• Nenhum resultado encontrado

Os incentivos do Prouni ao Grupo Estácio Participações

No documento JOÃO RIBEIRO DOS SANTOS FILHO (páginas 157-162)

4 FINANCIAMENTO DO EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADO-MERCANTIL E

4.3 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADO-MERCANTIL POR

4.3.1 Os incentivos do Prouni ao Grupo Estácio Participações

Como destaca o grupo Estácio Participações S/A, em suas demonstrações financeiras de 2015, as empresas controladas pelo grupo que aderiram ao Prouni gozam de isenção, pelo período de vigência do termo de adesão ao Programa, com relação aos seguintes tributos federais: IRPJ, CSLL, Cofins e Pis/Pasep.

Os valores das isenções acima mencionadas são originalmente calculados sobre o valor da receita auferida em decorrência da realização de atividades de ensino superior, provenientes de cursos de graduação e cursos sequenciais de formação específica.

O grupo Estácio também destaca, em suas demonstrações, que, em decorrência da alteração da forma jurídica para sociedade empresária (ocorrida em 2007), houve as seguintes consequências: término da imunidade tributária no âmbito do Imposto sobre Serviços (ISS); perda da isenção de 100% da cota patronal do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), arcando com o ônus da referida contribuição em bases escalonadas, como previsto na legislação do Prouni, com percentuais de 20%, em 2007, 40%, em 2008, até 100%, no 5º ano seguinte à transformação; ou seja, em 2012, a Estácio passou a arcar com 100% da cota patronal do INSS (ESTÁCIO PARTICIPAÇÕES, 2015).

Cabe ressaltar, por oportuno, que a transição da Universidade Estácio de Sá, de entidade filantrópica para entidade lucrativa, não foi precedida de uma prestação de contas efetiva acerca da referida alteração; ou seja, informações fornecidas pelo próprio grupo educacional revelam aspectos dessa ausência de prestação de contas e de pagamento de todos os tributos devidos em face do processo de alteração da natureza jurídica, como se extrai do excerto abaixo, publicado nas demonstrações financeiras de 2015.

Em 2011, foram lavrados 02 Autos de Infração pela Secretaria da Receita Federal, tendo por objetos supostos débitos de contribuições

previdenciárias, relativos ao período de janeiro de 2006 a janeiro de 2007 e descumprimento de obrigações acessórias. As respectivas impugnações

foram apresentadas perante a Delegacia Especial da Secretaria da Receita Federal do Brasil de Maiores Contribuintes no Rio de Janeiro - DEMAC/RJO. Em agosto de 2012, foi proferida decisão de 1ª instância administrativa que deu provimento parcial às impugnações da Companhia, para reconhecer a decadência e excluir dos lançamentos o período de janeiro a julho de 2006, tendo sido mantidos os demais argumentos da fiscalização. Foram interpostos recursos administrativos, os quais se encontram pendentes de julgamento perante o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. O valor total

envolvido, sem considerar os efeitos da decadência, é de R$ 216.115 [valor

em milhares de reais] (ESTÁCIO PARTICIPAÇÕES, 2015, p. 55, sem grifos no original).

Acerca da referida informação, cabe destacar que o valor expresso nas demonstrações financeiras é estabelecido em milhares de reais (exceto quando, expressamente, descrito de outra forma). Assim, os referidos autos de infração lavrados pela Receita Federal totalizam, sem os valores prescritos, um valor histórico de aproximadamente 216 milhões de reais, correspondente a débitos de contribuições previdenciárias, relativos ao período de agosto de 2006 a janeiro de 2007 (tendo em vista a decadência dos lançamentos relativos ao período de janeiro a julho de 2006).

Esses valores devidos pelo grupo Estácio revelam que a transformação da forma jurídica para sociedade empresária não foi precedida de pagamentos de todos os tributos devidos. Outras ações interpostas pelo grupo Estácio e pela União reforçam essa ausência de comprovação de pagamento dos tributos devidos, como se observa nos excertos abaixo, também extraídos das demonstrações financeiras de 2015, elaboradas pelo referido grupo.

