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A reinterpretação da noção de Urbanismo Operacional

IV. OPERACIONALIDADE

4.1. A reinterpretação da noção de Urbanismo Operacional

O conceito de Urbanismo Operacional evoluiu, dado que o seu significado é diferente da conotação que tinha há trinta anos atrás.

Se nos anos 70-80, até chegou a ser pejorativo, por se identificar com o ‘urbanismo burocrático’, pela atenção exagerada aos parâmetros quantitativos, pela sobrevalorização dos índices e rigidez na demarcação de zonamentos, não tardou a que, com a sua revisão crítica, passasse a ser conotado com as intervenções urbanísticas de renovação da década de 80, que foram acontecendo na maioria das capitais europeias, com destaque para Paris, quer fosse dentro da cidade, renovando o tecido urabano tradicional, quer nas coroas de transição, nas periferias, em mega-operações promovidas pelo Estado, permitindo a divulgação de modelos de gestão do tipo empresarial, economicistas, e por isso orientados em função de metas e objectivos, cuja organização, curiosamente, viria a justificar o aparecimento de novas profissões no campo do urbanismo e construção, entre elas, a dos amenageurs.

No entanto, em breve identificar-se-ia com a problemática dos ‘sistemas de execução’, ou com os respectivos ‘modelos organizativos’, indispensáveis à operacionalização de grandes projectos urbanos, e que seriam os sucessores das primeiras experiências de reabilitação de centros históricos. Experiências que, e como já se afirmou, devem ser vistas como percursoras de metodologias e instrumentos, mas também da revisão dos critérios de composição urbana, e de certos princípios, como é a contextualização, a reinterpretação das pré-existências, a visão abrangente dos problemas, ou a ênfase dada à requalificação dos espaços públicos.

A testemunhar essa transição, a relação entre conceitos, tem-se: La approche morphologique ne peut être une attitude figée. Elle a dans le milieu de l’architecture déjà une histoire de plus de trente ans. Pourtant, aucun bilan exhaustif n’a encore été fait, et particulièrement celui de ses effets dans la pratique. C’est à partir des effets d’induction dans les deux sens, de la recherche vers la pratique et vice-versa, qu’un travail épistémologique devrait aujourd’hui être tenté par notre milieu. Le projet urbain n’est pas une doctrine qui renvoie à une méthode, mais dans les faits aujourd’hui, un ensemble de projets et de pratiques qui gèrent notamment de l’espace public et privé, du paysage urbain, etc. Sans refléter une doctrine au sens étroit du terme, l’idée de project urbain renvoie cependant à un point de vie doctrinal – qu’on s’efforce de substituer à un autre: l’urbanisme opérationnel – et qui peut s’exprimer plus ou moins fortement en fonction de seuils.(59)

Com os novos modelos de intervenção, surge a expressão de ‘Novo Urbanismo’, um tanto ou quanto ambígua, passível de interpretações, sendo talvez a mais correcta a que aponta para a ideia de ruptura, ou manifesto: (...) O processo de planeamento moderno encadeava, de forma mais ou menos linear, diagnósticos, identificação de necessidades, programação de projectos e acções, execução e gestão, e assentava numa ‘cascata’, hierarquizada e sequencial, de planos: nacionais, regionais, municipais, de urbanização e de pormenor. (...) O novo urbanismo substitui essa linearidade por abordagens processuais e iterativas, incrementais e recorrentes. Articula o longo e o curto prazo, a grande e a pequena escala, os interesses públicos e privados. O novo urbanismo valoriza a diversidade. É mais flexível e comunicativo, acolhe e estimula a participação dos cidadãos, das organizações e dos agentes económicos, promovendo as parcerias e a concertação estratégica de base territorial. (...) É um urbanismo essencialmente estratégico, pragmático e de oportunidades. (...) Assim, preconizamos um sistema de planeamento territorial em três níveis, um sistema mais flexível e iterativo, preferencialmente estratégico e orientador, menos restritivo. (60) Um novo sistema, para uma nova maneira de agir, em

quase tudo diferente, porque pressupondo uma atitude mais pro-activa e interventiva, ficando a implementação das políticas dependentes dos Projectos Urbanos, embora admitindo-se alternativas (conquanto estas se afigurem discutíveis!), devendo, não obstante, reconhecer-se o esforço, a preocupação por uma articulação superior.

Fig. 69: Proposta para um ‘Novo Sistema de Planeamento’; Fonte: “Gestão Estratégica de Cidades e Regiões”, p.72

- A problemática da operacionalização dos Planos.

A operacionalização dos Planos será talvez uma das questões mais actuais, constatando-se ser simultaneamente fragilidade e contradição no nosso sistema de planeamento porque, e durante muitos anos, reflectiu uma omissão no quadro legislativo, ao não prover os meios necessários e suficientes à sua concretização, levando a que, e por melhores que fossem os planos - ou o empenhamento dos técnicos! - os resultados ficassem excessivamente dependentes das circunstâncias, ou de uma complexa conjugação de factores, que incluia a concertação de vontades, a predisposição dos agentes para assumirem riscos – fossem proprietários, investidores ou mesmo administração.

(...) não pode haver Projecto Urbano sem a definição da sua operacionalidade, isto é, da sua execução e gestão no respeitante à propriedade, à fiscalidade, ao financiamento, à logística da construção, às estruturas de execução, etc.(61)

Por outro lado, reconhece-se que o factor tempo é um parâmetro decisivo, senão determinante no sucesso de uma operação urbanística, inerente às sucessivas revisões dos procedimentos, remetendo para o aperfeiçoamento dos mecanismos de execução, com o objectivo de reduzir a dependência de factores fortuitos, da instabilidade e ritmos incertos da realidade, dado que, como a experiência confirma, o período de concretização de um plano pode prolongar-se no tempo, seja na fase de edificação seja na de apropriação dos espaços, que normalmente é medido em décadas, senão gerações!

Dificuldade nem sempre resolúvel com soluções do tipo de ‘inteligência processual’, com formas de auto-gestão, que apostam nos ‘capitais internos’, no potencial da ‘capacidade evolutiva’, das transformações faseadas, previstas em regras de ‘geometrias variáveis’, ajustáveis às oportunidades. Também a urgência de respostas, as exigências de exequibilidade e de antecipação de condições, apresentam-se como pontos fundamentais, apontando soluções que deveriam integrar os instrumentos de gestão territorial, ou, mais especificamente, os Projectos urbanos, que por definição, têm em si, uma intencionalidade executória, um propósito de realização, concretização no terreno.

Por essa razão, pretende-se investigar os mecanismos, as metodologias disponibilizadas pelo actual quadro legislativo - confirmando a premissa inicial de proceder a uma aprendizagem, de querer saber

‘como se faz’ -, reunindo uma compilação dos factores indirectos, que podem (e influenciam)

significativamente os resultados.

4.2.Os mecanismos de execução (DL 380/99).