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Reinserção social x reincidência: o processo de estigmatização do apenado e a construção do preso como inimigo da sociedade

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GRANDE DO SUL

LOREDANE ROBERTA SCHERER

REINSERÇÃO SOCIAL X REINCIDÊNCIA: O PROCESSO DE ESTIGMATIZAÇÃO DO APENADO E A CONSTRUÇÃO DO PRESO COMO INIMIGO DA SOCIEDADE

Ijuí (RS) 2018

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LOREDANE ROBERTA SCHERER

REINSERÇÃO SOCIAL X REINCIDÊNCIA: O PROCESSO DE ESTIGMATIZAÇÃO DO APENADO E A CONSTRUÇÃO DO PRESO COMO INIMIGO DA SOCIEDADE

Monografia final do curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de conclusão de curso -TCC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Ester Eliana Hauser

Ijuí (RS) 2018

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Dedico este trabalho à minha família, pelo encorajamento, força e apoio em mim investido durante toda a minha trajetória.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus que me concedeu a oportunidade de realizar esse sonho e me deu força para conseguir enfrentar os obstáculos.

À minha mãe, que não apenas nesse momento, mas em toda a minha vida me encorajou e me aconselhou a lutar pelos meus sonhos, bem como, me ensinou a nunca desistir e sempre persistir naquilo que eu acreditar.

Ao meu marido, que esteve o tempo todo ao meu lado me apoiando e auxiliando naquilo que fosse necessário, assim como, depositou confiança, compreensão e estímulo aos meus sonhos.

À minha orientadora MSc. Ester Eliana Hauser, essa pessoa maravilhosa com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, que compartilhou comigo seu conhecimento e aprendizagem, portanto quero expor minha gratidão e admiração pela profissional que és e pelo apoio e encorajamento em mim depositado nessa jornada.

A minha família, amigos e colegas, pela compreensão nos momentos em que não pude estar presente, pelo apoio e encorajamento para realizar este sonho.

A todos que de alguma forma fizeram parte da minha caminhada para conquistar esse objetivo, me incentivando e apoiando, о meu muito obrigado!

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“Apesar dos nossos defeitos, precisamos enxergar que somos pérolas únicas no teatro da vida e entender que não existem pessoas de sucesso ou pessoas fracassadas. O que existe são pessoas que lutam pelos seus sonhos ou

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O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise de como se deu o processo de expansão do encarceramento no Brasil e quais as funções reais da prisão, bem como, avalia as razões que conduzem aos elevados índices de reincidência e sua relação com o processo de estigmatização do ex detento. Analisa o perfil da população carcerária brasileira e identifica o papel do cárcere na construção da imagem do inimigo. Valida o valor da dignidade humana e das garantias constitucionais na esfera penal. Aborda o sistema de reinserção do apenado e apura a reincidência criminal. Finaliza concluindo que a reincidência é resultado do fracasso das funções declaradas de inserção social atribuída à pena privativa de liberdade, uma vez que independente do tempo que o preso fica submetido no cárcere, ao sair se encontra com a mesmas dificuldades ou ainda piores do que a fez entrar no sistema penal. Conclui, que a pessoa que passa pelo sistema prisional, estará marcada pelo resto da vida pelo estigma de ser um ex detento, ou seja, o cárcere produz um processo de estigmatização tão intenso no indivíduo preso que, muitas vezes, este assume o papel criminoso. Por fim, para a realização desta monografia foram efetuadas coletas de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores, analisando também a Lei de Execuções Penais e Constituição Federal de 1988, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo da função da prisão e garantias constitucionais.

Palavras-Chave: Prisão. Reinserção social. Reincidência criminal. Direito Penal do Inimigo.

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The present work of conclusion of course analyzes the process of expansion of imprisonment in Brazil and what the actual prison functions, as well as evaluates the reasons that lead to the high rates of recidivism and its relation to the process of stigmatization of the former detainee. It analyzes the profile of the Brazilian prison population and identifies the role of the jail in the construction of the image of the enemy. It validates the value of human dignity and constitutional guarantees in the criminal sphere. It addresses the system of reintegration of the victim and establishes criminal recidivism. It concludes that recidivism is the result of the failure of the declared functions of social integration attributed to the custodial sentence, since regardless of the time the prisoner is placed in jail, on leaving he encounters the same difficulties or even worse than brought into the penal system. He concludes that the person who passes through the prison system will be marked for the rest of his life by the stigma of being a former detainee, that is, the prison produces a process of stigmatization so intense in the prisoner that he often assumes the role criminal. Finally, for the accomplishment of this monograph, data collections were made in bibliographic sources available in physical media and in the computer network, also analyzing the Law of Criminal Executions and Federal Constitution of 1988, in order to enrich the information collection and to allow a deepening in the study of the function of the prison and constitutional guarantees.

Keywords: Prison. Social reinsertion. Criminal recidivism. Criminal Law of the Enemy.

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INTRODUÇÃO ... 9 1 O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO, AS FUNÇÕES DECLARADAS DA PENA DE PRISÃO E A REINCIDÊNCIA CRIMINAL ... 11 1.1 A prisão como forma de pena e a expansão do encarceramento no Brasil.11 1.2 O perfil da população carcerária brasileira ... 18

1.3. A função da prisão segundo a Lei de Execuções Penais (Teorias da pena

reinserção do apenado) e as garantias constitucionais ... 24

1.3.1 A reinserção social como função declarada da pena privativa de liberdade (ressocialização x reinserção)l ... 28 1.3.2 O valor da dignidade humana e das garantias constitucionais na esfera penal ... ..29

1.4 A reincidência criminal e o fracasso do ideal de ressocialização ... 31 2 REPRESSIVISMO PENAL, DIREITO PENAL DO INIMIGO E O PAPEL DO CÁRCERE NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO INIMIGO ... 35 2.1 Repressivismo e expansionismo penal no contexto contemporâneo ... 36 2.2 O modelo de Direito Penal do Inimigo ... 40

2.3 O papel do cárcere na construção da imagem do inimigo: quem são os

inimigos da sociedade? ... 45 2.4 O fracasso do ideal de reinserção social do apenado e a função real da prisão: considerações críticas ... 49 CONCLUSÃO ... 55 REFERÊNCIAS ... 57

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca do processo de reinserção social da pessoa condenada e sua relação com a reincidência criminal, analisando o impacto negativo do processo de estigmatização do apenado e da construção da imagem do preso como inimigo da sociedade.

A pesquisa é necessária visto que as visões acerca da prisão como forma de pena e a expansão do encarceramento no Brasil vêm se transformando ao longo dos tempos. Atualmente, a crescente descrença no ideal ressocializador como fundamento da prisão tem provocado amplo debate em torno dos índices de reincidências, bem como do papel do cárcere na construção da imagem do preso como inimigo da sociedade.

Ademais, a proposta de reinserção social do apenado apresenta precariedade na atualidade uma vez que os índices de reincidência no Brasil são bastante significativos. Tendo em vista essa realidade, o presente estudo responde aos seguintes questionamentos: De que modo a realidade da execução penal no Brasil têm contribuído para a reincidência criminal e para o processo de estigmatização do apenado? Como está estabelecido o sistema carcerário brasileiro, bem como quais são as funções reais da pena de prisão e, em que medida, se distancia das suas funções declaradas? Em que medida o processo de construção da imagem do preso como inimigo da sociedade contribui para a reincidência criminal?

Para a realização desta monografia foram efetuadas coletas de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores, analisando também a Lei de Execuções Penais e Constituição Federal de 1988, a

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fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo da função da prisão e garantias constitucionais.