Em 2009, foi interposta Ação Ordinária distribuída pela SESES, em face da União Federal/Fazenda Nacional, através (sic) da qual pleiteia autorização para recolher as contribuições previdenciárias, de acordo com a gradação prevista no artigo 13 da Lei 11.096/05 ("Lei do PROUNI"), tendo essa gradação início a partir do 1º mês de realização da assembleia geral que autorizou a transformação da sua natureza jurídica para sociedade com fins lucrativos, ocorrida em fevereiro de 2007, resultando, por conseguinte, na seguinte gradação para recolhimento das contribuições previdenciárias pela SESES: 20% em 2007; 40% em 2008; 60% em 2009; 80% em 2010 e 100% em 2011, em detrimento do entendimento da fiscalização do INSS, a qual defende que a contagem do prazo de cinco anos para a aplicação da gradação dos percentuais previstos no referido artigo 13 da Lei do PROUNI teria o seu início com a publicação da referida Lei, o que ocorreu em 2005. Em 7 de agosto de 2012 o TRF julgou favoravelmente a apelação da Companhia. Sendo assim, de acordo com a referida decisão, o início da fruição se dá a partir da data da Assembleia de Acionistas que alterou a natureza jurídica da SESES e não a data da publicação da Lei do PROUNI. Atualmente, o processo aguarda julgamento do recurso interposto pela Fazenda Nacional. A classificação de risco de perda atribuída pelos consultores externos é de possível e o valor estimado da

demanda é de R$ 14.533 [valores em milhares de reais] (ESTÁCIO

PARTICIPAÇÕES, 2015, p. 55-56, sem grifos no original).

Em razão da divergência de entendimento acerca do previsto no artigo 13 da Lei 11.096/05 ("Lei do PROUNI"), [...], foram distribuídas Execuções Fiscais pela Fazenda Nacional visando à cobrança judicial de débitos referentes a alegadas diferenças de recolhimentos de contribuições previdenciárias. Foram apresentados os respectivos embargos a essas execuções, os quais se encontram pendentes de julgamento. O valor total envolvido é de R$ 97.267 [valores em milhares de reais]. De acordo com a opinião dos nossos assessores jurídicos externos, a possibilidade de perda nesses processos é possível. (ESTÁCIO PARTICIPAÇÕES, 2015, p. 56, sem grifos no original).

Considerando apenas essas três ações judiciais em debate, apontadas pelo próprio grupo educacional em suas demonstrações financeiras, os valores discutidos ultrapassam o

montante de R$ 327 milhões, apontando que o referido grupo tem dívidas a pagar ao Estado, em decorrência da transformação em entidade com fins lucrativos e da ausência de pagamento de tributos.

As ações tributárias, no âmbito do Poder Judiciário, corroboram os argumentos apresentados por Almeida (2014), de que o Prouni trouxe privilégios e benefícios significativos ao grupo Estácio. O autor afirma que a adesão da Universidade Estácio de Sá (integrante do grupo Estácio) ao Prouni foi um caso emblemático:

Na época, ela [a Estácio] era a maior privada do País, com mais de 100 mil alunos, e mudou seu estatuto de filantrópica para entidade com fins lucrativos. Com isso, obteve uma série de privilégios e benefícios: isenção de impostos, redução da concessão de bolsas de estudo gratuitas, não precisou pagar de forma retroativa alguns tributos devidos, além de ter alargado o tempo para pagar a cota patronal do INSS. (ALMEIDA, 2014, online).

Além dessas dívidas tributárias não efetivamente pagas e sujeitas a demandas judiciais, em relação aos incentivos fiscais decorrentes do Prouni, registrados em demonstrativos financeiros do grupo Estácio Participações, no período de 2007 a 2015, observa-se que envolvem significativos valores financeiros.

Para fins de demonstrar a quantificação dos valores decorrentes de benefícios fiscais do Prouni em favor do grupo Estácio, foi elaborada a Tabela 16, apresentada a seguir. A Tabela apresenta três colunas: uma, com o ano respectivo; outra, com os valores de benefícios fiscais do Prouni (em R$, milhões, atualizados a preços de janeiro de 2016, pelo IPCA/IBGE); e a variação percentual dos benefícios em relação ao ano anterior.

TABELA 16 – Benefícios fiscais do Prouni – Estácio (2007-2015), em R$, milhões

Ano Benefício fiscal – Prouni Variação (%)

2007 23,0 - 2008 26,5 15,4 2009 36,6 37,8 2010 37,3 1,9 2011 42,5 14,0 2012 58,4 37,4 2013 101,5 73,9 2014 167,8 65,3 2015 184,2 9,74

Fonte: Demonstrações Financeiras – Estácio (2007-2015).

