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II. ENQUADRAMENTO

2.4. Princípios orientadores

Resultante de uma nova visão da realidade, mais abrangente e reflexiva, fundamentada nos princípios do ‘pensamento sistémico’ (que infelizmente não é possível aprofundar), em contraste com a linearidade do pensamento que vem do ‘positivismo’ oitocentista, ou do ‘modelo de racionalidade científica’, em crise, mas que ainda hoje modela o discurso ocidental, permitindo questionar os seus fundamentos, por via da inquirição filosófica, sobressaindo nesse esforço, inevitavelmente, pela reflexão e divulgação, autores como Edgar Morin, ao proporem uma abordagem alternativa e transdisciplinar, que intitulam de ‘pensamento complexo’, alicerçando-o em teorias e resultados experimentais de disciplinas científicas insuspeitas, conhecidas por uma formulação objectiva dos problemas e pela credibilidade dos seus métodos, como é o caso da Física, ou da Biologia, ousando transpor para a discussão de matérias correntes, da realidade do dia a dia, alguns dos seus postulados, como é o caso das teorias explicativas da (des)ordem - em certos fenómenos naturais, nomeadamente à escala do muito pequeno -, levando a uma revisão do método, da Epistemologia, que é a ciência responsável pela problemática do Conhecimento.

Fig. 25: Organigrama representativo da ‘Abordagem sistémica’, Fonte: DURAND, Daniel “A Sistémica”, p. 51

Fig. 26: Quadro comparativo das abordagens Clássica vs Sistémica; Fonte: DURAND, Daniel “A Sistémica”, p. 14; a partir de LE MOIGNE, J.-L.; “A Teoria do Sistema Geral”.

La necessità di aumentare l’efficacia delle scelte pianificatorie há portato infine alla volontà di avanzare proposte di modificazione della realtà fisica attraverso indicazioni capaci di regolare il comportamento degli attori oltre che di delineare il risultato finale: la presenza in quelle proposte della variabile gestionale si realizza più facilmente utilizando lo strumento del progetto di architettura urbana che quello del piano urbanistico. (...) Il lavorare per grandi progetti urbani si differenzia fondamentalmente dall’esperenza teorica e metodologica che viene indicata com il termine di progettazione della “città per parti”. Progettare la città per parti significa innanzitutto negare che si possa fare riferimento a una figura unitaria, che si possa parlare di forma a livello urbano, che sai lecito aspirare a una proposta generale per la città in grado di tenere conto della ricchezza che sta nella eterogeneità formale e nel pluralismo culturale urbano, ma contemporaneamente capace di offrire un’idea di città e quindi un ordine di riferimento necessario all’obiettivo di riconoscibilità, dispecificità di immagine della grande città e della comunità.(29)

De facto, é a propósito da eficácia das intervenções, desta problemática, que se vai proceder à revisão dos princípios orientadores da acção, adoptando-se preceitos da abordagem sistémica usadas noutras áreas do saber, e o reconhecimento da validade de certas metodologias processuais, enquanto alternativa de

organização, inter-activa e prolongada no tempo, capazes de obter sucessivos ciclos de análises-respostas

(reflexivos) que se prolongam, mesmo em fase adiantada.

Fig. 27: Processo de ‘Modelação sistémica’, Fonte: DURAND, Daniel “A Sistémica”, p. 66

Curiosamente, é partindo do desenvolvimento de teorias sobre ‘comportamentos’, ou sobre a definição de ‘inteligência’, assimilando ensinamentos resultantes do estudo de sistemas vivos, sistemas sociais, e até, económicos(!) que se irá avançar para o aperfeiçoamento de um ‘método’, ou talvez, mais correctamente, de um conjunto de princípios, que podem orientar os novos ‘modelos de actuação’. Consequente com esse facto, e recentrando o tema nas intervenções urbanas, cita-se a seguinte frase de 1982, referida à problemática da ‘organização’, interpretada num sentido geral, como articulação e ‘gestão dos recursos’, sublinhando a importância das ‘formas de actuação’, antevendo, certamente, o papel das ‘entidades gestoras’, como condição e garantia de êxito das intervenções: Mais do que em qualquer outro campo, o desenho urbano, o desenho dos processos e a gestão dos recursos têm de estar estreitamente ligados e daí que não acreditemos numa intervenção eficaz baseada na encomenda de projectos se não existir antes e depois, no terreno, um sólido gabinete de gestão das operações.(30) (30) PORTAS, Nuno “Os Tempos das Formas – A Cidade Feita e Refeita”, p.177.