Inicialmente, no primeiro capítulo, é feita uma análise do sistema carcerário brasileiro, das funções declaradas da pena de prisão e da reincidência criminal. Igualmente, é verificada a prisão como forma de pena e a expansão do encarceramento no Brasil, bem como o perfil da população carcerária brasileira. Também, são analisadas as funções da prisão segundo a Lei de Execuções Penais e as garantias constitucionais. Segue uma verificação da reinserção social como função declarada da pena privativa de liberdade. Do mesmo modo, são analisados o valor da dignidade humana e das garantias constitucionais na esfera penal. Além disso, explora a reincidência criminal e o fracasso da ressocialização do ex detento.

No segundo capítulo é analisado o repressivismo penal, do mesmo modo, o modelo de direito penal do inimigo. Também, é verificado o papel do cárcere na construção da imagem do preso como inimigo da sociedade, bem como, quem são os indivíduos inimigos da população. Por fim, se analisa o fracasso do ideal de reinserção social do apenado e a função real da prisão.

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1 O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO, AS FUNÇÕES DECLARADAS DA PENA DE PRISÃO E A REINCIDÊNCIA CRIMINAL

As visões acerca da prisão como forma de pena e as taxas de encarceramento no Brasil vêm se transformando ao longo dos tempos. Atualmente a crescente descrença no ideal ressocializador como fundamento da prisão tem provocado amplo debate em torno dos índices de reincidência, bem como no papel do cárcere na construção da imagem do preso como inimigo da sociedade. Sendo assim, A proposta de reinserção social do apenado apresenta precariedade na atualidade uma vez que os índices de reincidência no Brasil são bastante significativos.

O colapso do sistema penal brasileiro deriva tanto do mau estado do cárcere e pelo fracasso do serviço de ressocialização e reintegração social do preso, quanto do processo de estigmatização do apenado e da construção de sua imagem como inimigo da sociedade, o que bloqueia sua inclusão na vida familiar, social e profissional ajudando, dessa forma, no aumento das taxas de reincidência.

Cabe destacar que todas as pessoas são iguais em dignidade e direitos, possuem consciência e liberdades que devem ser respeitadas, ou seja, mesmo o apenado que responde pelo erro cometido não deve ser tratado de forma cruel ou preconceituosa, portanto a sociedade precisa mudar o modo de ver o ex detendo.

Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar a prisão como forma de pena, assim como os motivos da expansão do encarceramento no Brasil e o perfil da população carcerária. Igualmente pretende responder como está estabelecido o sistema carcerário brasileiro, bem como quais são as funções reais da pena de prisão e, em que medida, se distancia das suas funções declaradas.

1.1 A prisão como forma de pena e a expansão do encarceramento no Brasil

A pena privativa de prisão surgiu como uma resposta em relação à criminalidade, ou seja, é uma maneira de afastar da sociedade aqueles indivíduos

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que violaram a lei, para muitos autores a prisão é tratada como um “mal necessário”, eis que a mesma traz em sua aplicação contradições impagáveis.

Na Antiguidade e na Idade Média a prisão não era a principal forma de punição. Neste período histórico, a mesma representava uma estratégia de contenção,

[...] até fins do século XVIII a prisão serviu somente aos objetivos de contenção e guarda de réus, para preservá-los fisicamente até o momento de serem julgados, ou executados. Recorria-se, durante esse longo período histórico, fundamentalmente, à pena de morte, às penas corporais (mutilações e açoites) e às infamantes (BITENCOURT, 2017, p. 42).

As prisões eram lugares de torturas, onde os apenados ficavam em situações precárias, sofrendo violências físicas e morais, muitos eram mortos. De acordo, com Bitencourt (2017, p. 42) "[..] a prisão foi sempre uma situação de grande perigo, um incremento ao desamparo e, na verdade, uma antecipação da extinção física," pois os lugares aonde as pessoas ficavam aguardando o julgamento eram os piores lugares para se estar, "[..] utilizavam - se horrendos calabouços, aposentos frequentemente em ruínas ou insalubres de castelos, torres, conventos abandonados, palácios e outros edifícios (BITENCOURT, 2017, p.44).”

No período antigo, as penas aplicadas eram cruéis, como a tortura, trabalhos forçados, mutilações e até mesmo a morte (Bitencourt, 2017), as prisões eram consideradas lugares de desesperos e sofrimento, sendo que alguns imploravam pela morte. Contudo, o intuito dessas penalidades era provocar o medo na população e com isso, os governantes adquiriam respeito e poder.

A idealização de pena privativa de liberdade durante toda a Antiguidade e a Idade Média não é visível, dessa forma sua origem se dá a partir do século XVIII, quando passa a substituir as penas corporais amplamente utilizadas durante o período antigo e medieval. Na Idade Moderna, conforme destaca Foucault (1999, p. 18) “[...] o grande espetáculo da punição física: o corpo supliciado é escamoteado; exclui-se do castigo a encenação da dor, penetramos na época da sobriedade punitiva,” isto é, com o grande aumento da criminalidade as penas de morte e tortura

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já não eram penas adequadas para serem aplicadas na população criminosas, portanto, ainda “[...] na segunda metade do século XVI iniciou-se um movimento de grande transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade, na criação e construção de prisões organizadas para a correção dos apenados (BITTENCOURT, 2017, p. 52).”

A preocupação com aumento dos delitos fez com que fossem criadas instituições para corrigir o ser humano, ou seja,

[...] a suposta finalidade da instituição, dirigida com mão de ferro, consistia na reforma dos delinquentes por meio do trabalho e da disciplina. O sistema orientava-se pela convicção, como todas as ideias que inspiraram o penitenciaríssimo clássico, de que o trabalho e a férrea disciplina são um meio indiscutível para a reforma do recluso. Ademais, a instituição tinha objetivos relacionados para a vadiagem e a ociosidade. Outra de suas finalidades era conseguir que o preso, com as suas atividades, “pudesse autofinanciar-se e alcançar alguma vantagem econômica” (BITTENCOURT, 2017, p. 52).

As instituições prisionais que foram criadas na época não eram utilizadas para os crimes considerados graves, sendo assim, ainda esses delitos eram penalizados com chicotadas e açoites.

Para o controle do crime, sob o ponto de vista global, os Códigos Penais ainda confiavam, principalmente, nas penas pecuniárias e corporais e em penas capitais. Contudo, não se pode negar que as casas de trabalho ou de correção, embora destinadas à pequena delinquência, já assinalam o surgimento da pena privativa de liberdade moderna (BITTENCOURT, 2017, p. 53).

Ademais, a cultura da época fazia com que os castigos, os trabalhos e os ensinamentos religiosos fossem atos que transformassem os pensamentos e o modo de viver das pessoas que cometeram crimes, ou seja, “[...] procurava-se alcançar o fim educativo por meio do trabalho constante e interrupto, do castigo corporal e da instrução religiosa (BITTENCOURT, 2017, p. 54).”

Pouco a pouco foi se formando um novo pensamento sobre a pena privativa de liberdade, criando um sistema diferente, surgindo os princípios basilares do sistema penal, entretanto

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[...] o poder sobre o corpo, por outro lado, tampouco deixou de existir totalmente até meados do século XIX. Sem dúvida, a pena não mais se centralizava no suplício como técnica de sofrimento; tomou como objeto a perda de um bem ou de um direito. Porém castigos como trabalhos forçados ou prisão — privação pura e simples da liberdade — nunca funcionaram sem certos complementos punitivos referentes ao corpo: redução alimentar, privação sexual, expiação física, masmorra (FOUCAULT, 1999, p. 19).

