmica da mobilidade social. O movimento de criação e recriação de novos conhecimentos, sujeito a recuos e avanços acelerados, nem sempre são percebidos e acatados no espaço curricular. De acordo com Arroyo (2011, p. 37):

O campo do conhecimento sempre foi tenso, dinâmico, aberto à dúvida, à revisão e superação de concepções e teorias contestadas por novos conhecimentos. Os currículos escolares mantêm conhecimentos superados, fora da validade e resistem à incorporação de indagações e conhecimentos vivos, que vêm da dinâmica social e da própria dinâmica do conhecimento.

Refletindo sobre a dinâmica citada pelo autor e voltada para o debate do objeto da nossa pesquisa, cuja abordagem focaliza os avanços curriculares nos cursos de Fisioterapia, verificamos que, mesmo em meio a contradições, o autor em estudo nos lembra que a formação profissional, sua qualidade e competência situa-se na dinâmica social e institucional, bem como na capacidade de encontrar caminhos de preparação para o profissão e para trabalho, em nosso caso, a Fisioterapia.

A dimensão curricular está para além da questão de adaptá-la à instituição de ensino. Essa intencionalidade precisa levar em conta as relações entre alunos, professores e comunidade institucional, ou seja, os sujeitos que estarão integrando este currículo. Portanto, a formulação ou as alterações feitas no currículo sugerem formulações de visão ampla da instituição e do processo curricular. Isso implica no surgimento de um paradoxo entre o processo curricular e o processo de ensino, pois alguns educadores apontam o desencontro existente entre os que pensaram o currículo, sinalizando que estes pensaram somente na instituição, deixando o ensino e o saber como segundo plano. Nessa perspectiva, torna-se necessário rever o processo, pois é preciso haver diálogo entre os especialistas nas disciplinas e os especialistas em currículo, assim como, as reformulações no currículo são necessárias pelo fato de que o coletivo precisa adequar-se às novas tecnologias e ferramentas que compõem o processo de ensino-aprendizagem.

Os diferentes questionamentos em relação ao currículo decorrem da sua sistematização e implementação na dinâmica da mobilidade social. O movimento de criação e recriação de novos conhecimentos, sujeito a recuos e avanços acelerados, nem sempre são percebidos e acatados no espaço curricular. A incorporação de novos elementos do tempo em que estamos inseridos nos remete à renovada consideração de que o currículo é o eixo da formação profissional, uma vez que este é um lugar, por excelência onde marcamos a formação, que nos capacita para o trabalho.

Compreendemos, que a estrutura curricular influencia nas nossas identidades, pois é o desempenho do professor no cotidiano das salas de aula, que o currículo se faz viabilizado. Nessa direção, Arroyo (2011) nos ensina que a construção identitária se organiza na diferença e não fora dela. Quando observamos o atual contexto social em que estamos inseridos, verificamos que o conhecimento se tornou mais dinâmico, mais complexo e mais disputado, tanto no campo da ciência como da tecnologia. Além do mais, estamos ainda em busca de interpretações e epistemologias capazes de entender as contradições sociais e de fundamentar os novos projetos de sociedade, de cidades, de campo, em busca de um modo de vida mais coerente com a dignidade humana.

O autor ainda apresenta mais um argumento para o estudo do currículo como território de disputa, que é a relação entre currículo e trabalho docente, no qual se registram as resistências aos controles e o movimento de inovação muitas vezes acontece.

Nossas identidades têm como referentes recortes do currículo. Somos licenciados para uma disciplina-recorte do currículo. Mestres e educandos seremos avaliados, aprovados ou reprovados, receberemos bônus ou castigos

por resultados no ensinar-aprender as competências previstas no currículo. A sorte dos alunos está igualmente atrelada ao currículo para seus êxitos ou fracassos e para seus percursos normais ou truncados. Mas também seu direito à educação recebe garantias no currículo (IBIDEM, p. 15).

No processo de construção identitária que permeia o ensino superior, a formação profissional acontece como uma identidade que se produz no interior das instituições, assim como nos espaços sociais e na valorização do campo profissional, conferido pelo contexto. É na sala de aula onde o debate sobre a profissão, no caso da nossa tese, a Fisioterapia e seus profissionais, acontece. É ali que são reveladas as esperanças e expectativas, quanto a oportunidades de trabalho e de valorização da profissão. Dessa maneira, a atividade curricular cotidiana é vista como mediação, ou seja, um fio condutor entre conhecimento trabalhado pelo educador e a competência do educando em se apropriar deste conhecimento e transformá-lo em um entendimento prático, que conduz a transformação do próprio sujeito como um ser crítico e participativo.

Lembramos que a elaboração das novas propostas curriculares requerem muito mais do que a descrição da nova organização curricular e das reformulações efetuadas e das novas maneiras de se trabalhar conteúdos. Tais elementos estão inseridos em determinado contexto social e institucional, de acordo com as políticas educacionais vigentes e perpassados pelas peculiaridades das interações pessoais internas e externas, das relações de poder e do sentido que é dado ao processo que está sendo vivenciado. De acordo com Apple (1995, p. 59):

O currículo nunca é apenas um conjunto neutro de conhecimentos que de algum modo aparece nos textos e nas salas de aula de uma nação. Ele é sempre parte de uma tradição seletiva, resultado da seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja conhecimento legítimo. É produto das tensões, conflitos e concessões culturais e econômicas que organizam e desorganizam um povo.

Nessa mesma direção Sacristán (1996) nos lembra de que não se pode conceber o currículo fora de suas condições concretas de efetivação, destacando a estreita relação entre o currículo e as condições oferecidas pelas instituições onde o mesmo é vivenciado. É preciso lembrar ainda que um programa de intenções será sempre reinterpretado pelas condições institucionais da escolarização dos seus integrantes ―porque sem a transformação dessas condições não há possibilidades de mudanças curriculares ou culturais, já que é inerente ao conceito de currículo o fato de que ele está ligado a uma forma de estruturação das instituições educacionais‖ (IBIDEM, p. 37).

Pensar na melhoria do ensino e na sua qualidade efetiva aponta para as possibilidades de promoção de inovações curriculares no campo da educação. Essa qualidade não é apenas melhoria naquilo que já existe, mas em criar, recriar e acima de tudo inovar. O objetivo das inovações curriculares, portanto, é atender ao coletivo e não apenas aos anseios das instituições de ensino. O currículo deve necessariamente desprender-se desse mito teórico de que o mesmo é um processo autônomo e individual.

2.2 ENTRE A MUDANÇA E A NOVIDADE: UM PERCURSO DE ESTUDOS E