A testemunhar a institucionalização, a fundamentação de um novo ‘quadro de referência’, enquanto

directivas superiores, chama-se a atenção para os extractos do relatório da Comissão Europeia (1996),

resumido no princípio, que será bastante familiar ao planeamento estratégico, de que The whole city is more than the sum of its parts(31) ou, então, o que designa como Institutional arrangements:

An Ecosystems Approach to urban sustainability requires certain patterns of organisational management. This in turn implies organisational patterns and administrative systems which addres issues in a holistic way. Drawing on the ecosystems metaphor and the goals of sustainable development, the following principles are advocated:

- integration: the vertical and horizontal integration of organisations, policies, plans and programmes; integration of the external environment with the internal policy making process; integration of time and space dimensions; integration of values and behaviour; integration of personal need and institutional capacity;

- co-operation: recognising the mutual dependence between all agents in the system; equal access to power and resources; a proactive approach to consensus building; mobilising action through empowerment; networking;

- homeostasis: the management of dynamic chance within a flexible but broadly stable system. This implies: developing an organisational culture which accommodates change; recognising the incremental nature of policy processes; feedback systems to regulate change; addressing issues of values, motivations and ownership;

- subsidiarity: making decisions and implementing action at the lowest level consistent with the achievement of the desired goals. This implies: matching rights with responsabilities and powers with resources; accepting diverse conceptions of problems, creating organisational frameworks which manage complex dependency and promote agreement; building new relationships between different levels of government and between local authorities and the community;

- synergy: ‘create a whole that is either greater than or qualitatively different from the sum of the parts’ (Brugmann, 1992). This implies providing strategic direction for incremental actions; outlining a vision of the possible; adopting cycling rather than linear planning.

- Pensamento Estratégico.

Pressupõe a reformulação de certas práticas, anteriores, marcadas por uma certa rigidez e determinismo, para um quadro alternativo mais de acordo com a realidade e as dinâmicas existentes. Porque a noção de Projecto Urbano revê-se nas metodologias do Planeamento Estratégico, embora com ‘nuances’, ou variações próprias, como é a questão da operacionalidade, se é apenas(?) mais um dos instrumentos possíveis, no sentido do alcance dos objectivos através da execução de um conjunto de acções no terreno (seleccionadas em função do seu valor estruturante, da optimização de recursos e de um suposto efeito indutor) e se no contexto de uma visão prospéctica do território.

Consequentemente, tais princípios apontam para a articulação das intervenções numa escala abrangente, apostando mais em ‘procedimentos’ do que em ‘formas concretas’ ou ‘apriorísticas’, suficientemente abertos e ajustáveis aos resultados obtidos durante a sua implementação.

Fig. 28: Quadro das ‘Três famílias de planos estratégicos’;

Nessa linha, deve-se considerar uma desejável e progressiva actualização dos instrumentos de

planeamento, ou das metodologias que se lhe associam, no sentido da sua adequação aos objectivos,

do aperfeiçoamento das respostas, que se querem mais eficazes, tal como a experiência permite avalizar, estando entre elas, naturalmente, a que se refere ao Projecto Urbano.

Um dos campos em revisão, referido ao âmbito espacial, tem em conta, precisamente, a potencialidade de ser parte integrante de programas em escalas diversas, transcendendo o patamar da cidade convencional, por definição ‘delimitada’, para acontecer numa dimensão mais alargada, dita territorial, onde se poderá afirmar como uma das opções possíveis de intervenção, concretizando, ou implementando mudanças estruturantes, seguindo uma estratégia de selectividade e de articulação entre zonas intervencionadas, devidamente inter-relacionadas e em função de um determinada área urbana, ou região metropolitana emergente.

Paralelamente, é inevitavel, principalmente no presente modelo económico, esperar que em futura reforma governamental se melhore o sistema vigente, oferecendo condições para um maior

envolvimento dos privados, em articulação com as entidades locais, através da institucionalização de

procedimentos, de garantias formais, como por ex.º, a contratualização, garantindo maior agilização processual, o cumprimento de prazos, e uma política fiscal de incentivos, consequente com os modelos de parcerias público-privadas, que se destinam a atrair investimento privado.

Um dos maiores desafios será conseguir mobilizar os agentes logo na fase de concepção, e não para uma discussão final, mera formalidade burocrática, lançando mão de diferentes formas de participação pública, devidamente acompanhadas. Capazes de obter o envolvimento dos vários actores e agentes, concertando os seus esforços no sentido de aproveitar os recursos locais, as oportunidades, ou até, e conforme é esperado do planeamento estratégico, e a experiência tem mostrado, criando-as, ou ‘inventando’ as condições para o seu aparecimento – de notar, ter sido este, exactamente, o lema escolhido pela Parque Expo: ‘reinventar o território’.