Muitas foram as causas para a criação da pena de prisão, tais como, a valorização da liberdade, ocorrida a partir do século XVI, quando se impõe progressivamente o racionalismo (BITTENCOURT, 2017, p. 62). Também,

[...] os transtornos e mudanças socioeconômicas que se produziram com a passagem da Idade Média para a idade Moderna, e que tiveram sua expressão mais aguda no século XV, XVI e XVII, tiveram como resultado a aparição de grande quantidade de pessoas que sofriam de uma pobreza extrema e que deviam dedicar-se à mendicidade ou a praticar atos delituosos. Houve um crescimento excessivo de delinquentes em todo o velho continente. A pena de morte caíra em desprestígio e não respondia mais aos anseios de justiça (BITTENCOURT, 2017, p. 62).

O colapso da pena de morte foi uns dos marcos históricos para o surgimento das prisões, ou seja, a pena privativa de liberdade seria um meio mais eficaz, para penalizar os assim considerados criminosos. Outra causa, foi a economia, eis que “o trabalho, a maioria das vezes forçado, sempre esteve muito vinculado a prisão; inclusive se diz que houve mais interesse em que a pena consistisse em trabalho pesado que propriamente em privação da liberdade (BITTENCOURT, 2017, p. 64).”

Contudo,

[...] quando a prisão se converteu na principal resposta penológica, especialmente a partir do século XIX, acreditou-se que poderia ser um meio adequado para conseguir a reforma do delinquente. Durante muitos anos, imperou um ambiente otimista, predominando a firme convicção de que a prisão poderia ser um meio idôneo para realizar todas as finalidades da pena e que, dentro de certas condições, seria possível reabilitar o delinquente. Esse otimismo inicial desapareceu e atualmente predomina uma certa atitude pessimista: que já não se tem muitas esperanças sobre os resultados que se posa conseguir com a prisão tradicional. A crítica tem sido tão persistente que se pode afirmar, sem exagero que a prisão está em crise. Está crise abrange também o objetivo ressocializador da pena privativa de liberdade (BITENCOURT, 2012, p. 600 – 601, grifo do autor). Cabe lembrar que a pena privativa de liberdade tem por finalidade declarada punir o ato criminoso e preparar o indivíduo para voltar à vida em sociedade numa perspectiva de reinserção social, ou seja, permitir que o mesmo retorne ao convívio social apto a respeitar as leis e as outras pessoas, bem como apresentado sua

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dignidade de pessoa afirmada. Entretanto não é o que ocorre, eis que, os presídios hoje estão lotados e os cidadãos que ali estão vivem em situações desumanas, como falta de higiene, violências e pressão psicológica, tendo a retornar à convivência social marcados negativamente pela experiência do cárcere, o que os leva, em grande medida a reincidência criminal.

Outrossim, a expansão do encarceramento no Brasil é um dos problemas da pena de prisão a ser destacado, uma vez que o principal objetivo do cárcere está em crise, ou seja, os índices são preocupantes visto que o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias1, publicado em dezembro de 2014, pelo Departamento

Penitenciário Nacional (DEPEN), por meio do sistema de informação estatísticas do sistema penitenciário nacional (Infopen) revelava uma realidade alarmante sobre o sistema carcerário (DEPEN, 2014, p. 6), uma vez que naquela época

o país já ultrapassou a marca de 622 mil pessoas privadas de liberdade em estabelecimentos penais, chegando a uma taxa de mais de 300 presos para cada 100 mil habitantes, enquanto a taxa mundial de aprisionamento situa-se no patamar de 144 presos por 100.000 habitantes.

Com esses números o país passou a ser “[....] a quarta nação com maior número absoluto de presos no mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia (DEPEN, 2014).” O Brasil além de estar classificado nessa posição ainda encontra- se em sentindo contrário, pois os índices de pessoas encarceradas nesses países vêm caindo.

Igualmente, a mais recente coleta2 de dados sobre o sistema prisional

realizado com as informações referente a dezembro de 2015 e junho de 2016 demonstra uma crescente e preocupante expansão do número de pessoas privadas de liberdade no pais, eis que, na data supracitada, 726.712 pessoas estavam presas, sendo que, a capacidade de vagas para detentos no período do relatório era de 368.049 mil, ocasionando um déficit 358.663 mil vagas e uma taxa de ocupação média de 197,4% em todo o Brasil. Ainda, o índice era de mais de 350 pessoas

1 Relatório emitido pelo Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), por meio do sistema de

informação estatísticas do sistema penitenciário nacional (Infopen), publicado em 2014.

2 Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, atualização Junho de 2016, por meio do

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privadas de liberdade para cada 100.000 habitantes, situação agravada em relação ao ano de 2014.

Outrossim, pela primeira vez no ano de 2016 a população carcerária ultrapassou os 700 mil, sendo que este número retrata um aumento de 707% em relação aos anos 90 (DEPEN, 2017, p. 9), o que pode ser analisado na figura 1.

Figura 1 – Evolução das pessoas privadas de liberdade entre 1990 e 20163

Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, Junho/2016.

Ademais, de acordo com a figura 2 “[...] entre 2000 e 2016, a taxa de aprisionamento aumentou em 157% no Brasil. Em 2000 existiam 137 pessoas presas para cada grupo de 100 mil habitantes. Em junho de 2016, eram 352,6 pessoas presas para cada 100 mil habitantes (DEPEN, 2017, p. 12).”

3 Conforme o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (2017, p. 9) “com exceção do

ano de 2002, em que foi produzido apenas relatório referente ao primeiro semestre do ano, e do ano de 2016, que se refere a Junho, os demais dados referem-se ao mês de dezembro de cada ano. Não há dados disponíveis para os anos de 1996 e 1998. Os dados disponíveis em cada ano incluem as pessoas privadas de liberdade que se encontram no Sistema Penitenciário Federal”.

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Figura 2 – Evolução da taxa de aprisionamento no Brasil entre 2000 e 2016

Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, Junho/2016.

Além disso, o número de detentos cresceu em média de 7,3% por ano, visto que, conforme a figura 3, em 2000 eram 232 mil pessoas passando em 2016 para 726 mil indivíduos privados de liberdades. A figura em questão também apresenta o crescimento do número de detentos, bem como a quantidade de vagas existentes entre os anos de 2000 e 2016.

Figura 3 – Evolução da população prisional, vagas e déficit de vagas entre 2000 e 20164

Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, Junho/2016.

Diante do exposto, verifica-se que

4 “O cálculo da população prisional inclui as pessoas privadas de liberdade em carceragens de

delegacias e no Sistema Penitenciário Federal. O cálculo do número de vagas inclui as vagas do Sistema Penitenciário Federal (DEPEN, 2017, p. 20).”

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[....] a população carcerária cresce muito e poucos presídios são construídos para amenizar a situação da superlotação.

Dentro das penitenciárias ocorre pouca ventilação, não existe iluminação, a água dura poucas horas por dia. Existem casos de presos dormindo em redes amarradas ou penduradas nas celas por não existir espaço para deitar. Doenças se proliferam rapidamente devido ao atendimento médico precário. (VILLEGAS, 2016, p.4-5)

Neste contexto a pena privativa de liberdade oferece aos presos, como regra, um lugar desumano, com violência e precariedade, o que inflige a Lei de execução penal que será vista neste capitulo, todavia o perfil da pessoa presa é um fator que merece destaque, eis que apresenta um dos motivos da reincidência, bem como, a verdadeira finalidade do cárcere.

1.2 O perfil da população carcerária brasileira

Com base no Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (2014, p. 6) “[...] o perfil das pessoas presas é majoritariamente de jovens negros, de baixa escolaridade e de baixa renda,” ou seja, 55,07% tem idade máxima de 29 anos, e 67% são negros, que cresceram em periferias e não tiveram oportunidades na vida e tão pouco os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos como educação, trabalho e saúde.

