• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III- ESTADO AD ARTE

4 O CAMINHO DA BUSCA

4.2 Seridó: o espaço e o povo

4.2.1 A região do Seridó

Parto da etimologia da palavra região que vem do latim regio, cuja raiz está no verbo regere, governar, aplicada à unidade político-territorial em que se dividia o império romano (cf. SANTOS, 1996). O que se entende por região baseia-se na concepção geográfica que a define como uma porção do espaço terrestre. Portanto, uma área habitada ou não. No entanto, existem outros caminhos definidores para o termo que ultrapassam questões de geografia e cartografia.

4

Além de cartas, o LABORDOC possui um acervo muito consistente de livros tombos, atas e arquivos de velhos cartórios e comarcas da região. Localizado dentro do CERES, seu acervo é disponibilizado para pesquisadores no local. Não é permitida a retirada e nem a reprodução do material lá exposto, apenas a sua consulta.

Sob o ponto de vista histórico, a região é entendida como um conceito “que tem implicações fundadoras no campo da discussão política, da dinâmica do Estado, da organização da cultura e da diversidade espacial”, ainda formado por um “inequívoco componente espacial”, bem atrelado à economia, à política e à cultura. (SANTOS, 1996, p. 56)

Sobre o Seridó, etimologicamente falando, não se tem ao certo um significado unificado. As divergências sobre o termo aumentam mais ainda o encanto pelo lugar cercado de mistérios e religiosidade. Elenco então algumas versões sobre a origem do termo.

Medeiros (1980, p. 241) afirma que „Seridó‟ é um “vocábulo indígena, talvez formado de ceri-toh: pouca folhagem. Similarmente, tem-se a seguinte definição em Cascudo (2002, p. 122) “ceri-toh, sem folhagem, pouca folhagem, pouca sombra ou pouca cobertura vegetal, segundo Coroliano de Medeiros”.

Já Lima (2002, p. 48), com base em informação dada pelo Monsenhor Antenor Salvino de Araújo, antigo pároco da Catedral de Santana, em Caicó-RN, aponta que “Seridó vem do hebraico Sarid “, traduzindo, aqui Deus gostou de morar. No entanto, Tortino (1997, p. 1), consultando o historiador João F. Dias Medeiros, defende que “o nome Seridó é hebraico” e significa “Sobrevivente Dele (Deus).”

Por último, e não menos importante porque é dele a maioria das publicações sobre o Seridó, Medeiros Filho (1983) afirma que o vocábulo é “intraduzível” e que não há nenhuma informação certa a respeito da origem da palavra. Por outro lado, o autor, em Cronologia Seridoense (s/d., p. 137), observa o assentamento na íntegra do documento que faz registro da primeira visita de portugueses ao interior da região, em que já está descrito o topônimo “Valle Sirido” como lugar seco. Tal documento é datado de 9 de abril de 1545 e fazia parte do acervo do Cartório de Pombal-PB, antiga Vila do Bonsucesso, cidade a qual Caicó-RN pertencia.

O Seridó – espaço físico e histórico da pesquisa – é a microrregião composta hoje por vinte e três municípios localizados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, na porção centro-meridional do Rio Grande do Norte. (BRASIL, 2016)

O IBGE exclui da região os municípios de Jucurutu, Florânia, São Vicente, Lagoa Nova, Cerro-Corá e Tenente Laurentino Cruz. No entanto, optei por

adicioná-los aos outros 14: Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, Serra Negra do Norte e Timbaúba dos Batistas, pois entendo que devo considerar os limites histórica e socialmente construídos.

Esses 17 municípios tiveram processos de colonização e povoamento semelhantes em sua ocupação espacial, nos usos, costumes e práticas sociais. Em síntese: possuem uma identidade própria que os caracterizam como “quase- irmãs”.

Assim, posso afirmar que há uma delimitação própria que define o lugar, quer seja da história quer seja da geografia. No caso do Seridó, ela vem abastecida por discursos historiográficos que demarcam o tempo e o espaço. A historiografia é construída pela interpretação sensorial que um indivíduo ou vários deles têm sobre o espaço. O discurso historiográfico do Seridó é a soma das narrativas, interpretações e sentidos plurais que seus habitantes fazem do local num aglomerado de definições (cf. MORAIS, 2005).