Se o que se pretende é conduzir uma dinâmica de transformação por áreas de intervenção delimitadas, a primeira preocupação deveria ser pensar em quem e como se monta a coordenação e dinamização das acções ao longo do processo;(...) Os políticos e os profissionais envolvidos nestes processo não podem subestimar, ao decidir programar intervenções na cidade existente, a especificidade dos conflitos que se levantam neste teatro de operações, bem diferentes dos que se podem encontrar ao lançar, por exemplo, um bairro social de nova urbanização.(32)

Fig. 29: Plano de Pormenor de Salvaguarda de Vila Real de St. António; CEARQ / CEDOUA Fonte:‘Planos – Salvaguarda. Vila Real de St. António e Projecto Urbano. Coimbra’, 2005, p.138

Premissa obrigatória de qualquer intervenção, e que se insere na linha do pensamento estratégico, é o propósito de aproveitamento dos recursos endógenos, muitas vezes ignorados ou simplesmente sub- valorizados, a aposta na identidade e diferenciação dos locais. Ou, por outro lado, a divulgação de práticas de modelação de cenários, comparando hipóteses de trabalho, ou por outro lado, estudando diferentes estádios de evolução, através de análises multicritério e de uma avaliação prospéctica, fazendo uso da capacidade das actuais ferramentas tecnológicas (TIC).

Mas, entre outras as práticas que se recomendariam, destaca-se a programação de acções, tendo em vista a implementação, providenciando inclusivé os meios financeiros e técnicos. Como se conclui da investigação de exemplos informais, das experiências no terreno, a operacionalização é de facto uma fase da maior importância, onde se insere a programação das acções no terreno, ou a monitorização, e condição de garantia de execução, reconhendo-se situar-se entre os maiores desafios, a adopção de métodos que consigam introduzir flexibilidade nos procedimentos, que permitam prever e incorporar alterações, inevitáveis na maioria das intervenções

Daí que, o Projecto Urbano, e em consonância com a citação inicial, de abertura do tema, é também uma base informal de negociação, um programa desenhado, que pode ser tantas vezes alterado quantas as transformações que possam ocorrer, assumindo a incerteza, inerente aos processos de discussão e de decisão mas também aos próprios fenómenos territoriais, um resultado da lógica dos sistemas abertos, dinâmicos, em constante mutação e... aparentemente caóticos.

-Inovação e Experimentação.

Pelo ensaio de estratégias e métodos mais inteligentes, para optimização dos resultados, no sentido de assegurar a eficiência operacional das intervenções, na linha do pensamento crítico aos pressupostos tradicionais, conhecidos pelas formulações rígidas e de solução única, reflectindo um certo ‘determinismo’ oitocentista, que a história das ideias apressou-se a questionar, enquanto oportunidade para uma mudança de paradigma. Uma revisão à qual não foi alheia a contaminação de ideias por outras áreas do saber científico, como é o caso da quântica, da Física, ou da sistémica, da Biologia, cujo trabalho teórico procura a explicação de fenómenos ditos complexos, torna possível a construção de modelos capazes de reproduzir o comportamento de sistemas abertos.

Embora se deva sempre contextualizar a aplicação de um dado modelo (e mesmo assim, relativizando as conclusões), se o seu grau de abstracção não impedir, apriori, o seu uso, são surpreendentes, as conexões, as analogias entre os campos disciplinares, como é o caso das ciências sociais aplicadas, nomeadamente, quando exploram fundamentos comuns, inerentes à gestão, à organização de recursos humanos, ou até à psicologia de grupos.

O que é a organização? Numa primeira definição: a organização é a disposição de relações entre componentes ou indivíduos, que produz uma unidade complexa ou sistema, dotada de qualidades desconhecidas ao nível dos componentes ou indivíduos. A organização liga, de modo inter-relacional, elementos ou acontecimentos ou indivíduos diversos que, a partir daí, se tornam os componentes dum todo. Garante solidariedade e solidez relativa a estas ligações, e portanto garante ao sistema uma certa possibilidade de duração apesar das perturbações aleatórias. Portanto, a organização: transforma, produz, liga, mantém. (...)

A ideia de organização e a ideia de sistema são ainda não só embrionárias, mas também dissociadas. Proponho-me associá-las, visto que o sistema é o carácter fenoménico e global que adquirem as inter- relações cuja disposição constitui a organização do sistema. Os dois conceitos estão ligados pelo conceito de inter-relação: toda a inter-relação dotada de certa estabilidade ou regularidade toma um carácter organizacional e produz um sistema. Existe, portanto, uma reciprocidade circular entre estes três termos: inter-relação, organização e sistema.(33)

Fig. 30: Projecto de Renovação Urbana ‘22@Barcelona’, Barcelona, 2006. Fonte: ‘El Proyecto 22@Barcelona’, 2005.

Os espaços urbanos não são mais do que “arenas de relações” ou redes sociais que, por si só, marcam a identidade dos locais. No entanto, todos os casos têm subjacente um critério comum: são espaços criativos ou inteligentes que resultam de operações integradas de revitalização, recuperação ou refuncionalização urbana de áreas específicas no centro das cidades, sejam zonas industriais degradadas, áreas logísticas obsoletas ou até centros históricos e novas centralidades. A confluência entre componentes de ciência, tecnologia e engenharia com a cultura, a arte e o design marca o carácter distintivo destas intervenções de política urbana.(34)