Esses dados são confirmados pelo mais recente Levantamento INFOPEN, uma vez que nele constam informações sobre o perfil da população carcerária brasileira, que indicam ser ela formada, preferencialmente por homens, jovens, negros ou pardos, de baixa escolaridade e envolvidos com crimes patrimoniais, porte ilegal de arma ou tráfico de drogas.

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Figura 4 – Faixa etária das pessoas privadas de liberdade no Brasil

Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, Junho/2016.

Cabe destacar que “[...] as informações sobre faixa etária consideram a idade das pessoas privadas de liberdade em anos completos em 30/06/2016, conforme registros mantidos pelos estabelecimentos penais (DEPEN, 2017, p. 30),” sendo assim, na data em questão conforme figura 4 acima citada, confirma que 55% das pessoas presas são jovens de no máximo 29 anos e que 45% são homens de 30 anos ou mais.

Igualmente, conforme Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (2017, p. 32) pode se “[...] afirmar que 64% da população prisional é composta por pessoas negras,” ou seja, mais da metade dos cidadãos que estão no cárcere, sendo assim, apenas 35% são pessoas brancas e 1% indivíduos de cores ou etnias amarela, indígena e outras.

Como se vê, o índice de jovens presos é preocupante, visto que são inseridos no sistema prisional cedo demais e ao saírem acabam sendo vítimas de homicídio ou levando uma vida criminosa. Cabe ressaltar que se o sistema prisional, conseguisse proporcionar o seu objetivo que é a reinserção do ex apenado, tanto com a sociedade como com os presos, preparando-os para o mercado de trabalho, esses jovens teriam a oportunidade de iniciar uma vida diferente.

Compete salientar que, conforme o anterior Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (2014, p. 49) “[...] a proporção de jovens entre a

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população masculina (56%) é maior que entre a população prisional feminina (49%),” sendo que conforme a figura 5 que segue, existem diferenças entre os crimes cometidos pelos homens e mulheres, ou seja, 63% das mulheres estão presas pelo crime de tráfico, já os homens apenas 25% estão cumprindo pena por esse crime.

Figura 5 - Distribuição por gênero de crimes tentados/consumados entre os registros das pessoas privadas de liberdade

Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, junho/2014

Já os dados divulgados em 2017 (e que se referem ao ano de 2016) indicam um crescimento no percentual de homens recolhidos por tráfico de drogas, conforme demonstra a figura 6, o percentual é de 26%, ao passo que para as mulheres, a prisão por tráfico representa 62%, conforme indica a figura abaixo.

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Figura 6 - Distribuição por gênero de crimes tentados/consumados entre os registros das pessoas privadas de liberdade, por tipo penal

Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, Junho/2016.

Cabe enfatizar que ao analisar o perfil dos crimes cometidos das pessoas presas, o cenário torna-se ainda mais alarmante, uma vez que os maiores índices sãos crimes contra o patrimônio e tráfico, eis que conforme a figura 7, 30% das pessoas presas cometeram crimes de tráfico e 21% de roubo, sendo que apenas 16% estão no cárcere pelo crime de homicídio.

Figura 7 - Distribuição dos crimes tentados e consumados entre os registros das pessoas presas no sistema federal

Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, junho/2016.

Igualmente, pode ser observado na figura número 7, que a grande maioria dos presos estão cumprindo pena por crime de tráfico de drogas e entorpecentes, ou

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seja, os presídios estão superlotados por pessoas que cometeram o erro de vender ou preparar ou ter consigo drogas, sendo que na grande maioria das vezes financiados pelas pessoas da elite. Assim sendo, para desafogar o sistema carcerário, seria importante o problema de as drogas ser tradado como saúde pública e não caso de direito penal.

Da mesma forma, os outros delitos com maior índice são os crimes cometidos contra o patrimônio, ou seja, todas as infrações cometidas contra os direitos de determinada pessoa que tenha valor econômico. Sendo assim, cabe analisar novamente, que a grande maioria das pessoas presas são seres humanos de classe baixa, que passam por dificuldades para obter alimentos. Além disso, os dependentes químicos em momento de transtornos, acabam por cometer crimes como furto e roubo para manter seu vício, o que causa o número elevado de tais delitos.

Ademais, quando se fala em crimes envolvendo violência contra a pessoa, os homens estão na frente, ou seja, o percentual de pessoas do sexo masculino que cometeram crimes de homicídios é duas vezes maior do que do sexo feminino, sendo que as mulheres empatam com os homens nos crimes de desarmamentos, uma vez que, 2% do sexo feminino cometeram tal crime.

Outra questão relevante é a escolaridade dos presos que pode ser analisada de acordo com a figura 8 que segue.

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Figura 8 - Escolaridade das pessoas privadas de liberdade no Brasil

Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, junho/2016.

O grau de escolaridade dos detentos é muito baixo, visto que, de acordo com o Levantamento demonstrado na figura acima, 51% dos presos tem o ensino fundamental incompleto e apenas 1% tem ensino superior incompleto, ou seja, muitas pessoas que estão hoje no sistema prisional são indivíduos que não possuem muitos conhecimentos e que ao saírem do cárcere vão se deparar com um difícil mercado de trabalho, sendo que a cada dia está mais concorrido para conseguir uma vaga de emprego, ainda mais para eles que vem junto o estigma de ser um ex detento.

Contudo, o sistema privativo de liberdade é um sistema em certos aspectos precário, visto que ao analisar, os gráficos e os índices da população presa, se torna preocupante, o número de homens, jovens, pobres que cometeram crimes contra o patrimônio. Entretanto, cabe salientar que, o país contém um grande número de famílias desestruturadas, com baixa renda, o que ocasiona altos índices de delitos. Sendo assim, influência no resultado do nosso Estado, pois uma família estruturada é um governo sólido.

Por fim, existe a Lei de Execução Penal que regulamenta a forma do Estado aplicar as penas dos indivíduos que cometeram crimes, tendo como objetivo a reeducação, ressocialização e a reinserção do apenado na sociedade.

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1.3 A função da prisão segundo a Lei de Execuções Penais (Teorias da pena – reinserção do apenado) e as garantias constitucionais

De acordo com o artigo 1º da Lei nº 7.210 de 1984 a Lei de Execução Penal: “a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentenças ou decisão criminal ou proporcionar condições para harmônica integração social do condenado e do internado.” Ao dizer deste modo, a legislação de execução penal do país, consagra a teoria da prevenção especial positiva como principal missão da execução da pena.

Em primeiro lugar, cabe dizer que a doutrina se utiliza de três teorias principais para explicar a pena, sendo essas, as teorias absolutas, relativas ou prevencionistas e as ecléticas ou mistas, cada uma diferenciada por seu nível de punição.

As absolutas “[...] são todas as teorias que veem o direito penal como um fim em si mesmo, independentemente de razões utilitárias ou preventivas (QUEIROZ, 2014, p. 399),” ou seja, a pena é um efeito do ato realizado, não tendo como nenhum outro objetivo, se não aplicar as penas que constam na lei. Desse modo são as chamadas penas retributivas, visto que está ligado unicamente ao autor do delito, não tendo como nenhum outro interesse se não o apenas de penalizar o mal causado. Outrossim, de certo modo essa teoria, conforme Paulo Queiroz (2014, p. 401)

[...] parecem de todo incompatíveis com o perfil dos Estados contemporâneos - Estados funcionais ou instrumentais – que encontram limites constitucionais intransponíveis, em especial a dignidade da pessoa humana, razão pela qual todo o poder há de emanar do povo, que o exerce por meio de seus representantes (CF, art. 1º, parágrafo único), não podendo o direito penal responder a nenhum propósito transcendental ou metafisico. Além disso, tal formulação parece absolutizar na pena todo controle social, sendo inconciliável com a crescente relativação dos modos de atuação dos sistemas penais contemporâneos (penas alternativas, transação descriminalização, despenalização).

