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A REGULAÇÃO EDUCACIONAL NO PROCESSO DE EXPANSÃO E

No documento JOÃO RIBEIRO DOS SANTOS FILHO (páginas 99-102)

2 FINANCEIRIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADO-MERCANTIL E A

3.1 A REGULAÇÃO EDUCACIONAL NO PROCESSO DE EXPANSÃO E

As relações entre o público e o privado-mercantil, no financiamento da educação superior, revelam a existência de conflitos de interesses e de constantes lutas por recursos do fundo público. Esses conflitos de interesses se destacam no processo de regulação educacional existente no Brasil, com os diversos normativos, bem como nas omissões legislativas no referido processo.

A concessão de subsídios estatais ao setor educacional privado-mercantil é reflexo das disputas no âmbito do Estado e tem amparo em diversos normativos legais existentes no Brasil.

Como antecedente legislativo a esse processo de concessão de subsídios ao setor privado educacional, observa-se que a Constituição, de 1934, em seu artigo 154, já previa a isenção do pagamento de tributos para os estabelecimentos educacionais particulares que oferecessem ensino primário e profissional gratuitos. Com a Constituição Federal, de 1946, a imunidade ao lançamento de cobrança de qualquer imposto federal, estadual ou municipal foi estendida a todas as instituições educacionais, desde que as rendas obtidas fossem aplicadas integralmente no Brasil e para fins educacionais.

Na década de 1950, o sistema federal de ensino superior foi definido, por meio da Lei 1.254/1950, como de caráter supletivo aos sistemas estaduais, sendo integrado por dois tipos de estabelecimentos de ensino superior, ou seja, “mantidos pela União e pelos poderes públicos locais ou mantidos por entidades de caráter privado, com economia própria, subvencionados pelo Governo Federal”, sem prejuízo de outros auxílios que lhes fossem concedidos pelos poderes públicos, conforme previsto no art. 1º, da referida lei. Dessa forma, já na década de 1950, assegurava-se a possibilidade de as entidades privadas receberem recursos públicos federais (subvenções) para o seu funcionamento.

O referido instrumento normativo determinava, também, que os estabelecimentos subvencionados poderiam ser “[...] incluídos gradativamente na categoria de estabelecimentos mantidos pela União”, desde que demonstrassem a eficiência do seu funcionamento por prazo não menor que 20 (vinte) anos, que possuíssem um número significativo de alunos e tivessem projeção nos meios culturais, como centros unificadores do pensamento científico brasileiro (Art. 2º, Lei 1.254/1950). Essa prática refletia um

processo de federalização (transformação de instituições privadas em instituições federais de ensino superior).

Com amparo nesse dispositivo legal, “diversas faculdades, escolas superiores e institutos isolados encontraram na federalização de sua gestão a alternativa ideal para sanar fragilidades financeiras e alçar posições de maior prestígio no cenário acadêmico”, no período compreendido entre as décadas de 1950 e 1980 (COSTA, 2014, p. 2).

Vasconcelos (2007, p. 111) argumenta que a federalização de instituições de ensino superior configurou-se, na história brasileira, como uma “vocação nacional” e sua inserção em determinada localidade como “um modo de consolidar os ideais desenvolvimentistas e construir um diferencial para o setor a partir da vinculação e pertencimento ao sistema federal”.

Martins (2009, p. 17), ao promover uma análise sobre o desenvolvimento e a expansão do ensino superior privado, em consequência da reforma do ensino superior, na década de 1960, argumenta que o ensino privado se organizou de modo bastante próximo ao ensino público e destaca que, até a reforma de 1968, “não seria totalmente incorreto supor que o ensino privado então existente possuía um caráter semi-estatal”. E assinala que “durante um longo período, as universidades católicas permaneceram dependentes do financiamento do setor público para a sustentação de suas atividades”.

Destaca-se, assim, a importância da reforma do ensino superior da década de 1960 para a abertura de condições necessárias ao início do processo de expansão do ensino superior privado, com instituições organizadas a partir de estabelecimentos isolados, e voltados para “a mera transmissão de conhecimentos de cunho marcadamente profissionalizante e distanciados da atividade de pesquisa”, que pouco contribuem para a “formação de um horizonte intelectual crítico para a análise da sociedade brasileira e das transformações de nossa época” (FERNANDES, 1975, p. 51-55).

Não se pode desconsiderar que o movimento de criação de novas universidades particulares, a partir da década de 1960, foi fortemente impulsionado pela legislação do ensino superior implementada a partir da reforma de 1968.

Entretanto, no Brasil, os processos regulatórios e de controle do Estado sobre a educação superior privado-mercantil ainda são limitados.

Como argumenta Sguissardi (2014, p. 177), a regulação estatal do setor educacional, no Brasil, embora seja um instrumento indispensável, tal como estruturada, é bastante limitada, em especial “quando se confronta com as extraordinárias forças do mercado e do mercado financeiro”, tendo em vista que o mercado financeiro “está a cada dia mais presente como financiador ou acionista das maiores empresas do mercado educacional”.

As limitações no sistema de regulação da educação superior e a confusão com o termo “avaliação institucional” são assim denunciadas:

As medidas de regulação e controle tendem a entrar em contradição com os procedimentos entendidos como de avaliação institucional, que se assentam em especial na autonomia da cultura de avaliação, que não tem sido uma característica do sistema de educação superior no país ao longo da história, nem no setor público, muito menos no setor privado e/ou privado/mercantil. (SGUISSARDI, 2008, p. 860).

Como se extrai da preocupação esboçada por Sguissardi (2014, p. 177), a educação superior brasileira necessita de uma regulação estatal que privilegie o interesse público “sobre um sistema com predominância de instituições (e matrículas) de cunho particular ou privado-mercantil”.

Também, cabe ressaltar, ainda com base no referido autor, que a própria regulação estatal da educação superior, para que cumpra as suas atribuições e para que seja aperfeiçoada, precisa ser submetida a auditorias independentes periódicas. Acrescenta ainda que a regulação da educação superior precisa estar inserida no processo de planejamento estratégico da expansão da educação superior e estar vinculada a esse planejamento. Sguissardi (2013) destaca os desafios que a mercantilização da educação superior representa para a regulação estatal de caráter público no contexto brasileiro.

Cabe ressaltar, conforme argumenta Mascaro (2013, p. 115), que a atuação do “Estado na regulação se revela a partir da sua manifestação estrutural e funcional, como forma de reprodução necessária do capital, com sua relação correspondente com as formas mercadoria e jurídica”.

Dessa forma, a regulação se refere a um complexo institucional, centrado no Estado, mas que perpassa entidades, sindicatos, associações, meios de comunicação de massa, dentre outros atores, incorporando valores e demandas dos diversos envolvidos (no caso estudo em análise, interesses do setor privado-mercantil, como respeito à livre iniciativa, à propriedade privada, à acumulação financeira), e se expressa nos diversos instrumentos normativos

aprovados e nos projetos de lei em andamento nas casas legislativas, mostrando-se importante a análise desses dispositivos legais e projetos de lei que favorecem a expansão privado-mercantil.

No documento JOÃO RIBEIRO DOS SANTOS FILHO (páginas 99-102)