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A reincidência criminal sob a luz o art. 63 do Código Penal de 1.940 ocorre “quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior,” ou seja, o ex detento após sair do cárcere acaba cometendo o mesmo crime pelo qual foi condenado.

No entendimento de Helio Romão Rigaud Pessoa (2015, p. 8):

[...] existem várias causas que desencadeiam a reincidência criminal. Dentre tantas, três são principais. São elas: a primeira é a falta de moradia digna; a segunda é a ausência de uma profissão lícita que ajude a suprir as necessidades básicas e, por último, o amparo familiar.

Sabe-se que é importante que o ex detento ao sair da prisão tenha uma família, moradia e um trabalho para seu sustento digno, por tanto, muitos escolhem o crime para conseguir viver, ou seja, eles acabam tendo uma vida curta, pois muitos são assassinados ou presos novamente, sendo assim é necessária uma conscientização do Estado e da sociedade quanto à sua assistência.

Outrossim, conforme o Relatório de Pesquisa – IPEA6 (2015), no qual

realizou um levantamento sobre a reincidência (legal -aplicado estritamente nos casos, em que há sentença condenatória, art. 63 CP), de 817 presos analisados, 199 eram reincidentes, ou seja, uma média de 24,4% dos indivíduos. Igualmente, o índice entre a faixa etária dos 18 a 24 anos é de 44,6% não reincidentes e 37,7% entre os reincidentes. Não obstante,

[...] essa diferença proporcional entre reincidentes e não reincidentes nessa faixa etária talvez possa ser explicada pelo corte da idade mínima para a imputabilidade penal, que é aos 18 anos. Assim, existe uma boa chance de os réus mais jovens não serem reincidentes. Apesar disso, quando comparados com outros grupos etários, a proporção de reincidentes com menos de 25 anos é considerável, equivalendo a um terço do total de reincidentes (IPEA, 2015, p.23).

Ademais, “[...] em cada dez não reincidentes, um é do sexo feminino. Porém, entre os reincidentes, a proporção de mulheres é de apenas 1,5% (IPEA, 2015, p. 24),” ou seja, os homens cometem mais delitos que as mulheres, da mesma forma os índices de reincidentes e não reincidentes são maiores, uma vez que de 69 mulheres presas 3 são reincidentes, já os homens de 741, são reincidentes 193.

Vale ressaltar que, de acordo com o citado anteriormente a pena de prisão tem por objetivo a reintegração do preso na sociedade, por tanto conforme Braga (2014, p. 354):

A reintegração social pode ser entendida como uma experiência de inclusão social, com a finalidade de diminuir a distância entre sociedade e prisão, que conta com a participação ativa do apenado e de pessoas de fora do cárcere; a partir dos seguintes pressupostos:

a) realização de um trabalho no cárcere realizado pela sociedade civil com o fim de diminuir as fronteiras entre sociedade e prisão;

b) propostas centradas em experiências significativas de inclusão social; c) reconhecimento da dignidade e “normalidade” da pessoa presa;

d) participação ativa e voluntária dos encarcerados, nas atividades desenvolvidas em âmbito prisional;

e) corresponsabilização da sociedade no processo de reintegração social; f) interação sociedade-cárcere como um fim em si mesmo e não como um meio de readequação ética do indivíduo preso.

Ocorre que pena de prisão produz efeitos negativos para a ressocialização, a pessoa ao se deparar com o cárcere necessita sobreviver, ou seja, aprende a

viver de acordo com as normas dos próprios detentos, segundo Conde (2005, p. 87):

[...] na prisão, o interno geralmente, não aprende a viver livremente em sociedade, senão que, ao contrário prossegue e ainda aperfeiçoa uma carreira criminal através do contato e relações com os outros deliquentes. A prisão muda abertamente o delinqüente, mas geralmente, para piorá -lo. Não lhe ensina valores positivos, senão negativos para a vida livre em sociedade. Fá-lo perder faculdades vitais e sociais mínimas exigidas para levar uma vida em liberdade, e lhe dá, em troca uma atitude negativa em sociedade.

Contudo pode-se dizer que, a pena de prisão afeta negativamente o processo de reinserção do indivíduo, sendo que, pode afetar sua personalidade e seu modo de viver, ou seja, alterar valores, crenças e educação, consequência disso, que as visões acerca da eficácia da prisão vêm sendo questionadas.

Outra questão negativa que o sistema prisional proporciona é a criação do apenado como inimigo da sociedade, a mídia influencia e muito a percepção das pessoas em relação aos ex detentos, pois a sociedade ela tem como característica a solidariedade com as vítimas, ou seja, acabam por tomar para si a perda, ou o sofrimento causado pelo indivíduo e com isso se inicia um processo de vingança contra o agressor.

Assim, na busca de uma pretensa paz social, a sociedade ao defender os direitos do indivíduo, direitos aos seus bens e à plena liberdade (na linha do Estado liberal, criticado por Schmitt), identifica-se com a vítima do crime e transforma o inimigo da vítima (inimicus) em inimigo coletivo (hostis), cuja violência deve ser combatida a todo custo e com todo rigor. É guerra contra a guerra, a violência contra a violência. O Estado usa instrumentos aparentemente legais para punir o inimicus, o criminoso de uma só vítima. Na verdade, porém, seus instrumentos se tornam viciados e contaminados pelo clamor público na guerra contra guerra. Em decorrência desse vício e contaminação, o inimigo individual se torna um inimigo coletivo, com todas as consequências daí decorrentes em termos de tratamento penal e penitenciário (SÁ, 2012, p. 218 grifo do autor).

Não obstante, segundo o Relatório de Pesquisa – IPEA (2015) foram entrevistados alguns ex detentos sobre reintegração social, no qual responderam que a prisão é a pior experiencia de suas vidas. Ademais, mencionaram que ao saírem do cárcere são vistos como inaptos para viver em sociedade, ou seja, a população os vem com preconceito.

Contudo, o indivíduo ao ser colocado na condição de inimigo da sociedade terá grandes dificuldades para entrar no mercado de trabalho, assim como fazer parte da sociedade. Portanto é necessárias novas políticas públicas, bem como rever a execução do sistema penal brasileiro, uma vez que a dignidade no tratamento enquanto ser humano é um direito de todos os cidadãos, por tanto é essencial uma nova perspectiva sobre o sistema penitenciário brasileiro e novos sistemas de reinserção do apenado na sociedade.

2 REPRESSIVISMO PENAL, DIREITO PENAL DO INIMIGO E O PAPEL DO