Todavia, essas teorias não apresentam nenhum aspecto positivo do sistema penal, eis que, ao invés disso torna-se unicamente negativa, visto que, é distinta de qualquer pensamento de reeducar e ressocializar o indivíduo para voltar ao convívio em sociedade, ou até mesmo, acabar com a criminalidade.

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Contrárias das teorias absolutas, as relativas possuem como objetivo a prevenção de novos crimes, isto é, “[...] são marcadamente teorias finalistas, já que veem a pena não como um fim em si mesmo, mas como meio a serviços de determinados fins (QUEIROZ, 2014, p. 401),” sendo assim, tais teorias acreditam que os indivíduos que cometem delitos, praticaram novamente se não forem penalizados. Por esse motivo, “[...] são também conhecidas como teorias da prevenção ou prevencionistas (QUEIROZ, 2014, p. 402),” que são divididas

[...] em teorias da prevenção geral - positiva ou negativa – e teorias da prevenção especial. No primeiro caso (de prevenção geral positiva), a finalidade da pena é fortalecer os valores ético – sociais veiculados pela norma, estabilizar o sistema social semelhante ou semelhante; no segundo (de prevenção geral negativa), norma tem por objetivo motivar os seus destinatários a se absterem da prática de novos delitos ; finalmente para as teorias da prevenção, o fim da norma é evitar a reincidência por meio da ressocialização do condenado ou similar (QUEIROZ, 2014, p. 402).

Cabe salientar, que a corrente da prevenção especial, tem por objetivo a ressocialização e a reinclusão do indivíduo, eis que, tem como intuito a prevenção de novos delitos, ou seja, evitar o aumento da reincidência. Ademais que, segundo tais teorias, a “[...] missão da pena para os delinquentes ocasionais, que não precisam de correção, é a advertência [...], para os que precisão de correção, é ressocializá-los com educação durante a execução penal (QUEIROZ, 2014, p. 407).”

Contudo, Segundo Paulo Queiroz (2014, p. 408) “[..] não é preciso lembrar que a prisão, longe de ressocializar, em geral dessocializa, corrompe, embrutece e, pior não tem impedido os criminosos de continuarem a delinquir mesmo quando encarcerados em presídios ditos de segurança máxima,” sendo assim, os problemas dessa teoria são os altos índices de reincidência, que acabam por destruir a ideia, central, visto que, a prisão não consegue cumprir seu objetivo de reinserção social.

Outrossim, as teorias majoritárias são as ecléticas ou mistas, eis que são uma mistura das teorias relativas e absolutas, ou seja, para elas a pena é considerada tanto para penalizar o delito cometido, como para a prevenção de

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novos crimes. Portanto, para essa corrente “[...] busca-se assim, unir justiça e utilidade, razão pela qual a pena será legítima somente quando for ao mesmo tempo justa e útil (QUEIROZ,2014, p. 409).”

Assim sendo, o Estado ao punir o ato criminoso demonstra para a sociedade que está cumprindo com o seu dever de justiça, advertindo o indivíduo e coibindo novos delitos. Com esse ato mostra para as pessoas que procura por justiça e reeducação do criminoso na sociedade.

A LEP5 prevê uma série de garantias que devem ser oferecidas ao preso

enquanto este estiver sob a custódia do Estado, pois, o objetivo principal da pena consiste na reabilitação e na reeducação do cidadão que violou as regras gerais de convivência de maneira a lhe proporcionar um retorno seguro ao seio social, proporcionando enfim a paz social pretendida tanto para a sociedade quanto para o egresso. (SILVA, 2009, p. 35).

A eficácia da pena de prisão é que não ocorre, com a crise do sistema penitenciário, não há como proporcionar as referidas condições “harmônicas para a integração social do condenado”, e com isso não evitando que ele cometa novamente o crime ou aprenda dentro do próprio sistema, sendo que esse se trata de um sistema falho, novos crimes.

É sabido que o condenado é fechado dentro de uma cela e na maioria das vezes é esquecido pela sua família, amigos e sociedade, sendo que com isso acaba perdendo alguns direitos que são essenciais para a vida, estes direitos estão descritos no artigo 41 da LEP:

Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário; II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social; IV - constituição de pecúlio; V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da

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leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente.

Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.

Os direitos supracitados são indispensáveis para qualquer pessoa inclusive o preso, pois não ter acesso a assistência médica, educacional, religiosa e social faz com que o cidadão cometa crimes para tentar alcançar o que deseja, sem uma boa influência familiar e social os jovens acabam por se tornarem criminosos.

Os direitos correspondem às garantias consagradas no texto da Constituição Brasileira e asseguram o respeito à dignidade da pessoa privada de liberdade, sendo que diversos incisos do art. 5º tratam da proteção à dignidade, liberdade de consciência, vedação ao tratamento desumano e degradante, vedação de penas cruéis, de caráter perpétuo, etc, do qual todos estes se aplicam a pessoa privada de liberdade.

Cabe salientar que, a reincidência é uma das consequências da crise do falho sistema penitenciário brasileiro, que independente do tempo que a pessoa fique trancada na penitenciaria, ao sair se depara com as mesmas dificuldades que a fez entrar lá.

A maioria dos indivíduos no pequeno espaço de tempo ao sair da prisão cometem reincidência. Contudo, observa se que, segundo o artigo 10 da Lei de execução penal, “a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade”, ou seja, é dever do Estado nortear a pessoa ao retorno a sociedade, bem como prevenir que o crime ocorra novamente.

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1.3 1 A reinserção social como função declarada da pena privativa de liberdade (ressocialização x reinserção)

O Estado tem como dever sancionar o indivíduo que cometeu o crime, ou seja, como mencionado anteriormente, a pessoa é levado para o cárcere, retirada do convívio com sociedade, trancado numa cela com mais presos, todos em condições desumanas, para mostrar aos outros cidadãos a aplicação do poder do Estado para o crime praticado, mas o objetivo dessa pena é “reeducar” , “ressocializar” e “reinserir o ex detento na sociedade” , de acordo com Conde (2005, p. 77) “[...] todas essas expressões coincidem em impor a execução de pena e medidas penais privativas em liberdade uma função primordial: uma função reeducadora e correcional do delinquente.”

Segundo Baratta (apud BRAGA, 2014, p. 349) a ressocialização “[...] pressupõem uma postura passiva do detento e ativa das instituições” e são “[...] heranças anacrônicas da velha criminologia positivista que tinha o condenado como um indivíduo anormal e inferior que precisava ser (re) adaptado à sociedade,” ou seja, a ressocialização parte do pressuposto de que é possível reabilitar e reeducar durante o processo de encarceramento, preparando o apenado para voltar a vida em sociedade, sendo que este deve estar apto a viver de forma harmônica e seguir as leis impostas pelo estado.

Cabe destacar a observação de Conde (2005, p. 82) quando menciona que:

Ressocializar um deliquente sem questionar ao mesmo tempo o conjunto social normativo em que se pretende incorporá-lo significa, pura e simplesmente, aceitar como perfeita a ordem social vigente sem questionar nenhuma de suas estruturas nem sequer aquelas mais diretamente relacionadas com o delito cometido (CONDE, 2005, p. 82).

A execução penal não deve ter como objetivo transformar o indivíduo, mas sim reintegrar o infrator para que este volte a viver em sociedade, alguns doutrinadores utilizam o termo de reintegração como sinônimo de ressocialização, readaptação, reeducação social e recuperação, mas de acordo com Braga (2014, p. 349 - 350) a expressão de reinserção deve ser:

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[...] empregada justamente para fazer frente às chamadas ideologias “res”, segundo as quais o indivíduo é objeto de intervenção penal, cabendo ao sistema penitenciário modificar o modo de ser do apenado e este readequar seus valores e atitudes como condição para ser aceito pela sociedade.