Os valores de renúncias fiscais do Prouni foram crescentes, no período em análise, com significativos percentuais de expansão, após 2010. Para fins de maior visualização do aumento dos benefícios fiscais do Prouni, no interstício temporal indicado, foi elaborado o Gráfico 2, que expressa o crescimento dos valores de tributos renunciados pelo governo federal em favor do grupo Estácio Participações, no âmbito do Prouni. Como já descrito, os valores estão expressos em milhões de reais, atualizados pelo IPCA/IBGE, a preços de janeiro de 2016.

Fonte: Demonstrações financeiras (Estácio Participações, 2007-2015)

Esses dados relativos ao Prouni, individualmente considerados, não apontam a real importância para a expansão e o crescimento do grupo educacional Estácio. Entretanto, as renúncias fiscais relativas ao Prouni contribuem para o crescimento do lucro líquido da empresa educacional, com redução da carga tributária, e, em consequência, para o aumento do patrimônio líquido do grupo educacional. Para correlacionar os dados do Prouni com o lucro líquido e com a evolução patrimonial do grupo Estácio Participações S.A., elaborou-se a Tabela 17, a seguir. - 50,0 100,0 150,0 200,0 2006 2008 2010 2012 2014 2016 Va lo re s, em R$ , m ilh ões Exercícios financeiros

Tabela 17 - Prouni e dados financeiros - Estácio (2008-2015), em R$, milhões ANO PROUNI (A) RECEITA LÍQUIDA (B) LUCRO LÍQUIDO (C) PATRIMÔNIO LÍQUIDO (D) % (A/B) % (A/C) % (A/D) 2008 26,5 1.577,4 58,8 717,7 1,7 45,1 3,7 2009 36,6 1.548,1 97,3 695,8 2,4 37,6 5,3 2010 37,3 1.484,6 117,9 856,1 2,5 31,6 4,4 2011 42,5 1.573,4 96,2 848,0 2,7 44,2 5,0 2012 58,4 1.798,0 142,6 919,0 3,2 41,0 6,4 2013 101,5 2.118,5 299,5 1.857,4 4,8 33,9 5,5 2014 167,8 2.767,4 490,0 2.754,3 6,1 34,2 6,1 2015 184,2 3.103,2 544,6 2.829,9 5,9 33,8 6,5

Fonte: Demonstrações Financeiras – Estácio (2008-2015).

Observações: a) Valores a preços de Jan/2016, atualizados pela média do IPCA/IBGE;

Como se observa na Tabela 17, embora pareça não representar grandes percentuais em relação à receita líquida e ao patrimônio líquido do grupo Estácio, o Prouni tem importância relevante no lucro líquido, com percentuais em torno de 40%. Esses valores, de fato, impactam no cálculo do lucro líquido do grupo educacional, pois, com as renúncias fiscais, há redução da carga tributária e, consequentemente, aumento do lucro líquido apurado nos demonstrativos contábeis. Não se pode descartar, também, a importância das renúncias fiscais do Prouni para o aumento do patrimônio líquido, com a constituição de reservas de lucros.

Como destaca Almeida (2014, online), ao ser retirada a carga de impostos, o Prouni contribui para o lucro das universidades (no caso em apreço, para o aumento dos lucros do grupo educacional no qual as universidades, os centros universitários e as faculdades estão inseridos); ou seja, “é como se uma empresa que vende um produto não precisasse pagar o governo ou se do salário bruto do trabalhador não precisasse extrair o imposto de renda” nem outros valores como a contribuição social para o INSS (Cofins).

Os aumentos nos lucros, decorrentes das renúncias fiscais do Prouni, contribuem para uma maior lucratividade dos acionistas-proprietários, e, em consequência, para a acumulação financeira destes investidores.

Nos demonstrativos financeiros do grupo Estácio, não se evidencia o total de bolsas de estudos do Prouni, concedidas em função das renúncias fiscais, ou seja, não há uma efetiva correspondência entre os valores de tributos renunciados e o número de alunos atendidos por meio de bolsas de estudo. A mesma dificuldade de obtenção de total de bolsas concedidas, nos demonstrativos financeiros, verifica-se em relação aos grupos Ser Educacional e GAEC Educação (Ânima).

No documento JOÃO RIBEIRO DOS SANTOS FILHO (páginas 157-162)