A ideia de território é muito vasta. Pode ser considerado o domínio ou posse sobre uma área por homem ou homens, e ainda um conjunto de estratégias com o intuito de controlar, influenciar pessoas em um determinado espaço físico. Santos (1996) traz uma definição baseando-se no território usado – que é o mesmo que espaço habitado –, influenciado constantemente pela ação e relações do homem que habita o local. O território sem a presença do homem só significa a forma. Ação dos vários agentes sociais, incluindo a fala, e seus interesses é que são definidores do espaço usado ou habitado. Entendo e assumo que seja essa a definição utilizada para mapear o espaço seridoense.

Apesar de o Seridó paraibano ter as mesmas características historiográficas do Seridó potiguar, optei por delimitar politicamente o espaço da pesquisa neste último, com o propósito de contribuir especificamente para o estudo da história do português norte-rio-grandense, além do que já existem pesquisas voltadas para o mesmo propósito no estado vizinho (cf. CAVALCANTE, 2011).

O mapa a seguir mostra como é feita a divisão do Seridó. Ele compreende uma parte territorial do Estado do Rio Grande do Norte e também uma faixa de terra do Estado da Paraíba.

Figura 3: Mapa da região do Seridó

Fonte: IBGE, 2016.

É comum que a divisão política seja feita de modo a respeitar também as singularidades de determinados locais. Esse esfacelamento permite ao homem uma melhor forma de administrar bens e costumes. Por isso, o IBGE dividiu o Seridó Potiguar em duas microrregiões geográficas: o Seridó Ocidental e o Seridó Oriental. Cada uma das microrregiões possui sua cidade polo: Caicó, na ocidental, e Currais Novos, na oriental.

Figura 4: Mapa do Estado do Rio Grande do Norte

Fonte: IBGE, 2016

Todos os municípios listados a seguir se desmembraram de Caicó de forma direta ou indireta, mas essa cidade ainda conserva a maior população, sendo o centro comercial da região – ela detém o título de “Capital do Seridó”.

Microrregião Oriental

Currais Novos

 Acari

 Carnaúba dos Dantas

 Cruzeta  Equador  Jardim do Seridó  Ouro Branco  Parelhas  Santana do Seridó

 São José do Seridó

 Cerro-Corá

 Tenente Laurentino Cruz

 Florânia

Microrregião Ocidental Caicó  Ipueira  Jardim de Piranhas  Jucurutu  São Fernando

São João do Sabugi

 Serra Negra do Norte  Timbaúba dos Batistas

São João do Sabugi hoje é cidade, mas, na época da escrita das missivas, era distrito de Serra Negra do Norte.

4.2.2 A construção do perfil do povo seridoense

Na busca de perfilar o seridoense, optei por não trabalhar o indivíduo isolado da sociedade. Entendo que os dois estão intimamente ligados e um complementa o outro. De acordo com Marcotulio (2012, p. 15):

Devemos ter o cuidado necessário para não tratar do indivíduo desconectado do todo. Repensar, assim, o conceito de perfil torna-se necessário, levando-se em consideração que o nosso propósito é entender a escrita a partir de quem a escreveu em um determinado contexto sócio-histórico.

O perfil sócio-histórico do seridoense é constituído inicialmente por personagens que fizeram parte de sua colonização. Os grupos que vieram povoar o Seridó partiram dos vizinhos estados da Paraíba e também do Pernambuco, através das cidades de Olinda, Igaraçu e Goiana. Os primeiros desbravadores percorreram dois caminhos: o primeiro, através do Boqueirão de Parelhas, e o segundo pela Borborema, via Piancó passando pela ribeira do Piranhas até chegar ao Rio Seridó. São os caminhos das águas, ao longo dos quais as populações indígenas foram sendo dizimadas pelos colonizadores (cf. MORAIS, 2005).

Macêdo (2012) aponta que a conquista do Seridó não ocorreu de forma fácil, pois na região existiam cinco grupos de índios: canidés, jenipapos, sucurus, cariris e pegas que, dispostos a defenderem suas terras entraram em conflito com