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1. A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

3.1 PROJETO PEDAGÓGICO: FUNDAMENTAÇÃO E CONTEXTO

Como já dissemos a mudança da estrutura organizacional dos sistemas educacionais e das práticas pedagógicas nas instituições de ensino superior, vem sendo modificadas de forma contextualizada, juntamente com as demandas sociais da atualidade. Neste panorama, as tecnologias da informação e comunicação, entre muitos outros fatores provocam rápidas transformações e novos modos de pensar e agir.

No campo educacional, tais inovações não teriam condições de acontecer de forma isolada das demais instâncias sociais sem uma proposta conjunta de mudanças, baseadas em uma leitura da realidade, da filosofia educacional, das concepções de pessoa, de sociedade, de currículo, planejamento, disciplina, bem como de um leque de ações e intervenções e interações.

A partir de 1980, os espaços educacionais vão sendo caracterizados como campo de concretização das políticas de educação. Dessa forma, estes espaços passam de prolongamentos da administração central para se constituírem como organização social, diante da complexidade da prática educativa. O Projeto Pedagógico ganha a adesão dos educadores e se afirma como elemento que viabiliza o diálogo, revelando-se como uma necessidade para os que fazem parte das instituições de ensino. Trata-se da esperança de que, cada instituição possa traçar o seu caminho, de forma que as oportunidades de diálogo venham a favorecer o enfrentamento das questões, surgidas no interior do cotidiano institucional em confronto com a realidade social.

O Projeto é um plano global da instituição que pode se consolidar como a sistematização de um processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se define como o tipo de ação que se pretende realizar, considerando o posicionamento do coletivo institucional (VASCONCELOS, 2002). Assim, o Projeto Pedagógico se identifica como inovador, pela abrangência, longa duração, participação coletiva e democrática, ao caráter processual, no exercício crítico, na avaliação permanente, na articulação constante entre ação- reflexão-ação. Quanto às finalidades do Projeto Pedagógico, o autor destaca: o resgate da intencionalidade da ação para ser um instrumento de transformação da realidade; a potência da coletividade dando um referencial de conjunto para a caminhada e superação do caráter

fragmentário das práticas em educação. Tem ainda a finalidade de propiciar a racionalização dos esforços e recursos (eficiências e eficácia), fortalecer o grupo para enfrentar conflitos, contradições e pressões, avançando na autonomia (caminhar com as próprias pernas), na criatividade (descobrir o próprio caminho) e na colaboração com a formação dos participantes. Assim, o Projeto Pedagógico atua nas seguintes dimensões:

Psicológico: envolvimento do grupo na tarefa; inclusão, reconhecimento do sujeito no produto coletivo; epistemológico: parte-se de onde o grupo está; coloca-se o sujeito na condição de produtor de conhecimento (e não de reproduzir ou receptáculo); político: resgate da participação, da contribuição de cada um e de todos, exercício da decisão coletiva e o pedagógico: é um aprendizado de metodologia participativa, de diálogo, de respeito pelo outro, de tolerância. (VASCONCELOS 2002, p. 21).

Verificando as reflexões do autor, percebemos que a formação dos professores que atuam no ensino superior brasileiro, muitas vezes está distante do próprio debate pedagógico por falta de tempo e de espaços de reflexão.

O ingresso deste docente na universidade, mesmo sendo através de concurso público, não lhe concede os necessários elementos de formação para responder ―o que há de pedagógico no Projeto Pedagógico?‖.

Há necessidade de uma formação que proporcione uma preparação para entender e lidar com a questão do ensinar e do aprender, requeridas pela educação superior. Para esta tese a questão pedagógica é entendida de acordo com Houssay (2004), como reflexão sobre a prática educativa e articulada à teoria. Os educadores devem estar preparados para concepções pluralistas, que os possibilite a viabilidade de um trabalho pedagógico competente para cada época e contexto. Nessa direção concordamos com Imbernón (2010, p. 64):

Para isso é necessário aplicar uma nova metodologia e, ao mesmo tempo realizar uma pesquisa constante (o professor capaz de gerar o conhecimento pedagógico em sua prática) que faça mais do que lhes proporcionar um amontoado de conhecimentos formais e formas culturais preestabelecidas, estáticas e fixas, incutindo-lhes uma atitude de investigação, que considere tanto a perspectiva teórica como prática, a observação, o debate, o contraste de pontos de vista, a análise da realidade social, a aprendizagem alternativa por estudo de caso, simulações e dramatizações.