Incumbe enfatizar que, de acordo com Braga (2014, p. 351), “[...] a reintegração é entre o preso e a sociedade,” ou seja, a reintegração social do preso é uma via de mão dupla, tanto o preso necessita reintegrar à sociedade como a sociedade restabelecer o ex presidiário, por tanto a inserção do apenado necessita de uma melhor dedicação e trabalho com a sociedade, ou seja, é preciso recuperar a consciência da população, lembrando que o indivíduo não é inimigo da sociedade, isto é, ele cometeu o erro, mas já pagou à pena e merece uma segunda chance.

Cabe destacar que a visão proposta por Braga, infelizmente, não é a que predomina na sociedade e no sistema jurídico penal, pois estes ainda veem o preso como simples objeto de intervenção, que deve ser reeducado para a vida em comunidade.

Partem do pressuposto de que o preso é expressão absoluta do mal, que o crime é uma patologia individual exclusiva e que a sociedade é absolutamente boa, o que não corresponde à realidade, visto que, todas as pessoas são iguais em dignidades e direitos, possuem consciências e liberdades e devem agir de forma fraternal com a outra pessoa, sendo assim, o apenado ele comete um erro, mas não deve ser tratado de forma cruel ou preconceituosa, ou seja, a sociedade deve mudar o modo de ver o ex detendo, não como inimigo da população, mas como um membro da comunidade.

1.3.2 O valor da dignidade humana e das garantias constitucionais na esfera penal

A Carta Constitucional Brasileira de 1988 traz em seu texto os princípios e normas que deveram ser seguidos pela sociedade, Municípios, Estados e a União, bem como os órgãos públicos e privados. No seu art. 5º está descrito que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,” portanto, as pessoas que

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cometeram algum tipo crime devem ser tratadas da mesma forma, com os mesmos direitos que um cidadão sem delito algum.

O direito penal é estabelecido em vários princípios fundamentais que são reguladores do sistema penal,

[...] princípios constitucionais fundamentais de garantia do cidadão, ou simplesmente de Princípios Fundamentais de Direito Penal de um Estado

Social e Democrático de Direito. Todos esses princípios são garantias do

cidadão perante o poder punitivo estatal e estão amparados pelo novo texto constitucional de 1988. Eles estão localizados já no preâmbulo da nossa Carta Magna, onde encontramos a proclamação de princípios como a liberdade, igualdade e justiça, que inspiram todo o nosso sistema normativo, como fonte interpretativa e de integração das normas constitucionais, orientador das diretrizes políticas, fisiológicas (BITENCOURT, 2012, p. 47, grifo do autor).

Além disso, o art. 1º, inciso III, da Constituição Federal apresenta “a dignidade da pessoa humana” como fundamento da República Federativa do Brasil, e assim sendo, do Estado Democrático de Direito, portanto é

[...] a consagração de que toda pessoa tem legítima pretensão de ser respeitada pelos demais membros da sociedade pelo próprio Estado que não poderia interferir no âmbito da vida privada de seus súditos, exceto quando esteja expressamente autorizado a fazê-lo. (BITENCOURT, 2012, p.48).

Segundo Sarlet (2013) a dignidade da pessoa humana representa um valor fundamental do estado brasileiro que, para além de constituir-se como uma qualidade inata do ser humano, também representa

[...] um valor especial e distintivo reconhecido em cada ser humano como sendo merecedor de igual respeito, proteção e promoção. Além disso, não se deverá olvidar que a dignidade constitui atributo reconhecido a qualquer ser humano, visto que, em princípio, todos são iguais em dignidade, no sentido de serem reconhecidos como pessoas e integrantes da comunidade humana, ainda que não se portem de forma igualmente digna nas suas relações com seus semelhantes ou consigo mesmos. (SARLET, 2013, p. 21)

Ademais, é no art. 5º da Constituição Federal de 1988, que estão elencados os princípios basilares que norteiam o sistema penal brasileiro, como um sistema orientado para os direitos humanos e de garantias, tais como os princípios da legalidade (que representa uma garantia de limitação ao poder punitivo do estado),

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da jurisdicionalidade (que determina que ninguém pode ser privado de sua liberdade e de seus bens sem o devido processo penal/legal), da humanidade das penas (que veda penas cruéis, perpetuas, de morte, de banimento, que exige o respeito a integridade física e moral da pessoa presa); da individualização (que exige que a pena tome em consideração as especificidades de cada condenado, inclusive na fase de execução).

Tais garantias, aliadas ao valor da dignidade humana que, segundo Sarlet (2002) representa uma condição intrínseca de cada indivíduo que o faz merecedor de respeito e que deve ser assegurada inclusive durante a execução penal, impõe limites ao poder de punir do estado.

1.4 A reincidência criminal e o fracasso do ideal de ressocialização

A reincidência criminal sob a luz o art. 63 do Código Penal de 1.940 ocorre “quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior,” ou seja, o ex detento após sair do cárcere acaba cometendo o mesmo crime pelo qual foi condenado.

No entendimento de Helio Romão Rigaud Pessoa (2015, p. 8):

[...] existem várias causas que desencadeiam a reincidência criminal. Dentre tantas, três são principais. São elas: a primeira é a falta de moradia digna; a segunda é a ausência de uma profissão lícita que ajude a suprir as necessidades básicas e, por último, o amparo familiar.

Sabe-se que é importante que o ex detento ao sair da prisão tenha uma família, moradia e um trabalho para seu sustento digno, por tanto, muitos escolhem o crime para conseguir viver, ou seja, eles acabam tendo uma vida curta, pois muitos são assassinados ou presos novamente, sendo assim é necessária uma conscientização do Estado e da sociedade quanto à sua assistência.

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Outrossim, conforme o Relatório de Pesquisa – IPEA6 (2015), no qual

realizou um levantamento sobre a reincidência (legal -aplicado estritamente nos casos, em que há sentença condenatória, art. 63 CP), de 817 presos analisados, 199 eram reincidentes, ou seja, uma média de 24,4% dos indivíduos. Igualmente, o índice entre a faixa etária dos 18 a 24 anos é de 44,6% não reincidentes e 37,7% entre os reincidentes. Não obstante,

[...] essa diferença proporcional entre reincidentes e não reincidentes nessa faixa etária talvez possa ser explicada pelo corte da idade mínima para a imputabilidade penal, que é aos 18 anos. Assim, existe uma boa chance de os réus mais jovens não serem reincidentes. Apesar disso, quando comparados com outros grupos etários, a proporção de reincidentes com menos de 25 anos é considerável, equivalendo a um terço do total de reincidentes (IPEA, 2015, p.23).

Ademais, “[...] em cada dez não reincidentes, um é do sexo feminino. Porém, entre os reincidentes, a proporção de mulheres é de apenas 1,5% (IPEA, 2015, p. 24),” ou seja, os homens cometem mais delitos que as mulheres, da mesma forma os índices de reincidentes e não reincidentes são maiores, uma vez que de 69 mulheres presas 3 são reincidentes, já os homens de 741, são reincidentes 193.