Estas e outras posturas possibilitam o respeito pelo conhecimento pedagógico, que não se resume em aplicação de técnicas e sim a uma postura metodológica, que tem como horizonte a compreensão dos fenômenos educacionais, principalmente os ligados ao diálogo e a formação de comunidades de aprendizagem.

O debate psicológico embutido nos estudos sobre Projeto Pedagógico está caracterizado pelo envolvimento do grupo na tarefa educativa, a inclusão e reconhecimento do sujeito no produto coletivo.

Na tentativa de desenvolver um projeto inovador deve-se considerar as experiências significativas e aprendizagens da cada área de formação dos docentes, trazidas pelos professores para a qualidade do projeto pensado e executado com os que fazem o trabalho conjunto. Diante de tais evidências se faz necessário uma formação para a interatividade, objetivando uma aproximação, através de programas, que contemplem conhecimentos válidos e, ao mesmo tempo, que abra espaço para a uma visão dialética sobre as atividades do professor nas instituições.

Estes professores precisam ser instigados a valorizar os processos contínuos de formação, bem como a necessidade de uma atualização permanente, em função das mudanças que precisam ser implantadas, e dessa forma, ser capaz de produzir e criar estratégias e métodos de intervenção, cooperação, análise, reflexão tendo sua prática como ponto de partida e de chegada (IMBERNÓN, 2010).

A versão do autor nos leva a pensar que um dos grandes desafios do desenvolvimento de um Projeto Pedagógico inovador é a necessidade do reconhecimento do grupo, que é composto por pessoas com identidades, história de vida e visão de mundo diferentes. Dessa forma, se ressalta a importância do professor reconhecer suas próprias limitações perante o grupo e os entraves, possibilidades e limitações que se constituem em uma aprendizagem de grande valia para os que vivenciam o Projeto.

Há de ser considerada também a dimensão epistemológica, que parte de onde o grupo está e coloca o sujeito na condição de produtor de conhecimento.

O reconhecimento dos fundamentos que sustentam as práticas docentes, bem como a identificação das teorias que as subsidiam abre um caminho para a produção do conhecimento. Neste caso, há um processo de auto-formação, que permeia as atividades do grupo na busca do desenvolvimento da competência humana, protagonizada nas interações vivenciadas no coletivo e dessa forma repercute na elaboração de conhecimentos, que socializados podem servir de pistas para novas experiências em projetos inovadores.

O Projeto proporciona uma dimensão ligada à formação política, que acontece no desenvolvimento do trabalho como uma condição participativa onde cada um e todos têm um papel no exercício de decisões coletivas. Aqui, se coloca a questão do movimento democrático e do significado de um projeto que pode mobilizar a vivência democrática. Ao mesmo tempo, quando situamos a ideia de projeto na sociedade competitiva e de

mercantilização da educação vemos que esta dimensão participativa até aqui considerada, coloca o projeto como elemento de disputa por melhor classificação social da instituição ou do currículo dos cursos de graduação.

Na sequência das ideias expostas o projeto é visto como uma partitura a ser lida, porque, ao ser realizado pelas ações, são introduzidas a indeterminação, a autonomia e a criatividade dos intérpretes. O desenvolvimento do currículo por meio das ações sempre faz dele um projeto flexível (SACRISTÁN, 1999).

Quanto a dimensão pedagógica, que se refere a um aprendizado de metodologias, participação, respeito e diálogo, Masetto (2012) salienta que a alteração no mundo do conhecimento exige tanto da universidade como do coletivo institucional, atitudes de diálogo com diferentes fontes de conhecimento, não apenas como consumidores, mas como produtores. Assim, aos sujeitos inseridos no contexto da Educação Superior devem ter oportunidades de produção de conhecimento sendo respeitados e valorizados na sua profissão.

3.2. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS E PROJETO PEDAGÓGICO: ENTRE