Vale ressaltar que, de acordo com o citado anteriormente a pena de prisão tem por objetivo a reintegração do preso na sociedade, por tanto conforme Braga (2014, p. 354):

A reintegração social pode ser entendida como uma experiência de inclusão social, com a finalidade de diminuir a distância entre sociedade e prisão, que conta com a participação ativa do apenado e de pessoas de fora do cárcere; a partir dos seguintes pressupostos:

a) realização de um trabalho no cárcere realizado pela sociedade civil com o fim de diminuir as fronteiras entre sociedade e prisão;

b) propostas centradas em experiências significativas de inclusão social; c) reconhecimento da dignidade e “normalidade” da pessoa presa;

d) participação ativa e voluntária dos encarcerados, nas atividades desenvolvidas em âmbito prisional;

e) corresponsabilização da sociedade no processo de reintegração social; f) interação sociedade-cárcere como um fim em si mesmo e não como um meio de readequação ética do indivíduo preso.

Ocorre que pena de prisão produz efeitos negativos para a ressocialização, a pessoa ao se deparar com o cárcere necessita sobreviver, ou seja, aprende a

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viver de acordo com as normas dos próprios detentos, segundo Conde (2005, p. 87):

[...] na prisão, o interno geralmente, não aprende a viver livremente em sociedade, senão que, ao contrário prossegue e ainda aperfeiçoa uma carreira criminal através do contato e relações com os outros deliquentes. A prisão muda abertamente o delinqüente, mas geralmente, para piorá -lo. Não lhe ensina valores positivos, senão negativos para a vida livre em sociedade. Fá-lo perder faculdades vitais e sociais mínimas exigidas para levar uma vida em liberdade, e lhe dá, em troca uma atitude negativa em sociedade.

Contudo pode-se dizer que, a pena de prisão afeta negativamente o processo de reinserção do indivíduo, sendo que, pode afetar sua personalidade e seu modo de viver, ou seja, alterar valores, crenças e educação, consequência disso, que as visões acerca da eficácia da prisão vêm sendo questionadas.

Outra questão negativa que o sistema prisional proporciona é a criação do apenado como inimigo da sociedade, a mídia influencia e muito a percepção das pessoas em relação aos ex detentos, pois a sociedade ela tem como característica a solidariedade com as vítimas, ou seja, acabam por tomar para si a perda, ou o sofrimento causado pelo indivíduo e com isso se inicia um processo de vingança contra o agressor.

Assim, na busca de uma pretensa paz social, a sociedade ao defender os direitos do indivíduo, direitos aos seus bens e à plena liberdade (na linha do Estado liberal, criticado por Schmitt), identifica-se com a vítima do crime e transforma o inimigo da vítima (inimicus) em inimigo coletivo (hostis), cuja violência deve ser combatida a todo custo e com todo rigor. É guerra contra a guerra, a violência contra a violência. O Estado usa instrumentos aparentemente legais para punir o inimicus, o criminoso de uma só vítima. Na verdade, porém, seus instrumentos se tornam viciados e contaminados pelo clamor público na guerra contra guerra. Em decorrência desse vício e contaminação, o inimigo individual se torna um inimigo coletivo, com todas as consequências daí decorrentes em termos de tratamento penal e penitenciário (SÁ, 2012, p. 218 grifo do autor).

Não obstante, segundo o Relatório de Pesquisa – IPEA (2015) foram entrevistados alguns ex detentos sobre reintegração social, no qual responderam que a prisão é a pior experiencia de suas vidas. Ademais, mencionaram que ao saírem do cárcere são vistos como inaptos para viver em sociedade, ou seja, a população os vem com preconceito.

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Contudo, o indivíduo ao ser colocado na condição de inimigo da sociedade terá grandes dificuldades para entrar no mercado de trabalho, assim como fazer parte da sociedade. Portanto é necessárias novas políticas públicas, bem como rever a execução do sistema penal brasileiro, uma vez que a dignidade no tratamento enquanto ser humano é um direito de todos os cidadãos, por tanto é essencial uma nova perspectiva sobre o sistema penitenciário brasileiro e novos sistemas de reinserção do apenado na sociedade.

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2 REPRESSIVISMO PENAL, DIREITO PENAL DO INIMIGO E O PAPEL DO CÁRCERE NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO INIMIGO

O expansionismo penal é claramente visível no contexto contemporâneo e tem se apresentado como possibilidade de política pública para o efetivo controle da criminalidade na sociedade, uma vez que, com a globalização e os diferentes modos de convivências, vem se criando uma variedade de delinquências. Portanto, considera-se, indispensável a adoção de penas mais eficazes, com o intuito de preservar a sociedade, ou seja, para diminuir o medo causado pela criminalidade, entretanto, apenas o aumento das penas reguladoras do Direito Penal não possibilita a prevenção dos crimes. Todavia, a adoção dessas medidas acarreta consequências negativas para o Estado Democrático de Direito, podendo-se citar como exemplo o não cumprimento do objetivo do papel do cárcere.

Outrossim, o cárcere proporciona ao indivíduo um estigma tão intenso, que o torna uma pessoa estigmatizada, ou seja, vista como inimiga da sociedade, uma vez que, na atualidade por exemplo, uma pessoa que comete um crime de furto é vista como ladrão e não como alguém que em algum momento cometeu um erro e poderá ser penalizado por isso. O processo de estigmatização é tão intenso que, num primeiro momento, o detento é visto como inimigo da sociedade, quer dizer que, a convivência não será em harmonia, já após esse processo ele próprio assume o papel de criminoso, isto é, ele percebe que a população não o vê com “bons olhos” e acaba assumindo o papel que ela própria o atribuiu.

Sabe-se que a pena privativa de liberdade está em crise, sendo que, ela não está conseguindo cumprir com sua finalidade que é a reinserção do apenado na sociedade, em razão de que, várias dificuldades ocorrem para que isso aconteça. Todavia, nesse processo é preciso dispor não somente de um cárcere eficiente, qualificado para possibilitar ao indivíduo preso uma qualificação mínima de se ressocializar com a sociedade, mas do mesmo modo necessitará do apoio da população, possibilitando que o ex detento volte a viver em consonância com a comunidade, aceitando-o em todos os ramos da comunidade, sem discriminação por este ser um ex presidiário.

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Diante do exposto, o segundo capítulo abordará o repressivismo e expansionismo penal no contexto contemporâneo, eis que surgem como novas medidas criminais, bem como o modelo de D. Penal do Inimigo que foi apresentado por Günter Jakobs no ano de 1980. Ademais, analisará o papel do cárcere na construção da imagem do inimigo, igualmente, quem são os inimigos da sociedade. E por fim, buscará explicar o fracasso do ideal de reinserção social do apenado e a função real da prisão.

2.1 Repressivismo e expansionismo penal no contexto contemporâneo.

Na atualidade o crescente desenvolvimento do direito penal é visível e deriva dos avanços científicos e tecnológicos que permitem mais visibilidade as situações de violência, bem como, com o surgimento de novas medidas criminais, que alteram as leis e as penas impostas aos criminosos, sob influência de uma sociedade assustada com a violência e a criminalidade. Ademais, a consequência dos sentimentos de intranquilidade, desconfiança e medo na população contemporânea, traz o aumento da aflição com as várias formas da delinquência, da qual pode ser citado como exemplo o crime organizado, violências contra mulheres, crimes de drogas e entorpecentes, entre outras.

Cabe ressaltar que a partir da segunda metade século XVIII surge a legislação penal que defende a liberdade dos seres humanos face os abusos estatais, bem como eleva o princípio da dignidade humana. Todavia de acordo com Gomes, Molina e Bianchini (apud HAUSER, 2016, p. 25)

o Direito Penal tradicional nasceu com a objetivo de proteger os direitos fundamentais da pessoa contra o poder punitivo do Estado, ou seja, “contra a violência, o despotismo e a arbitrariedade que caracterizavam o Direito Anterior.” Tratava-se de um Direito Penal constituído a partir da ideia do contrato social, que concebia o indivíduo como detentor de direitos naturais inalienáveis e via o Estado como guardião de tais direitos. A este conjunto normativo (o Direito Penal) foi atribuída, originariamente, a tarefa de contenção do poder punitivo do Estado, buscando-se, a partir dele, eliminar o arbítrio e resguardar os direitos de liberdade (individuais) e a dignidade humana.

Além disso, a partir desta perspectiva liberal, a intensa ou autoritária intervenção do Estado no âmbito dos privilégios individuais a todo momento passou

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a ser vista de forma negativa, eis que, segundo Pierre Channu (apud BITENCOUT, 2017, p. 69 “[..] o direito penal, construído em torno do contrato social, não faz mais que legitimar as formas modernas de tirania. Sob a ideia de que o criminoso rompeu o pacto social, cujos termos supõe-se tenha aceito [...]”, sendo assim, “[...] a intervenção punitiva do Estado deve ser mínima e pautada por um conjunto de garantias penais e processuais, que assegurem aos acusados proteção frente ao arbítrio ou o excesso punitivo (HAUSER, 2016, p. 25).”

Diferentemente do Direito Penal tradicional, de natureza liberal, o contemporâneo se expande como uma resposta ao medo e a preocupação da população relativos à criminalidade, sendo capaz de destacar algumas características fundamentais que o direito penal passa contrair. “[...] A primeira dessas características é uma maior identificação/solidarização da coletividade com as vítimas, em decorrência do medo de tornar se uma delas (CALLEGARI; WERMUTH, 2010, p. 20),” ou seja, a partir desse momento, o Direito penal não é mais visto como dispositivo de defesa da sociedade em relação ao Direito punitivo do Estado e sim como um instrumento de amparo e proteção a vítima, ocasionando assim, uma maior comoção social, expandindo as exigências de respostas, bem como penas atribuídas ao criminoso pelo Estado.

Da mesma forma, Gomes, Molina e Bianchini (apud HAUSER, 2016, p. 26) apresentam como características do expansionismo penal contemporâneo a “[...] deliberada política de criminalização em lugar da descriminalização ou despenalização,” o que faz com que, surjam novas formas de criminalidades, que ocorrem a partir de um novo processo de criminalização de condutas que anteriormente eram consideradas lícitas (HAUSER, 2016), como por exemplo, os delitos ambientais, que antes da Lei n.9.605/98, não eram objetos regulados pelo direito penal.

Outra característica “[...] é a maior instrumentalização do Direito Penal no sentido de evitar que os riscos se convertam em situações concretas de perigos (CALLEGARI; WERMUTH, 2010, p. 20 - 21),” sendo assim, aparecem leis penais preventivas para evitar o reparo da inatividade do Estado diante dos riscos (CALLEGARI; WERMUTH, 2010).

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Outrossim, os riscos são consequências de um mundo globalizado, uma vez que, com o avanço das tecnologias surgiram efeitos ambientais, econômicos e sociais indesejados, muitas vezes incontroláveis, gerando o risco e paralelamente o sentimento de medo e insegurança. Igualmente,

[...]o componente futuro é marcante na ideia de risco, visto que é com base nele e na sua incalculabilidade que as ações presentes devem ser derteminadas: a ameaça futura é o centro da consciência em relação aos riscos. Assim, no lugar de um Direito Penal que reacionava a posteriori contra um feito lesivo individualmente delimitado, surge um Direito Penal de gestão punitiva dos riscos em geral, tornando-se possível falar em um processo de administrativização do Direito Penal que traz em seu bojo uma supervalorização e o consequente incremento punitivo de infrações e deveres de cuidado, de forma a dar cuidado não só de perigo abstrato, mas também aos chamados delitos de acumulação7 no marco da luta contra as

novas formas de criminalidade (SÁNCHEZ apud CALLEGARI; WERMUTH, 2010, p. 21 grifo do autor).

Igualmente, segundo Gomes, Molina e Bianchini (apud HAUSER, 2016, p. 28) a “ampla criminalização das figuras de delito abstrato” é outra característica da “política criminal” contemporânea, uma vez que,

[...] nos crimes de perigo abstrato o castigo punitivo recai sobre a conduta do agente sem qualquer lesão ao bem jurídico ou exigência de dolo na causação do resultado danoso em relação a determinado objeto tutelado pelo direito. Pune-se, apenas, a violação da norma, renunciando-se a prova do dano ou a prova da causalidade entre a conduta e o resultado, já que este é presumido (GOMES, MOLINA E BIANCHINI apud HAUSER, 2016, p. 28)

O perigo abstrato tem como exemplo o delito do agente dirigir em influência de álcool, disposto no artigo 306 do atual Código brasileiro de trânsito, sendo que o tipo penal de tal crime não exige que o indivíduo tenha lesionado ou matado alguém, apenas descreve um comportamento que deva ser respeitado, ou será penalizado. Contudo, “[...] a utilização desta técnica coloca em cheque os princípios da lesividade/ofensividade que exigem como pressuposto da intervenção punitiva a lesão concreta a um bem jurídico protegido (HAUSER,2016 p. 28-29),” sendo assim, outra característica a ser destacada é a “[...] baixa preocupação e efetividade dos

7 Segundo André Luis Callegari e Maiquel Ãngelo Dezordi Wermuth (2010, p. 21) “ os delitos de

acumulação são aqueles que, enquanto condutas individuais, não causam, por si sós , lesão ou perigo a bens jurídicos, mas que, considerados em conjunto- ou seja, se praticados por outros sujeitos – conduzem a uma situação de lesão ao bem jurídico tutelado.”

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princípios da igualdade, proporcionalidade e lesividade (GOMES, MOLINA E BIANCHINI apud HAUSER, 2016, p. 29).”

Mais uma característica que merece destaque são as “[...] frequentes alterações da legislação penal (GOMES, MOLINA E BIANCHINI apud HAUSER, 2016, p. 27),” eis que, com os avanços de novos delitos, a sociedade busca por respostas do Estado, sendo assim um grande número8 de leis penais são criadas e

alteradas anualmente, sendo oferecidas para a população como soluções mágicas, medidas estas, que muitas vezes são ineficazes. Contudo, ao analisar a cultura cotidiana, observa-se que, quanto mais leis são criadas e penas aplicadas, mais crimes são cometidos e com isso a sociedade fica mais violeta.

De certo modo, o sentimento de medo presente na sociedade contemporânea é influenciado pela mídia, uma vez que esta abrange todo país, bem como o mundo, sendo por meio das rádios, telejornais, internet, meios que possibilitam o acesso de notícias para todas as pessoas, e estas são, de certa forma, influenciados com as informações e as opiniões dos donos desses mecanismos. Todavia, “[...] pode-se sustentar que, no âmbito das notícias e exposições de opiniões sobre a criminalidade, a mídia é pautada por um discurso majoritariamente punitivista (SILVEIRA, 2015, p. 27),” visto que, diariamente são transmitidos para a sociedades notícias espetacularizadas sobre determinadas formas de criminalidade e sobre seus autores, assim sendo, a população se solidariza com o sofrimento da vítima e acaba clamando por justiça, que é sempre compreendida numa perspectiva de maior penalização, ainda que a custas de relativização de garantias.

Em suma, pode ser citado como exemplo, “o caso do menino Bernardo Boldrini9,” que ocasionou uma grande repercussão social, visto que, foi tudo

transmitido pela mídia, não apenas uma vez, mas várias vezes. Sendo assim, a população se comoveu com a história e passou a lutar por justiça. Portanto, pode se dizer que “a informação acaba fomentando no seio social um ímpeto vingativo, que, em consequência, gera a expectativa de uma atitude repressiva por parte do Estado,

8 No Brasil existem mais de 180 mil leis que estão em vigor (PÓVOA, 2017).

Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolinabde Letras, membro da Associação Goiana de Imprensa

Referências

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